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Doenças congênitas, genéticas e hereditárias: quais as diferenças?

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Muitas pessoas não conseguem distinguir com precisão o que são doenças congênitas1, genéticas e hereditárias, até porque esses termos não são inteiramente excludentes e muitas vezes se superpõem. Eles são, na verdade, termos aparentados, mas que descrevem realidades bastante diferentes.

Há doenças congênitas1 que são genéticas e/ou hereditárias, doenças genéticas que são congênitas1 e/ou hereditárias e doenças hereditárias que podem se manifestar congenitamente e outras que só se manifestam mais tarde. É importante notar que elas são formas diferentes de adoecer e não descrevem graus de gravidade das enfermidades.

O que são doenças congênitas1?

As doenças ditas congênitas1, também chamadas defeitos de nascimento, anomalias congênitas1 ou malformações2 congênitas1, são doenças ou anomalias estruturais ou funcionais que começam durante a vida intrauterina. Elas surgem durante a formação do feto3 e podem comprometer qualquer tecido4 ou órgão do corpo humano5, resultando em alterações físicas, desenvolvimento incompleto ou funcionamento incorreto do organismo.

As doenças congênitas1 podem ser identificadas no momento do nascimento ou mesmo antes dele, ainda no útero6, muitas vezes já durante os 3 primeiros meses de gravidez7. No entanto, algumas vezes só é possível detectá-las mais tarde, durante o 1º ano de vida ou, em alguns casos, na infância.

Existem muitas condições e doenças congênitas1, entre as quais as principais são:

  • a cardiopatia congênita8;
  • a síndrome de Down9;
  • o lábio leporino10;
  • a espinha bífida11;
  • o pé torto;
  • a fenilcetonúria12;
  • a fibrose cística13;
  • a anemia falciforme14;
  • a talassemia15;
  • o defeito do tubo neural16;
  • a sífilis17 congênita8;
  • a meningomielocele;
  • e várias outras.

Grande parte das alterações congênitas1 podem ser detectadas ainda durante a gestação, através da ultrassonografia18 pré-natal. Esta ferramenta permite detectar, por exemplo, malformações2 do feto3, anomalia do septo cardíaco19, hidropisia fetal, cistos renais, etc.

Por seu turno, o exame genético é capaz de identificar mutações genéticas de forma específica e rápida. Além de poder ser utilizado durante a gestação, pode também ser utilizado no período preconcepção para identificar a possibilidade dos pais de transmitirem um distúrbio genético aos filhos.

Após o nascimento, as anormalidades funcionais ou de aparecimento tardio podem ser identificadas a partir dos testes da triagem neonatal, em geral feitos ainda na maternidade, que incluem, entre outros, o teste do pezinho, do olhinho, da orelhinha, da bochechinha e do coraçãozinho, e também por exames complementares, como exames de imagens e exames laboratoriais genéticos.

Leia sobre "Mutações genéticas", "Mutações cromossômicas" e "Cariótipo fetal".

O que são doenças genéticas?

Doenças genéticas são causadas por alterações no DNA (material genético) dos genes do indivíduo. Os genes são mensageiros que instruem e determinam as características herdadas de um indivíduo e desempenham um papel crucial no funcionamento do corpo.

As doenças genéticas podem ser hereditárias, quando transmitidas de uma geração para as gerações seguintes, ou podem ocorrer em razão de mutações espontâneas, decorrentes de fatores ambientais aleatórios. Da mesma forma, elas podem ser congênitas1 e já se manifestarem no momento do nascimento ou só aparecerem mais tardiamente.

Algumas são causadas por mutações em um único gene (doenças genéticas monogênicas), enquanto outras resultam de interações complexas entre vários genes e fatores ambientais (doenças genéticas poligênicas).

O estudo das doenças genéticas é uma parte importante da genética médica, e os recentes avanços nessa área têm contribuído para o desenvolvimento de terapias e tratamentos direcionados para muitas dessas condições. O aconselhamento genético também desempenha um papel fundamental ao ajudar as pessoas a entenderem o risco de transmitir doenças genéticas para seus descendentes e a tomar decisões informadas sobre planejamento familiar.

Os exemplos mais comuns de doenças genéticas são:

O que são doenças hereditárias?

As doenças hereditárias, também conhecidas como doenças genéticas hereditárias, são condições médicas causadas por alterações ou mutações nos genes passadas de uma geração para as gerações seguintes, embora em algumas gerações, devido à combinação de alelos25 (pares de genes vindos dos pais) elas possam não ser manifestar.

