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Mecanismos de defesa do ego

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O que são mecanismos de defesa do ego?

A mente é regida por impulsos originados da parte inata da personalidade, que Freud chamou de ID, os quais podem entrar em conflito com as regras e normas aprendidas, que funcionam como a parte censora da personalidade, o SUPEREGO, dando origem a sofrimentos que são experimentados pela instância consciente, o EGO.

Mecanismos de Defesa do Ego são operações mentais de que o Ego se vale para evitar a ansiedade e o desprazer que poderiam resultar desses conflitos (medo, culpa, condenação, etc.). Essas operações são comuns a todas as pessoas, mas, em algumas delas, são usadas com tanta persistência e intensidade que se tornam anormais. Os mecanismos de Defesa do Ego são usados de maneira muito destacada e incisiva nas neuroses e psicoses.

Nas pessoas normais é comum que sejam utilizadas uma variedade deles, de intensidade leve, e essa combinação constitui os diversos tipos psicológicos comuns que se conhece. Os neuróticos e psicóticos privilegiam um ou alguns poucos, dos quais se valem mais persistentemente.

Enquanto nas pessoas normais os diversos mecanismos de defesa são conscientes ou próximos da consciência, nos neuróticos e psicóticos eles são mais profundamente inconscientes, ou seja, as pessoas os usam sem saber que os estão usando.

Das diversas formulações teóricas de Freud, essa parece ter sido uma das mais essenciais e foi extensivamente elaborada por sua filha, Ana Freud (1936-2006), numa obra exclusivamente dedicada a esse assunto.

Leia também sobre "Luto normal e patológico", "Transtornos dissociativos" e "Diferenças entre egoísmo e egocentrismo".

Quais são os mecanismos de defesa do ego?

Os Mecanismos de Defesa do Ego fazem parte de uma série de construtos teóricos e só fazem pleno sentido quando estão integrados dentro do corpo teórico da psicanálise. Descontextualizados, eles não refletem o pensamento original dos autores. No entanto, ter uma visão1 global do assunto ajuda a olhar para tal conteúdo sem preconceitos ou visões distorcidas.

