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Puberdade precoce - quais os sinais e quando procurar um médico?

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O que é a puberdade normal?

A puberdade normal é uma sequência de mudanças físicas que resultam na maturidade sexual da pessoa e na sua capacidade de se reproduzir. Normalmente, essas alterações ocorrem em sequência, resultando na transformação da criança num adolescente e posteriormente num adulto. O início da puberdade ocorre quando o hipotálamo1 começa a estimular a hipófise2 a secretar o hormônio3 liberador de gonadotrofina, que estimula o crescimento dos órgãos sexuais em ambos os sexos. Estes órgãos então passam a secretar hormônios sexuais, como a testosterona e/ou o estrogênio, que causam a puberdade.

Nos meninos, os primeiros sinais4 de puberdade ocorrem entre os 12 e 14 anos e são o crescimento do escroto5 e dos testículos6, seguido pelo alongamento do pênis7. A seguir, ocorre o aparecimento de pelos púbicos e nas axilas.

Nas meninas, os sinais4 aparecem entre os 8 e os 13 anos e a primeira mudança da puberdade é o início do crescimento das mamas8. Pouco depois, pelos pubianos e das axilas começam a crescer.

Em ambos os sexos, é a glândula9 adrenal que começa a secretar hormônios que causam o aparecimento de pelos púbicos e nas axilas. Esses hormônios adrenais são controlados por sinais4 químicos diferentes dos outros hormônios da puberdade.

Nos últimos anos, a puberdade normal tem começado cada vez mais cedo e os padrões tradicionais estão sendo reavaliados. Nos últimos 30 anos, a idade da menarca10 caiu em média 3 meses.

O que é a puberdade precoce?

A puberdade precoce é a condição em que o corpo de uma criança começa a maturação sexual mais cedo que o normal. Geralmente ocorre antes dos oito anos nas meninas e antes de nove anos em meninos. Os sintomas11 em meninas incluem o desenvolvimento da mama12 e um primeiro período menstrual. Os sintomas11 em meninos incluem testículos6 e pênis7 alargados, voz grossa e pelo facial, muitas vezes acima do lábio13 superior.

Leia sobre "Menarca10", "Crises da adolescência", "Ginecomastia14" e "Crescimento infantil15 - Quanto cresce uma criança".

Quais são as causas da puberdade precoce?

Na maioria das meninas afetadas, não é possível identificar uma causa específica. Nos meninos é mais fácil reconhecer uma lesão16 identificável subjacente, como tumores intracranianos, especialmente na região do hipotálamo1 ou da glândula pineal17. A neurofibromatose e algumas outras doenças raras também podem estar relacionadas à puberdade precoce.

A puberdade precoce central também pode ser decorrente de causas iatrogênicas18 como, por exemplo, cirurgia, radioterapia19 ou quimioterapia20 para tratamento de câncer21.

Na modalidade independente do hormônio3 liberador de gonadotrofina (GnRH - do inglês gonadotropin-releasing hormone), a puberdade precoce está sujeita ao efeito do hormônio3 sexual predominante, estrogênico ou androgênico22, e as alterações físicas são mais discordantes do desenvolvimento puberal normal.

Qual é o substrato fisiológico23 da puberdade precoce?

Há dois tipos de puberdade precoce:

(1) puberdade precoce central, dependente do hormônio3 liberador de gonadotrofina

(2) puberdade precoce independente do GnRH

O tipo dependente de GnRH é o mais comum de modo geral e 5 a 10 vezes mais frequente nas meninas que nos meninos. Nesse tipo, o eixo hipotálamo1-hipofisário é ativado, resultando em aumento e maturação das gônadas24, desenvolvimento das características sexuais secundárias e produção de espermatozoide25 e óvulo26 (espermatogênese e oogênese, respectivamente).

A puberdade precoce independente do GnRH, muito menos comum, é o resultado de níveis circulantes elevados de andrógenos27 ou estrogênios, sem ativação do eixo hipotálamo1-hipofisário.

Quais são as características clínicas da puberdade precoce?

Os sinais4 e sintomas11 da puberdade precoce são os mesmos da puberdade normal, apenas ocorrendo muito cedo. Nas meninas inclui desenvolvimento mamário, alteração corpórea, crescimento uterino e, eventualmente, menarca10. E, nos meninos, inclui aumento do volume testicular, crescimento fálico, aparecimento de pelos pubianos, faciais e axilares, odor adulto do corpo, pele28 facial oleosa ou acne29.

Um desenvolvimento puberal incompleto, que não envolve todos os órgãos igualmente, é comum e na maioria das vezes apresenta-se na forma de crescimento das mamas8 ou produção hormonal prematura isolada.

O limite inferior de normalidade puberal para as meninas é de 7 anos. A média para o desenvolvimento mamário nas meninas é entre os 8 anos e meio e os 10 anos.

Como o médico diagnostica a puberdade precoce?

