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Morte fetal - causas, diagnóstico e prevenção

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O que é morte fetal?

O Centro Nacional de Estatísticas de Saúde1 dos Estados Unidos define a morte fetal como a morte do produto de concepção2 antes da expulsão completa ou extração de sua mãe, independentemente da duração da gravidez3, desde que a interrupção da gravidez3 não tenha sido induzida. Ou seja, a morte fetal em geral é inesperada e não desejada.

A morte que ocorre antes das 20 semanas de gestação é classificada como um aborto espontâneo.

Quais são as causas da morte fetal?

Em grande número dos casos (25 a 60%), a etiologia4 da morte fetal permanece desconhecida. Nos casos em que a causa é identificada, ela pode ser atribuída a uma patologia5 fetal, materna ou placentária.

Do lado fetal, os fatores mais incidentes6 são:

  • gestações múltiplas;
  • restrição de crescimento intrauterino;
  • oclusão do cordão umbilical7;
  • anormalidades congênitas8 ou genéticas;
  • infecções9;
  • hidropsia10.

Os fatores maternos mais comuns são:

As anormalidades placentárias são as causas mais comuns de óbito20 fetal, sobretudo em idade gestacional tardia. Em geral, elas se devem a:

  • um desprendimento prematuro da placenta;
  • ruptura prematura de membranas;
  • “vasa previa” (vasos fetais próximos ao orifício interno do cérvix uterino);
  • hemorragia21 fetal;
  • insuficiência22 placentária.

O sobrepeso23 e a obesidade24 maternas são fatores de risco para a morte fetal. A idade materna avançada (mais de 35 anos) ou a pouca idade materna e o tabagismo materno também são fatores significativos. Além disso, devem ser levados em conta raça afro-americana, história de morte fetal anterior, infertilidade25 materna e idade paterna muito avançada.

Saiba mais sobre "Diabetes gestacional26", "Gravidez3 de risco" e "Perguntas que as grávidas fazem".

Como o médico diagnostica a morte fetal?

A história clínica e o exame físico da mãe são de valor limitado no diagnóstico27 da morte fetal. A maioria das mães alega, como único sintoma28, o movimento fetal diminuído. A incapacidade de obter sons do coração29 fetal após o exame físico sugere morte fetal, no entanto, esse não é um diagnóstico27 infalível. A morte deve sempre ser confirmada por um exame de ultrassonografia30. Com este exame, a morte fetal é diagnosticada pela ausência de atividade cardíaca.

Após a expulsão do feto31, a morte é indicada pelo fato de que o feto31 não respira nem mostra qualquer outra evidência de vida, como batimento cardíaco, pulsação de cordão umbilical7 ou movimento dos músculos32 voluntários. Eventuais contrações cardíacas transitórias devem ser distinguidas de batimentos cardíacos e esforços respiratórios fugazes ou suspiros devem ser distinguidos da respiração normal.

O que fazer depois de constatada a morte fetal?

Se a mulher não se deu conta da morte do seu feto31, o mais habitual é que o parto se inicie de maneira espontânea antes das duas semanas desde que ocorreu a morte fetal. Se a morte for diagnosticada por parte do médico, ele programará junto com a paciente o melhor momento para a indução do parto.

Uma vez constatada a morte fetal, a paciente deve ser informada do fato. A primeira reação da mãe costuma ser a de não acreditar nessa realidade. Muitas vezes, permitir a ela que veja a ausência de atividade cardíaca pode ajudá-la a aceitar o diagnóstico27.

A indução do parto deve começar em seguida, muitas vezes concedendo algumas horas ou dias para que a mãe ultrapasse seu choque33 emocional. Em alguns casos de gestações gemelares em que um dos fetos morre, a indução pode ser adiada para permitir que o gêmeo viável amadureça.

O tratamento da dor nas pacientes submetidas à indução de trabalho de parto por morte fetal é uma parte importante do atendimento. Muitas vezes, um dispositivo de analgesia controlada pela paciente, com morfina ou hidromorfona, é suficiente para o controle bem-sucedido da dor. Caso uma paciente deseje controle de dor superior ao dos narcóticos intravenosos, a anestesia34 peridural35 deve ser oferecida.

Como prevenir a morte fetal em uma futura gravidez3?

