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Música para surdos

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Música para surdos: isso é possível?

Para a maioria das pessoas, acessar e ouvir música é um processo muito simples e fácil. Elas podem ouvir música no rádio1, nos alto-falantes, no celular, no computador ou nas ruas onde haja músicos tocando. É um equívoco comum as pessoas pensarem que os surdos não podem desfrutar da música...

Uma coisa a ser tomada em conta é que existem vários níveis de surdez, desde alguma perda auditiva ligeira até surdez completa em que a pessoa não pode ouvir nada. Esse é um espectro completo que comporta diferentes situações na relação com a música. Como as nuances da música são dadas por sons de diferentes frequências, toda e qualquer perda auditiva afeta a plena percepção sonora da música.

Leia sobre "Surdez congênita2", "Musicoterapia", "Surdez em idosos e o risco de demência3" e "Reflexão: a vergonha e a deficiência auditiva".

Como os surdos podem desfrutar da música?

A música usualmente é composta de melodia e letra. O som é um elemento predominante dela e é, basicamente, constituído de vibrações. As pessoas surdas podem sentir a música de dois jeitos diferentes, muitas vezes complementares: (1) por meio de vibrações ou (2) com interpretações de LIBRAS (língua4 brasileira de sinais5).

Graças à plasticidade cerebral, nas pessoas com deficiências auditivas os demais sentidos trabalham juntos para compensar a perda de audição. Isso também acontece com as deficiências dos outros sentidos. O mesmo princípio funciona, por exemplo, quando pessoas cegas usam o tato para ler em Braille. Os demais sentidos normais aguçam suas percepções e ampliam seu espectro de captação.

Embora as pessoas surdas não consigam ouvir, elas sentem a música pela vibração no corpo, e não é desprezível que o surdo por vezes também vê os movimentos, gestos e expressões do artista e que isto o ajuda a “sentir” a música. Afinal, a essência da música não é apenas ser ouvida, mas também sentida, e até mesmo vista, como demostram os videoclipes atuais.

Os surdos não só podem absorver música como também podem produzi-la. Um dos exemplos mais conhecidos é o do compositor austríaco Ludwig van Beethoven, que começou a perder grande parte da audição aos 28 anos e, quando compôs a famosa Nona Sinfonia, já estava totalmente surdo.

Os instrumentos mais recomendados para os surdos tocarem são pandeiro, tamborim, bateria, chocalho, triângulo e tambores, de maneira geral, por conta da vibração que fica mais perceptível neles.

Qual é o substrato fisio(pato)lógico que permite aos surdos sentirem a música?

Em essência, o som é feito de vibrações. Quando essas vibrações são organizadas e a elas é dado um tom, elas se tornam música. O cérebro6 processa essas vibrações em muitas áreas diferentes, mas as principais partes são: o córtex sensorial, o núcleo accumbens, amígdala7, cerebelo8 e o córtex auditivo.

Cada uma dessas partes desempenha um papel fundamental na forma como as pessoas, surdas ou auditivas, experimentam a música. Essas partes apenas se adaptam no cérebro6 de uma pessoa que é surda para interpretar vibrações e música de uma maneira diferente das mensagens provenientes dos ouvidos. E a experiência da música pode ainda se tornar muito melhor para pessoas que são surdas através do apoio de intérpretes com a língua4 de sinais5.

O córtex sensorial é a parte do cérebro6 que reconhece as aferências táteis ou sensíveis. É com ele que a pessoa pode sentir as vibrações em seu corpo. O núcleo accumbens, a amígdala7 e o cerebelo8 trabalham juntos para formar a reação emocional à música. Finalmente, o córtex auditivo está envolvido na percepção e análise dos sons. Para os não surdos, esta é a parte mais importante para reconhecer a música. As vibrações, traduzidas em mensagens neurais são enviadas e processadas por ele. Nos surdos, mensagens neuronais serão enviadas para o córtex auditivo, mas não a partir dos ouvidos, e sim a partir do sentido tátil.

Como ajudar os surdos a terem uma experiência musical?

Apreciar ou produzir música é sempre uma questão de perceber vibrações. Tudo o que se deve fazer em relação aos surdos é facilitar-lhes perceberem melhor as vibrações ocasionadas pela música, seja aconselhando-os sobre atitudes mais favoráveis, seja sobre o uso de equipamentos especializados.

Muitas vezes os surdos que produzem música usam a vibração de seu instrumento, ou a superfície à qual ele está conectado, para ajudá-los a sentir o som que criam. Beethoven, quando estava perdendo a audição, segurava um lápis na boca9 e encostava a outra ponta dele no piano para sentir as vibrações das notas. Muitos cantores surdos realizam suas performances descalços para assim sentirem mais facilmente as vibrações do solo. Pessoas surdas que assistem a um evento musical podem usar um balão ou um alto-falante para sentir vibrações causadas pelos artistas.

Em grandes orquestras ou pequenos conjuntos musicais de pessoas normais, as "pistas" para sincronização dos aparelhos são, em grande parte, auditivas, ao ouvir o som emitido pelo outro. Para músicos profundamente surdos essas “pistas” são captadas pela vibração.

Há vários equipamentos destinados a tornar a música mais facilmente sensível, ampliando os feitos mecânicos e perceptivos das vibrações. O equipamento chamado “Musical Vibrations”, por exemplo, adaptado aos pés, é uma maneira altamente eficiente de aproveitar as vibrações causadas pelo som. Outro equipamento é o SubPac, um dispositivo vestível que torna a música tátil. Os usuários usam dois transdutores táteis colocados em um colete, nas costas10, para que sintam a música diretamente e por condução óssea, enquanto a energia sacode as costelas11, amplificando as vibrações. Essa veste especial nasceu com o objetivo de levar pessoas surdas para as salas de concerto. O som de oito diferentes tipos de instrumentos é captado por microfones no palco e enviados por meio de uma tecnologia sem fio para o sistema de captação na roupa, onde estão costurados 16 microssensores que vibram com a intensidade da música, possibilitando um verdadeiro show sinfônico para surdos. Outros equipamentos existem ou estão sendo permanentemente criados com essa mesma finalidade.

Veja também sobre "Tratamento da surdez neurossensorial", "Remédios que podem levar à perda auditiva" e "Aparelho auditivo ancorado no osso".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da British Deaf News, da University of Washington e da Uníntese.

ABCMED, 2022. Música para surdos. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/vida-saudavel/1424895/musica-para-surdos.htm>. Acesso em: 19 nov. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Rádio:
2 Congênita: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
3 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
4 Língua:
5 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
6 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
7 Amígdala: Designação comum a vários agregados de tecido linfoide, especialmente o que se situa à entrada da garganta; tonsila.
8 Cerebelo: Parte do encéfalo que fica atrás do TRONCO ENCEFÁLICO, na base posterior do crânio (FOSSA CRANIANA POSTERIOR). Também conhecido como “encéfalo pequeno“, com convoluções semelhantes àquelas do CÓRTEX CEREBRAL, substância branca interna e núcleos cerebelares profundos. Sua função é coordenar movimentos voluntários, manter o equilíbrio e aprender habilidades motoras.
9 Boca: Cavidade oral ovalada (localizada no ápice do trato digestivo) composta de duas partes
10 Costas:
11 Costelas:

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