Gostou do artigo? Compartilhe!

Uma visão completa da Síndrome de Papillon-Lefèvre

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie este artigo

O que é a síndrome1 de Papillon-Lefèvre?

A Síndrome1 de Papillon-Lefèvre é uma doença genética extremamente rara, de herança autossômica2 recessiva, que geralmente se torna aparente aproximadamente entre 1 e 5 anos de idade, caracterizada pela combinação de periodontite severa e queratodermia palmoplantar (manchas escamosas secas na pele3 das palmas das mãos4 e das solas dos pés).

Trata-se de uma condição que afeta simultaneamente a pele3 e o periodonto, com evolução progressiva caso não tratada. Ela é uma genodermatose (dermatose5 hereditária) com prevalência6 de 1 a 4 casos por milhão de pessoas, sem predominância de sexo ou raça. A síndrome1 foi inicialmente descrita por Papillon e Lefèvre em 1924.

Quais são as características clínicas da síndrome1 de Papillon-Lefèvre?

A Síndrome1 de Papillon-Lefèvre caracteriza-se clinicamente por queratodermia palmoplantar difusa, associada a uma periodontopatologia grave, com perda prematura de dentes decíduos (“dentes de leite”) e permanentes e maior suscetibilidade a infecções7.

As alterações cutâneas8 comumente iniciam durante os primeiros quatro anos de vida, e a destruição grave das regiões periodontais9 resulta na perda dos dentes decíduos dentro desses primeiros quatro anos, bem como na perda prematura dos dentes permanentes, em torno dos 17 anos, se a síndrome1 não for tratada. Os surtos inflamatórios gengivais tendem a acompanhar a erupção10 dentária, levando a episódios repetidos de mobilidade, dor e exsudação11.

Sintomas12 e achados adicionais associados à Síndrome1 de Papillon-Lefèvre podem incluir infecções7 cutâneas8 piogênicas (produtoras de pus13) frequentes, anormalidades nas unhas14 (distrofia15 ungueal16) e transpiração17 excessiva (hiperidrose18).

Leia também sobre "Hipertrofia19 gengival", "Envelhecimento precoce dos dentes" e "Retração da gengiva".

Quais são as causas da síndrome1 de Papillon-Lefèvre?

A causa principal é representada por mutações no gene CTSC. Este gene é responsável pela produção da enzima20 catepsina C e a mutação21 dele leva à deficiência dessa enzima20, o que afeta o funcionamento de certas células22 imunológicas e a regulação da queratina na pele3. Essa enzima20, quando normal, desempenha também um papel importante na função do sistema imunológico23 e na manutenção dos tecidos gengivais e da pele3.

A mutação21 no gene CTSC leva a uma resposta inflamatória anormal nas gengivas e facilita o desenvolvimento de infecções7 orais graves. A perda da função da catepsina C prejudica a ativação de proteases envolvidas na defesa contra microrganismos periodontopatogênicos, o que explica a agressividade das manifestações bucais.

A síndrome1 é transmitida de forma autossômica2 recessiva, o que significa que uma pessoa precisa herdar uma cópia mutada do gene de cada um dos pais para desenvolver a doença. Se ambos os pais forem portadores, há 25% de chance de que seus filhos herdem a síndrome1.

Qual é o substrato fisiopatológico da síndrome1 de Papillon-Lefèvre?

O substrato fisiopatológico da Síndrome1 de Papillon-Lefèvre envolve mutações no gene CTSC, que codifica a enzima20 catepsina C, essencial para a ativação de outras proteases (como catepsinas e elastases) que desempenham um papel fundamental na resposta imunológica e no processo de inflamação24. Especificamente, essa enzima20 é crucial para a ativação de várias proteases nos granulócitos25 neutrofílicos, células22 essenciais na resposta imune e na manutenção da integridade dos tecidos periodontais9.