A suspeita da puberdade precoce é clínica, baseada em sinais4 e sintomas11. O diagnóstico30 de puberdade precoce é feito por comparação com os padrões comuns na população, usando-se radiografia das mãos31 e do punho para avaliar a idade óssea e avaliação dos níveis séricos das gonadotrofinas e esteroides gonadais e das suprarrenais. Também devem ser apurados níveis séricos dos hormônios e tomadas uma ultrassonografia32 pélvica33 e uma ressonância cerebral.

Como o médico trata a puberdade precoce?

O tratamento da puberdade precoce depende da sua causa. Normalmente, o tratamento consiste em um medicamento para atrasar a progressão do processo, o que pode ser feito por agonista34 do GnRH, antagonista35 de andrógenos27 ou estrógenos ou retirada de tumor36, se necessário. Se os eventos da puberdade discreparem apenas um ano dos padrões populacionais, o tratamento pode não ser necessário e reexames de rotina serão suficientes para monitoramento.

Veja também sobre "Sinéquia dos pequenos lábios ou 'vagina37 fechada'", "Hiperplasia38 adrenal congênita39", "Síndrome40 de Turner" e "Ovários41 policísticos".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da SBP – Sociedade Brasileira de Pediatria e do Hospital Infantil de Sabará.

ABCMED, 2020. Puberdade precoce - quais os sinais e quando procurar um médico?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/saude-da-crianca/1381333/puberdade-precoce-quais-os-sinais-e-quando-procurar-um-medico.htm>. Acesso em: 18 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Hipotálamo: Parte ventral do diencéfalo extendendo-se da região do quiasma óptico à borda caudal dos corpos mamilares, formando as paredes lateral e inferior do terceiro ventrículo.
2 Hipófise:
3 Hormônio: Substância química produzida por uma parte do corpo e liberada no sangue para desencadear ou regular funções particulares do organismo. Por exemplo, a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que diz a outras células quando usar a glicose para energia. Hormônios sintéticos, usados como medicamentos, podem ser semelhantes ou diferentes daqueles produzidos pelo organismo.
4 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
5 Escroto:
6 Testículos: Os testículos são as gônadas sexuais masculinas que produzem as células de fecundação ou espermatozóides. Nos mamíferos ocorrem aos pares e são protegidos fora do corpo por uma bolsa chamada escroto. Têm função de glândula produzindo hormônios masculinos.
7 Pênis: Órgão reprodutor externo masculino. É composto por uma massa de tecido erétil encerrada em três compartimentos cilíndricos fibrosos. Dois destes compartimentos, os corpos cavernosos, ficam lado a lado ao longo da parte superior do órgão. O terceiro compartimento (na parte inferior), o corpo esponjoso, abriga a uretra.
8 Mamas: Em humanos, uma das regiões pareadas na porção anterior do TÓRAX. As mamas consistem das GLÂNDULAS MAMÁRIAS, PELE, MÚSCULOS, TECIDO ADIPOSO e os TECIDOS CONJUNTIVOS.
9 Glândula: Estrutura do organismo especializada na produção de substâncias que podem ser lançadas na corrente sangüínea (glândulas endócrinas) ou em uma superfície mucosa ou cutânea (glândulas exócrinas). A saliva, o suor, o muco, são exemplos de produtos de glândulas exócrinas. Os hormônios da tireóide, a insulina e os estrógenos são de secreção endócrina.
10 Menarca: Refere-se à ocorrência da primeira menstruação.
11 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
12 Mama: Em humanos, uma das regiões pareadas na porção anterior do TÓRAX. As mamas consistem das GLÂNDULAS MAMÁRIAS, PELE, MÚSCULOS, TECIDO ADIPOSO e os TECIDOS CONJUNTIVOS.
13 Lábio: Cada uma das duas margens carnudas e altamente irrigadas da boca.
14 Ginecomastia: Aumento anormal de uma ou ambas as glândulas mamárias no homem. Associa-se a diferentes enfermidades como cirrose, tumores testiculares, etc. Em certas ocasiões ocorrem de forma idiopática.
15 Crescimento Infantil: Aumento na estrutura do corpo, tendo em vista a multiplicação e o aumento do tamanho das células. Controla-se principalmente o peso corporal, a estatura e o perímetro cefálico, com o objetivo de saber o quanto a criança ganhou ou perdeu em determinados intervalos de tempo e tendo por base um acompanhamento a longo prazo, através de anotações em gráficos ou curvas de crescimento. O pediatra precisa conhecer e analisar vários fatores referentes à criança e a sua família, como o peso e a altura dos pais, o padrão de crescimento deles, os dados da gestação, o peso e a estatura ao nascimento e a alimentação do bebê para avaliar a situação do crescimento de determinada criança. Não é simplesmente consultar gráficos. Somente o médico da criança pode avaliar seu crescimento. Uma criança pode estar fora da “faixa mais comum de referência“ e, ainda assim, ter um crescimento normal.
16 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
17 Glândula Pineal: Órgão neuroendócrino sensível à luz, ligado ao teto do TERCEIRO VENTRÍCULO cerebral. A glândula pineal secreta MELATONINA, outras aminas biogênicas e neuropeptídeos. Sinônimos: Epífise Cerebral; Corpo Pineal
