Tratamento da obesidade: como os agonistas GLP-1 e a tecnologia estão redefinindo a prática clínica
A obesidade1 é considerada pela Organização Mundial da Saúde2 (OMS) uma epidemia global. É uma doença crônica, multifatorial e complexa, caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura3 corporal e associada a comorbidades4 como diabetes tipo 25, doenças cardiovasculares6, hipertensão arterial7 e neoplasias8 específicas.
O tratamento da obesidade1 evoluiu consideravelmente na última década, com destaque para o desenvolvimento de novos fármacos, técnicas cirúrgicas menos invasivas, uso de tecnologias digitais e integração de estratégias comportamentais.
Nova geração de medicamentos
No campo farmacológico, os análogos de GLP-1 representam o maior avanço recente.
- A semaglutida (Ozempic® e Wegovy®), aprovada em 2021 pela FDA, demonstrou em ensaios clínicos9 randomizados reduções médias de 10 a 15% do peso corporal em 68 semanas, resultados significativamente superiores aos obtidos com fármacos tradicionais, como sibutramina e orlistat. Além da perda ponderal10, mostrou benefícios adicionais no controle glicêmico e na redução de risco cardiovascular em pacientes com diabetes tipo 25.
- A tirzepatida (Mounjaro® e Zepbound®), agonista11 duplo de GLP-1 e GIP, apresentou eficácia ainda maior, com perdas de até 22,5% do peso em estudos multicêntricos.
- A liraglutida (Saxenda® e Victoza®), um agonista11 do repector do GLP-1 menos potente que a semaglutida, demonstrou perda de peso estimada de 5% a 8% do peso corporal com uso prolongado.
Esses medicamentos, administrados por via subcutânea12 semanal, representam atualmente a terapêutica13 farmacológica mais eficaz para obesidade1, embora possam causar efeitos adversos gastrointestinais e exijam uso contínuo.
Formas orais de semaglutida (Rybelsus®) e novas moléculas, como agonistas de amilina e moduladores do eixo intestino-cérebro14, estão em fases avançadas de investigação.
Técnicas mais refinadas e menos invasivas de cirurgias bariátricas
A cirurgia bariátrica15 mantém-se como a estratégia mais efetiva para obesidade1 grave (IMC16 ≥40 kg/m² ou ≥35 kg/m² com comorbidades4). Avanços nas técnicas laparoscópicas e no uso da cirurgia robótica reduziram complicações, tempo de internação e mortalidade17.
O bypass gástrico e a gastrectomia vertical permanecem como procedimentos padrão, mas a gastroplastia endoscópica em manga (ESG) vem se consolidando como alternativa menos invasiva em pacientes selecionados, com perdas de 15 a 20% do peso em 12 meses.
Métodos experimentais, como a estimulação elétrica gástrica, estão em avaliação e podem ampliar o arsenal terapêutico nos próximos anos.
Tecnologias digitais e inteligência artificial
As tecnologias digitais têm contribuído para o acompanhamento e individualização terapêutica13. Aplicativos de monitoramento, dispositivos vestíveis e sensores de monitoramento contínuo da glicose18 permitem avaliação integrada de dieta, gasto energético e metabolismo19, fornecendo dados objetivos que auxiliam na tomada de decisão clínica.
Ferramentas de inteligência artificial já estão sendo testadas para ajustar planos nutricionais e programas de exercícios de acordo com o perfil metabólico do paciente.
Abordagens comportamentais e multidisciplinares
Apesar dos avanços farmacológicos e cirúrgicos, as intervenções comportamentais permanecem como base do tratamento. A terapia cognitivo20-comportamental (TCC) tem eficácia comprovada no controle de compulsão alimentar, adesão dietética e melhora da autoestima. Programas estruturados que combinam TCC, orientação nutricional e atividade física supervisionada apresentam melhores resultados de manutenção da perda de peso em longo prazo.
A atuação de equipes multidisciplinares, envolvendo endocrinologistas, nutrólogos, nutricionistas, psicólogos e educadores físicos, é fundamental para otimizar resultados clínicos.
A obesidade1 continua a representar um desafio terapêutico de grande magnitude, e a tendência atual é a integração de múltiplas estratégias. O futuro aponta para combinações entre agentes farmacológicos potentes, procedimentos endoscópicos menos invasivos, suporte tecnológico digital e terapias comportamentais estruturadas, compondo um manejo mais efetivo e personalizado para cada paciente.
Leia também sobre "Diabetes tipo 25", "Esteatose hepática21" e "Avanços recentes no tratamento do diabetes22".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.