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Somatização - o que é? Quais são as causas? Tem tratamento?

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O que é somatização1?

Somatização1 é a geração de sintomas2 físicos a partir de uma condição psiquiátrica ou psicológica, como a ansiedade, por exemplo. É o termo médico usado para a expressão corporal do estresse e algumas emoções. O transtorno de somatização1 é um transtorno mental caracterizado por queixas recorrentes, múltiplas e atuais, clinicamente significativas, sobre sintomas2 somáticos, embora não seja possível detectar nenhum transtorno orgânico.

De fato, até 12% das visitas aos médicos são devidas a sintomas2 de somatização1. Todo mundo experimenta a somatização1, em algum momento e em alguma medida, mas para algumas pessoas ela é tão intensa que atrapalha o cotidiano e requer tratamento. O termo somatização1 foi introduzido por Wilhelm Stekel em 1924.

Quais são as causas da somatização1?

A somatização1 pode ser (mas nem sempre é) relacionada a uma condição psicológica, como transtornos afetivos (ansiedade e depressão, por exemplo). No entanto, apesar da extensa pesquisa nos últimos anos, os pesquisadores ainda estão incertos sobre as causas dos distúrbios somatiformes.

A genética parece contribuir pouco para o desenvolvimento desse distúrbio. Uma das explicações mais antigas para a somatização1 é de que ela seja resultado da tentativa do corpo de lidar com o estresse emocional e psicológico. A teoria afirma que o corpo tem uma capacidade finita de lidar com o sofrimento psicológico, emocional e social, e que, além de um certo ponto, os sintomas2 são sentidos como físicos, afetando principalmente os sistemas digestivo, nervoso e reprodutivo.

Muitas dores de cabeça3 estão associadas a fatores psicológicos, e o estresse e o hormônio4 cortisol têm um impacto negativo nas funções imunológicas. Ademais, há também somatizações em pessoas que sentem extrema ansiedade sobre sintomas2 físicos.

Outra hipótese para a causa do distúrbio de somatização1 é que as pessoas com esse distúrbio têm aumentadas a sensibilidade às sensações físicas internas e à dor. Uma maior sensibilidade biológica a sentimentos somáticos pode predispor ao desenvolvimento de transtornos de somatização1. Também é possível que a pessoa desenvolva uma sensibilidade aumentada à dor e à percepção da dor.

Saiba mais sobre "Depressão", "Ansiedade normal e patológica" e "Estresse".

Qual é o mecanismo fisiológico5 da somatização1?

Embora o transtorno de somatização1 venha sendo diagnosticado e estudado há mais de um século, ainda há debate e incerteza em relação à sua fisiopatologia6. A maioria das explicações atuais se concentra no conceito de uma desconexão entre mente e corpo.

Todas as emoções têm uma parte física: enrijece-se os músculos7 quando se está com raiva8, verte-se lágrimas quando se está triste e respira-se mais rápido quando se está com medo. Essa é uma das vertentes das relações mente-corpo. Assim, torna-se compreensível que estados ou reações emocionais se expressem fisicamente, às vezes sem sintomas2 psicológicos.

Dores de cabeça3, apertos e dores no peito9, taquicardias, distúrbios gastrointestinais, etc. podem ser equivalentes a sintomas2 psicológicos como ansiedade, depressão e outros. Hoje em dia os próprios clínicos reconhecem esse fato, o que é atestado pelo grande número de tranquilizantes que receitam.

Na teoria psicodinâmica/psicanalítica, a somatização1 é conceituada como uma defesa do ego em relação a emoções inconscientes. Embora seja normal que as tensões e pressões na vida de uma criança sejam expressas em transtornos corporais, há evidências de que crianças em que as reclamações corporais recebem atenção especial da família são significativamente mais propensas a usar a somatização1 como defesa na vida adulta.

As teorias cognitivas explicam o distúrbio da somatização1 como resultante de pensamentos negativos, distorcidos e catastróficos. O pensamento catastrófico pode levar a pessoa a acreditar que sintomas2 como uma dor muscular ou falta de ar leves, por exemplo, são evidências de uma doença grave, como câncer10 ou tumor11. Esses pensamentos podem ser reforçados por fatores sociais que os apoiem: um cônjuge que responda com muita preocupação aos sinais12 de seu parceiro ou os filhos de pais excessivamente atentos às suas queixas, etc.

Quais são as principais características clínicas da somatização1?

A pessoa geralmente não tem uma condição médica associada aos sintomas2, mas, mesmo se tiver, sua reação a ela não é normal. Muitas vezes ela pensa o pior sobre seus sintomas2 e frequentemente procura assistência médica buscando confirmar sua explicação, mesmo quando quaisquer condições médicas tenham sido excluídas.

Essas preocupações com a saúde13 podem se tornar tão centrais que tornam difícil manter o cotidiano, às vezes levando à incapacidade. Os sintomas2 do transtorno somático podem ser específicos, como uma dor de cabeça3, por exemplo, ou mais genéricos, como fadiga14 ou fraqueza, de intensidade leve, moderada ou grave.

