Transtorno bipolar do humor. O que é?
O que é o transtorno bipolar do humor?
Ele é caracterizado por alterações cíclicas do humor que se manifestam como episódios depressivos alternando-se com episódios de euforia ou de mania em diferentes graus de intensidade. O transtorno bipolar está associado a alterações cerebrais funcionais envolvendo áreas como o lobo pré-frontal e a amígdala1, fundamentais para o processamento das emoções e motivação e o hipocampo2, importante para a memória. Outro componente envolvido é a produção de serotonina, um neurotransmissor que atua no funcionamento harmônico do sistema nervoso3.
É uma condição frequente que ocorre em cerca de 1% da população geral. Considerando-se os quadros mais brandos (caracterizados pela alternância de depressão e episódios mais leves de euforia - hipomania), a prevalência4 pode chegar a até 8% da população.
No passado, ele era conhecido por psicose5 maníaco-depressiva (PMD).
Quais são os sintomas6 desta condição?
O início dos sintomas6 na infância e na adolescência é cada vez mais estudado. Como nesta faixa etária há peculiaridades na apresentação clínica, o diagnóstico7 é difícil, o que dificulta estabelecer um tratamento adequado.
Na idade adulta, as alterações do humor caracterizam-se por fases que alternam episódios de euforia ou mania e de depressão. Estas fases podem ser reconhecidas pelos sintomas6 abaixo:
Fase maníaca
- Estado de humor excessivamente elevado, eufórico, como uma alegria contagiante ou uma irritação agressiva, impaciente.
- Auto-estima elevada, podendo chegar a uma manifestação delirante de grandeza. A pessoa acha-se dotada de poderes especiais e capacidades únicas.
- Otimismo e confiança exagerados.
- Aumento das atividades motoras e hiperatividade.
- Diminuição da necessidade de sono.
- Além de geralmente falar em tom alto, a pessoa sente uma forte pressão para falar sem parar, não concluindo ideias, o que é chamado de “fuga-de-ideias”.
- Dificuldade de concentração.
- A pessoa torna-se socialmente inconveniente, com um comportamento inadequado e provocador.
- Agressividade física ou verbal.
- Aumento do interesse e da atividade sexual.
- Envolvimento em atividades potencialmente perigosas.
- Uso de drogas, especialmente cocaína, álcool e medicamentos para dormir.
Fase depressiva
- O humor está depressivo.
- Baixa auto-estima com sentimentos de tristeza, vazio, falta de esperança, culpa excessiva ou pessimismo.
- Choro e melancolia.
- Sentimentos de inferioridade.
- Fadiga8 ou perda de energia.
- Comprometimento da capacidade física com sensação de cansaço constante.
- O interesse e o prazer em atividades antes exercidas com entusiasmo são perdidos.
- O sono está diminuído, mas diferente da fase maníaca, não é um sono reparador, pois a pessoa acorda indisposta e tende a permanecer na cama por várias horas do dia.
- Dificuldade de concentração. Os pensamentos ficam inibidos, lentos, gerando demora na compreensão e assimilação dos fatos e lentidão na tomada de decisões.
- Apetite diminuído, podendo haver perda significativa de peso.
- Pensamentos de morte ou suicídio, planejamento ou tentativas de suicídio.
Existem muitas pessoas com transtorno de humor que, entre uma fase e outra, levam uma vida como outra pessoa qualquer sem a doença. Outras podem apresentar sintomas6 leves. Apenas uma minoria, que não se recupera, torna-se incapaz de levar uma vida sem sintomas6.
Quais outras características precisam ser reconhecidas neste transtorno?
A hipomania é um estado de euforia mais leve, que não causa prejuízo no trabalho ou nas relações sociais. Pode passar despercebida ou ser confundida com estados “normais” de alegria.
O estado misto é caracterizado por sintomas6 depressivos e maníacos acentuados acontecendo simultaneamente em um mesmo dia, ou seja, a pessoa pode sentir-se deprimida pela manhã e progressivamente eufórica com o passar do dia ou vice-versa. Os sintomas6 frequentemente incluem agitação, insônia e alterações do apetite. Nos casos mais graves, podem haver sintomas6 psicóticos (alucinações9 e delírios) e pensamentos suicidas.
