Gostou do artigo? Compartilhe!

Síndrome de “dumping” precoce e tardio: entendendo essa complicação pós-cirúrgica

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie este artigo

O que é a síndrome1 de “dumping”?

A síndrome1 de “dumping” é um conjunto de sintomas2 que ocorre quando o conteúdo gástrico3, especialmente alimentos ricos em carboidratos, é rapidamente liberado do estômago4 para o intestino delgado5 sem a devida regulação.

Ela é dividida em “dumping” precoce, que surge entre 10 e 30 minutos após a ingestão de alimentos, e “dumping” tardio, que aparece entre 1 e 3 horas após as refeições. Ambos os tipos refletem alterações simultâneas no controle mecânico do esvaziamento gástrico e nas respostas metabólicas e hormonais desencadeadas pelo trânsito alimentar acelerado.

Quais são as causas mais comuns da síndrome1 de “dumping”?

A síndrome1 está frequentemente associada a procedimentos cirúrgicos que modificam a anatomia ou a função do estômago4 e do esôfago6, como gastrectomias parciais ou totais, cirurgias bariátricas com bypass gástrico, vagotomias e outras cirurgias esofagogástricas. Essas intervenções podem comprometer o esfíncter7 pilórico ou reduzir a capacidade de armazenamento gástrico, permitindo que o alimento passe rapidamente para o intestino delgado5.

Em situações menos comuns, a síndrome1 pode surgir sem história cirúrgica, especialmente em pacientes com diabetes mellitus8 com disfunção autonômica ou em indivíduos com alterações funcionais significativas da motilidade gastrointestinal.

Leia sobre "Obesidade9", "Obesidade9 mórbida" e "Como os agonistas GLP-1 e a tecnologia estão redefinindo o tratamento da obesidade9".

Qual é o substrato fisiopatológico da síndrome1 de “dumping”?

A fisiopatologia10 depende do tipo de apresentação. No “dumping” precoce, a entrada rápida de alimentos hiperosmolares no intestino delgado5 provoca deslocamento de líquidos do plasma11 para o lúmen12 intestinal, levando à distensão, aumento da motilidade, dor abdominal, diarreia13 e sensação de plenitude; além disso, a liberação abrupta de hormônios intestinais como GIP e GLP-1 contribui para sintomas2 vasomotores como taquicardia14, sudorese15, rubor e hipotensão16.

No “dumping” tardio, há rápida absorção de carboidratos com elevação transitória da glicemia17, seguida por liberação exagerada de insulina18 que culmina em hipoglicemia19 reativa entre 1 e 3 horas após a refeição.

A ausência do controle pilórico e a perda da regulação neuroendócrina fina entre estômago4 e intestino são determinantes centrais de ambos os mecanismos.

Quais são as características clínicas da síndrome1 de “dumping”?

O “dumping” precoce cursa predominantemente com dor abdominal, cólicas20, náuseas21, vômitos22, diarreia13, flatulência e sensação súbita de plenitude, acompanhados de manifestações vasomotoras como taquicardia14, sudorese15, tontura23, rubor e, em situações mais intensas, síncope24.

O “dumping” tardio caracteriza-se por sintomas2 de hipoglicemia19, como tremores, ansiedade, sudorese15, palpitações25, fraqueza, confusão mental e, em casos raros, convulsões.

A intensidade e a frequência das manifestações dependem tanto da composição da refeição quanto do grau de alteração anatômica ou funcional resultante da cirurgia prévia.

Como o médico diagnostica a síndrome1 de “dumping”?

O diagnóstico26 é essencialmente clínico, baseado na história do paciente e na relação temporal entre a ingestão de alimentos e o surgimento dos sintomas2. O teste de provocação oral com glicose27 (50–100 g) pode ser utilizado para reproduzir sintomas2, monitorando sinais vitais28, hematócrito29 e glicemia17. No “dumping” precoce há elevação do hematócrito29 por hemoconcentração30; no tardio ocorre hipoglicemia19 reativa.

A endoscopia31 digestiva alta ajuda a excluir causas estruturais, e estudos de esvaziamento gástrico podem documentar a velocidade de esvaziamento quando necessário. Em alguns casos, escores clínicos validados, como o índice de Sigstad, ajudam a reforçar o diagnóstico26 e a quantificar a gravidade dos sintomas2.

Como o médico trata a síndrome1 de “dumping”?

O tratamento é predominantemente conservador. Inclui fracionamento das refeições, redução de carboidratos simples, priorização de proteínas32 e fibras, mastigação lenta e evitar ingestão de líquidos junto às refeições, aguardando cerca de 30 minutos após comer.

Em casos refratários33, podem ser utilizados medicamentos que retardam o esvaziamento gástrico, modulam a liberação hormonal intestinal ou reduzem a absorção de carboidratos (especialmente úteis no “dumping” tardio), além de anticolinérgicos para reduzir a motilidade intestinal.

