Depressão mascarada
O que é depressão mascarada?
Como o próprio nome sugere, depressão mascarada é uma condição depressiva que se manifesta por sintomas1 orgânicos e procura disfarçar o transtorno de humor subjacente. Os sintomas cardinais2 das depressões são o transtorno afetivo no sentido da tristeza vital e a lentificação psicomotora3. A depressão mascarada é uma forma de depressão atípica na qual os sintomas1 somáticos ou os distúrbios comportamentais dominam o quadro clínico e disfarçam ou substituem o transtorno afetivo subjacente.
As máscaras são os sintomas1 físicos; a realidade é a depressão subjacente. A pessoa assim deprimida realiza regularmente suas atividades e talvez até consiga sorrir para todos.
A depressão escura e triste não é a única forma existente. Existem muitas formas de depressões atípicas e a depressão mascarada é uma delas. Os autores italianos costumam chamá-la “depressio sine depressione”. O conceito de depressão mascarada esteve muito em voga entre 1925 e 1980 e foi usado com outras denominações: “depressão latente”, “depressão vegetativa”, “depressão oculta”, “depressão larvada”, “depressão somática” ou “equivalentes depressivos”.
Hoje em dia, essas expressões quase não são mais usadas e foram substituídas no CID-10 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde4) por “depressão com sintomas1 somáticos”. Embora atualmente os termos depressão mascarada e seus equivalentes sejam pouco usados, ela é uma realidade concreta. É um tipo de depressão que a pessoa tem, mas não sabe que tem, porque ela se expressa em outros sintomas1 que não os das depressões corriqueiras.
Na psicologia e psiquiatria, é muito comum ver-se um quadro sintomático5 oposto à condição psíquica subjacente: o medroso tem arroubos de coragem; o inseguro aparenta muita determinação; o dependente se mostra muito autônomo; etc. Essas atitudes são defensivas, mas essas defesas acabam por ruir com o tempo ou em certas conjunturas especiais, deixando à mostra a realidade subjacente. Assim também ocorre na depressão mascarada.
Leia sobre "Depressões", "Distimia" e "Transtorno bipolar do humor".
Qual é o substrato fisiopatológico da depressão mascarada?
A depressão pode levar a uma variedade de sintomas1 físicos, incluindo dores muitas vezes inexplicáveis. Quando os sintomas1 físicos predominam ou escondem totalmente o humor triste, fala-se em depressão mascarada. De fato, muitas pessoas com depressão relatam apenas sintomas1 físicos.
Uma explicação aventada para a ligação entre depressão e sintomas1 físicos é a desregulação dos neurotransmissores serotonina e norepinefrina, que podem estar ligados à depressão e à dor. Por esse motivo, os inibidores da recaptação de serotonina-norepinefrina podem ser prescritos para tratar os sintomas1 físicos e psicológicos relacionados à dor da depressão.
Quais são as características clínicas da depressão mascarada?
A depressão mascarada é uma forma de depressão endógena. Sua forma está mais ligada a traços de personalidade que a episódios externos. Segundo alguns autores, a depressão mascarada é tão frequente quanto a depressão aparente, se não mais generalizada. Kielholz afirmou, em 1973, que “com o termo depressão mascarada, designamos um processo depressivo que se manifesta antes de tudo no nível somático. As depressões mascaradas são, portanto, depressões endógenas onde a distimia depressiva é mascarada - ou seja, coberta por um sintoma6 somático”.
De fato, a depressão mascarada pode assumir a forma de qualquer síndrome7 somática coberta por uma variedade de distúrbios funcionais vegetativos ou orgânicos que afetam todos os sistemas corporais: sistema nervoso central8, vaso-vegetativo, cardiovascular, gastrointestinal, geniturinário, muscular, ósseo, etc.
As pessoas com esta condição estão, a todo momento, queixando-se de algo genérico, inespecífico e mutável:
- cansaço;
- desânimo;
- insônia ou excesso de sono;
- problemas gastrointestinais mal definidos;
- ritmo cardíaco acelerado;
- diminuição da capacidade de raciocínio e concentração;
- dores pelo corpo;
- dores de cabeça9.
Do ponto de vista do comportamento, a pessoa mostra um retraimento10 social e não consegue parar por um instante de fazer algo. A depressão pode assumir a forma de jogo compulsivo: trabalho compulsivo, irritação constante, perda de interesse e de prazer igualmente, sentimentos de inutilidade ou culpa, indecisão, medos e pensamentos de morte, diminuição da libido11 ou, ao contrário, comportamento sexual impulsivo, alcoolismo ou dependência de drogas.
Como o médico diagnostica a depressão mascarada?
Por ser uma condição que possui múltiplas expressões clínicas, é de difícil diagnóstico12. Deve-se suspeitar de depressão mascarada em um paciente em que não é possível encontrar uma patologia13 orgânica que justifique as queixas ou em que essa patologia13 não justifica a intensidade ou evolução do quadro. Uma história de vários tratamentos que não levam à melhora também é frequentemente encontrada, por isso são considerados pacientes “difíceis”. Soma-se a isso uma atitude negativa em relação à gestão e expectativas de melhoria. Os sintomas1 depressivos podem estar presentes, mas atenuados, por isso devem ser procurados especificamente.
Enfim, deve-se pensar em depressão mascarada quando:
- houver uma pluralidade de sintomas1 somáticos, que contrasta com a escassez e especificidade dos sintomas1 da doença somática;
- quando eles não guardam coerência com a anatomia e fisiologia14 conhecidas;
- quando houver entre eles sintomas1 depressivos mitigados;
- quando houver atipicidade da apresentação clínica;
- e quando se puder excluir qualquer outra condição.
São também indicadores de depressão mascarada o efeito positivo de antidepressivos e um histórico familiar positivo.
Como o médico trata a depressão mascarada?
A depressão mascarada corresponde a uma síndrome7 depressiva de intensidade leve ou moderada. Para tratá-la podem ser usados antidepressivos, psicoterapia ou uma combinação de ambos, além do manejo de elementos ambientais, em certos casos. As doses medicamentosas utilizadas são inferiores às exigidas na depressão maior e devem ser administradas por pelo menos 4 a 6 semanas.
Veja também sobre "Antidepressivos", "Terapia cognitivo15 comportamental" e "Psicoterapia".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente do site do NIH – National Institutes of Health.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.