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Usos medicinais da maconha

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O que é a maconha?

Maconha é o nome da droga extraída da planta Cannabis sativa, que tem como princípio ativo o tetra-hidrocanabinol (THC), sendo esta substância a principal responsável pelos seus efeitos usuais. A maconha pode ter potência de ação diferente em cada caso, dependendo da quantidade de THC presente, o que pode variar de acordo com o solo em que é cultivada, clima, estação do ano em que é feita a colheita, tempo decorrido entre a colheita e o uso etc. Essa variação nos efeitos depende também de condições naturais da própria pessoa que fuma a planta.

A droga pode ser aspirada (fumada), ingerida ou, mais raramente, injetada. Em tempos antigos, a maconha foi usada como medicamento, mas em quase todo lugar foi abolida na virada do século XX, em razão de seus efeitos secundários deletérios e de seu potencial de causar dependência. Atualmente, o uso medicinal de alguns dos princípios ativos específicos da maconha começa a ser rediscutido, pois vários deles parecem não produzir efeitos maléficos (alucinogênicos) e têm se mostrado úteis no tratamento de algumas doenças como glaucoma1 e epilepsia2, por exemplo. A planta tem cerca de 400 componentes, dos quais apenas 60 têm os efeitos psicoativos comumente reconhecidos.

De modo geral, o uso da maconha é proibido em quase todo lugar. Em alguns países e estados dos Estados Unidos a maconha é liberada para uso medicinal, segundo regulamentação restritiva. A liberação para uso recreativo é mais rara e ainda mais restritiva.

Leia mais sobre “O que é maconha? Ela pode causar dependência?”, “Alucinose orgânica” e “Transtornos devidos ao abuso de drogas”.

Os diversos usos da maconha

No mundo quase todo o consumo livre da maconha é proibido, devido a seus efeitos negativos sobre o organismo, sobretudo sobre o sistema nervoso3, e seu potencial de criar vício. Apesar disso, a maconha é a droga ilegal mais consumida no mundo. O uso recreacional é feito sob a forma de fumar cigarro feito de folhas secas, talos, brotos, flores e sementes da planta fêmea. Ela é rapidamente absorvida pelos pulmões4, indo diretamente ao sangue5, onde atinge um pico de concentração em poucos minutos. Ela pode causar relaxamento e sonolência; euforia; confusão mental; distorção da percepção do tempo e do espaço; aumento da frequência cardíaca; fome intensa; olhos6 vermelhos; boca7 seca; insensibilidade ou diminuição da sensibilidade à dor; hipersensibilidade a estímulos sensoriais; delírios e alucinações8. Além disso, o uso constante pode ocasionar apatia9, alteração do nível de testosterona, alterações na memória, redução na capacidade de aprendizagem, diminuição da resistência a infecções10, alterações do pensamento e sentimentos de estranheza.

No entanto, as ações potencialmente benéficas de algumas substâncias extraídas da Cannabis sativa sobre alguns sintomas11 de doenças reavivou o interesse da Medicina sobre a planta. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou no final de 2019 o novo regulamento para produtos medicinais derivados da Cannabis sativa, autorizando a venda desses medicamentos no país, mas mantendo o veto para o cultivo da planta.

A grande maioria dos medicamentos produzidos a partir da maconha tem como principal substância o canabidiol, elemento com propriedades analgésicas e relaxantes, além de diminuir a pressão intraocular12 no caso de glaucoma1, ter efeito broncodilatador13 e anticonvulsivante, atuar favoravelmente nos casos de náuseas14 e vômitos15 e ajudar nos distúrbios de movimento e perda de apetite. O canabidiol é o menos controverso dos componentes da Cannabis, sendo o componente da maconha que tem poucas (se houver), propriedades intoxicantes.

Em particular, a maconha parece aliviar a dor da esclerose múltipla16 e a dor nos nervos em geral. Esta é uma área onde existem poucas outras opções e aquelas que existem são altamente sedativas. Ela é, também, considerada um excelente relaxante muscular e tem a capacidade de diminuir os tremores do mal de Parkinson. Fala-se ainda da sua ação benéfica na fibromialgia17, endometriose18, cistite19 intersticial20 e outras condições de dor crônica.

