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Formação reativa - o que é?

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O que é formação reativa?

A formação reativa, ou formação de reação (alemão: Reaktionsbildung), figura entre os mecanismos de defesa do Ego descritos por Sigmund Freud e por sua filha, Anna Freud, na segunda estruturação tópica da mente (Id, Ego, Superego), na qual os impulsos do Id, percebidos pelo Superego como inaceitáveis e produtores de ansiedade, são mantidos sob controle do Ego pelo exagero da tendência que lhes é diretamente oposta.

Assim, por exemplo, uma pessoa que está brava com um colega e tem dificuldades para expressar esse sentimento, acaba sendo particularmente simpática e cortês para com ele, ou uma mãe que tem um filho que ela não desejava se torna excessivamente protetora com ele.

Onde a formação reativa ocorre, o impulso original rejeitado não desaparece, mas persiste no inconsciente, em sua forma original. Assim, onde o amor é experimentado como uma formação reativa ao ódio, não se pode dizer que o amor substitui o ódio, porque os sentimentos agressivos originais ainda existem sob o exterior afetuoso que apenas mascara o ódio para escondê-lo da consciência.

Ao longo do tempo, pode ser que o impulso encoberto encontre alguma maneira de se expressar, de forma direta ou indireta. A pessoa brava com seu colega acaba “brigando com seu melhor amigo” ou, de outra forma, a mãe superprotetora acaba “agredindo” o filho cerceando demais sua liberdade e independência, expressando, assim, a um só tempo, os efeitos dos sentimentos opostos.

Veja sobre "A estrutura da personalidade segundo a Psicanálise" e "O desenvolvimento da personalidade".

Quais são as bases psicológicas que tornam possível a formação reativa?

A formação da reação depende da hipótese de Freud de que os instintos e seus derivados podem ser arranjados como pares de opostos: vida versus morte, construção versus destruição, ação vs. passividade, dominação vs. submissão, e assim por diante. Quando um dos instintos produz ansiedade ao exercer pressão sobre o ego – seja diretamente, seja por meio do superego – o ego pode tentar desviar o impulso ofensivo concentrando-se em seu oposto.

Por exemplo, se sentimentos de ódio em relação a outra pessoa deixam alguém ansioso, o ego pode facilitar o fluxo de amor para esconder a hostilidade. A consistência dos resultados de várias pesquisas levou os pesquisadores a sugerirem que a formação de reação é uma das respostas mais proeminentes e comuns à ameaça da estima. E não se pense que essa é sempre uma operação patológica. Ela está presente em praticamente todas as pessoas, e aparece exageradamente e de forma anormal nas pessoas neuróticas.

Como se comporta o indivíduo que faz uso da formação reativa?

A formação reativa pode ser uma ocultação consciente de impulsos inaceitáveis, sabida pelo indivíduo, mas também pode ocorrer a nível inconsciente, de tal forma que ele não percebe a verdadeira causa dos seus comportamentos explícitos. Embora a formação reativa proteja momentaneamente a autoestima do indivíduo, com o tempo pode se tornar um problema, gerando comportamentos estereotipados, pouco adaptados à realidade.

Ela sufoca o Ego autêntico da pessoa, o que prejudica o seu bem-estar, uma vez que o impulso inaceitável original está permanentemente à espreita e, de alguma forma, acaba se manifestando. A pessoa que se utiliza dessa forma de defesa pode parecer extremamente aficionada pelas crenças e preferências que expressa externamente, enquanto suas verdadeiras crenças permanecem enterradas no inconsciente e, em situações críticas, podem se manifestar. Desse modo, por exemplo, o moralista pode se mostrar um devasso, ou um homem inseguro quanto à própria masculinidade pode adotar um comportamento agressivo e hipersexual.

Ao longo do tempo pode acontecer também que a defesa entre em exaustão e o impulso inconsciente se manifeste, sobretudo se ele não é repudiado com muita intensidade. Nas formações reativas das fobias1, por exemplo, é bem possível que um indivíduo que inicialmente tenha medo de velocidade acabe sendo um piloto de corridas, alguém que tenha medo de lugares fechados se torne um explorador de cavernas, outro que tenha fobia2 de altura acabe sendo alpinista e aquele que não pode ver sangue3 acabe sendo cirurgião, etc. Outro exemplo disso pode ser visto naquelas situações em que o amor serve para encobrir o ódio. Quando dois amigos ou dois amantes brigam, o ódio que surge tem a mesma intensidade do amor de antes. Basta “virar o interruptor”.

Muito frequentemente a formação reativa que tenha de cumprir uma função de defesa e não simplesmente de adaptação à realidade aparece como exagerada, compulsiva e inflexível, sendo pouco adequada às exigências objetivas e emprestando ao caráter do indivíduo um aspecto neurótico rígido.

Como tomar ciência do mecanismo de formação reativa?

Um psiquiatra ou psicólogo, trabalhando com o paciente em psicoterapia, pode ajudá-lo a perceber que ele está usando a formação de reação para se proteger de pensamentos ou sentimentos indesejados. Trabalhar em psicoterapia com um profissional desses para identificar uma formação de reação significa que a pessoa terá que reconhecer pensamentos e impulsos que ela provavelmente achará desconfortáveis, mas que poderá manejar de maneira consciente, ganhando mais conforto e autenticidade.

Por exemplo, um indivíduo pode parecer amigável e fácil de lidar, mas, na realidade, não gosta da maioria dos amigos. Um terapeuta ajudaria o indivíduo a identificar a discrepância entre seus sentimentos e comportamentos, exploraria porque sua antipatia pelos amigos causa ansiedade e, então, o ajudaria a aceitar seus verdadeiros sentimentos. Por outro lado, pode inclusive minimizá-los ou aboli-los, uma vez que os componentes conscientes sofrem o desgaste do tempo, o que não acontece com os componentes inconscientes. Contudo, este pode ser um processo desafiador e demorado.

Leia também sobre "Diferenças entre egoísmo e egocentrismo", "Personalidade narcisista" e "Personalidade histriônica".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Encyclopedia Britannica e da U.S. National Library of Medicine.

ABCMED, 2022. Formação reativa - o que é?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1411595/formacao-reativa-o-que-e.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Fobias: Medo exagerado, falta de tolerância, aversão.
2 Fobia: Medo exagerado, falta de tolerância, aversão.
3 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
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