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Principais vias de administração de medicamentos

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O que são vias de administração de medicamentos?

Vias de administração de medicamentos referem-se à aplicação e ao transporte de um fármaco1 desde o exterior do corpo até o local de ação da droga. A via de administração de um fármaco1 é determinada, entre outras coisas, pelas propriedades do fármaco1, pelos objetivos terapêuticos em vista e pelas necessidades e/ou condições clínicas do paciente. Assim, importa saber se o medicamento é hidro ou lipossolúvel, se há necessidade de que o início de seu efeito seja rápido, se o tratamento deve ser mantido por longo tempo, se há restrição de acesso a um local específico do organismo etc.

Para uma droga atuar terapeuticamente e produzir seus efeitos característicos, deve primeiro ser absorvida, cair na corrente sanguínea e então atingir uma concentração eficiente em seu local de ação.

Quais são as principais vias de administração de um determinado medicamento?

As vias principais de administração de fármacos são três:

  1. Via enteral, em que o medicamento é recebido e absorvido no intestino, passa à corrente sanguínea e tem efeito sistêmico2 (em todo o organismo). Nessa via, o medicamento pode ser introduzido no organismo pela boca3 (oral) ou pelo ânus4.
  2. Via parenteral, que recebe a substância por outra forma que não pelo trato digestivo e que tem, também, efeito sistêmico2. Em geral, ela é acessada por injeções intramusculares, intravenosas, intra-arteriais, intracardíacas, intradérmicas, intraperitoneais, intraósseas e subcutâneas.
  3. Via tópica, em que a substância medicamentosa é aplicada diretamente onde se deseja a sua ação, independentemente de absorção e circulação5 pelo sangue6. São de aplicação sobre a pele7 (epidérmicas), inalável, enemas8, colírios, gotas otológicas, sprays intranasais.

Há ainda aplicações intratecais (administração que consiste na injeção9 de substâncias no canal raquidiano), transdérmicas, por meio de adesivos, transmucosas, intrauterina, intravaginal, intrauretral.

Leia também “Polifarmácia”, “Iatrogenia” e “Intoxicações medicamentosas”.

Características específicas de cada uma das principais vias de administração de medicamentos

1. Na via enteral (do grego: enteron = intestino) a administração de medicamentos é feita pela boca3 (via oral), pelo ânus4 ou por via sublingual. Ela é segura, econômica, confortável e sem apresentação de qualquer tipo de dor. Uma eventual toxicidade10 e/ou superdosagem pode ser neutralizada com antídotos.

  1. As drogas tomadas por via oral podem exercer um efeito local no trato gastrointestinal (antiácidos11, por exemplo) ou serem absorvidas pela mucosa12 gastrointestinal, atingirem o sangue6 ou a linfa13, exercendo efeitos sistêmicos14. As soluções aquosas alcançam rapidamente o duodeno15 e logo começam a ser absorvidas. As partículas das suspensões têm que ser dissolvidas nas secreções gastrointestinais antes que ocorra a absorção. Os comprimidos e cápsulas convencionais têm que se desintegrar no estômago16 ou intestino delgado17 antes de ocorrerem a dissolução e a absorção.
  2. A via retal é uma via alternativa da via oral, muito usada para crianças, doentes mentais, pacientes comatosos e aqueles que apresentam vômitos18 e náuseas19. Certas drogas, que provocam irritação gastrointestinal excessiva ou sofrem elevado metabolismo20 hepático de primeira passagem, podem ser favoravelmente administradas por via retal.
  3. A via sublingual permite a retenção do fármaco1 por tempo mais prolongado. Propicia uma rápida absorção de pequenas doses de alguns fármacos, devido à vasta vascularização sanguínea e à pouca espessura da mucosa12 local, permitindo a absorção direta na corrente sanguínea.

2. A via parenteral é aquela realizada fora do trato gastrointestinal e é representada pelas vias endovenosa, intramuscular, subcutânea21 e intradérmica.