18 Iatrogênicas: Relativo à ou próprio da iatrogenia, que significa geração de atos ou pensamentos a partir da prática médica.
19 Radioterapia: Método que utiliza diversos tipos de radiação ionizante para tratamento de doenças oncológicas.
20 Quimioterapia: Método que utiliza compostos químicos, chamados quimioterápicos, no tratamento de doenças causadas por agentes biológicos. Quando aplicada ao câncer, a quimioterapia é chamada de quimioterapia antineoplásica ou quimioterapia antiblástica.
21 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
22 Androgênico: Relativo à androgenia e a androgênios. Androgênios são hormônios esteroides, controladores do crescimento dos órgãos sexuais masculinos. O hormônio natural masculino é a testosterona.
23 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
24 Gônadas: 1. Designação genérica das glândulas sexuais (ovário e testículo) que produzem os gametas (óvulos e espermatozoides). 2. Em embriologia, é a glândula embrionária antes de sua possível identificação morfológica como ovário ou testículo.
25 Espermatozóide: Célula reprodutiva masculina.
26 Óvulo: Célula germinativa feminina (haplóide e madura) expelida pelo OVÁRIO durante a OVULAÇÃO.
27 Andrógenos: Termo genérico para qualquer composto natural ou sintético, geralmente um hormônio esteróide, que estimula ou controla o desenvolvimento e manutenção das características masculinas em vertebrados ao ligar-se a receptores andrógenos. Isso inclui a atividade dos órgãos sexuais masculinos acessórios e o desenvolvimento de características sexuais secundárias masculinas. Também são os esteróides anabólicos originais. São precursores de todos os estrógenos, os hormônios sexuais femininos. São exemplos de andrógenos: testosterona, dehidroepiandrosterona (DHEA), androstenediona (Andro), androstenediol, androsterona e dihidrotestosterona (DHT).
28 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
29 Acne: Doença de predisposição genética cujas manifestações dependem da presença dos hormônios sexuais. As lesões começam a surgir na puberdade, atingindo a maioria dos jovens de ambos os sexos. Os cravos e espinhas ocorrem devido ao aumento da secreção sebácea associada ao estreitamento e obstrução da abertura do folículo pilosebáceo, dando origem aos comedões abertos (cravos pretos) e fechados (cravos brancos). Estas condições favorecem a proliferação de microorganismos que provocam a inflamação característica das espinhas, sendo o Propionibacterium acnes o agente infeccioso mais comumente envolvido.
30 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
31 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
32 Ultrassonografia: Ultrassonografia ou ecografia é um exame complementar que usa o eco produzido pelo som para observar em tempo real as reflexões produzidas pelas estruturas internas do organismo (órgãos internos). Os aparelhos de ultrassonografia utilizam uma frequência variada, indo de 2 até 14 MHz, emitindo através de uma fonte de cristal que fica em contato com a pele e recebendo os ecos gerados, os quais são interpretados através de computação gráfica.
33 Pélvica: Relativo a ou próprio de pelve. A pelve é a cavidade no extremo inferior do tronco, formada pelos dois ossos do quadril (ilíacos), sacro e cóccix; bacia. Ou também é qualquer cavidade em forma de bacia ou taça (por exemplo, a pelve renal).
34 Agonista: 1. Em farmacologia, agonista refere-se às ações ou aos estímulos provocados por uma resposta, referente ao aumento (ativação) ou diminuição (inibição) da atividade celular. Sendo uma droga receptiva. 2. Lutador. Na Grécia antiga, pessoa que se dedicava à ginástica para fortalecer o físico ou como preparação para o serviço militar.
35 Antagonista: 1. Opositor. 2. Adversário. 3. Em anatomia geral, que ou o que, numa mesma região anatômica ou função fisiológica, trabalha em sentido contrário (diz-se de músculo). 4. Em medicina, que realiza movimento contrário ou oposto a outro (diz-se de músculo). 5. Em farmácia, que ou o que tende a anular a ação de outro agente (diz-se de agente, medicamento etc.). Agem como bloqueadores de receptores. 6. Em odontologia, que se articula em oposição (diz-se de ou qualquer dente em relação ao da maxila oposta).
36 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
37 Vagina: Canal genital, na mulher, que se estende do ÚTERO à VULVA. (Tradução livre do original
38 Hiperplasia: Aumento do número de células de um tecido. Pode ser conseqüência de um estímulo hormonal fisiológico ou não, anomalias genéticas no tecido de origem, etc.
39 Congênita: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
40 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
41 Ovários: São órgãos pares com aproximadamente 3cm de comprimento, 2cm de largura e 1,5cm de espessura cada um. Eles estão presos ao útero e à cavidade pelvina por meio de ligamentos. Na puberdade, os ovários começam a secretar os hormônios sexuais, estrógeno e progesterona. As células dos folículos maduros secretam estrógeno, enquanto o corpo lúteo produz grandes quantidades de progesterona e pouco estrógeno.
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