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Neuroplasticidade cerebral

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O que é neuroplasticidade cerebral?

A neuroplasticidade, também conhecida como plasticidade neuronal ou plasticidade cerebral, refere-se à capacidade que possuem as redes neurais no cérebro1 de mudarem por meio do crescimento e da reorganização morfológica e funcional em resposta às alterações do ambiente. Na presença de lesões2 que prejudiquem alguma função, o sistema nervoso central3 utiliza-se desta capacidade na tentativa de recuperar funções perdidas e/ou, principalmente, fortalecer funções similares às originais.

Durante muito tempo, acreditou-se que o sistema nervoso central3, após seu desenvolvimento, tornava-se uma estrutura rígida, que não poderia ser modificada, e que lesões2 nele seriam permanentes, pois suas células4 não poderiam ser reconstituídas ou reorganizadas. A neuroplasticidade já foi considerada pelos neurocientistas como manifestada apenas durante a infância. Hoje, sabe-se que o sistema nervoso central3 tem grande adaptabilidade e que, mesmo no cérebro1 adulto, há plasticidade na tentativa de regeneração, embora o cérebro1 em desenvolvimento tenha um grau mais alto de plasticidade do que o cérebro1 adulto.

A plasticidade do cérebro1 adulto pode ter implicações significativas para a recuperação de danos cerebrais. Existem dois tipos principais de neuroplasticidade cerebral:

  1. A neuroplasticidade funcional, que é a capacidade do cérebro1 de mover funções de uma área danificada do cérebro1 para outras áreas não danificadas.
  2. A neuroplasticidade estrutural, que é a capacidade do cérebro1 de realmente mudar sua estrutura física como resultado do aprendizado.

Essas mudanças variam desde caminhos de neurônios5 individuais, fazendo novas conexões, a ajustes sistemáticos, como remapeamento cortical. Exemplos de neuroplasticidade incluem mudanças de circuito e rede que resultam do aprendizado de uma nova habilidade, influências ambientais, prática e estresse psicológico.

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Como se dá a neuroplasticidade cerebral?

Como dito, neuroplasticidade é a habilidade do cérebro1 de modificar suas conexões ou religar-se. Sem essa capacidade o cérebro1 humano seria incapaz de se desenvolver desde a infância até a idade adulta ou se recuperar de uma lesão6 cerebral.

O que torna o cérebro1 especial é que ele processa sinais7 sensoriais e motores em paralelo. Ele tem muitas vias neurais que podem replicar uma mesma função, de modo que pequenos erros no desenvolvimento ou perda temporária de função devido a danos podem ser facilmente corrigidos por redirecionamento de sinais7 ao longo de uma via diferente.

O problema se torna mais grave quando os erros de desenvolvimento são grandes, como resultado de danos causados ​​por uma pancada na cabeça8 ou após um acidente vascular cerebral9. No entanto, mesmo nesses exemplos, o cérebro1 pode superar parcialmente as adversidades e alguma função pode ser recuperada.

A anatomia e a fisiologia10 do cérebro1 mostram que certas áreas têm certas funções pré-determinadas geneticamente. Este arranjo “modular” significa que uma região do cérebro1 não relacionada à sensação ou função motora de uma certa parte do corpo não é capaz de assumir uma nova função. Em outras palavras, neuroplasticidade não é sinônimo de o cérebro1 ser infinitamente maleável.

No entanto, embora a maior parte da capacidade do corpo de se recuperar após um dano ao cérebro1 possa ser explicada pela melhora da área cerebral danificada, grande parte é o resultado da formação de novas conexões neurais (neuroplasticidade). Perder um sentido, por exemplo, reconecta outros. É bem sabido que, em humanos, perder a visão11 no início da vida pode aumentar outros sentidos, especialmente a audição.

Essa reconexão é semelhante ao que ocorre no caso do bebê em desenvolvimento. A chave para o desenvolvimento de novas conexões é o enriquecimento ambiental que depende de estímulos sensoriais e motores. Quanto mais estimulação sensorial e motora uma pessoa recebe, maior a probabilidade de se recuperar do trauma cerebral. Por exemplo, alguns dos tipos de estimulação sensorial usados ​​para tratar pacientes com acidente vascular cerebral9 incluem treinamento em ambientes virtuais, musicoterapia e prática mental de movimentos físicos.

Embora a estrutura básica do cérebro1 seja estabelecida pelos genes, ainda antes do nascimento, seu desenvolvimento contínuo depende muito da neuroplasticidade, onde os processos de desenvolvimento mudam neurônios5 e conexões sinápticas. Num cérebro1 ainda imaturo, isso inclui estabelecer ou perder sinapses, a migração de neurônios5 ou o redirecionamento e surgimento de novos neurônios5, como acontece no giro denteado do hipocampo12 e na zona subventricular do ventrículo lateral.

Quais são os benefícios da neuroplasticidade cerebral?

Os primeiros anos de vida de uma criança são uma época de rápido crescimento do cérebro1. Ao nascer, cada neurônio no córtex cerebral tem cerca de 2.500 sinapses; aos três anos, esse número cresceu para impressionantes 15.000 sinapses por neurônio. E tudo isso para cerca de 86 bilhões de neurônios5.

O adulto médio, entretanto, tem cerca de metade desse número de sinapses, porque à medida que ganha novas experiências, algumas conexões são fortalecidas, enquanto outras são eliminadas. Neurônios5 que são usados mais frequentemente desenvolvem conexões mais fortes e aqueles que são usados raramente ou nunca, eventualmente desaparecem. Ao desenvolver novas conexões e eliminar as fracas, o cérebro1 é capaz de se adaptar ao ambiente em mudança.

Existem muitos benefícios dessas mudanças. O maior deles é permitir ao cérebro1 se adaptar, o que ajuda a promover a capacidade de aprender coisas novas, aprimorar as capacidades cognitivas existentes, se recuperar de derrames e lesões2 cerebrais traumáticas, fortalecer áreas se algumas funções forem perdidas ou diminuídas, e desenvolver melhorias que podem promover a maior aptidão do cérebro1.

Leia também sobre "Amnésia13 global transitória", "Déjà vu: como ocorre", "Demência14" e "Retardo mental".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do NIH - National Institutes of Health e da Encyclopedia Britannica.

ABCMED, 2021. Neuroplasticidade cerebral. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/1397410/neuroplasticidade-cerebral.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
2 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
3 Sistema Nervoso Central: Principais órgãos processadores de informação do sistema nervoso, compreendendo cérebro, medula espinhal e meninges.
4 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
5 Neurônios: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO. Sinônimos: Células Nervosas
6 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
7 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
8 Cabeça:
9 Acidente vascular cerebral: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
10 Fisiologia: Estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
11 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
12 Hipocampo: Elevação curva da substância cinzenta, que se estende ao longo de todo o assoalho no corno temporal do ventrículo lateral (Tradução livre de Córtex Entorrinal; Via Perfurante;
13 Amnésia: Perda parcial ou total da memória.
14 Demência: Deterioração irreversível e crônica das funções intelectuais de uma pessoa.
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