Velocidade da onda de pulso - um indicador de morbimortalidade cardiovascular
O que é velocidade da onda de pulso (VOP)?
Durante a sístole1, o sangue2 sai do ventrículo esquerdo, entra na aorta3 e flui através dos vasos menores do sistema circulatório4, até chegar às células5. Durante sua contração, o ventrículo esquerdo faz ejeção de sangue2 na aorta3 e dilata a parede dessa artéria6, gerando uma onda de pressão que se move com uma certa velocidade ao longo da árvore arterial. A velocidade desse movimento fornece uma medida da complacência arterial.
Com a idade, ou devido a alterações patológicas na parede arterial, esses vasos se tornam mais rígidos e a velocidade com que a onda de pressão se move pelo sistema aumenta.
Como é medida a velocidade da onda de pulso?
A velocidade da onda de pulso (VOP) pode ser medida de maneira não invasiva em humanos e de maneira simples, usando dois cateteres de pressão separados um de outro por uma distância conhecida. Por exemplo, medindo as pressões de pulso na artéria6 carotídea e na artéria6 femoral e o tempo necessário para que a onda de pulso cumpra a distância entre os dois pontos. O tempo que a onda de pressão leva para ir do cateter de pressão a montante até o cateter de pressão a jusante fornece o tempo de trânsito por pulso.
A VOP pode então ser calculada dividindo a distância pelo tempo de trânsito, fornecendo uma medida de saúde7 cardiovascular.
Por que medir a velocidade da onda de pulso?
A VOP é um importante preditor independente do risco de distúrbios cardiovasculares. Foi reconhecida pela Sociedade Europeia de Hipertensão8 como um indicador altamente confiável para morbimortalidade cardiovascular em grande variedade de populações adultas, incluindo idosos, pacientes com doença renal9 terminal, diabéticos e hipertensos.
Leia mais sobre "Doenças cardiovasculares10", "Diabetes mellitus11" e "Hipertensão arterial12".
Quais são as características da velocidade da onda de pulso?
Além das ondas de pulso clássicas, existem ondas de pressão refletidas que retornam ao coração13 no final do período sistólico. Quando as ondas de pressão se movem mais rápido pelas artérias14, as ondas refletidas também se movem mais rapidamente no sentido retrógrado e isso causa um trabalho maior no sistema cardiovascular15 devido ao aumento da pós-carga no ventrículo, resultando em uma maior pressão sistólica16 necessária para superar essa pós-carga.
Os valores da VOP são afetados pela idade, sexo e pressão arterial17 e, portanto, devem ser ajustados para esses fatores. Esse exame prediz com razoáveis acertos eventos cardiovasculares futuros e mortalidade18 por todas as causas, independentemente dos fatores de risco cardiovascular convencionais.
Os valores médios normais levantados por um estudo clínico da VOP, segundo a idade, são:
- De 10 a 19 anos de idade: 5,04 metros por segundo
- De 20 a 29 anos de idade: 5,86 metros por segundo
- De 30 a 39 anos de idade: 6,32 metros por segundo
- De 40 a 49 anos de idade: 6,86 metros por segundo
- De 50 a 59 anos de idade: 8,15 metros por segundo
- De 60 a 69 anos de idade: 8,47 metros por segundo
- De 70 anos em diante: 9,02 metros por segundo
Em que condições clínicas a avaliação da velocidade da onda de pulso é aplicável?
A grande aplicação da avaliação da velocidade da onda de pulso é a arteriosclerose19. O desenvolvimento da arteriosclerose19 é um continuum. Um vaso saudável vai sendo progressivamente afetado pelos fatores de risco 'tradicionais', além dos determinantes genéticos e ambientais. Ao longo dos anos, o crescente interesse na pressão arterial sistólica20 e na pressão de pulso como preditores de eventos cardiovasculares levou ao desenvolvimento de técnicas para avaliar a rigidez arterial. Uma técnica para avaliar a rigidez arterial, o determinante mais importante da hipertensão8 sistólica isolada relacionada à reflexão das ondas e pressão de pulso, é a medição da velocidade das ondas de pulso arterial21. A VOP é medida de forma não invasiva e é o padrão-ouro para avaliação da rigidez aórtica e, assim, da aterosclerose22.
A velocidade da onda de pulso é um preditor útil da doença vascular periférica23 e de doença cardiovascular, ambas comumente causadas por aterosclerose22. Por outro lado, há diferentes métodos para avaliar a velocidade das ondas de pulso em vasos sistêmicos24, mas nenhum é aplicável às artérias coronárias25. Em pacientes sintomáticos, contudo, a VOP indica a gravidade da doença arterial coronariana.
As alterações na VOP também estão associadas à calcificação26, estenose27 ou oclusão de grandes a pequenas artérias14 cerebrais. A doença cerebral de pequenos vasos é comumente observada em idosos e é reconhecida como principal contribuinte vascular28 para acidente vascular cerebral29, comprometimento cognitivo30 e síndrome31 geriátrica.
Saiba mais sobre "Aterosclerose22", "Arterioesclerose32" e "Doença arterial coronariana".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Journal of Medical and Biological Engineering.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.