Somente em situações graves e persistentes, apesar do manejo clínico adequado, considera-se intervenção cirúrgica para correção anatômica ou revisão do procedimento bariátrico prévio.

Como evolui a síndrome1 de “dumping”?

A evolução depende da causa e da adesão ao tratamento. Muitos pacientes melhoram progressivamente com ajustes dietéticos, à medida que o trato gastrointestinal se adapta ao novo padrão de esvaziamento.

Contudo, em indivíduos com alterações anatômicas extensas, os sintomas2 podem persistir ou ocorrer de forma intermitente34. O seguimento clínico contínuo é importante para monitorar a resposta terapêutica35, evitar perda ponderal36 excessiva e corrigir eventuais deficiências nutricionais.

Quais são as possíveis complicações da síndrome1 de “dumping”?

As complicações incluem desnutrição37 por má absorção ou restrição alimentar secundária ao medo dos sintomas2; hipoglicemia19 grave no “dumping” tardio, que pode resultar em confusão mental, convulsões ou perda de consciência; desidratação38 decorrente de diarreia13 ou vômitos22 frequentes; e redução da qualidade de vida devido à ansiedade e ao impacto social e emocional das crises.

Embora a síndrome1 não represente risco de morte, suas manifestações podem comprometer de forma relevante o bem-estar físico e psicológico, tornando essencial o manejo adequado.

Veja também sobre "Digestão39", "digestão39 ou Dispepsia40" e "O processo de digestão39 e absorção de alimentos".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do Hospital Israelita Albert Einstein - São Paulo e da National Library of Medicine – USA.

