Atonia uterina - o que uma gestante deve saber sobre ela?
O que é atonia uterina?
Atonia é a perda de tônus (firmeza) de um órgão ou tecido1, que pode acontecer no útero2 após o parto. A contração uterina é o principal fator de hemostasia3 (interrupção do sangramento) pós parto e a atonia uterina aumenta em muito o risco de hemorragia4 pós-parto, colocando em risco a vida da mulher.
Quais são as causas da atonia uterina?
A atonia uterina acontece com maior frequência em casos de gravidez5 de gêmeos ou em mulheres que possuem idade inferior a 20 anos ou superior a 40 anos, ou que se encontram acima do peso normal. Outras possíveis causas da atonia uterina são alterações uterinas, como presença de miomas e útero2 bicorno, tratamento da pré-eclâmpsia6 ou eclâmpsia7 com sulfato de magnésio e parto prolongado. Além disso, se a mulher teve atonia uterina em gestações anteriores tem maior risco de ter novamente em futuras gestações.
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Qual é o substrato fisiológico9 da atonia uterina?
Normalmente, durante o parto, quando a placenta já foi expulsa e o bebê nasceu, o útero2 se contrai ajudando a executar mecanismos hemostáticos10 para evitar o sangramento excessivo. Quando esses mecanismos falham, o útero2 não consegue contrair o suficiente para comprimir os vasos sanguíneos11. Num parto demorado ou se o bebê tem um tamanho acima do normal, o útero2 pode ficar “cansado” e sem forças e ele acaba não contraindo como deveria.
Os vasos sanguíneos11 que suprem o leito placentário passam por entre as fibras musculares12 do músculo uterino13. A contração desse músculo (miométrio14) comprime mecanicamente os vasos sanguíneos11 que irrigam o leito placentário e fornece o principal mecanismo de hemostasia3 após o parto do feto15 e da placenta. Se o miométrio14 não apresentar contração adequada em resposta à ocitocina16 endógena (substância que estimula a contração uterina), que é liberada no decorrer do parto, ocorre um importante sangramento pós parto.
A atonia uterina é a principal causa de hemorragia4 no período pós-parto, uma emergência17 obstétrica. A falta de contração do músculo uterino13 pode causar hemorragia4 aguda que ameaça a vida da mulher.
Quais são as características clínicas da atonia uterina?
A expressão mais evidente e mais temível da atonia uterina é a hemorragia4 volumosa. A hemorragia4 pós-parto é a maior causa de morte materna no mundo. Metade dessas mortes poderia ser evitada se o diagnóstico18 e o tratamento do problema (quase sempre a atonia uterina) fossem feitos de maneira rápida e eficaz.
A perda de sangue19 de até 500 ml no momento do parto é considerada normal. O organismo de uma mulher saudável pode lidar com isso sem dificuldades. A hemorragia4 é definida como sangramento do trato genital de 500 ml ou mais nas primeiras 24 horas após o parto. Infelizmente, a subestimação da perda de sangue19 após o parto é um problema comum, pois o sangramento avaliado visualmente subestima a perda de sangue19 em uma média de 100 a 150 ml.
Além disso, mulheres com parto cesáreo perdem mais sangue19, em média, do que mulheres com parto vaginal; portanto, 1000 ml são comumente usados como limite para perda significativa de sangue19 após cesariana.
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Como o médico diagnostica a atonia uterina?
O diagnóstico18 é feito durante o exame físico imediatamente após o término do parto. A atonia uterina difusa é tipicamente diagnosticada pela observação de perda de sangue19 maior do que o normal durante o exame, demonstrando útero2 flácido e aumentado, que pode conter uma quantidade significativa de sangue19. A palpação20 direta no parto cesáreo ou o exame indireto após um parto vaginal revela um útero2 úmido, flácido, macio e incomumente aumentado. Frequentemente, há sangramento coexistente do orifício cervical. O ultrassom pode ajudar no diagnóstico18, excluindo outras possíveis causas de sangramento.
Como o médico trata a atonia uterina?
A identificação prévia dos fatores de risco é a chave para o manejo da atonia uterina. Isso deve ser feito no exame pré-natal e na história clínica atual da paciente. Antes do parto, todas as pacientes devem ser rastreadas para fatores de risco e, em seguida, deve ser atribuída a elas uma estimativa de risco de hemorragia4 pós-parto. A identificação desses fatores de risco permite o planejamento e a disponibilidade de recursos que podem ser necessários para o tratamento, incluindo pessoal, medicamentos, equipamentos, acesso intravenoso adequado e hemoderivados.
O gerenciamento ativo do último estágio do parto por meio do médico pode ser utilizado para preventivamente reduzir o risco de hemorragia4. O manejo ativo desse terceiro estágio inclui, entre outras providências, a massagem uterina. Acredita-se que ela estimule a contração uterina, possivelmente por meio da liberação local de prostaglandina21, que reduz a hemorragia4. A administração profilática de um uterotônico, incluindo a ocitocina16, que promove a contração uterina, também ajudará a reduzir a perda de sangue19.
Quais são as complicações possíveis da atonia uterina?
As consequências mais importantes da hemorragia4 pós parto incluem choque hipovolêmico22, coagulopatia intravascular23 disseminada, insuficiência renal24, insuficiência hepática25 e morte. A anemia26 pós-parto é comum após um episódio de atonia uterina e hemorragia4 pós-parto. A anemia26 grave pode exigir transfusões de hemácias27, dependendo da sua gravidade e do grau da sintomatologia.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente do site do NIH – National Institutes of Health.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.