Enxaqueca hemiplégica - quais são os sintomas?
O que é enxaqueca1?
A enxaqueca1 é uma condição clínica em que a pessoa sente crises de dores na cabeça2, com graus diversos de intensidade. Essas crises têm uma frequência variável, de uma única durante toda a vida até crises que ocorrem todos os dias. As causas da enxaqueca1 ainda são mal estabelecidas, mas os fatores tidos como causadores são de natureza genética, ambiental, dietética, hormonal e de irregularidades do sono. Elas podem ser agravadas pela ovulação3, pela menstruação4 ou pelo uso de pílulas anticoncepcionais.
Embora a enxaqueca1 tenha uma maneira particular de se manifestar em cada pessoa, ela geralmente é caracterizada por uma dor de natureza pulsátil que acomete um dos lados da cabeça2. Podem ocorrer também náuseas5, vômitos6 e sensibilidade à luz e ao som. Em alguns casos pode haver manifestações visuais que prenunciam as crises (flashes de luz, pontos escuros na visão7 ou linhas em ziguezague, chamadas "auras"), que são um "aviso" que antecede as crises em até 24 horas. Além das manifestações visuais, apresentam-se também irritabilidade, ansiedade, euforia ou depressão, sonolência ou insônia, embotamento8 mental, diminuição da concentração e distúrbios gastrointestinais.
O que é enxaqueca1 hemiplégica?
A enxaqueca1 hemiplégica, também conhecida como enxaqueca1 basilar, é uma forma rara de enxaqueca1, muitas vezes confundida com um derrame9 cerebral. Neste tipo da doença, uma pessoa desenvolve sintomas10 neurológicos semelhantes aos de uma enxaqueca1 tradicional, incluindo, além deles, uma fraqueza e paresia11 (redução da força muscular), ou paralisia12 muscular de um lado do corpo.
Há duas categorias de enxaqueca1 hemiplégica: (1) enxaqueca1 hemiplégica familiar e (2) enxaqueca1 hemiplégica esporádica.
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Quais são as possíveis causas da enxaqueca1 hemiplégica?
A enxaqueca1 hemiplégica é causada por alterações ou mutações em determinados genes. Alguns genes que têm sido associados à enxaqueca1 hemiplégica, são o ATP1A2, o CACNA1A, o PRRT2 e o SCN1A. Esses genes carregam as instruções para a produção de proteínas14 que ajudam as células nervosas15 a se comunicarem. As mutações neles afetam a liberação de substâncias químicas cerebrais chamadas neurotransmissores e a comunicação entre certas células nervosas15 é interrompida. Isso pode levar a fortes dores de cabeça2 e distúrbios da visão7.
Na enxaqueca1 hemiplégica familiar, as alterações genéticas são transmitidas dos pais para os filhos, e na enxaqueca1 hemiplégica esporádica essas alterações genéticas acontecem espontaneamente.
Quando uma pessoa é afetada pela enxaqueca1 hemiplégica familiar, há uma chance de 50% de que seus filhos também sejam afetados. Na modalidade esporádica, não há uma história familiar de enxaqueca1.
Qual é o substrato fisiopatológico da enxaqueca1 hemiplégica?
A enxaqueca1 hemiplégica é causada por uma diminuição do fluxo sanguíneo em direção ao cérebro16. Na verdade, ela é causada por uma constrição17 da artéria basilar18, a qual fornece sangue19 a todo o tronco cerebral20. A aura da enxaqueca1 hemiplégica é provavelmente causada pela depressão cortical disseminada, uma onda de despolarização neuronal e glial que se espalha pelo córtex cerebral. Quando ativados pelo estímulo enxaquecoso, os nervos podem liberar substâncias que causam inflamação21 dolorosa dos vasos sanguíneos22 cerebrais e das meninges23 (membranas que recobrem o cérebro16), provocando a crise.
Quais são as características clínicas da enxaqueca1 hemiplégica?
A enxaqueca1 hemiplégica é bem pouco comum, mas quando surge em uma pessoa, é uma das dores de cabeça2 mais incômodas e incapacitantes. Além da intensa cefaleia13, ocorre de pronto uma expressiva fraqueza muscular unilateral, com paralisia12 total ou quase total da perna e do braço de um lado do corpo (hemiplegia24). Isso costuma assustar bastante o paciente, já que a paralisia12 em apenas um dos lados do corpo é um indicativo clássico de derrame9 cerebral.
Cabe ao médico, após fazer os exames indicados para o caso, tranquilizar o paciente e assegurar-lhe que não se trata de um acidente vascular cerebral25 (AVC) e que a sua situação é momentânea e reversível. Embora a enxaqueca1 hemiplégica possa levar a um ataque isquêmico26 transitório, resultante da interrupção temporária do fluxo de sangue19 para o cérebro16, diferentemente do AVC, ele não causa danos permanentes às funções cerebrais e neurológicas.
Além disso, durante as crises o paciente pode ter a sensação de não mais controlar braços e pernas, sensação de tontura27 e distorções no campo visual28. Um aspecto curioso e paradoxal29 é que a enxaqueca1 hemiplégica em algumas poucas vezes não causa dor de cabeça2. Outras vezes, mais do que a dor de cabeça2 intensa, a enxaqueca1 hemiplégica pode comprometer a cognição30 e piorar diante de luz e/ou do barulho. Ademais, ainda dificulta a capacidade de se focar e se lembrar das coisas.
Como o médico diagnostica a enxaqueca1 hemiplégica?
O diagnóstico31 deve ser suspeitado a partir dos sintomas10 e da história clínica do paciente. São necessários pelo menos dois episódios de crise de dor com as características da enxaqueca1 hemiplégica para que o diagnóstico31 seja confirmado. Mas, diante de uma sintomatologia tão exuberante, a enxaqueca1 hemiplégica pode ser confundida com AVC ou epilepsia32. Por isso, é importante que sejam realizados exames de imagem como tomografia de crânio33 ou ressonância magnética34 de cérebro16 e eletroencefalograma35, com a finalidade de descartar essas possíveis causas.
Como o médico trata a enxaqueca1 hemiplégica?
A maioria dos mesmos medicamentos usados para tratar a enxaqueca1 clássica também pode ser usada para tratar a enxaqueca1 hemiplégica. O médico tanto deve prescrever medicamentos abortivos das crises, que ajudam a interromper um episódio de enxaqueca1, como medicamentos preventivos, destinados a evitar as enxaquecas36 antes que elas aconteçam.
Os medicamentos abortivos das crises incluem medicamentos intravenosos como magnésio, medicamentos antieméticos37 e medicação oral, como anti-inflamatórios não esteroides. Os medicamentos preventivos podem ser: bloqueadores dos canais de cálcio, betabloqueadores, anticonvulsivantes, antidepressivos e outros.
Alguns medicamentos, como os derivados de ergot e triptanos, devem ser evitados nessa condição, por se tratar de medicamentos vasoconstritores, e sempre deve ser feito o controle de fatores que sejam gatilhos para as crises. A toxina38 botulínica é hoje considerada o “padrão ouro” em termos de controle profilático da enxaqueca1 hemiplégica.
Como evolui a enxaqueca1 hemiplégica?
Tipicamente, tanto nas pessoas com enxaqueca1 hemiplégica familiar como com enxaqueca1 hemiplégica esporádica, os sintomas10 são observados primeiramente durante a infância e a adolescência e diminuem com o avançar da idade.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente do site da American Migraine Foundation.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.