Surdez: como é?
O que é surdez?
A surdez ocorre quando há dificuldade ou impossibilidade de captar, conduzir ou perceber os estímulos sonoros oriundos do ambiente.
Como é o aparelho auditivo?
Para saber melhor sobre a surdez é necessário compreender como está constituído e como funciona o aparelho auditivo. O órgão da audição pode ser dividido em três partes:
O ouvido externo1 é formado pelo pavilhão auricular e por um canal de mais ou menos 2,5 cm de comprimento, chamado canal auditivo, que termina na membrana timpânica2. A função principal do ouvido externo1 é captar e amplificar os sons oriundos do exterior e dirigi-los para o ouvido médio3.
O ouvido médio3 é uma cavidade cheia de ar que começa no tímpano4 e que contém três ossículos articulados entre si: o martelo5, a bigorna, e o estribo. O tímpano4 é uma membrana rígida, muito resistente, que vibra como a tampa de um tambor, em consonância com as ondas sonoras captadas pelo ouvido externo1 e as transforma em vibrações que são levadas ao ouvido interno6. Nele se abre também a tuba auditiva7, estrutura que comunica essa parte do aparelho auditivo com as fossas nasais e que tem a função de equalizar a pressão daquela cavidade.
O ouvido interno6 ou labirinto8 é formado pelo aparelho vestibular9, pela cóclea e pelo nervo auditivo. O aparelho vestibular9 é constituído por canais semicirculares, responsáveis em parte pelo equilíbrio e sem funções propriamente auditivas. As ondas sonoras captadas pelo ouvido externo1 e tornadas vibrações pelos ossículos do ouvido médio3 são transformadas posteriormente em impulsos nervosos pelo ouvido interno6, onde são recebidos pela cóclea e conduzidos pelo nervo auditivo até as células10 sensoriais auditivas do cérebro11.
Como se dá a surdez?
A surdez pode se dar em virtude de dificuldades de condução dos estímulos através das vias auditivas (surdez de condução) ou por transtornos das células10 perceptivas da cóclea ou do centro cerebral auditivo (surdez de percepção). Ambos os tipos de surdez podem ser uni ou bilateral; parcial ou total; progressiva ou súbita; iniciarem na infância ou na idade adulta e serem de grau leve, moderado, severo ou grave.
As diferentes combinações desses fatores levam a déficits de audição que podem ser classificados em quatro categorias:
- Por condução: envolve perturbação na transmissão mecânica de sons (ouvido externo1 ou médio).
- Neurossensorial: resulta de dano no ouvido interno6 e nas fibras nervosas associadas.
- Mista: associação dos dois anteriores.
- Central: devido a lesões12 bilaterais do córtex auditivo ou do tronco cerebral13.
Quais são as causas da surdez?
Se uma criança nasce surda (surdez congênita14), a causa pode ser genética (hereditária) ou embrionária (adquirida no útero15). As principais causas da deficiência congênita14 são:
- Hereditariedade16.
- Viroses maternas durante a gravidez17 (rubéola18, sarampo19, por exemplo).
- Doenças tóxicas da gestante (sífilis20, citomegalovírus21, toxoplasmose22, por exemplo).
- Ingestão pela gestante de medicamentos tóxicos que lesam o nervo auditivo do feto23 e consumo de álcool ou drogas pela grávida.
A deficiência auditiva pode ser adquirida posteriormente, quando ocorrem:
- Doenças infecciosas bacterianas ou virais.
- Tumores.
- Ingestão de remédios tóxicos para os ouvidos.
- Exposição a sons impactantes (como os de uma explosão) ou a sons contínuos muito altos (acima de 75 decibeis), por exemplo.
Nos idosos, a perda de audição é devida aos desgastes próprios da idade. Nem sempre nosso conhecimento é capaz de discernir e identificar todas essas causas e por isso em cerca de 50% dos casos a origem da deficiência é atribuída a ”causas desconhecidas”. Talvez seja mais fácil reconhecer as causas de perdas auditivas súbitas (unilaterais ou bilaterais). Entre elas, encontram-se:
- Formação de coágulos nos vasos que irrigam a cóclea.
- Processos infecciosos (sarampo19, rubéola18, herpes, etc.), ou mesmo gripe24 comum.
- Alergias (reação a soros, vacinas, picadas de abelha ou comidas).
- Tumor25 no nervo auditivo.
- Processos imunológicos que podem atacar a cóclea.
- Excesso de ruído.
- Infecção26 bacteriana do labirinto8.
- Degeneração27 neurológica.
- Fratura28 do osso temporal.
- Fístula29 perilinfática.
- Obstrução dos condutos auditivos por cera ou inflamações30.
A surdez de condução pode ser por causas muito variadas, de natureza e gravidade diversas (desde um tampão de cera auricular a um tumor25), ligadas a uma obstrução do canal auditivo externo, a uma alteração do tímpano4, a uma otite média31, a uma obstrução da trompa de Eustáquio32 ou a um transtorno na cadeia de ossículos do ouvido médio3. A surdez de percepção, também chamada de neurossensorial, deve-se a uma lesão33 da cóclea, onde se encontram as células10 de captação sensorial ou, em raras ocasiões, da área auditiva do cérebro11. Sua origem também pode ser muito variada, congênita14 ou adquirida.
