Gostou do artigo? Compartilhe!

Apolipoproteínas: qual papel elas desempenham no metabolismo lipídico e no risco cardiovascular?

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie este artigo

O que são apolipoproteínas?

As apolipoproteínas são proteínas1 que se ligam aos lipídios para formar lipoproteínas, estruturas essenciais para o transporte de gorduras, colesterol2 e vitaminas lipossolúveis no sangue3. Elas desempenham um papel fundamental na estrutura e na regulação do metabolismo4 lipídico.

Existem dois tipos principais:

  • Apolipoproteína A (ApoA): associada ao HDL5 ("colesterol2 bom"), ajuda a remover o colesterol2 da circulação6 e levá-lo ao fígado7 para excreção. Níveis elevados estão ligados a um menor risco cardiovascular.
  • Apolipoproteína B (ApoB): associada ao LDL8 ("colesterol2 ruim"), VLDL e quilomícrons, transporta colesterol2 para os tecidos. Altos níveis são um fator de risco9 para doenças cardiovasculares10.

Outras apolipoproteínas incluem:

  • ApoC: regula o metabolismo4 dos triglicerídeos.
  • ApoD: atua no transporte de lipídios, proteção neuronal e regulação da inflamação11.
  • ApoE: importante no transporte e redistribuição do colesterol2, sendo um marcador de risco para doenças cardiovasculares10 e neurodegenerativas.

Como as apolipoproteínas funcionam?

As apolipoproteínas são produzidas no fígado7 e no intestino delgado12, e sua síntese é influenciada por fatores como dieta, hormônios (insulina13, glucagon14, hormônios tireoidianos, estrogênios e andrógenos15) e alguns medicamentos (estatinas, fibratos, niacina e inibidores da PCSK9).

Suas funções principais incluem:

  • Manutenção da estrutura das lipoproteínas (apolipoproteínas estruturais).
  • Regulação do metabolismo4 lipídico e interação com enzimas e receptores celulares (apolipoproteínas funcionais).
  • Participação no transporte de lipídios, por meio de três vias:
    • Transporte de lipídios da dieta via quilomícrons.
    • Distribuição de triglicerídeos e colesterol2 pelo fígado7 via VLDL.
    • Remoção do colesterol2 periférico e transporte para o fígado7 para excreção.

As apolipoproteínas são essenciais para a homeostase cardiovascular e estão envolvidas em doenças como dislipidemias e aterosclerose16.

Como medir as apolipoproteínas no sangue3?

A dosagem das apolipoproteínas é feita por exames laboratoriais específicos. As principais são:

  • ApoA: indica a capacidade de remoção do colesterol2 das artérias17. Valores baixos são associados a maior risco cardiovascular.
  • ApoB: indica o número total de partículas aterogênicas (LDL8 e VLDL). Valores elevados aumentam o risco de aterosclerose16.
  • Relação ApoB/ApoA: indicador mais sensível de risco cardiovascular do que colesterol2 total ou LDL8 isolado. Quanto maior a relação, maior o risco cardiovascular.

O exame é feito por coleta de sangue3, podendo exigir jejum de 8 a 12 horas se realizado junto com o perfil lipídico18.

Quais são os valores normais das apolipoproteínas?

Os valores podem variar conforme o método laboratorial, mas geralmente são:

  • ApoA:
    • Homens: 120 – 160 mg/dL19
    • Mulheres: 140 – 180 mg/dL19
  • ApoB:
    • Homens e mulheres: 60 – 140 mg/dL19
  • Relação ApoB/ApoA:
    • Baixo risco: < 0,6
    • Alto risco: > 0,9

Qual o valor preditivo das apolipoproteínas?

A dosagem de ApoB e ApoA fornece uma avaliação mais precisa do risco cardiovascular do que as medidas tradicionais de LDL8 e HDL5. Estudos indicam que a relação ApoB/ApoA é um forte preditor de risco cardiovascular.

  • ApoB é um marcador direto do número de partículas aterogênicas, sendo um melhor preditor de risco do que apenas a dosagem de LDL8.
  • ApoA está associada à proteção cardiovascular, pois participa do transporte reverso (remoção) do colesterol2 das artérias17.
  • Índice ApoB/ApoA reflete o equilíbrio entre partículas aterogênicas e antiaterogênicas, sendo um dos melhores indicadores de risco cardiovascular, mais sensível do que a simples dosagem de LDL8 e HDL5.

Principalmente em condições como síndrome metabólica20, diabetes tipo 221 e resistência à insulina22, a ApoB pode ser mais confiável do que o LDL8 na avaliação do risco cardiovascular.

