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Síndrome de Brugada - Como ela é?

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O que é a síndrome1 de Brugada?

A síndrome1 de Brugada, também conhecida como doença de Brugada, é uma doença genética rara que afeta o funcionamento do coração2 e pode aumentar o risco de ritmos cardíacos anormais, particularmente taquicardia3 ventricular e fibrilação ventricular, que podem ser bruscamente fatais.

A síndrome1 de Brugada é uma patologia4 da atividade elétrica do coração2, sem anomalias evidentes do miocárdio5. A condição afeta de 1 a 30 em cada 10.000 pessoas. É mais comum em homens do que em mulheres, e mais comum em descendentes de asiáticos que em outras etnias.

A síndrome1 leva o nome dos cardiologistas espanhóis Josep e Pedro Brugada, que a descreveram em 1992, embora ela já houvesse sido reconhecida por Andrea Nava e Bortolo Martini, em Pádua, Itália, em 1989.

Quais são as causas da síndrome1 de Brugada?

A síndrome1 de Brugada é causada por uma mutação genética6 que afeta o funcionamento dos canais iônicos de células7 do coração2, especificamente os canais de sódio e potássio. Isto causa um distúrbio na condução elétrica do órgão, o que pode levar a ritmos cardíacos anormais.

Mutações em vários genes são associados a ela, incluindo o gene SCN5A, os quais são responsáveis pela condução elétrica do coração2 e por aumentar o risco de arritmias8. A síndrome1 de Brugada é frequentemente transmitida de pais para filhos. Ter parentes de primeiro grau com a síndrome1 de Brugada também aumenta o risco de desenvolvê-la. A condição pode ser desencadeada por fatores como febre9, distúrbios eletrolíticos (como baixos níveis de potássio), certos medicamentos e uso excessivo de álcool.

Qual é o substrato fisiopatológico da síndrome1 de Brugada?

Cada batida do coração2 é desencadeada por um sinal10 elétrico emitido por células7 especiais na câmara superior direita do coração2. Pequenos poros, chamados canais, em cada uma dessas células7, direcionam a atividade elétrica, que faz o coração2 bater.

Na síndrome1 de Brugada, uma alteração nos canais iônicos de sódio e potássio, que desempenham um papel crucial na condução elétrica do coração2, fazem com que o coração2 bata muito rápido, criando um ritmo cardíaco perigoso (fibrilação ventricular). Como resultado, o coração2 não bombeia sangue11 suficiente para o resto do corpo. Mesmo um ritmo irregular que dura pouco tempo pode causar desmaios. A morte cardíaca súbita pode ocorrer se o batimento cardíaco irregular continuar por um tempo relativamente prolongado.

Veja sobre "Taquicardia3 paroxística ou síndrome1 de Hoffmann-Bouveret", "Ablação12 cardíaca" e "Marca-passo13 cardíaco".

Quais são as características clínicas da síndrome1 de Brugada?

A síndrome1 de Brugada tende a se manifestar em adultos jovens, geralmente entre 30 e 40 anos de idade. Às vezes pode acontecer em adolescentes, mas é rara em crianças. Os principais sinais14 e sintomas15 da condição podem incluir:

  • síncope16 (desmaio) inexplicável;
  • parada cardíaca súbita, especialmente durante o sono;
  • ritmos cardíacos irregulares, como fibrilação ventricular;
  • palpitações17 ou batimentos cardíacos acelerados.

Os ritmos cardíacos anormais observados em pessoas com síndrome1 de Brugada geralmente ocorrem em repouso ou mesmo durante o sono, e podem ser desencadeados por febre9 ou outros gatilhos. No entanto, nem todas as pessoas com a síndrome1 de Brugada desenvolverão ritmos cardíacos perigosos e a gravidade da doença pode variar de um indivíduo para outro.

Como o médico diagnostica a síndrome1 de Brugada?

Para diagnosticar a síndrome1 de Brugada, além de colher uma detida história clínica, o médico realizará um exame físico e ouvirá o coração2 com um estetoscópio. No eletrocardiograma18, o paciente mostrará elevação do segmento ST nas derivações precordiais direitas e bloqueio incompleto ou completo do ramo condutor direito.