A deficiência de catepsina C leva à disfunção dessas proteases, resultando em uma resposta imunológica inadequada contra as bactérias periodontopatogênicas, facilitando o desenvolvimento de periodontite agressiva, que é uma característica marcante da síndrome1. Esse desequilíbrio inflamatório leva tanto à destruição periodontal26 acelerada quanto às alterações de queratinização que culminam na queratodermia palmoplantar.

A combinação desses fatores leva à perda progressiva dos dentes e à hiperqueratose27 da pele3 observada em pacientes com a Síndrome1 de Papillon-Lefèvre.

Como o médico diagnostica a síndrome1 de Papillon-Lefèvre?

Em busca do diagnóstico28, o médico deve começar por coletar uma história médica detalhada do paciente e da família. A Síndrome1 de Papillon-Lefèvre geralmente é identificada na infância, com sinais29 e sintomas12 característicos. O exame físico revelará as características cutâneas8 típicas, como placas30 espessas e escamosas nas mãos4 e pés, além de sinais29 de inflamação24 e destruição periodontal26.

Radiografias dentárias podem ser usadas para avaliar a extensão da perda óssea ao redor dos dentes, o que é comum nesta síndrome1. Podem ser realizados exames laboratoriais para descartar outras condições que causam sintomas12 semelhantes, como psoríase31 ou dermatite32 atópica.

Em alguns casos, testes genéticos podem ser realizados para confirmar a mutação21 no gene CTSC. Este teste é particularmente útil para confirmação do diagnóstico28, especialmente em famílias com história de casos similares. Contudo, no Brasil não existem ainda testes genéticos disponíveis para a Síndrome1 de Papillon-Lefèvre. Apesar disso, o reconhecimento clínico é geralmente suficiente para o diagnóstico28, especialmente quando há a associação típica entre queratodermia e periodontite agressiva precoce.

A avaliação por um dentista ou periodontista é essencial, dado o envolvimento severo do tecido33 periodontal26. O diagnóstico28 é, pois, confirmado pela presença dos sinais29 clínicos típicos, história familiar compatível, e, quando possível, a identificação de mutações genéticas específicas.

Como o médico trata a síndrome1 de Papillon-Lefèvre?

O tratamento para a Síndrome1 de Papillon-Lefèvre é multidisciplinar e envolve o uso de emolientes e queratolíticos para amolecer e remover a pele3 espessa. Em alguns casos, retinoides orais (como a acitretina, por exemplo) podem ser prescritos para ajudar a controlar a hiperqueratose27. Também deve ser feito um tratamento periodontal26 agressivo para controlar a periodontite, o que pode incluir limpeza profissional frequente, antibióticos sistêmicos34 e, em casos severos, extração dos dentes afetados.

Antibióticos de amplo espectro, como amoxicilina e ácido clavulânico, ou tetraciclinas, podem ser usados para combater infecções7 bacterianas que causam a periodontite. A manutenção rigorosa da higiene oral e o acompanhamento odontológico contínuo são fundamentais para retardar a progressão da destruição periodontal26. Outro fator importante é a alimentação, devendo ser adotada uma dieta apropriada, bem como eliminação de todo e qualquer fator sistêmico35 intercorrente.

O acompanhamento da condição deve ser feito por um dermatologista, um dentista e outros especialistas para o manejo contínuo da síndrome1. Como a Síndrome1 de Papillon-Lefèvre é uma condição complexa e crônica, o tratamento visa principalmente controlar os sintomas12 e prevenir complicações, com ajustes ao longo do tempo conforme necessário.

Embora ainda experimentais, terapias voltadas para modulação imune e futuras abordagens de terapia gênica representam áreas promissoras de investigação.

Veja sobre "Psoríase31 pustulosa generalizada", "Dermatite32 atópica" e "Onicomicose36".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da NORD - National Organization for Rare Disorders e da Biblioteca Virtual em Saúde.

