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Doença de Refsum

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O que é doença de Refsum?

A doença de Refsum, também chamada neuropatia1 hipertrófica de Refsum ou doença de armazenamento de ácido fitânico, é uma condição neurológica herdada que resulta no acúmulo de ácido fitânico nas células2 e tecidos. Seu nome foi dado em homenagem ao neurologista3 norueguês Sigvald Bernhard Refsum (1907–1991).

Quais são as causas da doença de Refsum?

A doença de Refsum é herdada como uma característica autossômica4 recessiva. Mais de 90% de todos os casos de Refsum resultam de mutações no gene PHYH. Os demais casos são causados por mutações no gene chamado PEX7.

Qual é o substrato fisiológico5 da doença de Refsum?

A doença de Refsum é parte de uma família de doenças genéticas conhecidas como leucodistrofias6, nas quais, como consequência da interrupção do metabolismo7 lipídico, a bainha de mielina8 que isola e protege os nervos do cérebro9 não cresce.

A doença de Refsum é causada pelo acúmulo de ácido fitânico no plasma10 e tecidos sanguíneos. Isso ocorre devido a um mau funcionamento do gene que devia produzir a enzima11 que decomporia esse ácido. Em consequência, a enzima11 essencial está ausente. Mutações no gene PHYH ou PEX7 interrompem as funções usuais dos peroxissomos (bolsas membranosas que contêm alguns tipos de enzimas digestivas), incluindo a degradação do ácido fitânico, e como resultado essa substância se acumula nos tecidos do corpo. Esse acúmulo é tóxico para as células2, embora não esteja claro de que modo o excesso dessa substância afeta a visão12 e o olfato e gera as outras características da doença de Refsum.

Os seres humanos obtêm o ácido fitânico necessário através da dieta, principalmente de carne bovina e laticínios. Embora ainda não esteja claro todas as funções que esse ácido desempenha no organismo, sabe-se que ele é importante para regular o metabolismo7 dos ácidos graxos no fígado13 de ratos. Nos homens, os sinais14 e sintomas15 da doença de Refsum resultam do acúmulo anormal desse ácido. O ácido fitânico normalmente é decomposto através de um processo chamado alfa-oxidação. Os sintomas15 da doença de Refsum ocorrem quando essa decomposição não se dá da maneira prevista.

Quais são as principais características clínicas da doença de Refsum?

A doença de Refsum é iniciada na adolescência e causa: perda de visão12, em virtude da retinite pigmentosa; anosmia (ausência do olfato); neuropatia periférica16 (doença nervosa degenerativa17); ataxia18 (falha na coordenação muscular); pele19 seca, áspera e escamosa20 e uma variedade de outros sinais14 e sintomas15.

Veja mais sobre "Deficiência visual", "Anosmia ou perda do olfato", "Atrofia21 muscular" e "Ataxia18".

O distúrbio ocular afeta a retina22, que é a estrutura sensível à luz na parte de trás do olho23. A perda de visão12 ocorre quando as células2 retinianas se deterioram gradualmente. O primeiro sinal24 de retinite pigmentosa é uma perda da visão12 noturna, que se torna aparente já na infância. Durante um período de anos, a doença interrompe a visão12 lateral e pode levar à cegueira.

A perda de visão12 e a anosmia são observadas em quase todas as pessoas com doença de Refsum, mas os outros sinais14 e sintomas15 variam. Cerca de um terço dos indivíduos afetados nascem com anormalidades ósseas das mãos25 e pés. Os sintomas15 que aparecem mais tarde na vida podem incluir fraqueza muscular progressiva e perda de peso; falta de equilíbrio e de coordenação muscular (ataxia18); perda de audição e pele19 seca e escamosa20 (ictiose). Além disso, algumas pessoas com doença de Refsum desenvolvem um ritmo cardíaco anormal (arritmia26) e problemas cardíacos relacionados que podem ser fatais.

Os sintomas15 da doença de Refsum podem incluir ainda cegueira noturna e dormência27. Os indivíduos afetados também podem experimentar parestesia28 (uma sensação incomum de queimação ou formigamento) dos braços e pernas. Os sintomas15 neurológicos incluem caminhada instável com quedas frequentes e neuropatia periférica16, com alterações sensoriais, motoras e reflexas. As alterações da pele19 podem incluir secura, coceira e descamação29.