Se o batimento cardíaco for regular durante o teste, o paciente deve usar um monitor Holter19 de 24 horas, que registra a atividade cardíaca dia e noite. No entanto, mesmo os resultados desse teste podem também estar dentro da faixa padrão. Então, essas pessoas devem fazer eletrocardiogramas adicionais, que incluem medicamentos administrados por via intravenosa que podem desencadear batimentos cardíacos irregulares.

Um ecocardiograma20 não pode, por si só, diagnosticar a síndrome1 de Brugada, mas pode ajudar a identificar problemas estruturais do coração2. Um estudo eletrofisiológico, que pode mostrar a propagação de sinais14 elétricos pelo coração2, pode ser realizado em algumas pessoas com suspeita de síndrome1 de Brugada.

Como o médico trata a síndrome1 de Brugada?

Os tratamentos para a síndrome1 de Brugada devem ser individualizados e baseados na avaliação de um cardiologista21 especializado em arritmias8 cardíacas. Os tratamentos podem incluir medicamentos, procedimentos de cateterização ou cirurgia para implantar um dispositivo que controla os batimentos cardíacos.

O tratamento da síndrome1 de Brugada depende do risco de batimento cardíaco irregular grave (arritmia22). Mesmo se uma pessoa tem síndrome1 de Brugada sem sintomas15, deve fazer o tratamento específico, porque embora carregue um risco baixo de batimentos cardíacos irregulares graves, pode reduzir ainda mais esse risco.

Algumas pessoas com síndrome1 de Brugada reconhecida devem recebem medicamentos para prevenir um ritmo cardíaco potencialmente perigoso. Esses medicamentos podem ser prescritos isoladamente ou acompanhados de um dispositivo médico implantado no peito23, chamado cardioversor-desfibrilador implantável, que controla os batimentos cardíacos.

Pessoas com síndrome1 de Brugada que tiveram parada cardíaca ou episódio preocupante de desmaio podem precisar de cirurgia ou procedimentos de cateteres. Um procedimento denominado ablação12 por cateter de radiofrequência pode ser uma opção. Um tubo longo e flexível (cateter) é inserido através de um vaso sanguíneo e guiado até atingir o coração2. O cateter fornece alta energia que deixa cicatrizes24 ou destrói o tecido25 cardíaco responsável pelo ritmo cardíaco irregular.

Como prevenir a síndrome1 de Brugada?

A febre9 é um gatilho conhecido de batimentos cardíacos irregulares em pessoas com síndrome1 de Brugada e, por isso, deve ser tratada de forma pronta e agressiva. O paciente deve evitar medicamentos, substâncias ou atividades que possam provocar batimentos cardíacos irregulares, como álcool, fumo e esportes competitivos.

Quais são as complicações possíveis com a síndrome1 de Brugada?

As complicações da síndrome1 de Brugada requerem atendimento médico de emergência26. As complicações mais comuns da síndrome1 incluem:

  1. Parada cardíaca súbita, que muitas vezes ocorre durante o sono. Se não for assistida imediatamente, esta perda súbita da função cardíaca, da respiração e da consciência leva à morte. Com cuidados médicos rápidos e apropriados, a sobrevivência27 é possível.
  2. Desmaio, que na síndrome1 de Brugada requer atenção médica de emergência26.
Saiba mais sobre "Taquicardia3", "Assistolia" e "Parada cardiorrespíratória".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da U.S. National Library of Medicine e da Mayo Clinic.

