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Enucleação ocular

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O que é enucleação1 ocular?

A enucleação1 ocular é a remoção do globo ocular2, que se torna necessária como o único tratamento possível de algumas condições clínicas.

Inúmeras doenças locais ou sistêmicas, se não tratadas adequadamente, implicam numa diminuição da acuidade visual3 ou mesmo na perda total da visão4, sem, contudo, necessidade de remoção do globo ocular2. É o caso, por exemplo, do glaucoma5 e do diabetes6.

Mas há doenças ou condições que afetam estruturalmente o globo ocular2 de uma maneira irrecuperável e que, como condição necessária para o tratamento, precisam que ele seja removido como, por exemplo, um grande trauma ou um tumor7 do interior do olho8, como o melanoma9 ocular.

Por que fazer uma enucleação1 ocular?

A enucleação1 ocular é uma cirurgia muito agressiva, tanto física quanto psiquicamente, e só deve ser feita em situações extremas e drásticas, para tratar condições que não admitam outras soluções.

A enucleação1 é recomendada principalmente para tratar grandes lesões10 que não permitem a reconstrução do globo ocular2, como um trauma ocular irrecuperável e inflamação11 grave, por exemplo. Outra situação que requer a enucleação1 se dá naquelas situações em que houve perda completa da visão4 e que é seguida por fortes dores crônicas nos olhos12. Há também os casos de certos tumores intraoculares (retinoblastomas e melanomas, principalmente) que não admitem nenhum outro tipo de tratamento. Quando os tumores são muito grandes e não há perspectiva de visão4 útil, a enucleação1 é realizada para evitar a disseminação local e/ou distante dos tumores.

Na oftalmia simpática, uma inflamação11 de ambos os olhos12, resultante de trauma maciço em um deles, a única maneira de poupar o olho8 não ferido é remover o olho8 ferido. Nesse caso, geralmente após um trauma ocular grave em um dos olhos12, o organismo passa a “atacar” o olho8 bom por não conseguir distinguir qual foi o olho8 traumatizado. A remoção também pode ser feita por questões estéticas, em casos em que o paciente perde a visão4 e tem a sua aparência muito comprometida.

Uma cirurgia mais simples, mas nem sempre recomendável, é a evisceração do olho8. Nela, todo o conteúdo do globo ocular2 é extraído, preservando-se apenas as camadas externas do olho8. A vantagem da evisceração é que há a possibilidade de a prótese13 ser colocada em uma nova cirurgia sem a perda da estrutura estética do olho8, mantendo-se os músculos14, a esclera15 e a conjuntiva16, conservando-se assim o aspecto estético e preservando as camadas externas do globo ocular2. Embora seja uma cirurgia mais fácil, não apresenta vantagens práticas sobre a enucleação1 e, em caso de tumor7, não há garantia de que todas as células17 malignas tenham sido retiradas.

Leia sobre "Degeneração macular18", "Acromatopsia ou 'cegueira de cores'" e "Enoftalmia e exoftalmia".

Como se processa a enucleação1 ocular?

Os oftalmologistas só executam enucleações como último recurso, quando a situação a ser tratada ou administrada não permite nenhuma outra solução. A cirurgia de enucleação1 ocular é feita com anestesia19 geral. O cirurgião dissecará os tecidos orbitais, incluindo os músculos14 oculares, longe do olho8. O nervo óptico é cortado a aproximadamente um centímetro da parte de trás do olho8.

Logo que o olho8 é extraído, um implante20 orbital feito de hidroxiapatita (uma substância semelhante a osso) ou borracha de silicone preenche o espaço na órbita com os tecidos orbitais moles do paciente que o cobrem. A fim de permitir algum movimento do olho8 artificial, o cirurgião liga os músculos14 do olho8 ao implante20.

A cirurgia de remoção do globo ocular2 é um procedimento considerado muito agressivo. Por isso, o paciente que se submete a ela deve seguir à risca as instruções médicas do pós-operatório:

  • o repouso deve ser absoluto, principalmente nos primeiros dias;
  • os horários dos medicamentos prescritos devem ser rigorosamente observados;
  • toda atividade física extenuante é proibida durante os primeiros meses;
  • a região operada não deve ser tocada em nenhuma hipótese, principalmente se estiver coçando;
  • manter mais assiduamente os hábitos de higiene para evitar infecções21 após a cirurgia.

