Remédios que podem levar à perda auditiva
Reproduzimos a seguir, com a devida autorização, o texto publicado no “Portal de Otorrinolaringologia” do Dr. Luciano Moreira, Diretor da SONORA – Clínica da Audição, do Rio de Janeiro:
O que são drogas ototóxicas?
As drogas ototóxicas são aquelas capazes de lesar estruturas da orelha interna1, impactando negativamente suas funções auditiva e do equilíbrio. Remédios antibióticos, para o câncer2, para hipertensão arterial3, para doenças neurológicas e mesmo alguns considerados mais inofensivos, como o AAS (Aspirina), podem causar zumbido e perda auditiva. Assim, precisamos estar atentos ao uso de medicamentos, especialmente as pessoas que já apresentam algum grau de surdez.
O risco de ototoxicidade4 é variável dentre os diversos medicamentos. Enquanto o risco com o uso do AAS é e torno de 1% e depende do tempo e dose usados, a chance de dano auditivo é maior para outras drogas, como o diurético5 furosemida (6%), os antibióticos aminoglicosídeos (10 a 30%) e a cisplatina (50 a 60%), usada na quimioterapia6 contra o câncer2.
Além das particularidades de cada substância, o risco de desenvolver deficiência auditiva ou zumbido com o uso de medicamentos também depende de:
- Dose e duração do tratamento
- Velocidade da infusão de drogas venosas
- Alteração da função renal7
- Uso concomitante de outras drogas potencialmente tóxicas
- Idade
- Perda auditiva prévia
- Exposição prévia à radioterapia8
- Predisposição genética
Quais são os sintomas9?
- Zumbido (ou tinnitus10) costuma ser o primeiro sintoma11
- Perda auditiva uni ou bilateral
- Surdez súbita
- Tonteira
- Desequilíbrio ao andar
Quando em uso de qualquer medicamento e diante do aparecimento de um ou mais dos sintomas9 acima citados, é importante investigar com o otorrinolaringologista, com a ajuda de uma audiometria12 e outros exames adequados para cada caso.
Leia sobre "Zumbido ou tinnitus10", "Misofonia" e "Novas perspectivas no tratamento da surdez neurossensorial".
O que fazer?
Praticamente todos os medicamentos disponíveis podem causar efeitos colaterais13. Estima-se que haja mais de 200 medicamentos no mercado com potencial ototóxico. Se você estiver em uso de algum dos medicamentos susceptíveis de causar efeito ototóxico, deve estar alerta para esse risco. Os sintomas9 acima podem ajudar a suspeitar da ocorrência de dano ao ouvido.
Quando o uso de medicamentos potencialmente tóxicos ao ouvido é inevitável, faz-se importante o acompanhamento dos limiares auditivos através da audiometria12. A audiometria12 de altas frequências é especialmente importante nessas situações, já que a perda auditiva de alguns medicamentos ototóxicos apresenta-se inicialmente nas frequências não testadas nas audiometrias de rotina.
Nas crianças pequenas e que ainda não falam essa vigilância tende a ser mais complicada. A incapacidade de relatar os sintomas9 de zumbido e perda auditiva e a maior complexidade dos exames auditivos requer cuidado e vigilância redobrados.
Em alguns casos de ototoxicidade4 a perda auditiva pode ser reversível, por isso a necessidade de se identificar o problema precocemente. Em outros, instala-se uma perda irreversível, podendo ser indicado o uso de aparelhos auditivos ou implantes cocleares.
Informações adicionais sobre os medicamentos ototóxicos
A ototoxicidade4 se desenvolve especificamente para a cóclea ou nervo auditivo e, às vezes, para o sistema vestibular14. Alguns medicamentos podem resultar em perda auditiva apenas temporária (mudança temporária de limiar auditivo) que cessa com a suspensão da medicação, mas outros medicamentos podem causar perda auditiva permanente (mudança permanente de limiar auditivo).
Não há tratamento específico, mas a interrupção da administração da droga ototóxica e, quando possível, sua substituição por outra que não tenha o mesmo efeito danoso pode ser justificada. A coadministração de antioxidantes pode limitar os efeitos ototóxicos. O implante15 coclear, por vezes, é uma opção para restaurar a audição.
Veja também sobre "Surdez", "Audiometria12" e "Hiperacusia".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas do site Portal de Otorrino – SONOPRA – Clínica de Audição.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.