ABCMED, 2024. Síndrome de Brugada - Como ela é?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1463997/sindrome-de-brugada-como-ela-e.htm>. Acesso em: 27 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
2 Coração: Órgão muscular, oco, que mantém a circulação sangüínea.
3 Taquicardia: Aumento da frequência cardíaca. Pode ser devido a causas fisiológicas (durante o exercício físico ou gravidez) ou por diversas doenças como sepse, hipertireoidismo e anemia. Pode ser assintomática ou provocar palpitações.
4 Patologia: 1. Especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam no organismo. 2. Qualquer desvio anatômico e/ou fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize determinada doença. 3. Por extensão de sentido, é o desvio em relação ao que é próprio ou adequado ou em relação ao que é considerado como o estado normal de uma coisa inanimada ou imaterial.
5 Miocárdio: Tecido muscular do CORAÇÃO. Composto de células musculares estriadas e involuntárias (MIÓCITOS CARDÍACOS) conectadas, que formam a bomba contrátil geradora do fluxo sangüíneo. Sinônimos: Músculo Cardíaco; Músculo do Coração
6 Mutação genética: É uma alteração súbita no genótipo de um indivíduo, sem relação com os ascendentes, mas passível de ser herdada pelos descendentes.
7 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
8 Arritmias: Arritmia cardíaca é o nome dado a diversas perturbações que alteram a frequência ou o ritmo dos batimentos cardíacos.
9 Febre: É a elevação da temperatura do corpo acima dos valores normais para o indivíduo. São aceitos como valores de referência indicativos de febre: temperatura axilar ou oral acima de 37,5°C e temperatura retal acima de 38°C. A febre é uma reação do corpo contra patógenos.
10 Sinal: 1. É uma alteração percebida ou medida por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida. 2. Som ou gesto que indica algo, indício. 3. Dinheiro que se dá para garantir um contrato.
11 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
12 Ablação: Extirpação de qualquer órgão do corpo.
13 Marca-passo: Dispositivo implantado no peito ou no abdômen com o por objetivo de regular os batimentos cardíacos.
14 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
15 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
16 Síncope: Perda breve e repentina da consciência, geralmente com rápida recuperação. Comum em pessoas idosas. Suas causas são múltiplas: doença cerebrovascular, convulsões, arritmias, doença cardíaca, embolia pulmonar, hipertensão pulmonar, hipoglicemia, intoxicações, hipotensão postural, síncope situacional ou vasopressora, infecções, causas psicogênicas e desconhecidas.
17 Palpitações: Designa a sensação de consciência do batimento do coração, que habitualmente não se sente. As palpitações são detectadas usualmente após um exercício violento, em situações de tensão ou depois de um grande susto, quando o coração bate com mais força e/ou mais rapidez que o normal.
18 Eletrocardiograma: Registro da atividade elétrica produzida pelo coração através da captação e amplificação dos pequenos potenciais gerados por este durante o ciclo cardíaco.
19 Holter: Dispositivo portátil, projetado para registrar de forma contínua, diferentes variáveis fisiológicas ou atividade elétrica durante um período pré-estabelecido de tempo. Os mais utilizados são o Holter eletrocardiográfico e o Holter de pressão.
20 Ecocardiograma: Método diagnóstico não invasivo que permite visualizar a morfologia e o funcionamento cardíaco, através da emissão e captação de ultra-sons.
21 Cardiologista: Médico especializado em tratar pessoas com problemas cardíacos.
22 Arritmia: Arritmia cardíaca é o nome dado a diversas perturbações que alteram a frequência ou o ritmo dos batimentos cardíacos.
23 Peito: Parte superior do tronco entre o PESCOÇO e o ABDOME; contém os principais órgãos dos sistemas circulatório e respiratório. (Tradução livre do original
24 Cicatrizes: Formação de um novo tecido durante o processo de cicatrização de um ferimento.
25 Tecido: Conjunto de células de características semelhantes, organizadas em estruturas complexas para cumprir uma determinada função. Exemplo de tecido: o tecido ósseo encontra-se formado por osteócitos dispostos em uma matriz mineral para cumprir funções de sustentação.
26 Emergência: 1. Ato ou efeito de emergir. 2. Situação grave, perigosa, momento crítico ou fortuito. 3. Setor de uma instituição hospitalar onde são atendidos pacientes que requerem tratamento imediato; pronto-socorro. 4. Eclosão. 5. Qualquer excrescência especializada ou parcial em um ramo ou outro órgão, formada por tecido epidérmico (ou da camada cortical) e um ou mais estratos de tecido subepidérmico, e que pode originar nectários, acúleos, etc. ou não se desenvolver em um órgão definido.
27 Sobrevivência: 1. Ato ou efeito de sobreviver, de continuar a viver ou a existir. 2. Característica, condição ou virtude daquele ou daquilo que subsiste a um outro. Condição ou qualidade de quem ainda vive após a morte de outra pessoa. 3. Sequência ininterrupta de algo; o que subsiste de (alguma coisa remota no tempo); continuidade, persistência, duração.
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