As doenças hereditárias são doenças genéticas (alterações dos genes), mas nem todas as doenças genéticas são hereditárias, uma vez que nem toda alteração de genes é transmissível entre as gerações. 

As doenças hereditárias podem afetar diferentes sistemas e funções do corpo e podem ser de dois tipos principais:

  • Doenças hereditárias monogênicas, causadas por mutações em um único gene. Exemplos: fibrose cística13, hemofilia20 e doença de Huntington.
  • Doenças hereditárias poligênicas, causadas por uma combinação de fatores genéticos e ambientais. Exemplos: diabetes22 tipo 2, doenças cardíacas e alguns tipos de câncer23.

Além disso, algumas doenças hereditárias são causadas por anomalias cromossômicas, como a síndrome de Down9, que é causada por uma cópia extra do cromossomo26 21. A transmissão dessas doenças segue padrões de herança autossômica27 dominante, autossômica27 recessiva ou herança ligada ao sexo.

O aconselhamento genético é uma abordagem importante para lidar com doenças hereditárias. Os profissionais de saúde28 especializados em genética podem fornecer informações sobre os riscos genéticos, opções de teste genético e aconselhamento sobre medidas preventivas e tratamento.

A pesquisa genética e as terapias genéticas também estão em constante evolução, oferecendo esperança para o tratamento de algumas dessas condições.

Saiba mais sobre "Anemia falciforme14", "Fibrose cística13" e "Síndrome29 de Turner".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Fiocruz Bahia e da Cleveland Clinic.