ABCMED, 2025. Uma visão completa da Síndrome de Papillon-Lefèvre. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1497440/uma-visao-completa-da-sindrome-de-papillon-lefevre.htm>. Acesso em: 24 nov. 2025.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
2 Autossômica: 1. Referente a autossomo, ou seja, ao cromossomo que não participa da determinação do sexo; eucromossomo. 2. Cujo gene está localizado em um dos autossomos (diz-se da herança de características). As doenças gênicas podem ser classificadas segundo o seu padrão de herança genética em: autossômica dominante (só basta um alelo afetado para que se manifeste a afecção), autossômica recessiva (são necessários dois alelos com mutação para que se manifeste a afecção), ligada ao cromossomo sexual X e as de herança mitocondrial (necessariamente herdadas da mãe).
3 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
4 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
5 Dermatose: Qualquer moléstia da pele e de seus anexos, especialmente quando caracterizada pela ausência de inflamação.
6 Prevalência: Número de pessoas em determinado grupo ou população que são portadores de uma doença. Número de casos novos e antigos desta doença.
7 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
8 Cutâneas: Que dizem respeito à pele, à cútis.
9 Periodontais: Relativo ao ou próprio do tecido em torno dos dentes, o periodonto. O periodonto é o tecido conjuntivo que fixa o dente no alvéolo.
10 Erupção: 1. Ato, processo ou efeito de irromper. 2. Aumento rápido do brilho de uma estrela ou de pequena região da atmosfera solar. 3. Aparecimento de lesões de natureza inflamatória ou infecciosa, geralmente múltiplas, na pele e mucosas, provocadas por vírus, bactérias, intoxicações, etc. 4. Emissão de materiais magmáticos por um vulcão (lava, cinzas etc.).
11 Exsudação: Líquido que, transudando pelos poros de uma planta ou de um animal, adquire consistência viscosa na superfície onde aparece.
12 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
13 Pus: Secreção amarelada, freqüentemente mal cheirosa, produzida como conseqüência de uma infecção bacteriana e formada por leucócitos em processo de degeneração, plasma, bactérias, proteínas, etc.
14 Unhas: São anexos cutâneos formados por células corneificadas (queratina) que formam lâminas de consistência endurecida. Esta consistência dura, confere proteção à extremidade dos dedos das mãos e dos pés. As unhas têm também função estética. Apresentam crescimento contínuo e recebem estímulos hormonais e nutricionais diversos.
15 Distrofia: 1. Acúmulo de grande quantidade de matéria orgânica, mas poucos nutrientes, em corpos de água, como brejos e pântanos. 2. Na medicina, é qualquer problema de nutrição e o estado de saúde daí decorrente.
16 Ungueal: Relativo ou pertencente à unha, garra ou casco, ou que a eles se assemelha.
17 Transpiração: 1. Ato ou efeito de transpirar. 2. Em fisiologia, é a eliminação do suor pelas glândulas sudoríparas da pele; sudação. Ou o fluido segregado pelas glândulas sudoríparas; suor. 3. Em botânica, é a perda de água por evaporação que ocorre na superfície de uma planta, principalmente através dos estômatos, mas também pelas lenticelas e, diretamente, pelas células epidérmicas.
18 Hiperidrose: Excesso de suor, que costuma acometer axilas, palmas das mãos e plantas dos pés.
19 Hipertrofia: 1. Desenvolvimento ou crescimento excessivo de um órgão ou de parte dele devido a um aumento do tamanho de suas células constituintes. 2. Desenvolvimento ou crescimento excessivo, em tamanho ou em complexidade (de alguma coisa). 3. Em medicina, é aumento do tamanho (mas não da quantidade) de células que compõem um tecido. Pode ser acompanhada pelo aumento do tamanho do órgão do qual faz parte.
20 Enzima: Proteína produzida pelo organismo que gera uma reação química. Por exemplo, as enzimas produzidas pelo intestino que ajudam no processo digestivo.
21 Mutação: 1. Ato ou efeito de mudar ou mudar-se. Alteração, modificação, inconstância. Tendência, facilidade para mudar de ideia, atitude etc. 2. Em genética, é uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
