Estresse tóxico e sua atuação no nosso organismo
O que é estresse?
Denomina-se estresse à resposta fisiológica1 e comportamental a algo ameaçador que aconteceu, está acontecendo ou está para acontecer, e que, de alguma forma, perturba o equilíbrio pessoal. Quando a pessoa se sente real ou supostamente em perigo, as defesas do seu organismo reagem, num processo automático conhecido como reação de “luta ou fuga” ou de “congelamento” (ficar “petrificado”, “paralisado”).
Em graus leves, o estresse pode ser positivo; mas, para além de um certo nível, ele deixa de ser proveitoso e começa a prejudicar gravemente a saúde2.
Os agentes que produzem o estresse são chamados estressores3. Eles podem ser tanto físicos como emocionais ou ambientais e todos podem afetar igualmente a resposta do corpo ao estresse.
A resposta ao estresse constitui a chamada “síndrome geral de adaptação”, também conhecida como resposta de “luta ou fuga”, e é constituída por uma cascata de respostas neuroendócrinas e imunológicas que motivam uma série de respostas fisiológicas4, como aumento na respiração, na frequência cardíaca, na pressão arterial5 e no consumo geral de oxigênio. Essas respostas quase sempre são transitórias, com o corpo retornando ao seu estado inicial quando o estressor é removido.
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O que é estresse tóxico?
O estresse tóxico ocorre quando o fator estressante tem maior intensidade e/ou maior duração. Ele inclui uma resposta fisiológica1 anormal prolongada ou permanente, com risco de disfunção de órgão-alvo. Essa resposta fisiológica1 pode causar um desarranjo da resposta neuroendócrina e/ou imunológica, resultando em falha do corpo em recuperar a normalidade de suas funções após a remoção do agente estressor.
O estresse tóxico pode afetar qualquer pessoa, mas é especialmente maléfico na infância, haja vista que as reações das crianças não são exceção. O estresse tóxico na infância é uma adversidade severa, prolongada ou repetitiva, podendo ter repercussões sobre a saúde2 no longo prazo ou mesmo para toda a vida, incluindo inabilidades de enfrentamento de dificuldades posteriores, gerenciamento inadequado de novos estresses, estilos de vida pouco saudáveis e doenças mentais e físicas. Ele também desempenha um grande papel no modo como o cérebro7 se desenvolve e funciona, afetando o aprendizado, o comportamento e a saúde2 a longo prazo.
No que diz respeito ao desenvolvimento das crianças e dependendo do efeito que essa reação tem sobre o corpo, consideram-se três tipos diferentes de resposta ao estresse: (1) resposta positiva, (2) resposta tolerável e (3) resposta tóxica. Enquanto as duas primeiras fazem parte do desenvolvimento normal de uma criança e são, de certa forma, úteis e necessárias à sua evolução, a terceira é prejudicial.
Uma resposta positiva em geral é leve e de curta duração, e a criança se sente apoiada por fortes amortecedores sociais e emocionais, como segurança e proteção dos pais.
O estresse tolerável é mais grave, frequente e duradouro, e pode, potencialmente, afetar de modo negativo e passageiro a arquitetura do cérebro7, mas uma vez que a adversidade seja removida, o cérebro7 e os demais órgãos se recuperam totalmente. Como exemplo de estresse tolerável pode ser citado, por exemplo, o divórcio dos pais ou a morte de um ente querido.
O estresse tóxico é diferente dos outros dois. Ocorre quando há falta da atenção de um cuidador diligente e falta de segurança ou de apoios emocionais, o que resulta na ativação prolongada da resposta ao estresse, e o corpo falha em sua tentativa de se recuperar totalmente. São exemplos de estresse tóxico: abuso, negligência8, pobreza extrema, violência, disfunção familiar e escassez de alimentos.
A exposição da criança a estressores3 menos graves, porém crônicos, também pode ser tóxica para ela.
Quais são as causas do estresse tóxico?
A categorização em estresse positivo, estresse tolerável e estresse tóxico referem-se à resposta do corpo ao estresse e não ao evento estressante em si. Devido à complexidade das possíveis respostas ao estresse, os três níveis não são clinicamente quantificáveis, eles são simplesmente uma maneira de categorizar a gravidade relativa das respostas a condições estressantes.
A medida que os eventos estressantes têm efeitos tóxicos no organismo está na dependência em parte da resposta biológica do indivíduo, mediada por predisposições genéticas, em parte da duração, intensidade, tempo e contexto da experiência estressante e também em parte da qualidade dos apoios que a criança tiver ou deixar de ter.
Qual é o substrato fisiopatológico do estresse tóxico?
O resultado da resposta distendida ao estresse (estresse tóxico) é que o sistema nervoso9, o sistema imunológico10 e até mesmo o DNA de uma criança são alterados. O estresse tóxico faz com que os centros do medo no cérebro7 (sistema límbico, amígdala11) aumentem significativamente de tamanho e a criança pode desenvolver sintomas12 muito semelhantes aos do transtorno de estresse pós-traumático.
Por outro lado, o estresse tóxico diminui o tamanho e prejudica o funcionamento das regiões do cérebro7 responsáveis pelo aprendizado, memória e funcionamento executivo (córtex pré-frontal e hipocampo13, sobretudo). Como resultado, a criança corre o risco de ter problemas de aprendizagem e de comportamento.
O sistema imunológico10 da criança é diminuído em suas funções e a coloca em risco de desenvolver uma variedade de condições crônicas de saúde2 para toda a vida, incluindo asma14, doenças cardíacas, derrame15, doenças autoimunes16 e câncer17. O DNA é alterado de tal forma que a expressão do gene da criança afeta as funções corporais e pode ser potencialmente transmitido para a próxima geração.
Como prevenir o estresse tóxico?
A melhor prevenção do estresse tóxico é reduzir a exposição de crianças pequenas a condições que o causam. Contudo, pesquisas mostram que, mesmo que a criança tenha condições estressantes inarredáveis, relacionamentos de apoio com adultos atenciosos, o mais cedo possível, podem prevenir ou reverter os efeitos prejudiciais da resposta do organismo ao estresse tóxico.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da U.S. National Library of Medicine e da Florida State University College of Medicine.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.