As atividades cotidianas e de trabalho só devem ser retomadas depois de 30 dias após a cirurgia. O sangramento, inflamação11 ou demais imprevistos devem ser imediatamente comunicados ao médico.

As próteses definitivas não podem ser colocadas logo após a cirurgia. É preciso aguardar um tempo para que o processo de cicatrização esteja avançado, a fim de evitar infecções21, reações inflamatórias e deiscência22 de sutura23. Algumas semanas após a cirurgia de enucleação1, já é possível colocar no lugar do olho8 retirado um implante20 que visa, esteticamente, substituir o olho8 retirado, o qual durará por toda a vida.

Em geral, esse implante20 segue exatamente as características do olho8 retirado (dimensões, forma, cores, etc.) e é ligado aos músculos14 que moviam o olho8, de modo a moverem a prótese13 da mesma maneira que o olho8 normal. O resultado é esteticamente bem satisfatório. Uma vez que o implante20 esteja corretamente colocado no lugar, é difícil dizer que não é real.

Veja também sobre "Proptose ocular", "Endoftalmite - uma urgência24 médica", "Fundo de olho25 ou fundoscopia" e "Retinografia26".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica e do Centro Especializado Oftalmológico Queiroz.

ABCMED, 2022. Enucleação ocular. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/exames-e-procedimentos/1408605/enucleacao-ocular.htm>. Acesso em: 19 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Enucleação: Retirada de núcleo ou de caroço.
2 Globo ocular: O globo ocular recebe este nome por ter a forma de um globo, que por sua vez fica acondicionado dentro de uma cavidade óssea e protegido pelas pálpebras. Ele possui em seu exterior seis músculos, que são responsáveis pelos movimentos oculares, e por três camadas concêntricas aderidas entre si com a função de visão, nutrição e proteção. A camada externa (protetora) é constituída pela córnea e a esclera. A camada média (vascular) é formada pela íris, a coroide e o corpo ciliar. A camada interna (nervosa) é constituída pela retina.
3 Acuidade visual: Grau de aptidão do olho para discriminar os detalhes espaciais, ou seja, a capacidade de perceber a forma e o contorno dos objetos.
4 Visão: 1. Ato ou efeito de ver. 2. Percepção do mundo exterior pelos órgãos da vista; sentido da vista. 3. Algo visto, percebido. 4. Imagem ou representação que aparece aos olhos ou ao espírito, causada por delírio, ilusão, sonho; fantasma, visagem. 5. No sentido figurado, concepção ou representação, em espírito, de situações, questões etc.; interpretação, ponto de vista. 6. Percepção de fatos futuros ou distantes, como profecia ou advertência divina.
5 Glaucoma: É quando há aumento da pressão intra-ocular e danos ao nervo óptico decorrentes desse aumento de pressão. Esses danos se expressam no exame de fundo de olho e por alterações no campo de visão.
6 Diabetes: Nome que designa um grupo de doenças caracterizadas por diurese excessiva. A mais frequente é o Diabetes mellitus, ainda que existam outras variantes (Diabetes insipidus) de doença nas quais o transtorno primário é a incapacidade dos rins de concentrar a urina.
7 Tumor: Termo que literalmente significa massa ou formação de tecido. É utilizado em geral para referir-se a uma formação neoplásica.
8 Olho: s. m. (fr. oeil; ing. eye). Órgão da visão, constituído pelo globo ocular (V. este termo) e pelos diversos meios que este encerra. Está situado na órbita e ligado ao cérebro pelo nervo óptico. V. ocular, oftalm-. Sinônimos: Olhos
9 Melanoma: Neoplasia maligna que deriva dos melanócitos (as células responsáveis pela produção do principal pigmento cutâneo). Mais freqüente em pessoas de pele clara e exposta ao sol.Podem derivar de manchas prévias que mudam de cor ou sangram por traumatismos mínimos, ou instalar-se em pele previamente sã.
10 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
11 Inflamação: Conjunto de processos que se desenvolvem em um tecido em resposta a uma agressão externa. Incluem fenômenos vasculares como vasodilatação, edema, desencadeamento da resposta imunológica, ativação do sistema de coagulação, etc.Quando se produz em um tecido superficial (pele, tecido celular subcutâneo) pode apresentar tumefação, aumento da temperatura local, coloração avermelhada e dor (tétrade de Celso, o cientista que primeiro descreveu as características clínicas da inflamação).