Saiba mais em "Como posso reduzir meus níveis de LDL colesterol23?" e "O que fazer para aumentar os níveis do HDL5?"
ABCMED, 2025. Apolipoproteínas: qual papel elas desempenham no metabolismo lipídico e no risco cardiovascular?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/exames-e-procedimentos/1482300/apolipoproteinas-qual-papel-elas-desempenham-no-metabolismo-lipidico-e-no-risco-cardiovascular.htm>. Acesso em: 14 mar. 2025.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
2 Colesterol: Tipo de gordura produzida pelo fígado e encontrada no sangue, músculos, fígado e outros tecidos. O colesterol é usado pelo corpo para a produção de hormônios esteróides (testosterona, estrógeno, cortisol e progesterona). O excesso de colesterol pode causar depósito de gordura nos vasos sangüíneos. Seus componentes são: HDL-Colesterol: tem efeito protetor para as artérias, é considerado o bom colesterol. LDL-Colesterol: relacionado às doenças cardiovasculares, é o mau colesterol. VLDL-Colesterol: representa os triglicérides (um quinto destes).
3 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
4 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
5 HDL: Abreviatura utilizada para denominar um tipo de proteína encarregada de transportar o colesterol sanguíneo, que se relaciona com menor risco cardiovascular. Também é conhecido como “Bom Colesterolâ€. Seus valores normais são de 35-50mg/dl.
6 Circulação: 1. Ato ou efeito de circular. 2. Facilidade de se mover usando as vias de comunicação; giro, curso, trânsito. 3. Movimento do sangue, fluxo de sangue através dos vasos sanguíneos do corpo e do coração.
7 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
8 LDL: Lipoproteína de baixa densidade, encarregada de transportar colesterol através do sangue. Devido à sua tendência em depositar o colesterol nas paredes arteriais e a produzir aterosclerose, tem sido denominada “mau colesterol“.
9 Fator de risco: Qualquer coisa que aumente a chance de uma pessoa desenvolver uma doença.
10 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
11 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
12 Intestino delgado: O intestino delgado é constituído por três partes: duodeno, jejuno e íleo. A partir do intestino delgado, o bolo alimentar é transformado em um líquido pastoso chamado quimo. Com os movimentos desta porção do intestino e com a ação dos sucos pancreático e intestinal, o quimo é transformado em quilo, que é o produto final da digestão. Depois do alimento estar transformado em quilo, os produtos úteis para o nosso organismo são absorvidos pelas vilosidades intestinais, passando para os vasos sanguíneos.
13 Insulina: Hormônio que ajuda o organismo a usar glicose como energia. As células-beta do pâncreas produzem insulina. Quando o organismo não pode produzir insulna em quantidade suficiente, ela é usada por injeções ou bomba de insulina.
14 Glucagon: Hormônio produzido pelas células-alfa do pâncreas. Ele aumenta a glicose sangüínea. Uma forma injetável de glucagon, disponível por prescrição médica, pode ser usada no tratamento da hipoglicemia severa.
15 Andrógenos: Termo genérico para qualquer composto natural ou sintético, geralmente um hormônio esteróide, que estimula ou controla o desenvolvimento e manutenção das características masculinas em vertebrados ao ligar-se a receptores andrógenos. Isso inclui a atividade dos órgãos sexuais masculinos acessórios e o desenvolvimento de características sexuais secundárias masculinas. Também são os esteróides anabólicos originais. São precursores de todos os estrógenos, os hormônios sexuais femininos. São exemplos de andrógenos: testosterona, dehidroepiandrosterona (DHEA), androstenediona (Andro), androstenediol, androsterona e dihidrotestosterona (DHT).
16 Aterosclerose: Tipo de arteriosclerose caracterizado pela formação de placas de ateroma sobre a parede das artérias.
17 Artérias: Os vasos que transportam sangue para fora do coração.
18 Perfil lipídico: Exame laboratorial que mede colesterol total, triglicérides, HDL. O LDL é calculado por estes resultados. O perfil lipídico é uma das medidas de risco para as doenças cardiovasculares.
19 Mg/dL: Miligramas por decilitro, unidade de medida que mostra a concentração de uma substância em uma quantidade específica de fluido.
20 Síndrome metabólica: Tendência de várias doenças ocorrerem ao mesmo tempo. Incluindo obesidade, resistência insulínica, diabetes ou pré-diabetes, hipertensão e hiperlipidemia.
21 Diabetes tipo 2: Condição caracterizada por altos níveis de glicose causada tanto por graus variáveis de resistência à insulina quanto por deficiência relativa na secreção de insulina. O tipo 2 se desenvolve predominantemente em pessoas na fase adulta, mas pode aparecer em jovens.
22 Resistência à insulina: Inabilidade do corpo para responder e usar a insulina produzida. A resistência à insulina pode estar relacionada à obesidade, hipertensão e altos níveis de colesterol no sangue.
23 LDL colesterol: Do inglês low-density lipoprotein cholesterol, colesterol de baixa densidade ou colesterol ruim.

Resultados de busca relacionada no catalogo.med.br:

André da Silva e Souza

Cardiologista

Caraguatatuba/SP

Você pode marcar online Ver horários disponíveis

Renato Galvao Redorat

Endocrinologia e Metabologia

Rio de Janeiro/RJ

Você pode marcar online Ver horários disponíveis

Fernando Gomes Stefani

Cardiologista

Francisco Beltrão/PR

Gostou do artigo? Compartilhe!

Pergunte diretamente a um especialista

Sua pergunta será enviada aos especialistas do CatalogoMed, veja as dúvidas já respondidas.