Gostou do artigo? Compartilhe!

Transtornos devidos ao abuso de drogas

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie este artigo

O que é o abuso das drogas?

Define-se como abuso de drogas o uso de qualquer substância utilizada para fins não médicos, capaz de produzir uma alteração tida como agradável no estado de ânimo e no comportamento do indivíduo e que, por isso, leva-o ao desejo incontrolável de tomá-la novamente.

A dependência de drogas é uma doença que afeta o cérebro1 da pessoa e leva a que ela tenha incapacidade de controlar o uso de determinadas substâncias como o álcool, a maconha e a nicotina, por exemplo. Isso pode ocorrer tanto com algumas substâncias receitadas legalmente, como medicamentos, ou obtidas ilegalmente.

Quando uma pessoa é viciada, pode continuar usando a droga ou medicamento, apesar de saber dos danos que ela causa e mesmo que já os esteja sofrendo.

Quais são as causas do abuso das drogas?

Vários fatores podem contribuir para o desenvolvimento da dependência de drogas. Os principais são de dois tipos: (1) fatores ambientais, incluindo as crenças e atitudes da cultura, da família ou de colegas que incentivam o uso de drogas e (2) fatores genéticos. Depois de começar a usar um medicamento, o desenvolvimento do vício pode ser influenciado por características herdadas, que podem atrasar ou acelerar a progressão da doença.

A dependência de drogas pode começar com o uso experimental de uma droga recreativa em situações sociais ou de uma medicação usada sobretudo para produzir estados eufóricos artificiais. Para algumas pessoas, esse uso se torna cada vez mais necessário e frequente. Para outras pessoas a dependência de drogas começa com a exposição a medicamentos prescritos (particularmente opioides).

O risco de dependência e a rapidez com que uma pessoa se torna viciada varia de acordo com a droga e com a predisposição que ela encontra no organismo. Algumas substâncias e medicamentos apresentam um maior risco potencial de causar dependência e de fato a causam mais rapidamente do que outras.

Qual é o mecanismo dos transtornos do abuso de drogas?

Se a droga produz um efeito agradável ou alivia um sintoma2 muito incômodo, a pessoa tende a repeti-la. À medida que o tempo passa, a pessoa pode precisar de doses progressivamente maiores dela para atingir esses efeitos e, em curto tempo, ela pode passar a precisar da droga para se sentir bem; é uma necessidade que só aumenta. Tentativas de interromper o uso das drogas podem desencadear dolorosos sintomas3 de abstinência, o que reativa desejos ainda mais intensos e invencíveis de consumir a droga.

Leia sobre "Quinze sinais4 da dependência às drogas", "Síndrome5 de abstinência" e "Overdose".

Como reconhecer os transtornos devidos ao abuso de drogas?

Entre outras coisas, de maneira geral, os comportamentos do dependente de drogas incluem:

  1. Desejos intensos e cada vez maiores da droga
  2. Estar sempre preocupado em garantir o suprimento do produto
  3. Gastar com a droga mais do que pode pagar, envolvendo-se em complicadas situações, às vezes ilegais, como roubar, por exemplo
  4. Não cumprir obrigações e responsabilidades de trabalho ou de outra natureza
  5. Faltar a atividades sociais ou recreativas
  6. Continuar usando as drogas ou usar a droga mesmo sabendo que ela está lhe causando danos físicos ou psicológicos
  7. Trazer problemas à sua convivência com as pessoas
  8. Realizar atividades que põem em risco a vida para obter a droga, como se envolver com pessoas de má índole ou andar por locais perigosos
  9. Diminuir gravemente sua produtividade no trabalho ou no estudo
  10. Ter problemas de saúde6 física ou psicológica
  11. Ter uma aparência descuidada
  12. Ter mudanças de comportamento em relação ao habitual
  13. Ter problemas de dinheiro

Mas cada droga ou medicamento mostra sinais4 e sintomas3 mais ou menos específicos.

1. O uso recente da maconha e outras substâncias que contenham cannabis produz sensação de euforia, maior senso de percepção visual, auditiva e de paladar7, aumento da pressão arterial8 e da frequência cardíaca, olhos9 vermelhos, boca10 seca, coordenação muscular diminuída, dificuldade em se concentrar ou lembrar, tempo de reação mais lento que o normal, ansiedade ou pensamento “paranoico”, odor de cannabis nas roupas, pontas dos dedos amareladas e desejos exagerados por certos alimentos. Com o uso crônico11, os sinais4 e sintomas3 mais comuns são diminuição da nitidez mental e número reduzido de amigos e interesses.

2. Os barbitúricos, benzodiazepínicos e hipnóticos são depressores do sistema nervoso central12. Sinais4 e sintomas3 de uso recente podem incluir sonolência, fala arrastada, falta de coordenação, irritabilidade, mudanças de humor, problemas de concentração ou pensamento claro, problemas de memória, movimentos oculares involuntários, falta de inibição, respiração lenta e pressão arterial8 reduzida, quedas ou acidentes e tonturas13.