ABCMED, 2024. Doenças congênitas, genéticas e hereditárias: quais as diferenças?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1465612/doencas-congenitas-geneticas-e-hereditarias-quais-as-diferencas.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Congênitas: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
2 Malformações: 1. Defeito na forma ou na formação; anomalia, aberração, deformação. 2. Em patologia, é vício de conformação de uma parte do corpo, de origem congênita ou hereditária, geralmente curável por cirurgia. Ela é diferente da deformação (que é adquirida) e da monstruosidade (que é incurável).
3 Feto: Filhote por nascer de um mamífero vivíparo no período pós-embrionário, depois que as principais estruturas foram delineadas. Em humanos, do filhote por nascer vai do final da oitava semana após a CONCEPÇÃO até o NASCIMENTO, diferente do EMBRIÃO DE MAMÍFERO prematuro.
4 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
5 Corpo humano: O corpo humano é a substância física ou estrutura total e material de cada homem. Ele divide-se em cabeça, pescoço, tronco e membros. A anatomia humana estuda as grandes estruturas e sistemas do corpo humano.
6 Útero: Orgão muscular oco (de paredes espessas), na pelve feminina. Constituído pelo fundo (corpo), local de IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO e DESENVOLVIMENTO FETAL. Além do istmo (na extremidade perineal do fundo), encontra-se o COLO DO ÚTERO (pescoço), que se abre para a VAGINA. Além dos istmos (na extremidade abdominal superior do fundo), encontram-se as TUBAS UTERINAS.
7 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
8 Congênita: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
9 Síndrome de Down: Distúrbio genético causado pela presença de um cromossomo 21 a mais, por isso é também conhecida como “trissomia do 21”. Os portadores desta condição podem apresentar retardo mental, alterações físicas como prega palmar transversa (uma única prega na palma da mão, em vez de duas), pregas nas pálpebras, membros pequenos, tônus muscular pobre e língua protrusa.
10 Lábio leporino: Alteração congênita na qual existe uma solução de continuidade no palato (céu da boca), que comunica a cavidade oral à nasal. Pode ser total (quando o palato duro, que é ósseo, está envolvido) ou parcial (quando apenas as partes moles, como lábios, gengiva, mucosas estão envolvidas).
11 Espinha bífida: Também conhecida como mielomeningocele, a espinha bífida trata-se de um problema congênito. Ela é caracterizada pela má formação no tubo neural do feto, a qual ocorre nas três primeiras semanas de gravidez, quando a mulher ainda não sabe que está grávida. Esta malformação pode comprometer as funções de locomoção, controle urinário e intestinal, dentre outras.
12 Fenilcetonúria: A Fenilcetonúria é uma doença genética caracterizada pelo defeito ou ausência da enzima fenilalanina hidroxilase (PAH). Esta proteína catalisa o processo de conversão da fenilalanina em tirosina. A tirosina está envolvida na síntese da melanina. Esta doença pode ser detectada logo após o nascimento através de triagem neonatal (conhecida como Teste do Pezinho). Nesta doença, alguns alimentos podem intoxicar o cérebro e causar um quadro de retardo mental irreversível. As crianças que nascem com ela têm um problema digestivo no fígado. Há um odor corporal forte e vômitos após as refeições. Seu tratamento consiste em retirar a fenilalanina da alimentação por toda a vida.
13 Fibrose cística: Doença genética autossômica recessiva que promove alteração de glândulas exócrinas do organismo. Caracterizada por infecções crônicas das vias aéreas, que leva ao desenvolvimento de bronquiectasias, insuficiência pancreática exócrina, disfunções intestinais, anormalidades das glândulas sudoríparas e disfunção genitourinária.
14 Anemia falciforme: Doença hereditária que causa a má formação das hemácias, que assumem forma semelhante a foices (de onde vem o nome da doença), com maior ou menor severidade de acordo com o caso, o que causa deficiência do transporte de gases nos indivíduos que possuem a doença. É comum na África, na Europa Mediterrânea, no Oriente Médio e em certas regiões da Índia.
15 Talassemia: Anemia mediterrânea ou talassemia. Tipo de anemia hereditária, de transmissão recessiva, causada pela redução ou ausência da síntese da cadeia de hemoglobina, uma proteína situada no interior do glóbulos vermelhos e que tem a função de transportar o oxigênio. É classificada dentro das hemoglobinopatias. Afeta principalmente populações da Itália e da Grécia (e seus descendentes), banhadas pelo Mar Mediterrâneo.
16 Tubo neural: Estrutura embrionária que dará origem ao cérebro e à medula espinhal. Durante a gestação humana, o tubo neural dá origem a três vesículas: romboencéfalo, mesencéfalo e prosencéfalo.
17 Sífilis: Doença transmitida pelo contato sexual, causada por uma bactéria de forma espiralada chamada Treponema pallidum. Produz diferentes sintomas de acordo com a etapa da doença. Primeiro surge uma úlcera na zona de contato com inflamação dos gânglios linfáticos regionais. Após um período a lesão inicial cura-se espontaneamente e aparecem lesões secundárias (rash cutâneo, goma sifilítica, etc.). Em suas fases tardias pode causar transtorno neurológico sério e irreversível, que felizmente após o advento do tratamento com antibióticos tem se tornado de ocorrência rara. Pode ser causa de infertilidade e abortos espontâneos repetidos.
18 Ultrassonografia: Ultrassonografia ou ecografia é um exame complementar que usa o eco produzido pelo som para observar em tempo real as reflexões produzidas pelas estruturas internas do organismo (órgãos internos). Os aparelhos de ultrassonografia utilizam uma frequência variada, indo de 2 até 14 MHz, emitindo através de uma fonte de cristal que fica em contato com a pele e recebendo os ecos gerados, os quais são interpretados através de computação gráfica.
19 Septo Cardíaco: Esta estrutura inclui o septo interatrial muscular delgado entre os dois ÁTRIOS DO CORAÇÃO, e o septo interventricular muscular espesso, entre os dois VENTRÍCULOS DO CORAÇÃO.
20 Hemofilia: Doença transmitida de forma hereditária na qual existe uma menor produção de fatores de coagulação. Como conseqüência são produzidos sangramentos por traumatismos mínimos, sobretudo em articulações (hemartrose). Sua gravidade depende da concentração de fatores de coagulação no sangue.
21 Distrofia: 1. Acúmulo de grande quantidade de matéria orgânica, mas poucos nutrientes, em corpos de água, como brejos e pântanos. 2. Na medicina, é qualquer problema de nutrição e o estado de saúde daí decorrente.
22 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
23 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
24 Daltonismo: Alteração congênita da visão de certas cores, especialmente para distinguir o vermelho e o verde.
25 Alelos: 1. Que ocupa os mesmos loci (locais) nos cromossomos (diz-se de gene). 2. Em genética, é cada uma das formas que um gene pode apresentar e que determina características diferentes.
26 Cromossomo: Cromossomos (Kroma=cor, soma=corpo) são filamentos espiralados de cromatina, existente no suco nuclear de todas as células, composto por DNA e proteínas, sendo observável à microscopia de luz durante a divisão celular.
27 Autossômica: 1. Referente a autossomo, ou seja, ao cromossomo que não participa da determinação do sexo; eucromossomo. 2. Cujo gene está localizado em um dos autossomos (diz-se da herança de características). As doenças gênicas podem ser classificadas segundo o seu padrão de herança genética em: autossômica dominante (só basta um alelo afetado para que se manifeste a afecção), autossômica recessiva (são necessários dois alelos com mutação para que se manifeste a afecção), ligada ao cromossomo sexual X e as de herança mitocondrial (necessariamente herdadas da mãe).
28 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
29 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
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