Quais são os sinais34 e sintomas35 da surdez?
Em casos de surdez de grau leve as pessoas podem ter dificuldades de constatar que ouvem menos que o normal. Quando a perda se torna um pouco mais intensa os sons podem ficar distorcidos e as palavras, por exemplo, se tornam abafadas e mais difíceis de entender. Fica difícil acompanhar uma conversação de várias pessoas falando ao mesmo tempo ou em locais onde exista eco. Mais adiante, os sons habituais tornam-se difíceis de serem ouvidos e o deficiente auditivo pede, a todo o momento, que se fale mais alto ou que se repita as palavras. Geralmente, na surdez de condução o indivíduo afetado ouve melhor em ambientes ruidosos porque o ruído de fundo não o incomoda, enquanto que obriga o interlocutor a elevar o volume da sua voz. A surdez de percepção não melhora ao elevar-se o volume dos sons (gritar, aumentar o som da televisão, etc.).
Na surdez muito grave ou total, a pessoa dá sinais34 de nada estar escutando. Os recém-nascidos com surdez profunda não se assustam com sons altos, como seria de se esperar. Crianças com problemas de audição têm dificuldades no desenvolvimento da linguagem e se chegarem à escola sem que ela tenha sido diagnosticada, a surdez prejudica o aprendizado. Alguns casos de surdez, na dependência de sua causa, podem ser acompanhados por sintomas35 adicionais como, por exemplo, dor, febre36, zumbido e vertigens37.
Como o médico diagnostica a surdez?
A história clínica do paciente é o primeiro passo diagnóstico38. Podem seguir-se um exame direto do ouvido e testes com diapasão que visem determinar o tipo de surdez (se de condução ou percepção). Geralmente uma audiometria39 complementa o diagnóstico38. Se, associadamente, estiver presente a tontura40, o labirinto8 e o sistema nervoso central41 devem ser investigados por meio de testes específicos. A ressonância magnética42 está indicada nos casos em que houver suspeita de um tumor25 afetando o aparelho auditivo. A surdez central é mais difícil para ser diagnosticada e frequentemente tem de ser presumida, depois de serem excluídas as demais alternativas.
Como o médico trata a surdez?
Nesse, como em todos os assuntos relativos à saúde43, a prevenção é palavra-chave, mas uma vez estabelecida, a surdez muitas vezes ainda pode ser curada.
A surdez de condução pode ser tratada por meios simples, como instrumentos, medicamentos ou cirurgia, conforme o caso. Para minorar ou solucionar este tipo de surdez, além do tratamento adequado da doença de base, pode-se usar um aparelho auditivo. Já a surdez neurossensorial quase nunca tem solução. Aqui, os aparelhos auditivos não têm qualquer utilidade.
O implante44 coclear (dispositivo eletrônico que visa proporcionar uma sensação auditiva próxima à fisiológica45), ainda raro entre nós, pode ser uma opção para os portadores de surdez neurossensorial profunda. Mas como ouvir não é apenas escutar e implica também na interpretação dos sons, um treinamento auditivo com um fonoaudiólogo é necessário, sobretudo nos pacientes que nunca escutaram antes. Na surdez dos idosos, a solução consiste no uso de uma prótese46.
Como evolui a surdez?
A evolução da surdez depende do que a esteja causando. Se houver, por exemplo, surdez súbita devido a uma explosão, ou coisa semelhante, a audição pode retornar ao normal em 24 horas. Entretanto, se a exposição a ruídos muito altos (acima de 75 decibeis) for repetitiva, ela pode causar danos ao ouvido interno6 e a surdez poderá ser irreversível. Em crianças com otite média31 costuma haver acúmulo de secreção atrás do tímpano4 que, na maioria das vezes, é absorvida pelo organismo e a audição tende a se normalizar em algumas semanas. Na surdez do idoso e na perda auditiva por medicamentos de uso contínuo, em geral a surdez aumenta gradativamente.
Como prevenir a surdez?
A prevenção da surdez deve começar no útero15, através da prevenção ou do tratamento de doenças maternas que podem afetar o desenvolvimento normal do aparelho auditivo do feto23, do tratamento adequado das otites47 infantis e de cuidados com os medicamentos potencialmente tóxicos para o ouvido.
Exames preventivos de audição devem ser feitos nos recém-nascidos, porque quanto mais cedo for percebida a deficiência auditiva, mais fácil será a abordagem terapêutica48. Em casa e na escola deve-se observar se há atrasos no desenvolvimento da linguagem, dificuldade de aprendizagem e isolamento, geralmente indicadores de deficiência auditiva. Deve-se evitar os ruídos contínuos acima de 75 decibeis, mas se a pessoa é obrigada a estar em locais onde eles existem, deve usar algum protetor de ouvido.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.