3. A metanfetamina, cocaína e outros estimulantes da mesma linha costumam ser usados para causar euforia e aumentar a energia, melhorar o desempenho no trabalho ou na escola, perder peso, controlar o apetite, produzir sensação de alegria e confiança, maior capacidade de atenção, maior energia, discurso mais rápido, etc. Todos esses efeitos são, no entanto, passageiros e decorrido o efeito da droga o paciente entra novamente em depressão e apatia14, precisando novamente tomar a droga para recuperar a euforia. Dessa maneira, forma-se um círculo vicioso que tende a manter o uso da droga. Além desses sintomas3, o uso de qualquer uma dessas drogas causa pupilas dilatadas, confusão, delírios e alucinações15, irritabilidade, ansiedade ou “paranoia”, alterações na frequência cardíaca, pressão arterial8 e temperatura corporal, náuseas16 ou vômitos17, julgamento prejudicado, congestão nasal e danos à membrana mucosa18 do nariz19, feridas na boca10, doenças gengivais e cáries20 dentárias causadas pelo uso de drogas, insônia e depressão.

4. As chamadas “drogas de clubes” são comumente usadas em clubes, shows e festas. Esses medicamentos não são todos da mesma categoria, mas compartilham alguns efeitos e perigos semelhantes, incluindo efeitos nocivos a longo prazo. O exemplo clássico aqui no Brasil é o Ecstasy. Os sinais4 e sintomas3 do uso dessas drogas podem incluir alucinações15, “paranoia”, pupilas dilatadas, calafrios21 e sudorese22, agitação involuntária23, mudanças de comportamento, câimbras24 musculares e aperto dos dentes, relaxamento muscular, má coordenação ou problemas de movimentação, inibições reduzidas, senso de visão25, som e sabor aumentados ou alterados, julgamento pobre, problemas de memória, consciência reduzida e aumento ou diminuição da frequência cardíaca e pressão arterial8.

5. Os alucinógenos podem produzir diferentes sinais4 e sintomas3, dependendo da droga. O alucinógeno mais comum é a dietilamida do ácido lisérgico (LSD). O uso de LSD pode causar alucinações15, percepção bastante reduzida, comportamento impulsivo, mudanças rápidas nas emoções, mudanças mentais permanentes na percepção, frequência cardíaca rápida, pressão alta, tremores e flashbacks.

6. Os inalantes (cola, diluentes para tinta, líquido corretivo, líquido marcador de ponta de feltro, gasolina, fluidos de limpeza e produtos aerossóis para uso doméstico) produzem sinais4 e sintomas3 que variam, dependendo da substância, e podem incluir breve euforia ou intoxicação, inibição diminuída, combatividade ou beligerância, tonturas13, náuseas16 e vômitos17, movimentos oculares involuntários, fala arrastada, movimentos lentos, falta de coordenação, batimentos cardíacos irregulares, tremores, odor persistente de material inalante e erupção26 no nariz19 e boca10. Devido à natureza tóxica dessas substâncias, os usuários podem desenvolver danos cerebrais orgânicos ou morte súbita.

7. Os opioides analgésicos27 incluem, entre outros, heroína, morfina, codeína, metadona e oxicodona. Os sinais4 e sintomas3 do uso e dependência dessas drogas podem incluir sensação reduzida de dor, agitação, sonolência ou sedação28, fala arrastada, problemas com atenção e memória, desatenção às pessoas e coisas ao redor, problemas com a coordenação, depressão, confusão mental, prisão de ventre e corrimento nasal.

Saiba mais sobre "Maconha", "Dependência de cocaína" e "Dependência do crack".

Como tratar o abuso de drogas?

De um modo geral, o próprio viciado não aceita qualquer tipo de tratamento. A pessoa quase sempre precisa contar com a ajuda do médico, da família, de amigos, grupos de apoio ou de um programa de tratamento organizado para superar seu vício e ficar livre das drogas.

As pessoas viciadas geralmente negam que o uso de drogas seja problemático e se negam a realizar qualquer tratamento. Uma intervenção então deve ser cuidadosamente planejada e pode ser feita por familiares e amigos em consulta com um médico. Muitas vezes envolve clérigos ou pastores que se preocupam com a pessoa que luta contra o vício. Em casos graves, que representam perigos para si ou para outros, a internação compulsória pode ser necessária.

Quais são as complicações possíveis dos transtornos devidos ao abuso de drogas?

O uso de drogas pode ter efeitos deletérios significativos a curto e longo prazos. Alguns podem inclusive ser fatais, especialmente se a pessoa tomar doses altas ou combiná-las com outras drogas ou álcool. De um modo geral, podem causar comportamento psicótico, convulsões, coma29, confusão mental e perda de memória. Os usuários dos inalantes podem desenvolver danos cerebrais de diferentes níveis de gravidade.