  • Repressão: movimento que o Ego realiza para rebaixar, da consciência para o inconsciente, conteúdos dolorosos ou que podem ser perturbadores, sejam eles ideias, afetos ou desejos. Isso não significa, porém, que as memórias desapareçam inteiramente. Elas continuam existindo e dando efeitos, embora de modo inconsciente. Elas podem influenciar comportamentos e podem afetar relacionamentos futuros sem que a pessoa perceba o impacto que esse mecanismo está tendo.
  • Negação: a negação é um dos mecanismos de defesa mais comuns. Consiste na recusa da aceitação da realidade incômoda para o ego. A pessoa bloqueia eventos ou circunstâncias externas de sua mente para não ter que lidar com o impacto emocional que essas eventualidades causariam. Em outras palavras, evita-se sentimentos ou eventos que seriam dolorosos. Exemplo: os fumantes bloqueiam a ideia de que o tabaco prejudica a sua saúde2.
  • Deslocamento: consiste na transferência de um impulso que seria perigoso em relação a determinado alvo para outro alvo considerado menos ameaçador. Isso permite que a pessoa satisfaça o impulso de reagir, sem correr o risco de consequências significativas. Exemplo: uma pessoa que tenha impulsos hostis para com o seu patrão pode descarregá-los em relação a um filho ou cônjuge. Nenhuma dessas pessoas é o verdadeiro alvo de suas emoções fortes, mas reagir a elas é provavelmente menos problemático do que reagir ao seu chefe.
  • Racionalização: é um processo pelo qual a pessoa elabora desculpas intelectuais ou razões lógicas para tentar justificar comportamentos ou pensamentos de base fortemente emocional. Ou seja, justifica com argumento as ações que, de fato, se deveram a impulsos. Isso permite que a pessoa se sinta mais confortável com a sua escolha, mesmo sabendo que não está certa. Exemplo: uma pessoa agressiva pode alegar que age assim porque esse é o único meio de que a levem em conta.
  • Compensação: mecanismo de defesa utilizado para encobrir uma fraqueza ou deficiência em um setor da vida através da atribuição de ênfase a outra característica em que a pessoa possa se sair melhor. Exemplo: uma pessoa que tenha dificuldades com sua vida social pode esmerar-se no âmbito intelectual ou vice-versa. 
  • Formação reativa: é um mecanismo que tende a inverter o impulso indesejado, substituindo-o pelo seu contrário. As pessoas que usam esse mecanismo de defesa reconhecem como se sentem, mas optam por se comportar de maneira oposta aos seus instintos. Exemplos: uma pessoa totalmente entregue às perversões sexuais, “prega” uma moralidade extremamente puritana. Ou, uma pessoa que reage raivosamente, pode atuar de maneira aparentemente gentil. 
  • Projeção: talvez este seja o mais famoso e conhecido dos mecanismos de defesa, que consiste em atribuir a outrem conteúdos psíquicos inaceitáveis da própria pessoa. Exemplo: a pessoa que é muito avarenta pode desconhecer esse defeito e atribui-lo a uma outra pessoa.  
  • Isolamento: consiste em separar um pensamento, recordação ou afeto de outros negativos associados a eles, em determinado evento ou fato, de modo a fazer com que nenhuma reação emocional desagradável ocorra. Exemplo: lembrar-se de uma festa sem se lembrar do episódio ocorrido nela em que se sentiu humilhado ou discriminado. 
  • Anulação: busca cancelar ou desfazer os efeitos de uma ação ou sentimento indesejado de forma “simbólica” através de outra ação. Frequentemente usado por quem tem transtornos obsessivos. Exemplo: bater três vezes na madeira para evitar algo, para se livrar do pensamento.
  • Introjeção: é um mecanismo psíquico inconsciente pelo qual o indivíduo incorpora qualidades dos objetos do mundo exterior. De forma mais específica, é o mecanismo responsável por integrar a si mesmo elementos de outro indivíduo à estrutura do ego. Exemplo: interiorização dos valores paternos. 
  • Regressão: é o mecanismo responsável por fazer o ego retornar a um estágio anterior de desenvolvimento. Esse tipo de mecanismo de defesa pode ser mais óbvio em crianças pequenas, mas ocorre também em adultos. Exemplos: crianças pequenas ao sofrerem um trauma ou uma perda significativa podem voltar a comportamentos que já haviam abandonado, como urinar na cama ou chupar o dedo. Adultos que estejam lutando com eventos difíceis podem voltar a fumar ou mastigar lápis ou canetas, hábitos que já haviam superado.
  • Fixação: ocorre quando uma pessoa, em seu desenvolvimento, não progride de maneira normal, parando parcialmente em uma fase do processo de maturação. Pode tratar-se de um bloqueio temporário e normal da maturação ou ser permanente e patológico, dando origem a neuroses ou desvios de personalidade. Exemplo: pessoas adultas que ainda conservam certos modos infantis de reagir.
  • Sublimação: é o mecanismo responsável por redirecionar a energia de um impulso para outra atividade socialmente mais aceitável ou desejável. Esse tipo de mecanismo de defesa é considerado uma estratégia positiva. Isso porque as pessoas que confiam nele optam por redirecionar emoções ou sentimentos fortes para um objeto ou atividade que seja apropriado e seguro. Exemplo: a vontade de submeter um inimigo pode ser canalizada para o esporte.
  • Identificação: é o mecanismo responsável por aumentar o valor do ego através da identificação com um sujeito ou grupo de referência que seja admirado. A maior parte das identificações ocorre no mundo da fantasia. Quando branda, a identificação pode ajudar a pessoa a tornar-se mais confiante e ajudar em seus ajustamentos, mas em excesso, causa dependência e impede o indivíduo de enfrentar seu problema. Exemplos: a criança se identifica com seu herói favorito; a adolescente com a “mocinha” da novela; etc.
  • Intelectualização: consiste em tratar as situações de maneira inteiramente intelectual, afastando todas as emoções. Essas pessoas são consideradas inteiramente “cerebrais” e em geral são muito pouco empáticas. Parecem (só parecem) não se comover com os acontecimentos. Exemplo: diante da morte ou partida de uma pessoa próxima reage com argumentos que justifiquem a situação, encobrindo as emoções.
Veja sobre "Ganho secundário", "Psiquiatra, psicólogo ou psicanalista" e "Psicoterapias".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Encyclopedia Britannica e do NIH – National Institutes of Health.

ABCMED, 2022. Mecanismos de defesa do ego. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1413380/mecanismos-de-defesa-do-ego.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
2 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
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