Os vícios e as suas caraterísticas
O que é vício?
O vício (latim: vitium = falha, defeito) é uma condição caracterizada pelo desejo compulsivo e difícil de controlar por uma substância, atividade ou comportamento específico, apesar de as consequências negativas que podem surgir desse excesso. Qualquer hábito que envolva uma dependência intensa e prejudicial pode ser definido como um vício.
Os vícios são considerados doenças que afetam diretamente o sistema nervoso1, criando no indivíduo uma dependência física ou emocional. Pode se referir tanto ao vício em substâncias químicas, como drogas e álcool, quanto ao vício comportamental, como jogos de azar, pornografia, videogames, joguinhos eletrônicos, compras compulsivas, o comer compulsivo, dentre outros comportamentos.
De um modo geral, os vícios em substâncias são mais prejudiciais do que os vícios comportamentais, porque afetam diretamente a fisiologia2 do corpo.
Leia sobre "Compulsão", "O comer compulsivo", "Jogadores patológicos" e "Satiríase".
O que leva uma pessoa ao vício?
Muitas pessoas pensam que o vício é uma questão de fraqueza pessoal, uma falta de autocontrole. Na comunidade científica (médicos e psicólogos, sobretudo) existe o pensamento de que muitas pessoas se envolvem com o vício como uma maneira de fugir do desconforto físico ou emocional que tenham sido causados por alguma vivência traumática.
Todas as situações que possam produzir prazer imediato, ou evitem um desprazer, são potencialmente viciantes para algumas pessoas. Algumas experiências são viciantes desde as primeiras vezes, enquanto outras só se tornam viciantes a partir de um certo número de experimentos.
Além disso, cada pessoa tem um limiar diferente para adquirir vícios: umas se viciam com mais facilidade e outras dificilmente os adquirem.
As principais condições que contribuem para levar uma pessoa ao vício incluem:
- Fatores genéticos, pois existem evidências de que a predisposição genética pode aumentar a suscetibilidade ao vício. Se alguém tem familiares com histórico de dependência, há maior probabilidade de que também desenvolva problemas com vícios. Isso pode se dever tanto a fatores genéticos quanto a exemplos comportamentais.
- Substâncias neuroquímicas viciantes podem afetar a química cerebral, estimulando a liberação de neurotransmissores que provocam sensações de prazer e recompensa. Com o tempo, o cérebro3 pode se adaptar a essas mudanças e exigir quantidades cada vez maiores da substância para atingir o mesmo efeito, levando à dependência física e psicológica.
- Fatores psicológicos, como traumas, estresse, ansiedade, depressão e outros problemas de saúde4 mental podem desempenhar um papel importante no desenvolvimento do vício. Algumas pessoas podem usar substâncias ou comportamentos viciantes como uma forma de escapar temporariamente de suas dificuldades emocionais.
- O ambiente em que alguém vive também pode ser um fator de risco5 para o vício. Pressões sociais, influências dos pares e fácil acesso a substâncias viciantes podem aumentar a probabilidade de alguém desenvolver um comportamento aditivo.
- O vício muitas vezes envolve um processo de aprendizado e condicionamento, em que a associação entre a substância ou comportamento viciante e a sensação de recompensa se fortalece com o tempo.
- Em alguns casos, campanhas de marketing e publicidade de produtos viciantes podem influenciar o comportamento das pessoas, levando ao uso contínuo e, potencialmente, ao vício.
Em algumas pessoas podem atuar concomitantemente vários desses fatores ou um deles pode ter uma importância proeminente.
Qual é o substrato fisiopatológico do vício?
Há uma interação entre fatores biológicos, psicológicos e sociais. O sistema de recompensa do cérebro3, mediado por neurotransmissores, está intimamente envolvido no vício. Substâncias como dopamina6, serotonina e noradrenalina7 desempenham um papel fundamental na regulação do prazer, motivação e aprendizado. Elas ativam vias de recompensa, aumentando a liberação de dopamina6 no cérebro3, o que reforça a associação entre o uso da substância e o prazer, levando a comportamentos compulsivos.