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da Mayo Clinic, do Columbia University Departament of Psychiatry e de artigo publicado pela Universidade de Taubaté – Departamento de Medicina

ABCMED, 2019. Transtornos devidos ao abuso de drogas. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1349593/transtornos-devidos-ao-abuso-de-drogas.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
2 Sintoma: Qualquer alteração da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. O sintoma é a queixa relatada pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
3 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
4 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
5 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
6 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
7 Paladar: Paladar ou sabor. Em fisiologia, é a função sensorial que permite a percepção dos sabores pela língua e sua transmissão, através do nervo gustativo ao cérebro, onde são recebidos e analisados.
8 Pressão arterial: A relação que define a pressão arterial é o produto do fluxo sanguíneo pela resistência. Considerando-se a circulação como um todo, o fluxo total é denominado débito cardíaco, enquanto a resistência é denominada de resistência vascular periférica total.
9 Olhos:
10 Boca: Cavidade oral ovalada (localizada no ápice do trato digestivo) composta de duas partes
11 Crônico: Descreve algo que existe por longo período de tempo. O oposto de agudo.
12 Sistema Nervoso Central: Principais órgãos processadores de informação do sistema nervoso, compreendendo cérebro, medula espinhal e meninges.
13 Tonturas: O indivíduo tem a sensação de desequilíbrio, de instabilidade, de pisar no vazio, de que vai cair.
14 Apatia: 1. Em filosofia, para os céticos e os estoicos, é um estado de insensibilidade emocional ou esmaecimento de todos os sentimentos, alcançado mediante o alargamento da compreensão filosófica. 2. Estado de alma não suscetível de comoção ou interesse; insensibilidade, indiferença. 3. Em psicopatologia, é o estado caracterizado por indiferença, ausência de sentimentos, falta de atividade e de interesse. 4. Por extensão de sentido, é a falta de energia (física e moral), falta de ânimo; abatimento, indolência, moleza.
15 Alucinações: Perturbações mentais que se caracterizam pelo aparecimento de sensações (visuais, auditivas, etc.) atribuídas a causas objetivas que, na realidade, inexistem; sensações sem objeto. Impressões ou noções falsas, sem fundamento na realidade; devaneios, delírios, enganos, ilusões.
16 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
17 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
18 Membrana Mucosa: EPITÉLIO com células secretoras de MUCOS, como as CÉLULAS CALICIFORMES. Forma o revestimento de muitas cavidades do corpo, como TRATO GASTROINTESTINAL, TRATO RESPIRATÓRIO e trato reprodutivo. Mucosa, rica em sangue e em vasos linfáticos, compreende um epitélio interno, uma camada média (lâmina própria) do TECIDO CONJUNTIVO frouxo e uma camada externa (muscularis mucosae) de células musculares lisas que separam a mucosa da submucosa.
19 Nariz: Estrutura especializada que funciona como um órgão do sentido do olfato e que também pertence ao sistema respiratório; o termo inclui tanto o nariz externo como a cavidade nasal.
20 Cáries: Destruição do esmalte dental produzida pela proliferação de bactérias na cavidade oral.
21 Calafrios: 1. Conjunto de pequenas contrações da pele e dos músculos cutâneos ao longo do corpo, muitas vezes com tremores fortes e palidez, que acompanham uma sensação de frio provocada por baixa temperatura, má condição orgânica ou ainda por medo, horror, nojo, etc. 2. Sensação de frio e tremores fortes, às vezes com bater de dentes, que precedem ou acompanham acessos de febre.
22 Sudorese: Suor excessivo
23 Involuntária: 1.    Que se realiza sem intervenção da vontade ou que foge ao controle desta, automática, inconsciente, espontânea. 2.    Que se encontra em uma dada situação sem o desejar, forçada, obrigada.
24 Câimbras: Contrações involuntárias, espasmódicas e dolorosas de um ou mais músculos.
25 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
26 Erupção: 1. Ato, processo ou efeito de irromper. 2. Aumento rápido do brilho de uma estrela ou de pequena região da atmosfera solar. 3. Aparecimento de lesões de natureza inflamatória ou infecciosa, geralmente múltiplas, na pele e mucosas, provocadas por vírus, bactérias, intoxicações, etc. 4. Emissão de materiais magmáticos por um vulcão (lava, cinzas etc.).
27 Analgésicos: Grupo de medicamentos usados para aliviar a dor. As drogas analgésicas incluem os antiinflamatórios não-esteróides (AINE), tais como os salicilatos, drogas narcóticas como a morfina e drogas sintéticas com propriedades narcóticas, como o tramadol.
28 Sedação: 1. Ato ou efeito de sedar. 2. Aplicação de sedativo visando aliviar sensação física, por exemplo, de dor. 3. Diminuição de irritabilidade, de nervosismo, como efeito de sedativo. 4. Moderação de hiperatividade orgânica.
29 Coma: 1. Alteração do estado normal de consciência caracterizado pela falta de abertura ocular e diminuição ou ausência de resposta a estímulos externos. Pode ser reversível ou evoluir para a morte. 2. Presente do subjuntivo ou imperativo do verbo “comer.“
Gostou do artigo? Compartilhe!

Pergunte diretamente a um especialista

Sua pergunta será enviada aos especialistas do CatalogoMed, veja as dúvidas já respondidas.