Privação sensorial - Como ela pode ser realizada?
O que é privação sensorial?
A privação sensorial é uma condição na qual um ou mais dos sentidos humanos são privados de estímulos sensoriais normais por um tempo variável. Isso pode acontecer de várias formas e pode afetar diferentes sentidos (visão1, audição, tato, olfato e paladar2) ou todos eles ao mesmo tempo. Na privação sensorial, a entrada de informações sensoriais em um ou mais sentidos humanos é limitada ou eliminada.
Ela pode ser de vários tipos:
- isolar alguém em uma sala completamente escura por um período prolongado de tempo, privando-o da luz e da visão1;
- colocar alguém em um ambiente isolado e silencioso por um longo período, impedindo que ouça sons externos;
- restringir a capacidade de uma pessoa sentir o toque ou a pressão, amarrando as mãos3 ou isolando partes do corpo, por exemplo;
- privar alguém do sentido do olfato ou paladar2, muitas vezes através do uso de máscaras de gás ou substâncias que bloqueiam temporariamente esses sentidos;
- e privação sensorial total, envolvendo todos os sentidos.
Os primeiros estudos sobre a privação sensorial em voluntários foram realizados na McGill University, em Montreal, Canadá, na década de 1950. Embora investigações secretas pudessem existir antes dessa data.
Leia sobre "Psicoses", "Anosmia", "Cacosmia", "Neuroplasticidade cerebral" e "Hipnose".
Métodos de privação sensorial
Aqui estão alguns métodos de realização da privação sensorial:
- Tanques de isolamento sensorial
Também conhecidos como tanques de flutuação, esses dispositivos consistem em uma câmara fechada preenchida com água com alta concentração de sal, permitindo que as pessoas flutuem na superfície. A temperatura da água é ajustada para ser quase idêntica à temperatura corporal, criando uma experiência muito leve de toque. A tampa do tanque é fechada, para bloquear a luz e o som do ambiente, proporcionando completa privação sensorial. O sentido do olfato é reduzido eliminando o uso de produtos químicos com odores, como o cloro, para tratar a água. O tanque de isolamento foi inventado por John Lilly em 1954. - Salas de privação sensorial
Essas salas são projetadas para minimizar a entrada de luz e/ou som. As pessoas podem entrar nessas salas para meditar, relaxar ou fazer terapia sensorial. Cortinas grossas, painéis à prova de som e sistemas de controle de temperatura são normalmente usados para criar um ambiente o mais isolado possível. - Máscaras e tampões para os ouvidos
Para uma privação sensorial mais leve e parcial, as pessoas podem usar máscaras para os olhos4 ou tampões para os ouvidos para bloquear a luz e o som durante a meditação, descanso ou concentração. - Teste de isolamento sensorial específico
Em experimentos de pesquisa, os cientistas podem privar seletivamente um sentido por meio de métodos como vendas nos olhos4 para bloquear a visão1 ou fones de ouvido para bloquear o som. Isso permite o estudo do impacto da privação sensorial em um sentido específico. - Privação sensorial na natureza
Ao se afastarem dos ambientes urbanos e mergulharem na natureza, algumas pessoas procuram uma forma de privação sensorial natural. Estar na natureza pode reduzir a estimulação sensorial proveniente de luzes e sons artificiais, permitindo uma maior conexão com o ambiente natural.
Efeitos da privação sensorial
Os efeitos da privação sensorial variam de pessoa para pessoa. Ela pode ocasionar efeitos psicológicos e fisiológicos significativos, como relaxamento profundo, introspecção, consciência expandida e maior concentração, dependendo da duração e da intensidade da privação e do sentido afetado.
No entanto, também podem surgir efeitos adversos, como ansiedade, alteração da percepção do tempo e até transtornos psíquicos. A privação sensorial total pode levar a alucinações5, distorções perceptivas, ansiedade, dificuldades de concentração e até mesmo alterações na função cerebral.
Portanto, a privação sensorial deve ser realizada com cautela e sob supervisão adequada, especialmente em ambientes de pesquisa ou terapia.
Em um lapso superior a 48 horas, a privação sensorial altera os processos perceptivos de uma forma muito notória e gera grandes perturbações na percepção, cognição6 e emoções. Acima de tudo, ocasiona distúrbios visuais. Os voluntários nas experiências de privação sensorial relataram ver objetos estáticos se moverem e mudarem de tamanho e forma. Uma linha reta chegava a se parecer com um “S”. Da mesma forma, havia uma desorientação geral em relação ao toque e na percepção do tempo e do espaço. Segundo os voluntários, com o passar das horas era cada vez mais difícil se concentrar em seus pensamentos e, depois de um certo tempo, eles nem sequer conseguiam contar até 30.
A capacidade de memorizar e reter informações melhorava após os experimentos, mas a capacidade de abstrair, generalizar e fazer cálculos matemáticos diminuía. A capacidade de aprendizagem também melhorava nos indivíduos submetidos à privação sensorial em comparação com aqueles que não passavam por esta condição, mas as habilidades motoras diminuíam de maneira significativa.
As experiências mostraram que através da privação sensorial é possível induzir estados de pseudopsicose e que a pessoa retornava à sua vida normal e recuperava todas as suas funções habituais assim que o experimento terminava.
Quais são os usos da privação sensorial?
A privação sensorial é utilizada em diversas disciplinas, como psicologia, neurociências e meditação, com o objetivo de estudar os efeitos dela na mente e no corpo, bem como para alcançar estados alterados de consciência ou relaxamento profundo, mas também pode ser usada como forma de punição ou tortura em contextos mais negativos. Infelizmente, é em relação a este último aspecto que ela mais progrediu.
Ela também é frequentemente usada em experimentos para entender como o cérebro7 reage quando privado de estímulos sensoriais. Em terapia, a privação sensorial pode ser usada de modo controlado para o tratamento de distúrbios sensoriais, para reduzir o estresse e a ansiedade, para aliviar a sobrecarga sensorial e para melhorar o sono. Algumas pessoas usam a privação sensorial como uma técnica para melhorar a criatividade e a concentração.
Em treinamento militar, ela é usada para desenvolver técnicas de sobrevivência8 e para simular condições extremas. Algumas pessoas usam a privação sensorial como uma ferramenta para buscar experiências espirituais profundas ou para explorar a autodescoberta. No entanto, ela não é adequada para todos e pode ter efeitos adversos em algumas pessoas. Por isso, a técnica deve ser usada com cuidado e sob supervisão adequada.
Veja também sobre "Diferenças entre delírio9, delirium10 e delirium tremens11", "Alucinações5" e "Alucinações5 na infância".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Mayo Clinic e da Cleveland Clinic.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.