Esses pensamentos, sentimentos ou comportamentos excessivos podem incluir preocupação com uma potencial doença, sensações físicas normais como “sinal” de doença física grave, temor de que os sintomas2 sejam sérios, crença de que as sensações físicas são ameaçadoras, ideias de que a avaliação médica e o tratamento não foram adequados, temor de que a atividade física possa causar danos ao corpo, frequentes visitas a diferentes instituições de cuidados com a saúde13 que não aliviam as suas preocupações ou que as tornam piores e ser indiferente ao tratamento médico e incomumente sensível aos efeitos colaterais15 dos medicamentos.

Como o médico diagnostica a somatização1?

Para que o médico possa determinar um diagnóstico16, as queixas do paciente devem ser ouvidas atentamente, além de provavelmente realizar um exame físico. O médico também poderá pedir algum exame laboratorial como medida de excluir problemas orgânicos.

Como o médico trata a somatização1?

Muitas vezes a pessoa pensa o pior sobre seus sintomas2 e frequentemente busca ajuda médica procurando confirmar sua explicação, mesmo quando quaisquer condições médicas já tenham sido excluídas. Contudo, a pior tentativa de ajuda é dizer ao paciente “você não tem nada”. Em primeiro lugar, porque ele não acreditará; em segundo lugar porque realmente não está correto: sentir algo quando tudo está fisiologicamente bem não é “não ter nada”, pelo contrário, significa ter algo muito sério, embora não somático.

Na ausência de qualquer problema somático, o médico deve encaminhar o paciente a um profissional de saúde13 mental, para uma avaliação psicológica e possível psicoterapia.

A terapia cognitivo17-comportamental pode ajudar a aliviar os sintomas2 associados aos transtornos de somatização1, corrigindo pensamentos distorcidos, crenças irrealistas e comportamentos que estimulam a ansiedade na saúde13.

Quais são as complicações possíveis da somatização1?

O transtorno de somatização1 pode se associar com uma saúde13 debilitada, com dificuldades de funcionamento na vida cotidiana, com problemas de relacionamentos, com outros transtornos mentais (como ansiedade, depressão e transtornos de personalidade), com aumento do risco de suicídio e com problemas financeiros.

Leia sobre "Psicoterapia", "Terapia cognitivo17 comportamental", "Transtorno bipolar do humor" e "Personalidade borderline".

 

ABCMED, 2019. Somatização - o que é? Quais são as causas? Tem tratamento?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/psicologia-e-psiquiatria/1336328/somatizacao-o-que-e-quais-sao-as-causas-tem-tratamento.htm>. Acesso em: 18 nov. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Somatização: Somatização, segundo definição criada por Zbigniew Lipowski (1924-1997), é “uma tendência para experimentar e comunicar desconforto somático e sintomas que não podem ser explicados pelos achados patológicos, atribui-los a doenças físicas e procurar ajuda médica para eles“. É um diagnóstico que deve ser feito por exclusão de outras causas, que deve ser usado com cautela por ser muito difícil garantir que não há outras causas.
2 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
3 Cabeça:
4 Hormônio: Substância química produzida por uma parte do corpo e liberada no sangue para desencadear ou regular funções particulares do organismo. Por exemplo, a insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas que diz a outras células quando usar a glicose para energia. Hormônios sintéticos, usados como medicamentos, podem ser semelhantes ou diferentes daqueles produzidos pelo organismo.
5 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
6 Fisiopatologia: Estudo do conjunto de alterações fisiológicas que acontecem no organismo e estão associadas a uma doença.
7 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
8 Raiva: 1. Doença infecciosa freqüentemente mortal, transmitida ao homem através da mordida de animais domésticos e selvagens infectados e que produz uma paralisia progressiva juntamente com um aumento de sensibilidade perante estímulos visuais ou sonoros mínimos. 2. Fúria, ódio.
9 Peito: Parte superior do tronco entre o PESCOÇO e o ABDOME; contém os principais órgãos dos sistemas circulatório e respiratório. (Tradução livre do original
10 Câncer: Crescimento anormal de um tecido celular capaz de invadir outros órgãos localmente ou à distância (metástases).
11 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
12 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
13 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
14 Fadiga: 1. Sensação de enfraquecimento resultante de esforço físico. 2. Trabalho cansativo. 3. Redução gradual da resistência de um material ou da sensibilidade de um equipamento devido ao uso continuado.
15 Efeitos colaterais: 1. Ação não esperada de um medicamento. Ou seja, significa a ação sobre alguma parte do organismo diferente daquela que precisa ser tratada pelo medicamento. 2. Possível reação que pode ocorrer durante o uso do medicamento, podendo ser benéfica ou maléfica.
16 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
17 Cognitivo: 1. Relativo ao conhecimento, à cognição. 2. Relativo ao processo mental de percepção, memória, juízo e/ou raciocínio. 3. Diz-se de estados e processos relativos à identificação de um saber dedutível e à resolução de tarefas e problemas determinados. 4. Diz-se dos princípios classificatórios derivados de constatações, percepções e/ou ações que norteiam a passagem das representações simbólicas à experiência, e também da organização hierárquica e da utilização no pensamento e linguagem daqueles mesmos princípios.

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