É essencial ter uma ideia precisa das causas porque ocorreu a morte fetal na gravidez3 anterior. Inúmeros testes podem ser realizados, principalmente com a mãe, mas também com o pai. Mesmo assim, em alguns casos, a causa da morte permanecerá desconhecida. Se um problema médico específico puder ser identificado, ele deve ser abordado e solucionado antes da nova concepção2.

O aconselhamento genético é útil se forem encontradas anomalias congênitas8 ou genéticas. Em alguns casos fortuitos, como a oclusão do cordão, por exemplo, a paciente pode ter certeza de que a repetição do problema é muito improvável.

A morte fetal de causa desconhecida é um problema especial. Sempre ter-se-á muita dificuldade ou mesmo impossibilidade de determinar o risco de morte fetal numa futura gravidez3. Modelos estão sendo criados para melhor estimar esse risco, mas ainda são imprecisos. Embora se saiba que a perda fetal recorrente seja incomum, as pacientes ficam naturalmente muito ansiosas.

A partir de 30 semanas de gestação (ou mesmo antes) pode-se fazer um acompanhamento semanal da gravidez3 e apressar o parto caso haja constatação de qualquer ameaça.

Leia sobre "Morte súbita do lactente36", "Sofrimento fetal ou hipóxia37 neonatal" e "Pré-eclâmpsia17 e eclâmpsia18".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do American College of Obstetricians and Gynecologists e da Women's Preventive Services Initiative.

