Crises da adolescência
O que são puberdade e adolescência?
A puberdade é o período do desenvolvimento humano de transição entre a infância e a adolescência, no qual ocorre o desenvolvimento dos caracteres sexuais secundários e a aceleração do crescimento, levando ao início das funções reprodutivas e a várias mudanças morfológicas e fisiológicas1 no corpo: o crescimento se acelera; aparecem os pelos pubianos; a barba, nos meninos; a voz modifica-se; ocorrem as primeiras ejaculações nos meninos, por volta dos 13 anos, e a primeira menstruação2 nas meninas (por volta dos 12 ou 13 anos); surgem os desejos sexuais e, ocasionalmente, as primeiras relações sexuais. A adolescência é a fase que se segue à puberdade e que marca a passagem do indivíduo à juventude e à vida adulta. Ela caracteriza-se pelo viço, frescor e vigor físico e normalmente representa o auge das energias vitais.
Os termos adolescência e juventude se superpõem e seus limites numéricos diferem em diferentes países. A ONU, por exemplo, define juventude como a fase entre 13 e 24 anos de idade. A OMS, por sua vez, define adolescente como o indivíduo que se encontra entre os quinze e vinte anos de idade. No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente trata como menores de idade os indivíduos compreendidos entre 12 e 18 anos de idade. Nessa fase, ocorrem as chamadas “crises da adolescência”.
Quais são as crises da adolescência?
As crises da adolescência representam uma ruptura com as formas de comportamento e privilégios típicos da infância e a aquisição de características e competências que capacitam a pessoa a assumir deveres e papeis adultos. Elas são impulsionadas, por um lado, pelas mudanças físico-fisiológicas1 iniciadas na puberdade e, por outro lado, pelas mudanças de comportamentos induzidas socialmente.
Dentre as crises que marcam a adolescência, as de identidade e autonomia costumam ser as mais importantes. Por um lado, o adolescente sente necessidade de definir-se como pessoa, sem ser um mero seguidor dos modelos adultos à sua volta; por outro, quer agir por si mesmo. É-lhe mais importante sentir-se como autor dos próprios atos, que agir racionalmente. Essa é a razão de muitas atitudes de oposição aos mais velhos e mesmo de rebeldias. Embora essas crises possam tornar o adolescente uma pessoa difícil de lidar, e até mesmo um ser antissocial, elas preparam-no para a vida adulta e em geral eles emergem delas mais amadurecidos e ponderados.
Qual é a “fisiopatologia” das crises da adolescência?
A partir da puberdade, a hipófise3, estimulada pelo hipotálamo4, segrega o hormônio5 folículo6 estimulante (FSH) e o hormônio5 luteinizante (LH), os quais permitem a liberação dos hormônios sexuais, o estrogênio e a testosterona. Esses hormônios influenciam o desenvolvimento cerebral do adolescente e o seu comportamento. Essa reorganização física do cérebro7, bem como as mudanças sociais e comportamentais que se seguem à puberdade, corresponde a um período perfeitamente normal e desejável do desenvolvimento, embora possa envolver muitos problemas.
Entre outras mudanças físicas no cérebro7, ocorrem: um processo gradual de mielinização dos nervos e uma consequente mudança na condução dos impulsos; um processo de amadurecimento que se inicia nas áreas com função sensorial; um amadurecimento final das regiões pré-frontais; uma integração funcional entre diferentes partes do córtex; sedimentação das competências motoras; expansão da substância branca e maior eficácia das funções do córtex pré-frontal.
Do ponto de vista psicológico, a adolescência é um período de dúvidas, indecisões e conflitos internos. Nesta fase acontecem grandes mudanças no ser humano. Nela, o adolescente procura conhecer a própria personalidade, suas ideias e ideais e definir seus valores e orientações. Por isso, são mais observadores e críticos em relação a seus familiares, colegas e comunidade em geral e partem em busca de emoções, sensações e desejos.
Adotam estilos de vida cada vez mais integrados ao grupo com que convivem que à família e se preocupam muito mais com a opinião dos amigos, do que com a de seus pais. Nessa fase também eles querem e lutam por sua independência, provando para si mesmos e para os outros que são mais capazes e mais adequados que os adultos que os cercam. Procuram sua autonomia e perdem o interesse nas atividades familiares.
É nesta fase que têm as primeiras sensações sexuais e começam a formar seus conceitos com respeito à sexualidade e, na maior parte das vezes, fazem isso a partir de seus amigos que estão vivendo idêntica fase. Esses jovens agem de forma inconsequente, em algumas circunstâncias, mas o assumir riscos nesta fase da vida tem um valor adaptativo muito importante. Esses comportamentos, porém, tendem a desaparecer com o passar do tempo e preparam o indivíduo para sua vida adulta. No entanto, os pais terão que ter a paciência de esperar essa difícil fase passar. Muitas vezes será útil que os pais ou o próprio adolescente procurem ajuda psicológica para administrarem a crise.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.