  1. A via endovenosa é aquela em que o medicamento é administrado na veia do paciente. É indicada para situações emergenciais e aplicações de grandes volumes de substância, mas requer atenção aos sintomas22 do paciente.
  2. A via intramuscular é aquela em que a droga é introduzida na região muscular das nádegas23 ou do músculo deltoide24 (no braço). É recomendada para a administração de pequenos volumes de medicamentos, mas é uma via com ação rápida porque o músculo é muito vascularizado e rapidamente chega à circulação5 sistêmica.
  3. A via intradérmica é aquela destinada à aplicação na região da derme25, abaixo do tecido26 epidérmico, é muito usada para testes de sensibilidade a substâncias ou tratamentos infecciosos.
  4. O medicamento também pode ser administrado no tecido subcutâneo27 por meio de uma agulha de pequeno comprimento. Essa via é a preferencial para aplicação de insulina28, nos diabéticos, mas é necessário fazer rodízio entre as principais regiões de aplicação subcutânea21 para reduzir um processo denominado de lipodistrofia29.

3. Nas vias tópicas, os alvos para as drogas aplicadas à pele7 pelos seus efeitos locais são a superfície da pele7, o estrato córneo, a epiderme30 viável, a derme25 e os anexos31 (unhas32, glândulas sudoríparas33 e sebáceas e folículos pilosos). A presença de uma rede vascular34 eficiente na derme25 permite que as drogas que atravessam o estrato córneo e a epiderme30 sejam prontamente absorvidas, produzindo efeitos sistêmicos14. Os medicamentos são apresentados em forma de pomadas, geis ou cremes e devem ser administrados somente no local onde há a lesão35 no caso do uso tópico36. A velocidade de absorção da aplicação transdérmica pode variar de modo acentuado, dependendo das características físicas da pele7 no local da aplicação e da lipossolubilidade do fármaco1.

Além dessas, há vias especiais, usadas em casos específicos, como intravaginais, intradurais, intrauretrais etc. Quase todo orifício do corpo humano37 revestido por mucosa12 pode ser utilizado como uma via de aplicação de medicação.

Assuntos de interesse: “Os perigos da automedicação38”, “Posso beber tomando remédios?” e “Quais medicamentos podem ou não podem ser tomados durante a gravidez39?

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Food and Drug Administration (FDA), do Merck Manual Consumer Version e da Nursing Times.