ABCMED, 2022. Morte fetal - causas, diagnóstico e prevenção. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/gravidez/1410820/morte-fetal-causas-diagnostico-e-prevencao.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
2 Concepção: O início da gravidez.
3 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
4 Etiologia: 1. Ramo do conhecimento cujo objeto é a pesquisa e a determinação das causas e origens de um determinado fenômeno. 2. Estudo das causas das doenças.
5 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
6 Incidentes: 1. Que incide, que sobrevém ou que tem caráter secundário; incidental. 2. Acontecimento imprevisível que modifica o desenrolar normal de uma ação. 3. Dificuldade passageira que não modifica o desenrolar de uma operação, de uma linha de conduta.
7 Cordão Umbilical: Estrutura flexível semelhante a corda, que conecta um FETO em desenvolvimento à PLACENTA, em mamíferos. O cordão contém vasos sanguíneos que transportam oxigênio e nutrientes da mãe ao feto e resíduos para longe do feto.
8 Congênitas: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
9 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
10 Hidropsia: Edema fetal generalizado habitualmente produzido por doença hemolítica. Acumulam-se quantidades anormais de líquido em duas ou mais áreas do corpo de um feto ou de um recém-nascido.
11 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
12 Lúpus: 1. É uma inflamação crônica da pele, caracterizada por ulcerações ou manchas, conforme o tipo específico. 2. Doença autoimune rara, mais frequente nas mulheres, provocada por um desequilíbrio do sistema imunológico. Nesta patologia, a defesa imunológica do indivíduo se vira contra os tecidos do próprio organismo como pele, articulações, fígado, coração, pulmão, rins e cérebro. Essas múltiplas formas de manifestação clínica, às vezes, podem confundir e retardar o diagnóstico. Lúpus exige tratamento cuidadoso por médicos especializados no assunto.
13 Eritematoso: Relativo a ou próprio de eritema. Que apresenta eritema. Eritema é uma vermelhidão da pele, devido à vasodilatação dos capilares cutâneos.
14 Sistêmico: 1. Relativo a sistema ou a sistemática. 2. Relativo à visão conspectiva, estrutural de um sistema; que se refere ou segue um sistema em seu conjunto. 3. Disposto de modo ordenado, metódico, coerente. 4. Em medicina, é o que envolve o organismo como um todo ou em grande parte.
15 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
16 Hipertensão arterial: Aumento dos valores de pressão arterial acima dos valores considerados normais, que no adulto são de 140 milímetros de mercúrio de pressão sistólica e 85 milímetros de pressão diastólica.
17 Pré-eclâmpsia: É caracterizada por hipertensão, edema (retenção de líquidos) e proteinúria (presença de proteína na urina). Manifesta-se na segunda metade da gravidez (após a 20a semana de gestação) e pode evoluir para convulsão e coma, mas essas condições melhoram com a saída do feto e da placenta. No meio médico, o termo usado é Moléstia Hipertensiva Específica da Gravidez. É a principal causa de morte materna no Brasil atualmente.
18 Eclâmpsia: Ocorre quando a mulher com pré-eclâmpsia grave apresenta covulsão ou entra em coma. As convulsões ocorrem porque a pressão sobe muito e, em decorrência disso, diminui o fluxo de sangue que vai para o cérebro.
19 Hemoglobinopatia: Doença genética que resulta de uma alteração na estrutura das cadeias de globinas em uma molécula de hemoglobina. As hemoglobinopatias mais comuns são as doenças falciformes e a talassemia.
20 Óbito: Morte de pessoa; passamento, falecimento.
21 Hemorragia: Saída de sangue dos vasos sanguíneos ou do coração para o exterior, para o interstício ou para cavidades pré-formadas do organismo.
22 Insuficiência: Incapacidade de um órgão ou sistema para realizar adequadamente suas funções.Manifesta-se de diferentes formas segundo o órgão comprometido. Exemplos: insuficiência renal, hepática, cardíaca, respiratória.
23 Sobrepeso: Peso acima do normal, índice de massa corporal entre 25 e 29,9.
24 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
25 Infertilidade: Capacidade diminuída ou ausente de gerar uma prole. O termo não implica a completa inabilidade para ter filhos e não deve ser confundido com esterilidade. Os clínicos introduziram elementos físicos e temporais na definição. Infertilidade é, portanto, freqüentemente diagnosticada quando, após um ano de relações sexuais não protegidas, não ocorre a concepção.
26 Diabetes gestacional: Tipo de diabetes melito que se desenvolve durante a gravidez e habitualmente desaparece após o parto, mas aumenta o risco da mãe desenvolver diabetes no futuro. O diabetes gestacional é controlado com planejamento das refeições, atividade física e, em alguns casos, com o uso de insulina.
27 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
28 Sintoma: Qualquer alteração da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. O sintoma é a queixa relatada pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
29 Coração: Órgão muscular, oco, que mantém a circulação sangüínea.
30 Ultrassonografia: Ultrassonografia ou ecografia é um exame complementar que usa o eco produzido pelo som para observar em tempo real as reflexões produzidas pelas estruturas internas do organismo (órgãos internos). Os aparelhos de ultrassonografia utilizam uma frequência variada, indo de 2 até 14 MHz, emitindo através de uma fonte de cristal que fica em contato com a pele e recebendo os ecos gerados, os quais são interpretados através de computação gráfica.
31 Feto: Filhote por nascer de um mamífero vivíparo no período pós-embrionário, depois que as principais estruturas foram delineadas. Em humanos, do filhote por nascer vai do final da oitava semana após a CONCEPÇÃO até o NASCIMENTO, diferente do EMBRIÃO DE MAMÍFERO prematuro.
32 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
33 Choque: 1. Estado de insuficiência circulatória a nível celular, produzido por hemorragias graves, sepse, reações alérgicas graves, etc. Pode ocasionar lesão celular irreversível se a hipóxia persistir por tempo suficiente. 2. Encontro violento, com impacto ou abalo brusco, entre dois corpos. Colisão ou concussão. 3. Perturbação brusca no equilíbrio mental ou emocional. Abalo psíquico devido a uma causa externa.
34 Anestesia: Diminuição parcial ou total da sensibilidade dolorosa. Pode ser induzida por diferentes medicamentos ou ser parte de uma doença neurológica.
35 Peridural: Mesmo que epidural. Localizado entre a dura-máter e a vértebra (diz-se do espaço do canal raquidiano). Na anatomia geral e na anestesiologia, é o que se localiza ou que se faz em torno da dura-máter.
36 Lactente: Que ou aquele que mama, bebê. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
37 Hipóxia: Estado de baixo teor de oxigênio nos tecidos orgânicos que pode ocorrer por diversos fatores, tais como mudança repentina para um ambiente com ar rarefeito (locais de grande altitude) ou por uma alteração em qualquer mecanismo de transporte de oxigênio, desde as vias respiratórias superiores até os tecidos orgânicos.
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