Quais são os efeitos colaterais21 da maconha?

O uso da maconha pode desencadear alguns efeitos negativos no organismo humano. Esses efeitos dependem de vários fatores, como quantidade utilizada da droga, estado emocional do usuário e se há uso combinado com outras drogas. Entre os principais efeitos a curto prazo pode-se citar ansiedade; probabilidade de ocorrência de sintomas11 psicóticos em pessoas predispostas; diminuição da atenção e da memória; diminuição da capacidade motora; euforia; sentidos mais aguçados; pânico; paranoia e sensação de relaxamento. O uso crônico22 dessa droga pode causar danos cognitivos23 graves no usuário. Entre os principais problemas identificados observa-se déficit de atenção e de memória de curto prazo. Seu uso constante pode ainda causar a chamada “síndrome amotivacional”, que se caracteriza por um estado de indiferença e passividade e certo desligamento da realidade. O uso crônico22 da maconha pode também afetar de maneira negativa o sistema respiratório24, sendo responsável até mesmo pelo desenvolvimento de câncer25. Nos homens, pode ainda causar uma séria diminuição do hormônio26 testosterona e em mulheres pode até mesmo afetar a ovulação27. Se usada durante a gestação, a maconha pode gerar danos graves ao feto28 como malformações29, anencefalia e problemas cognitivos23 na criança. 

Links relacionados: “Parar de fumar”, “Dependência do crack” e “O perigo dos remédios para emagrecer”.

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Harvard Medical School, da Britannica e do National Center for Biotechnology Information / U.S. National Library of Medicine.