ABCMED, 2021. Principais vias de administração de medicamentos. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/exames-e-procedimentos/1387500/principais-vias-de-administracao-de-medicamentos.htm>. Acesso em: 28 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Fármaco: Qualquer produto ou preparado farmacêutico; medicamento.
2 Sistêmico: 1. Relativo a sistema ou a sistemática. 2. Relativo à visão conspectiva, estrutural de um sistema; que se refere ou segue um sistema em seu conjunto. 3. Disposto de modo ordenado, metódico, coerente. 4. Em medicina, é o que envolve o organismo como um todo ou em grande parte.
3 Boca: Cavidade oral ovalada (localizada no ápice do trato digestivo) composta de duas partes
4 Ânus: Segmento terminal do INTESTINO GROSSO, começando na ampola do RETO e terminando no ânus.
5 Circulação: 1. Ato ou efeito de circular. 2. Facilidade de se mover usando as vias de comunicação; giro, curso, trânsito. 3. Movimento do sangue, fluxo de sangue através dos vasos sanguíneos do corpo e do coração.
6 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
7 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
8 Enemas: Introdução de substâncias líquidas ou semilíquidas através do esfíncter anal, com o objetivo de induzir a defecação ou administrar medicamentos.
9 Injeção: Infiltração de medicação ou nutrientes líquidos no corpo através de uma agulha e seringa.
10 Toxicidade: Capacidade de uma substância produzir efeitos prejudiciais ao organismo vivo.
11 Antiácidos: É uma substância que neutraliza o excesso de ácido, contrariando o seu efeito. É uma base que aumenta os valores de pH de uma solução ácida.
12 Mucosa: Tipo de membrana, umidificada por secreções glandulares, que recobre cavidades orgânicas em contato direto ou indireto com o meio exterior.
13 Linfa: 1. Pode referir-se à água, especialmente a límpida, no uso formal. 2. Líquido orgânico originado do sangue, composto de proteínas e lipídios, que circula nos vasos linfáticos e transporta glóbulos brancos, especialmente os linfócitos T. 3. Qualquer humor aquoso.
14 Sistêmicos: 1. Relativo a sistema ou a sistemática. 2. Relativo à visão conspectiva, estrutural de um sistema; que se refere ou segue um sistema em seu conjunto. 3. Disposto de modo ordenado, metódico, coerente. 4. Em medicina, é o que envolve o organismo como um todo ou em grande parte.
15 Duodeno: Parte inicial do intestino delgado que se estende do piloro até o jejuno.
16 Estômago: Órgão da digestão, localizado no quadrante superior esquerdo do abdome, entre o final do ESÔFAGO e o início do DUODENO.
17 Intestino delgado: O intestino delgado é constituído por três partes: duodeno, jejuno e íleo. A partir do intestino delgado, o bolo alimentar é transformado em um líquido pastoso chamado quimo. Com os movimentos desta porção do intestino e com a ação dos sucos pancreático e intestinal, o quimo é transformado em quilo, que é o produto final da digestão. Depois do alimento estar transformado em quilo, os produtos úteis para o nosso organismo são absorvidos pelas vilosidades intestinais, passando para os vasos sanguíneos.
18 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
19 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
20 Metabolismo: É o conjunto de transformações que as substâncias químicas sofrem no interior dos organismos vivos. São essas reações que permitem a uma célula ou um sistema transformar os alimentos em energia, que será ultilizada pelas células para que as mesmas se multipliquem, cresçam e movimentem-se. O metabolismo divide-se em duas etapas: catabolismo e anabolismo.
21 Subcutânea: Feita ou situada sob a pele; hipodérmica.
22 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
23 Nádegas:
24 Deltoide: 1. Que apresenta a forma triangular de um delta (“letra do alfabeto gregoâ€). 2. Em botânica, diz-se do que é ovado e com os dois lados e a base retilíneos, ou quase, assemelhando-se a um triângulo (diz-se de folha). 3. Em geometria, quadrilátero não convexo, com dois pares de lados adjacentes iguais. 4. Em anatomia, o deltoide é um músculo em forma de triângulo, que cobre a cintura escápulo-umeral e a estrutura do ombro.
25 Derme: Camada interna das duas principais camadas da pele. A derme é formada por tecido conjuntivo, vasos sanguíneos, glândulas sebáceas e sudoríparas, nervos, folículos pilosos e outras estruturas. É constituída por uma fina camada superior que é a derme papilar e uma camada mais grossa, mais baixa, que é a derme reticular.
26 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
27 Tecido Subcutâneo: Tecido conectivo frouxo (localizado sob a DERME), que liga a PELE fracamente aos tecidos subjacentes. Pode conter uma camada (pad) de ADIPÓCITOS, que varia em número e tamanho, conforme a área do corpo e o estado nutricional, respectivamente.
28 Insulina: Hormônio que ajuda o organismo a usar glicose como energia. As células-beta do pâncreas produzem insulina. Quando o organismo não pode produzir insulna em quantidade suficiente, ela é usada por injeções ou bomba de insulina.
29 Lipodistrofia: Defeito na quebra ou na fabricação de gordura abaixo da pele, resultando em elevações ou depressões na superfície da pele. (Veja lipohipertrofia e lipoatrofia). Pode ser causada por injeções repetidas de insulina em um mesmo local.
30 Epiderme: Camada superior ou externa das duas camadas principais da pele.
31 Anexos: 1. Que se anexa ou anexou, apenso. 2. Contíguo, adjacente, correlacionado. 3. Coisa ou parte que está ligada a outra considerada como principal. 4. Em anatomia geral, parte acessória de um órgão ou de uma estrutura principal. 5. Em informática, arquivo anexado a uma mensagem eletrônica.
32 Unhas: São anexos cutâneos formados por células corneificadas (queratina) que formam lâminas de consistência endurecida. Esta consistência dura, confere proteção à extremidade dos dedos das mãos e dos pés. As unhas têm também função estética. Apresentam crescimento contínuo e recebem estímulos hormonais e nutricionais diversos.
33 Glândulas sudoríparas: As glândulas sudoríparas são glândulas responsáveis pela produção e transporte do suor, atuando como regulador térmico. São constituídas por um fino e longo tubo que no início se enovela, chamado corpo da glândula. O suor é composto de água, sais minerais e um pouco de ureia e é drenado pelo ducto das glândulas sudoríparas.
34 Vascular: Relativo aos vasos sanguíneos do organismo.
35 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
36 Tópico: Referente a uma área delimitada. De ação limitada à mesma. Diz-se dos medicamentos de uso local, como pomadas, loções, pós, soluções, etc.
37 Corpo humano: O corpo humano é a substância física ou estrutura total e material de cada homem. Ele divide-se em cabeça, pescoço, tronco e membros. A anatomia humana estuda as grandes estruturas e sistemas do corpo humano.
38 Automedicação: Automedicação é a prática de tomar remédios sem a prescrição, orientação e supervisão médicas.
39 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
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