O uso repetido e excessivo de drogas pode levar a mudanças duradouras na estrutura e função do cérebro3 e essas alterações podem afetar a capacidade do indivíduo de controlar seus impulsos e de sentir prazer a partir de outras atividades não relacionadas à droga.
Mas, parece haver também uma predisposição genética para o desenvolvimento do vício. Alguns indivíduos podem herdar uma maior vulnerabilidade a comportamentos aditivos, o que significa que, para essas pessoas, o uso inicial da droga pode levar mais facilmente ao desenvolvimento do vício.
O vício pode também estar associado a outras condições de saúde4 mental, como depressão, ansiedade e transtornos de personalidade.
Quais são as características dos comportamentos de vício?
Os comportamentos de vício podem variar dependendo do tipo de substância ou atividade viciante envolvida, mas sempre têm um impacto significativo na saúde4 física e mental das pessoas afetadas, bem como nas suas relações interpessoais, trabalho e vida social. Muitas vezes, as pessoas que têm um vício encontram-se presas em um ciclo vicioso compulsivo, tornando-se cada vez mais difícil para elas resistir ao impulso e controlar seus vícios.
As características comportamentais de uma pessoa viciada podem variar de acordo com o tipo de vício e a gravidade do problema. No entanto, existem algumas características gerais que são frequentemente observadas em pessoas que lutam contra o vício.
O viciado sente uma forte necessidade ou desejo irresistível de consumir a substância ou se envolver no comportamento vicioso, mesmo que isso cause consequências negativas e riscos para sua vida, e tem dificuldade em limitar a quantidade ou frequência do consumo da substância ou comportamento vicioso, mesmo que tente fazê-lo. Fica constantemente pensando na substância ou no comportamento vicioso, interferindo em outras áreas de sua vida. Com isso, se desfaz de suas obrigações pessoais, profissionais ou acadêmicas em favor do vício e começa a se afastar de amigos e familiares, buscando cada vez mais tempo para se dedicar ao vício. Os viciados podem se envolver em comportamentos arriscados ou ilegais para obter a substância ou continuar seu comportamento vicioso.
Com o tempo, o viciado pode desenvolver tolerância à substância ou ao comportamento, o que significa que precisa de quantidades maiores ou mais intensas para alcançar o mesmo efeito. Quando uma pessoa tenta reduzir ou parar o uso da substância, ela experimenta sintomas8 físicos ou emocionais de abstinência e pode passar por flutuações intensas de humor, oscilando entre euforia e depressão ou irritabilidade; pode ocorrer a negligência9 da higiene pessoal, alimentação inadequada e alterações no padrão de sono; pode tentar esconder o seu vício das outras pessoas, dizendo mentiras ou adotando comportamentos enganosos; e pode perder o interesse em atividades que antes eram prazerosas.
Veja também sobre "Síndrome10 de burnout", "Transtornos alimentares", "Masturbação11 compulsiva" e "Compulsão sexual".
Como tratar o vício?
O viciado dificilmente procura tratamento por si mesmo. Só o faz quando levado ou conduzido por outrem, quase sempre uma pessoa próxima ou familiar. Mesmo assim, sua adesão ao tratamento é muito baixa e frequentemente o interrompe. Isso já indica um mal começo do tratamento, que geralmente não tem continuidade.
O tratamento do vício requer uma abordagem multidisciplinar, que pode incluir terapia cognitivo12-comportamental, aconselhamento, suporte social e, em alguns casos, medicamentos.
Como evolui o vício?
O ideal, raro de acontecer, é que a pessoa viciada procure tratamento por ela mesma. A pessoa afetada deve procurar ou ser levada à ajuda profissional o quanto antes, pois o tratamento adequado nas situações iniciais pode mais facilmente ajudar a superar essa condição e melhorar a qualidade de vida. A recuperação de pessoas já afetadas por um vício de longa duração é bastante difícil e muito improvável.
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente do site da Harvard Medical School.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.