12 Olhos:
13 Prótese: Elemento artificial implantado para substituir a função de um órgão alterado. Existem próteses de quadril, de rótula, próteses dentárias, etc.
14 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
15 Esclera: Túnica fibrosa, branca e opaca, mais externa do globo ocular, revestindo-o inteiramente com exceção do segmento revestido anteriormente pela córnea. É essencialmente avascular, porém contém aberturas para a passagem de vasos sanguíneos, linfáticos e nervos. Recebe os tendões de inserção dos músculos extraoculares e no nível da junção esclerocorneal contém o seio venoso da esclera. Sinônimos: Esclerótica
16 Conjuntiva: Membrana mucosa que reveste a superfície posterior das pálpebras e a superfície pericorneal anterior do globo ocular.
17 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
18 Degeneração macular: A degeneração macular destrói gradualmente a visão central, afetando a mácula, parte do olho que permite enxergar detalhes finos necessários para realizar tarefas diárias tais como ler e dirigir. Existem duas formas - úmida e seca. Na forma úmida, há crescimento anormal de vasos sanguíneos no fundo do olho, podendo extravasar fluidos que prejudicam a visão central. Na forma seca, que é a mais comum e menos grave, há acúmulo de resíduos do metabolismo celular da retina, aliado a graus variáveis de atrofia do tecido retiniano, causando uma perda visual central, de progressão lenta, podendo dificultar a realização de algumas atividades como ler e escrever ou a identificação de traços de fisionomia.
19 Anestesia: Diminuição parcial ou total da sensibilidade dolorosa. Pode ser induzida por diferentes medicamentos ou ser parte de uma doença neurológica.
20 Implante: 1. Em cirurgia e odontologia é o material retirado do próprio indivíduo, de outrem ou artificialmente elaborado que é inserido ou enxertado em uma estrutura orgânica, de modo a fazer parte integrante dela. 2. Na medicina, é qualquer material natural ou artificial inserido ou enxertado no organismo. 3. Em patologia, é uma célula ou fragmento de tecido, especialmente de tumores, que migra para outro local do organismo, com subsequente crescimento.
21 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
22 Deiscência: 1. Em medicina, é uma abertura espontânea de suturas cirúrgicas. Pode ocorrer na pele e em outras regiões do corpo. 2. Em botânica, é o fenômeno em que um órgão vegetal (fruto, esporângio, antera etc.) abre-se naturalmente ao alcançar a maturação.
23 Sutura: 1. Ato ou efeito de suturar. 2. Costura que une ou junta partes de um objeto. 3. Na anatomia geral, é um tipo de articulação fibrosa, em que os ossos são mantidos juntos por várias camadas de tecido conjuntivo denso; comissura (ocorre apenas entre os ossos do crânio). 4. Na anatomia botânica, é uma linha de espessura variável que se forma na região de fusão dos bordos de um carpelo (ou de dois ou mais carpelos concrescentes). 5. Em cirurgia, ato ou efeito de unir os bordos de um corte, uma ferida, uma incisão, com agulha e linha especial, para promover a cicatrização. 6. Na morfologia zoológica, nos insetos, qualquer sulco externo semelhante a uma linha.
24 Urgência: 1. Necessidade que requer solução imediata; pressa. 2. Situação crítica ou muito grave que tem prioridade sobre outras; emergência.
25 Fundo de olho: Fundoscopia, oftalmoscopia ou exame de fundo de olho é o exame em que se visualizam as estruturas do segmento posterior do olho (cabeça do nervo óptico, retina, vasos retinianos e coroide), dando atenção especialmente a região central da retina, denominada mácula. O principal aparelho utilizado pelo clínico para realização do exame de fundo de olho é o oftalmoscópio direto. O oftalmologista usa o oftalmoscópio indireto e a lâmpada de fenda.
26 Retinografia: É uma fotografia da retina ou do nervo óptico que é feita com auxílio do retinógrafo. As principais indicações são para diagnóstico e acompanhamento das doenças vítreo retinianas, glaucoma e doenças do nervo óptico. O exame deve ser feito com a pupila dilatada e demora cerca de 5 a 10 minutos.
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