Existe uma forma infantil da doença de Refsum que se torna aparente durante o primeiro ano de vida. Além do início precoce, é caracterizada por atraso no desenvolvimento, deficiência visual e auditiva, aumento do fígado13 e metabolismo7 defeituoso do ácido biliar.

Como o médico diagnostica a doença de Refsum?

A presença de ácido fitânico em amostras de sangue30 ou urina31 é a condição diagnóstica definitiva. O exame histopatológico da pele19 de um paciente com a doença de Refsum mostra hiperceratose32, hipergranulose33 e acantose34. A presença de células2 na camada basal da epiderme35 contendo vacúolos de tamanhos variáveis e com lipídios acumulados é patognomônica36 para a doença.

Como o médico trata a doença de Refsum?

Como o ácido fitânico não é produzido endogenamente37 no corpo humano38, o tratamento da doença de Refsum envolve uma dieta restritiva rigorosa com baixo teor de ácido fitânico. Esse ácido é encontrado principalmente em produtos lácteos, carne bovina, alguns frutos do mar, gorduras de animais ruminantes e certos peixes, como atum, bacalhau e arinca. Animais alimentados com capim e seu leite também devem ser evitados.

A plasmaferese (filtragem do plasma sanguíneo39 para garantir que não haja acúmulo de ácido fitânico) também pode ser necessária. Há pesquisadores que acreditam que altas doses de vitamina40 A retardem a taxa de degradação da visão12 devido à retinite pigmentosa associada à doença clássica de Refsum. Além disso, devem ser feitos tratamentos sintomáticos e de suporte.

Leia sobre "Leucodistrofia41", "Plasmaferese", "Arritmias42 cardíacas", "Dormência27 ou formigamento" e "Hepatomegalia43".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da U.S. National Library of Medicine e da NORD - National Organization of Rare Diseases.