No transtorno ciclotímico ou ciclotimia há uma alteração crônica e flutuante do humor, alternando períodos de sintomas6 maníacos e períodos de sintomas6 depressivos não graves, nem suficientes para se ter certeza de se tratar de depressão ou de mania. É facilmente confundido com uma pessoa marcada por instabilidade crônica do humor.
Quais outras doenças geralmente coexistem com o transtorno bipolar do humor?
- O uso abusivo de drogas como álcool e outras drogas ilícitas10 (cocaína, crack) é muito frequente entre as pessoas nesta condição médica.
- Estresse pós-traumático, fobia11 social, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, síndrome12 do pânico ou transtorno obsessivo compulsivo também podem ocorrer com mais frequência nestes pacientes.
- Pessoas com transtorno bipolar tem um risco maior de apresentar doenças da tireoide13, enxaquecas14, doenças cardíacas, diabetes15, obesidade16 e outras doenças físicas.
As pessoas com transtorno bipolar devem monitorar sua saúde17 física e mental. Se um sintoma18 não melhora com o tratamento instituído, elas devem conversar com seu médico.
Quais são os fatores de risco para o transtorno bipolar?
Os cientistas estão aprendendo sobre as possíveis causas da doença bipolar. A maioria concorda que não há uma causa única, mas que muitos fatores em conjunto produzem a doença e aumentam o seu risco. Fatores biológicos (relativos a neurotransmissores cerebrais), genéticos, sociais e psicológicos estão presentes no desencadeamento da doença.
- Há uma tendência familiar. Crianças com pais ou irmãos com transtorno bipolar têm quatro a seis vezes mais chances de desenvolver a doença, mas a maioria com história familiar da doença não irá desenvolver o transtorno.
- Fatores ambientais. O uso abusivo de certas substâncias como cocaína, crack ou anfetaminas aumenta o risco de desenvolver a primeira crise, assim como aumenta a frequência das recorrências19. A dependência de álcool e de outras drogas é comum, agrava o curso da doença e piora o prognóstico20. Também atrapalha na adesão ao tratamento e aumenta em duas vezes o risco de suicídio.
Como é feito o diagnóstico7?
O primeiro passo para um diagnóstico7 correto é conversar com um médico. Um clínico geral ou um psiquiatra podem avaliar a história clínica de um paciente, fazer um exame físico e, se necessário, solicitar exames complementares.
O transtorno bipolar não é diagnosticado por exames de sangue21 ou de imagens, mas estes exames podem ajudar a fazer o diagnóstico7 diferencial com outras condições como derrame22 cerebral ou tumores cerebrais.
O transtorno bipolar é uma condição a ser acompanhada por um longo período de tempo, às vezes ao longo de toda a vida de um paciente.
Qual é o tratamento? Existe cura?
O tratamento adequado reduz a incapacidade para o trabalho e para as atividades rotineiras e diminui a mortalidade23 dos pacientes, principalmente por reduzir o risco de suicídio em sete vezes.
A doença não tem cura, mas as pessoas melhoram e retomam suas atividades após a instituição do tratamento adequado.
Todo o tratamento deve ser prescrito e acompanhado por médicos experientes. O lítio, medicamento muito usado para estes pacientes, é uma substância tóxica, que em doses adequadas é capaz de reverter os quadros de euforia e evitar as recorrências19, mas se usado incorretamente pode trazer mais prejuízos do que benefícios aos pacientes.
Geralmente são usados um ou mais estabilizadores do humor, principalmente o carbonato de lítio. A associação com antidepressivos e antipsicóticos pode ser necessária para o controle dos episódios de depressão e de mania, respectivamente. Deve-se tomar cuidado com o uso de antidepressivos, pois eles podem precipitar a euforia ou acelerar a frequência das crises e levar a uma “virada maníaca", ou seja, o paciente sai da depressão e passa rapidamente à exaltação. Muitas vezes são também usados anticonvulsivantes no tratamento.
É importante a retirada de substâncias como cafeína, cocaína e anfetaminas e do álcool para melhorar o controle da doença e diminuir sua recorrência24.
Todos os pacientes devem ter acompanhamento psiquiátrico por longo período. Algumas formas de psicoterapia podem ajudar bastante no tratamento.
Fonte: National Institute of Mental Health – National Institutes of Health
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.