ABCMED, 2020. Usos medicinais da maconha. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/1384440/usos-medicinais-da-maconha.htm>. Acesso em: 19 nov. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Glaucoma: É quando há aumento da pressão intra-ocular e danos ao nervo óptico decorrentes desse aumento de pressão. Esses danos se expressam no exame de fundo de olho e por alterações no campo de visão.
2 Epilepsia: Alteração temporária e reversível do funcionamento cerebral, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Quando restritos, a crise será chamada crise epiléptica parcial; quando envolverem os dois hemisférios cerebrais, será uma crise epiléptica generalizada. O paciente pode ter distorções de percepção, movimentos descontrolados de uma parte do corpo, medo repentino, desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente e até perder a consciência - neste caso é chamada de crise complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de memória. Existem outros tipos de crises epilépticas.
3 Sistema nervoso: O sistema nervoso é dividido em sistema nervoso central (SNC) e o sistema nervoso periférico (SNP). O SNC é formado pelo encéfalo e pela medula espinhal e a porção periférica está constituída pelos nervos cranianos e espinhais, pelos gânglios e pelas terminações nervosas.
4 Pulmões: Órgãos do sistema respiratório situados na cavidade torácica e responsáveis pelas trocas gasosas entre o ambiente e o sangue. São em número de dois, possuem forma piramidal, têm consistência esponjosa e medem cerca de 25 cm de comprimento. Os pulmões humanos são divididos em segmentos denominados lobos. O pulmão esquerdo possui dois lobos e o direito possui três. Os pulmões são compostos de brônquios que se dividem em bronquíolos e alvéolos pulmonares. Nos alvéolos se dão as trocas gasosas ou hematose pulmonar entre o meio ambiente e o corpo, com a entrada de oxigênio na hemoglobina do sangue (formando a oxiemoglobina) e saída do gás carbônico ou dióxido de carbono (que vem da célula como carboemoglobina) dos capilares para o alvéolo.
5 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
6 Olhos:
7 Boca: Cavidade oral ovalada (localizada no ápice do trato digestivo) composta de duas partes
8 Alucinações: Perturbações mentais que se caracterizam pelo aparecimento de sensações (visuais, auditivas, etc.) atribuídas a causas objetivas que, na realidade, inexistem; sensações sem objeto. Impressões ou noções falsas, sem fundamento na realidade; devaneios, delírios, enganos, ilusões.
9 Apatia: 1. Em filosofia, para os céticos e os estoicos, é um estado de insensibilidade emocional ou esmaecimento de todos os sentimentos, alcançado mediante o alargamento da compreensão filosófica. 2. Estado de alma não suscetível de comoção ou interesse; insensibilidade, indiferença. 3. Em psicopatologia, é o estado caracterizado por indiferença, ausência de sentimentos, falta de atividade e de interesse. 4. Por extensão de sentido, é a falta de energia (física e moral), falta de ânimo; abatimento, indolência, moleza.
10 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
11 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
12 Pressão intraocular: É a medida da pressão dos olhos. É a pressão do líquido dentro do olho.
13 Broncodilatador: Substância farmacologicamente ativa que promove a dilatação dos brônquios.
14 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
15 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
16 Esclerose múltipla: Doença degenerativa que afeta o sistema nervoso, produzida pela alteração na camada de mielina. Caracteriza-se por alterações sensitivas e de motilidade que evoluem através do tempo produzindo dano neurológico progressivo.
17 Fibromialgia:
18 Endometriose: Doença que acomete as mulheres em idade reprodutiva e consiste na presença de endométrio em locais fora do útero. Endométrio é a camada interna do útero que é renovada mensalmente pela menstruação. Os locais mais comuns da endometriose são: Fundo de Saco de Douglas (atrás do útero), septo reto-vaginal (tecido entre a vagina e o reto ), trompas, ovários, superfície do reto, ligamentos do útero, bexiga e parede da pélvis.
19 Cistite: Inflamação ou infecção da bexiga. É uma das infecções mais freqüentes em mulheres, e manifesta-se por ardor ao urinar, urina escura ou com traços de sangue, aumento na freqüência miccional, etc.
20 Intersticial: Relativo a ou situado em interstícios, que são pequenos espaços entre as partes de um todo ou entre duas coisas contíguas (por exemplo, entre moléculas, células, etc.). Na anatomia geral, diz-se de tecido de sustentação localizado nos interstícios de um órgão, especialmente de vasos sanguíneos e tecido conjuntivo.
21 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
22 Crônico: Descreve algo que existe por longo período de tempo. O oposto de agudo.
23 Cognitivos: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.
24 Sistema Respiratório: Órgãos e estruturas tubulares e cavernosas, por meio das quais a ventilação pulmonar e as trocas gasosas entre o ar externo e o sangue são realizadas.
25 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
26 Hormônio: Substância química produzida por uma parte do corpo e liberada no sangue para desencadear ou regular funções particulares do organismo. Por exemplo, a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que diz a outras células quando usar a glicose para energia. Hormônios sintéticos, usados como medicamentos, podem ser semelhantes ou diferentes daqueles produzidos pelo organismo.
27 Ovulação: Ovocitação, oocitação ou ovulação nos seres humanos, bem como na maioria dos mamíferos, é o processo que libera o ovócito II em metáfase II do ovário. (Em outras espécies em vez desta célula é liberado o óvulo.) Nos dias anteriores à ovocitação, o folículo secundário cresce rapidamente, sob a influência do FSH e do LH. Ao mesmo tempo que há o desenvolvimento final do folículo, há um aumento abrupto de LH, fazendo com que o ovócito I no seu interior complete a meiose I, e o folículo passe ao estágio de pré-ovocitação. A meiose II também é iniciada, mas é interrompida em metáfase II aproximadamente 3 horas antes da ovocitação, caracterizando a formação do ovócito II. A elevada concentração de LH provoca a digestão das fibras colágenas em torno do folículo, e os níveis mais altos de prostaglandinas causam contrações na parede ovariana, que provocam a extrusão do ovócito II.
28 Feto: Filhote por nascer de um mamífero vivíparo no período pós-embrionário, depois que as principais estruturas foram delineadas. Em humanos, do filhote por nascer vai do final da oitava semana após a CONCEPÇÃO até o NASCIMENTO, diferente do EMBRIÃO DE MAMÍFERO prematuro.
29 Malformações: 1. Defeito na forma ou na formação; anomalia, aberração, deformação. 2. Em patologia, é vício de conformação de uma parte do corpo, de origem congênita ou hereditária, geralmente curável por cirurgia. Ela é diferente da deformação (que é adquirida) e da monstruosidade (que é incurável).
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