Alterações da consciência
O que é consciência?
O termo consciência é usado em diversos sentidos, por vários autores, em diversos contextos. Há, na verdade, um uso médico, um uso filosófico, um uso religioso e um uso ético. A questão é tão importante que a língua1 inglesa tem dois termos para diferenciar dois tipos de consciência: “conscience”, que é a consciência em seu sentido moral e “consciounessess”, para se referir ao seu sentido psiconeural. Em português, apenas se dispõe de um mesmo termo para atender a esses dois significados, o que gera uma certa confusão.
Nesse texto, consideramos a consciência como um epifenômeno do funcionamento orgânico do cérebro2 capaz de, voltada para fora, perceber com clareza o ambiente externo em torno e, voltada para dentro, perceber os diversos estados subjetivos da pessoa. No sentido aqui definido, chamamos ao estado normal da consciência de “consciência lúcida”.
O que são as alterações da consciência?
No sentido que adotamos, pode-se descrever dois tipos de alterações:
- Alterações quantitativas do nível ou grau da consciência, que varia da lucidez ao coma3, passando por estágios intermediários.
- Alterações qualitativas no campo da consciência, que vai de um estado organizado logicamente a uma atividade francamente delirante e sem correspondência com a realidade.
As primeiras são ditas alterações quantitativas da consciência, indo de níveis mais superficiais (obnubilação da consciência) a níveis mais profundos (coma3). As alterações do campo da consciência têm causas menos bem definidas e em geral ocorrem como parte de doenças psiquiátricas. Elas se referem à capacidade de integração harmoniosa dos estímulos internos e externos, passados e presentes. Quanto à qualidade das vivências conscientes, embora sejam suscetíveis de transformação ilimitada, não estariam atreladas ao grau ou nível da consciência, mas à sua conformação.
Num sentido fisiológico4, a consciência oscila periodicamente entre a vigília e o sono.
Leia mais sobre "Estado de coma5", "Escala de Coma3 de Glasgow" e "Ciclos do sono".
Quais são as causas das alterações da consciência?
As alterações do nível ou grau da consciência ocorrem como resultado do entorpecimento do cérebro2, causado por medicamentos, drogas, condições fisiológicas6 alteradas ou doenças, e varia da lucidez plena ao coma3 profundo, passando pelos estágios conhecidos como obnubilação, torpor7 e coma3 superficial.
Alterações do nível da consciência
Essas alterações transitam gradualmente por estágios de níveis ou graus superficiais a outros mais profundos. A exata limitação entre cada um deles é difícil de traçar, mas a sua caracterização serve a propósitos práticos importantes. Nos níveis mais superficiais, os pacientes apresentam como sintoma8 mais chamativo uma desorientação no tempo e no espaço. Geralmente não sabem dizer se é manhã ou tarde, que dia é hoje, em que lugar se encontram, etc. Esses níveis alterados são:
- Obnubilação: é um problema da consciência em que a lucidez está um pouco diminuída. A pessoa apresenta-se em estado letárgico, sem reação diante de estímulos exteriores (barulhos, mudanças bruscas da luminosidade, etc.) e não responde às questões que lhe são feitas. A obnubilação prenuncia um aprofundamento do nível da consciência que pode chegar ao coma3.
- Torpor7: é um estado de inconsciência9 profunda de origem orgânica, com desaparecimento da sensibilidade ao meio ambiente e da faculdade de exibir reações motoras. No torpor7, o paciente está como que dormindo, não responde adequadamente a estímulos verbais e dolorosos e só pode ser despertado por estímulos físicos vigorosos.
- Coma3: no coma3 superficial as respostas motoras estão desorganizadas e não apresentam respostas ao estímulo de despertar; no coma3 profundo há ausência de resposta a qualquer estímulo.
Alterações no campo da consciência
Os pacientes com alterações do campo da consciência em geral são pessoas inteiramente lúcidas, mas que apresentam pensamentos, sentimentos, reações e até mesmo percepções incomuns. As principais alterações do campo da consciência são:
- Delírios: ideias absurdas, incorrigíveis pela argumentação lógica.
- Alucinações10: “percepções” sem objeto, acompanhadas de convicção na realidade do percebido.
- Estados crepusculares: um estreitamento transitório da consciência, com a conservação de uma atividade mais ou menos coordenada, mais ou menos automática.
- Onirismo: estado de sonho patológico que se caracteriza pela predominância das representações imaginárias, resultando em perturbações sensoriais e sensitivas.
- Polarização da consciência: uma concentração forçada da consciência num determinado sentido, segundo uma forte tendência afetiva, que nem sempre sugere um estado francamente mórbido.
- Êxtase: estado mental transitório no qual o indivíduo perde todo contato com o mundo sensível e experimenta um profundo sentimento de beatitude ou de graça, por encontrar-se absorvido na contemplação mística e/ou espiritual.
- Transitivismo: desaparecimento da relação entre o corpo e os objetos do meio exterior, como uma impossibilidade de estabelecer a distinção entre aquilo que é próprio do indivíduo e aquilo que pertence ao meio exterior, havendo um apagamento dos limites entre a pessoa e o exterior.
- Possessão: sentimento transitório de estar possuído por espíritos. A possessão é sempre acompanhada do sentimento de desdobramento da personalidade e se manifesta em sua forma típica no delírio11 de possessão. Há também um evidente aspecto de contaminação (normalmente entre pacientes histéricos) desses fenômenos de possessão, em que ocorrem "epidemias" de possuídos.
- Licantropia: os pacientes com este quadro se acham transformados em um animal, geralmente um lobo (lobisomem), ou alegam ter uma serpente dentro do corpo ou outros animais.
- Convicção da não existência: a pessoa tem uma convicção de inexistência do próprio corpo ou de certos órgãos ou de que não se encontra viva e sim morta.
Alterações fisiológicas6 da consciência
Fisiologicamente, a consciência oscila periodicamente entre a vigília plena e o sono profundo, passando por um estágio intermediário de sonolência, sendo essas diferentes fases chamadas de ciclo circadiano12. O sono é um fenômeno imperioso que acomete a pessoa mesmo contra sua vontade, seja como consequência de grande privação anterior, seja como patologia13.
Veja também sobre "Histeria", "Diferenças entre delírio11, delirium14 e delirium tremens15", "Alucinações10" e "Alucinações10 na infância".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da Mayo Clinic e da U.S. National Library of Medicine.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.