ABCMED, 2020. Doença de Refsum. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1356258/doenca-de-refsum.htm>. Acesso em: 13 nov. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Neuropatia: Doença do sistema nervoso. As três principais formas de neuropatia em pessoas diabéticas são a neuropatia periférica, neuropatia autonômica e mononeuropatia. A forma mais comum é a neuropatia periférica, que afeta principalmente pernas e pés.
2 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
3 Neurologista: Médico especializado em problemas do sistema nervoso.
4 Autossômica: 1. Referente a autossomo, ou seja, ao cromossomo que não participa da determinação do sexo; eucromossomo. 2. Cujo gene está localizado em um dos autossomos (diz-se da herança de características). As doenças gênicas podem ser classificadas segundo o seu padrão de herança genética em: autossômica dominante (só basta um alelo afetado para que se manifeste a afecção), autossômica recessiva (são necessários dois alelos com mutação para que se manifeste a afecção), ligada ao cromossomo sexual X e as de herança mitocondrial (necessariamente herdadas da mãe).
5 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
6 Leucodistrofias: Doenças progressivas, geneticamente determinadas, que afetam o sistema nervoso em decorrência de alterações na bainha de mielina (estrutura que reveste as células nervosas).
7 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
8 Bainha de mielina: É uma bainha rica em lipídeos revestindo muitos axônios tanto no sistema nervoso central como no sistema nervoso periférico. Ela é um isolante elétrico que permite uma condução mais rápida e mais energeticamente eficiente dos impulsos nervosos. Esta bainha é formada pelas membranas celulares das células da glia (células de Schwann no sistema nervoso periférico e oligodendróglia no sistema nervoso central).
9 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
10 Plasma: Parte que resta do SANGUE, depois que as CÉLULAS SANGÜÍNEAS são removidas por CENTRIFUGAÇÃO (sem COAGULAÇÃO SANGÜÍNEA prévia).
11 Enzima: Proteína produzida pelo organismo que gera uma reação química. Por exemplo, as enzimas produzidas pelo intestino que ajudam no processo digestivo.
12 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
13 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
14 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
15 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
16 Neuropatia periférica: Dano causado aos nervos que afetam os pés, as pernas e as mãos. A neuropatia causa dor, falta de sensibilidade ou formigamentos no local.
17 Degenerativa: Relativa a ou que provoca degeneração.
18 Ataxia: Reflete uma condição de falta de coordenação dos movimentos musculares voluntários podendo afetar a força muscular e o equilíbrio de uma pessoa. É normalmente associada a uma degeneração ou bloqueio de áreas específicas do cérebro e cerebelo. É um sintoma, não uma doença específica ou um diagnóstico.
19 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
20 Escamosa: Cheia ou coberta de escamas, ou seja, de pequenas lâminas epidérmicas que se desprendem espontaneamente da pele.
21 Atrofia: 1. Em biologia, é a falta de desenvolvimento de corpo, órgão, tecido ou membro. 2. Em patologia, é a diminuição de peso e volume de órgão, tecido ou membro por nutrição insuficiente das células ou imobilização. 3. No sentido figurado, é uma debilitação ou perda de alguma faculdade mental ou de um dos sentidos, por exemplo, da memória em idosos.
22 Retina: Parte do olho responsável pela formação de imagens. É como uma tela onde se projetam as imagens: retém as imagens e as traduz para o cérebro através de impulsos elétricos enviados pelo nervo óptico. Possui duas partes: a retina periférica e a mácula.
23 Olho: s. m. (fr. oeil; ing. eye). Órgão da visão, constituído pelo globo ocular (V. este termo) e pelos diversos meios que este encerra. Está situado na órbita e ligado ao cérebro pelo nervo óptico. V. ocular, oftalm-. Sinônimos: Olhos
24 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
25 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
26 Arritmia: Arritmia cardíaca é o nome dado a diversas perturbações que alteram a frequência ou o ritmo dos batimentos cardíacos.
27 Dormência: 1. Estado ou característica de quem ou do que dorme. 2. No sentido figurado, inércia com relação a se fazer alguma coisa, a se tomar uma atitude, etc., resultando numa abulia ou falta de ação; entorpecimento, estagnação, marasmo. 3. Situação de total repouso; quietação. 4. No sentido figurado, insensibilidade espiritual de um ser diante do mundo. Sensação desagradável caracterizada por perda da sensibilidade e sensação de formigamento, e que geralmente ocorre nas extremidades dos membros. 5. Em biologia, é um período longo de inatividade, com metabolismo reduzido ou suspenso, geralmente associado a condições ambientais desfavoráveis; estivação.
28 Parestesia: Sensação cutânea subjetiva (ex.: frio, calor, formigamento, pressão, etc.) vivenciada espontaneamente na ausência de estimulação.
29 Descamação: 1. Ato ou efeito de descamar(-se); escamação. 2. Na dermatologia, fala-se da eliminação normal ou patológica da camada córnea da pele ou das mucosas. 3. Formação de cascas ou escamas, devido ao intemperismo, sobre uma rocha; esfoliação térmica.
30 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
31 Urina: Resíduo líquido produzido pela filtração renal no organismo, estocado na bexiga e expelido pelo ato de urinar.
32 Hiperceratose: Em Dermatologia, é a hiperplasia da camada córnea da epiderme. E, em Oftalmologia, é a hipertrofia da córnea.
33 Hipergranulose: Hiperplasia do estrato granuloso, muitas vezes devido à fricção intensa.
34 Acantose: Em Dermatologia, é a hipertrofia ou espessamento da camada espinhosa da epiderme.
35 Epiderme: Camada superior ou externa das duas camadas principais da pele.
36 Patognomônica: Diz-se de sinal próprio e característico de uma doença; diacrítico.
37 Endogenamente: De crescimento endógeno, algo que cresceu internamente.
38 Corpo humano: O corpo humano é a substância física ou estrutura total e material de cada homem. Ele divide-se em cabeça, pescoço, tronco e membros. A anatomia humana estuda as grandes estruturas e sistemas do corpo humano.
39 Plasma Sanguíneo: Parte que resta do SANGUE, depois que as CÉLULAS SANGÜÍNEAS são removidas por CENTRIFUGAÇÃO (sem COAGULAÇÃO SANGÜÍNEA prévia).
40 Vitamina: Compostos presentes em pequenas quantidades nos diversos alimentos e nutrientes e que são indispensáveis para o desenvolvimento dos processos biológicos normais.
41 Leucodistrofia: Doença progressiva, geneticamente determinada, que afeta o sistema nervoso em decorrência de alterações na bainha de mielina (estrutura que reveste as células nervosas).
42 Arritmias: Arritmia cardíaca é o nome dado a diversas perturbações que alteram a frequência ou o ritmo dos batimentos cardíacos.
43 Hepatomegalia: Aumento anormal do tamanho do fígado.
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