22 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
23 Sistema imunológico: Sistema de defesa do organismo contra infecções e outros ataques de micro-organismos que enfraquecem o nosso corpo.
24 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
25 Granulócitos: Leucócitos que apresentam muitos grânulos no citoplasma. São divididos em três grupos, conforme as características (neutrofílicas, eosinofílicas e basofílicas) de coloração destes grânulos. São granulócitos maduros os NEUTRÓFILOS, EOSINÓFILOS e BASÓFILOS.
26 Periodontal: Relativo ao ou próprio do tecido em torno dos dentes, o periodonto. O periodonto é o tecido conjuntivo que fixa o dente no alvéolo.
27 Hiperqueratose: Espessamento da parte mais externa da epiderme, o estrato córneo, onde as células são altamente carregadas com queratina, que lhes confere caráter seco e duro.
28 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
29 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
30 Placas: 1. Lesões achatadas, semelhantes à pápula, mas com diâmetro superior a um centímetro. 2. Folha de material resistente (metal, vidro, plástico etc.), mais ou menos espessa. 3. Objeto com formato de tabuleta, geralmente de bronze, mármore ou granito, com inscrição comemorativa ou indicativa. 4. Chapa que serve de suporte a um aparelho de iluminação que se fixa em uma superfície vertical ou sobre uma peça de mobiliário, etc. 5. Placa de metal que, colocada na dianteira e na traseira de um veículo automotor, registra o número de licenciamento do veículo. 6. Chapa que, emitida pela administração pública, representa sinal oficial de concessão de certas licenças e autorizações. 7. Lâmina metálica, polida, usualmente como forma em processos de gravura. 8. Área ou zona que difere do resto de uma superfície, ordinariamente pela cor. 9. Mancha mais ou menos espessa na pele, como resultado de doença, escoriação, etc. 10. Em anatomia geral, estrutura ou órgão chato e em forma de placa, como uma escama ou lamela. 11. Em informática, suporte plano, retangular, de fibra de vidro, em que se gravam chips e outros componentes eletrônicos do computador. 12. Em odontologia, camada aderente de bactérias que se forma nos dentes.
31 Psoríase: Doença imunológica caracterizada por lesões avermelhadas com descamação aumentada da pele dos cotovelos, joelhos, couro cabeludo e costas juntamente com alterações das unhas (unhas em dedal). Evolui através do tempo com melhoras e pioras, podendo afetar também diferentes articulações.
32 Dermatite: Inflamação das camadas superficiais da pele, que pode apresentar-se de formas variadas (dermatite seborreica, dermatite de contato...) e é produzida pela agressão direta de microorganismos, substância tóxica ou por uma resposta imunológica inadequada (alergias, doenças auto-imunes).
33 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
34 Sistêmicos: 1. Relativo a sistema ou a sistemática. 2. Relativo à visão conspectiva, estrutural de um sistema; que se refere ou segue um sistema em seu conjunto. 3. Disposto de modo ordenado, metódico, coerente. 4. Em medicina, é o que envolve o organismo como um todo ou em grande parte.
35 Sistêmico: 1. Relativo a sistema ou a sistemática. 2. Relativo à visão conspectiva, estrutural de um sistema; que se refere ou segue um sistema em seu conjunto. 3. Disposto de modo ordenado, metódico, coerente. 4. Em medicina, é o que envolve o organismo como um todo ou em grande parte.
36 Onicomicose: Micose de unha. Apresenta-se com descolamento da borda livre da unha, espessamento, manchas brancas na superfície ou deformação da unha. Quando a micose atinge a pele ao redor da unha, causa a paroníquia (“unheiro“). O contorno ungueal fica inflamado, dolorido, inchado e avermelhado e, por consequência, altera a formação da unha, que cresce ondulada.
Gostou do artigo? Compartilhe!

Pergunte diretamente a um especialista

Sua pergunta será enviada aos especialistas do CatalogoMed, veja as dúvidas já respondidas.