ABCMED, 2025. Síndrome de “dumping” precoce e tardio: entendendo essa complicação pós-cirúrgica. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1497600/sindrome-de-dumping-precoce-e-tardio-entendendo-essa-complicacao-pos-cirurgica.htm>. Acesso em: 11 dez. 2025.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
2 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
3 Conteúdo Gástrico: Conteúdo compreendido em todo ou qualquer segmento do TRATO GASTROINTESTINAL
4 Estômago: Órgão da digestão, localizado no quadrante superior esquerdo do abdome, entre o final do ESÔFAGO e o início do DUODENO.
5 Intestino delgado: O intestino delgado é constituído por três partes: duodeno, jejuno e íleo. A partir do intestino delgado, o bolo alimentar é transformado em um líquido pastoso chamado quimo. Com os movimentos desta porção do intestino e com a ação dos sucos pancreático e intestinal, o quimo é transformado em quilo, que é o produto final da digestão. Depois do alimento estar transformado em quilo, os produtos úteis para o nosso organismo são absorvidos pelas vilosidades intestinais, passando para os vasos sanguíneos.
6 Esôfago: Segmento muscular membranoso (entre a FARINGE e o ESTÔMAGO), no TRATO GASTRINTESTINAL SUPERIOR.
7 Esfíncter: Estrutura muscular que contorna um orifício ou canal natural, permitindo sua abertura ou fechamento, podendo ser constituído de fibras musculares lisas e/ou estriadas.
8 Diabetes mellitus: Distúrbio metabólico originado da incapacidade das células de incorporar glicose. De forma secundária, podem estar afetados o metabolismo de gorduras e proteínas.Este distúrbio é produzido por um déficit absoluto ou relativo de insulina. Suas principais características são aumento da glicose sangüínea (glicemia), poliúria, polidipsia (aumento da ingestão de líquidos) e polifagia (aumento da fome).
9 Obesidade: Condição em que há acúmulo de gorduras no organismo além do normal, mais severo que o sobrepeso. O índice de massa corporal é igual ou maior que 30.
10 Fisiopatologia: Estudo do conjunto de alterações fisiológicas que acontecem no organismo e estão associadas a uma doença.
11 Plasma: Parte que resta do SANGUE, depois que as CÉLULAS SANGÜÍNEAS são removidas por CENTRIFUGAÇÃO (sem COAGULAÇÃO SANGÜÍNEA prévia).
12 Lúmen: 1. Lúmen é um espaço interno ou cavidade dentro de uma estrutura com formato de tubo em um corpo, como as artérias e o intestino. 2. Na anatomia geral, é o mesmo que luz ou espaço. 3. Na óptica, é a unidade de fluxo luminoso do Sistema Internacional, definida como fluxo luminoso emitido por uma fonte puntiforme com intensidade uniforme de uma candela, contido num ângulo sólido de um esferorradiano.
13 Diarréia: Aumento do volume, freqüência ou quantidade de líquido nas evacuações.Deve ser a manifestação mais freqüente de alteração da absorção ou transporte intestinal de substâncias, alterações estas que em geral são devidas a uma infecção bacteriana ou viral, a toxinas alimentares, etc.
14 Taquicardia: Aumento da frequência cardíaca. Pode ser devido a causas fisiológicas (durante o exercício físico ou gravidez) ou por diversas doenças como sepse, hipertireoidismo e anemia. Pode ser assintomática ou provocar palpitações.
15 Sudorese: Suor excessivo
16 Hipotensão: Pressão sanguínea baixa ou queda repentina na pressão sanguínea. A hipotensão pode ocorrer quando uma pessoa muda rapidamente de uma posição sentada ou deitada para a posição de pé, causando vertigem ou desmaio.
17 Glicemia: Valor de concentração da glicose do sangue. Seus valores normais oscilam entre 70 e 110 miligramas por decilitro de sangue (mg/dl).
18 Insulina: Hormônio que ajuda o organismo a usar glicose como energia. As células-beta do pâncreas produzem insulina. Quando o organismo não pode produzir insulna em quantidade suficiente, ela é usada por injeções ou bomba de insulina.
19 Hipoglicemia: Condição que ocorre quando há uma queda excessiva nos níveis de glicose, freqüentemente abaixo de 70 mg/dL, com aparecimento rápido de sintomas. Os sinais de hipoglicemia são: fome, fadiga, tremores, tontura, taquicardia, sudorese, palidez, pele fria e úmida, visão turva e confusão mental. Se não for tratada, pode levar ao coma. É tratada com o consumo de alimentos ricos em carboidratos como pastilhas ou sucos com glicose. Pode também ser tratada com uma injeção de glucagon caso a pessoa esteja inconsciente ou incapaz de engolir. Também chamada de reação à insulina.
20 Cólicas: Dor aguda, produzida pela dilatação ou contração de uma víscera oca (intestino, vesícula biliar, ureter, etc.). Pode ser de início súbito, com exacerbações e períodos de melhora parcial ou total, nos quais o paciente pode estar sentindo-se bem ou apresentar dor leve.
21 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
22 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
23 Tontura: O indivíduo tem a sensação de desequilíbrio, de instabilidade, de pisar no vazio, de que vai cair.
24 Síncope: Perda breve e repentina da consciência, geralmente com rápida recuperação. Comum em pessoas idosas. Suas causas são múltiplas: doença cerebrovascular, convulsões, arritmias, doença cardíaca, embolia pulmonar, hipertensão pulmonar, hipoglicemia, intoxicações, hipotensão postural, síncope situacional ou vasopressora, infecções, causas psicogênicas e desconhecidas.
25 Palpitações: Designa a sensação de consciência do batimento do coração, que habitualmente não se sente. As palpitações são detectadas usualmente após um exercício violento, em situações de tensão ou depois de um grande susto, quando o coração bate com mais força e/ou mais rapidez que o normal.
26 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
27 Glicose: Uma das formas mais simples de açúcar.
28 Sinais vitais: Conjunto de variáveis fisiológicas que são pressão arterial, freqüência cardíaca, freqüência respiratória e temperatura corporal.
29 Hematócrito: Exame de laboratório que expressa a concentração de glóbulos vermelhos no sangue.
30 Hemoconcentração: Concentração sanguínea ou aumento do hematócrito maior do que 20%.
31 Endoscopia: Método no qual se visualiza o interior de órgãos e cavidades corporais por meio de um instrumento óptico iluminado.
32 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
33 Refratários: 1. Que resiste à ação física ou química. 2. Que resiste às leis ou a princípios de autoridade. 3. No sentido figurado, que não se ressente de ataques ou ações exteriores; insensível, indiferente, resistente. 4. Imune a certas doenças.
34 Intermitente: Nos quais ou em que ocorrem interrupções; que cessa e recomeça por intervalos; intervalado, descontínuo. Em medicina, diz-se de episódios de febre alta que se alternam com intervalos de temperatura normal ou cujas pulsações têm intervalos desiguais entre si.
35 Terapêutica: Terapia, tratamento de doentes.
36 Ponderal: Relativo a peso, equilíbrio. Exemplos: Perda ponderal = perda de peso, emagrecimento. Ganho ponderal = ganho de peso.
37 Desnutrição: Estado carencial produzido por ingestão insuficiente de calorias, proteínas ou ambos. Manifesta-se por distúrbios do desenvolvimento (na infância), atrofia de tecidos músculo-esqueléticos e caquexia.
38 Desidratação: Perda de líquidos do organismo pelo aumento importante da freqüência urinária, sudorese excessiva, diarréia ou vômito.
39 Digestão: Dá-se este nome a todo o conjunto de processos enzimáticos, motores e de transporte através dos quais os alimentos são degradados a compostos mais simples para permitir sua melhor absorção.
40 Dispepsia: Dor ou mal-estar localizado no abdome superior. O mal-estar pode caracterizar-se por saciedade precoce, sensação de plenitude, distensão ou náuseas. A dispepsia pode ser intermitente ou contínua, podendo estar relacionada com os alimentos.
Gostou do artigo? Compartilhe!

Pergunte diretamente a um especialista

Sua pergunta será enviada aos especialistas do CatalogoMed, veja as dúvidas já respondidas.