Você sabe qual o transtorno que causa a risada do Coringa? Conheça o afeto pseudobulbar!
O que é afeto pseudobulbar?
O afeto pseudobulbar (ou transtorno da expressão emocional involuntária2) é um descontrole emocional que se evidencia por episódios de riso e/ou de choro incontroláveis que podem estar completamente dissociados do estado de ânimo do paciente e tendem a ser desproporcionais ou contraditórios com o estímulo que o produziu.
O transtorno não deve ser confundido com humor instável ou emoções instáveis decorrentes da instabilidade emocional comumente observada em transtornos de personalidade, como no transtorno de personalidade limítrofe.
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Recentemente, muito se tem falado sobre essa condição devido ao personagem Coringa, do novo filme lançado em outubro de 2019. Em Coringa, o personagem principal, Arthur Fleck, sofre em vários momentos por risos incontroláveis que são completamente inapropriados para a situação em que ele está naquele momento. Cada episódio segue um padrão típico, atingindo um pico e diminuindo lentamente. Devido à sua doença ele carrega consigo um cartão para explicar sua condição e o entrega a desconhecidos sempre que tem um ataque de riso no momento errado. Com o lançamento do filme, pelas características apresentadas na história, tem-se discutido que o possível diagnóstico3 do transtorno apresentado pelo Coringa seria o afeto pseudobulbar.
Quais são as causas do afeto pseudobulbar?
O afeto pseudobulbar ocorre secundariamente a um distúrbio neurológico ou lesão4 cerebral. Costuma ocorrer em pessoas que sofreram patologias encefálicas diversas, em variadas localizações anatômicas, como esclerose5 lateral amiotrófica, esclerose múltipla6, acidentes vasculares7 encefálicos, traumatismos cranioencefálicos, tumores cerebrais, demências, doença de Parkinson8 e de Alzheimer9, dentre outras.
Qual é o substrato fisiológico10 do afeto pseudobulbar?
Apesar de os sintomas11 desse transtorno serem conhecidos há mais de um século, os mecanismos fisiopatológicos específicos envolvidos ainda não são bem conhecidos. É possível que a sintomatologia esteja ligada a alterações ao longo do feixe piramidal12 ou a núcleos dos nervos cranianos.
Várias contribuições têm surgido para o crescente entendimento da neuroanatomia relacionada às lesões13 envolvidas no afeto pseudobulbar, na maioria das vezes envolvendo o lobo frontal14, o sistema límbico, o tronco cerebral15, o cerebelo16 e a substância branca que interconecta essa rede. Alguns neurotransmissores também parecem estar envolvidos no controle das emoções e alterações envolvendo esses neurotransmissores que podem contribuir para o aparecimento dos sintomas11.
Quais são as principais características clínicas do afeto pseudobulbar?
O paciente experimenta crises incontroláveis de riso e choro, ou outras emoções, como fúria ou distúrbios autonômicos, em razão de sua incapacidade de regular o próprio afeto. Os pacientes costumam relatar que só conseguem, no máximo, amenizar parcialmente esses episódios. De modo geral, são capazes de reconhecer o problema como algo anormal ou inapropriado. O paciente pode chorar ou rir não moderadamente sem razão aparente ou de um modo desproporcional aos motivos.
Uma leve piada rápida pode desencadear uma intensa crise de riso que dura meia hora e uma observação simples sobre, por exemplo, uma roupa mal combinada pode despertar uma profunda e demorada crise de choro. Esses episódios podem também se mostrar incongruentes com o humor básico e o paciente pode, por exemplo, começar a rir descontroladamente quando deveria sentir raiva17. Eles são também muito voláteis e o paciente pode alternar rapidamente entre estados emocionais diversos, do choro intenso ao riso franco.
Como o médico diagnostica o afeto pseudobulbar?
O diagnóstico3 baseia-se fundamentalmente nas características dos sintomas11. As crises de riso ou choro patológicos são sempre exageradas, forçadas, involuntárias, incontroláveis, caracterizadas por:
- Desequilíbrio entre estímulo e resposta, com reações a estímulos inadequadas e inapropriadas. Em momentos em que deveria sentir dor, o paciente pode ter uma crise de riso.
- Desconexão entre o estado de humor permanente e o afeto agudo18. Um paciente deprimido (entristecido) pode ter um episódio de riso incontrolável.
- Natureza estereotipada das crises de explosão emocional, com invariabilidade da resposta emocional sob qualquer estímulo.
Há doença ou dano encefálico estrutural que não pode ser explicado por outra condição neurológica ou psiquiátrica, como crises epilépticas, distonias19 faciais, tiques vocais e faciais, discinesias faciais, mania, depressão, transtorno do pânico ou psicose20.
Pode haver alterações autonômicas e sinais21 de paralisia22 pseudobulbar, como fraqueza da língua23, disartria24, disfagia25 e reflexo mandibular aumentado. Os episódios de fúria são de duração breve (segundos a minutos) e de instalação súbita. Estas crises são estereotipadas (sempre iguais) para o mesmo paciente, mas com variação de um indivíduo para outro.
O afeto pseudobulbar pode ser confundido com a depressão, no entanto, há fortes diferenças: o choro no afeto pseudobulbar é rápido, involuntário e independente das mudanças no humor basal. Na depressão, ele dura semanas ou meses e é sempre congruente com o estado de ânimo básico.
Como o médico trata o afeto pseudobulbar?
O afeto pseudobulbar não tem cura. No entanto, os sintomas11 podem ser aliviados por antidepressivos, porque eles aumentam a ação da serotonina no cérebro26 e, então, os pacientes passam a precisar de um estímulo mais forte para rir ou chorar. A instrução das famílias e dos cuidadores é um componente importante do tratamento. É de fundamental importância que reconheçam e aceitem a natureza patológica do transtorno e saibam que essa é uma condição involuntária2.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da Mayo Clinic, do U.S. National Institute of Health e da American Stroke Association.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.