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Animais domésticos e saúde humana: entre o carinho e o perigo das zoonoses

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A relação das pessoas com animais domésticos

A relação das pessoas com animais domésticos é marcada por laços emocionais, funções práticas e impactos sociais e culturais. Animais como cães, gatos, pássaros e roedores são frequentemente tratados como membros da família, oferecendo e recebendo afeto, companhia e apoio emocional.

Nos últimos anos, cresceu significativamente a adoção de animais abandonados, impulsionada por campanhas em redes sociais e ONGs. Estima-se que, no Brasil, cerca de 44% dos lares possuam pelo menos um cão ou gato. Os animais domésticos ajudam a reduzir o estresse, a ansiedade e a solidão, especialmente entre idosos, crianças e pessoas em isolamento. Estudos mostram que a interação com pets pode aumentar os níveis de ocitocina1, o “hormônio do bem-estar”.

Do ponto de vista prático, cães de serviço auxiliam pessoas com deficiências, como cães-guia para cegos, e também atuam em segurança (vigilância, detecção de drogas) e em resgates. Gatos podem contribuir para o controle de roedores em áreas rurais e urbanas. Outros animais, como coelhos, hamsters e peixes, são comuns como pets de baixa manutenção, desempenhando, em alguns casos, função ornamental.

É cada vez mais comum a “humanização” do tratamento dos animais, com cuidados como roupas, acessórios, dietas especiais e até festas de aniversário. Muitos possuem perfis em redes sociais, com conteúdo dedicado e viral. O mercado pet, que inclui rações, brinquedos, serviços, hotéis, planos de saúde2 e até cemitérios e planos funerários, está em expansão. No Brasil, o setor movimentou cerca de R$ 40 bilhões em 2023.

O bem-estar animal requer cuidados veterinários, alimentação e higiene adequadas, além de atenção ao comportamento. As leis brasileiras contra maus-tratos tornaram-se mais rigorosas: abandonar ou maltratar animais pode resultar em multas e prisão.

Há, contudo, grande diversidade cultural na forma de lidar com animais domésticos. Em países ocidentais, eles são frequentemente considerados membros da família, enquanto em áreas rurais podem ter função predominantemente utilitária. Em regiões do Polo Ártico, cães são usados para puxar trenós; no Japão, gatos são associados à sorte; no Tibete, micos são vistos como quase sagrados.

Em algumas regiões, promove-se a esterilização de animais de rua como medida de controle populacional, embora nem sempre essa prática seja efetivamente implementada.

Apesar de toda a afeição e cuidados, é importante lembrar que animais domésticos podem transmitir doenças (zoonoses3), exigindo atenção e medidas preventivas.

Leia sobre "Como evitar os vermes", "Ascaridíase", "Oxiuríase" e "Ancilostomose".

Doenças transmitidas por animais domésticos

O convívio com animais exige atenção às doenças transmissíveis entre animais e humanos. As zoonoses3 podem ocorrer mesmo quando o animal aparenta boa saúde2. Por exemplo, cães e gatos podem carregar detritos contaminados sob as unhas4, hospedar pulgas ou piolhos entre os pelos e transmitir microrganismos por arranhaduras ou mordidas.

Confira as principais zoonoses3 associadas a animais domésticos:

  • Raiva5 – transmitida pela mordida de cães, gatos ou outros mamíferos infectados pelo vírus6.
  • Toxoplasmose7 – contraída pelo contato com fezes de gatos infectados ou pelo consumo de água e alimentos contaminados.
  • Leptospirose – transmitida pelo contato com urina8 de cães, roedores ou outros animais infectados, especialmente em água contaminada.
  • Dermatofitose (micose9) – transmitida pelo contato direto com pele10 ou pelos de animais infectados por fungos.
  • Giardíase – causada pelo protozoário11 Giardia duodenalis, com transmissão fecal-oral por contato com fezes de cães e gatos infectados e água/alimentos contaminados.
  • Psitacose – causada pela bactéria12 Chlamydia psittaci, transmitida pela inalação de poeira de fezes ou secreções de aves infectadas (papagaios, periquitos, pombos).
  • Bartonelose (doença da arranhadura do gato) – transmitida por arranhaduras ou mordidas de gatos infectados por Bartonella henselae.
  • Sarna13 (sarcoptose) – transmitida pelo contato direto com animais infectados pelo ácaro Sarcoptes scabiei.
  • Esporotricose – causada pelo fungo14 Sporothrix spp. (especialmente S. brasiliensis), transmitida principalmente por arranhaduras, mordidas ou pelo contato de feridas com secreções/lesões15 de gatos infectados; também pode ocorrer por contato com solo ou material vegetal contaminado.
  • Parasitoses intestinais – transmitidas pelo contato com fezes de animais infectados por parasitas como Toxocara spp. (lombrigas) e Ancylostoma spp. (ancilostomíase).

Medidas gerais de prevenção

A prevenção de zoonoses3 é fundamental para a saúde2 pública, pois reduz o risco de surtos e protege contra doenças graves. As principais medidas incluem:

  1. Manter a higiene pessoal e dos animais.
  2. Vacinar e administrar vermífugos regularmente.
  3. Realizar check-ups veterinários periódicos.
  4. Evitar contato com animais desconhecidos ou doentes.
  5. Lavar as mãos16 após contato com animais ou manipulação de fezes.
  6. Proteger-se e proteger os animais contra picadas de insetos.
  7. Cozinhar bem carnes e outros alimentos de origem animal.
  8. Evitar contato com fezes de animais em áreas de recreação infantil.
  9. Impedir o contato dos pets com animais de procedência desconhecida.
  10. Usar luvas ao limpar caixas de areia
  11. Higienizar bem frutas, verduras e utensílios.
  12. Evitar contato com lesões15 de animais doentes durante tratamento veterinário.
  13. Limpar adequadamente gaiolas e ambientes
  14. Adquirir animais apenas de fontes confiáveis.
  15. Evitar brincadeiras agressivas e, em caso de mordidas ou arranhões, lavar a região com água e sabão abundantemente.
Veja também sobre "Os perigos das enchentes para a saúde2" e "Tratamento da toxoplasmose7".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo e da APM - Associação Paulista de Medicina.

ABCMED, 2025. Animais domésticos e saúde humana: entre o carinho e o perigo das zoonoses. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/vida-saudavel/1493760/animais-domesticos-e-saude-humana-entre-o-carinho-e-o-perigo-das-zoonoses.htm>. Acesso em: 3 set. 2025.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Ocitocina: Hormônio produzido pelo hipotálamo e armazenado na hipófise posterior (neuro-hipófise). Tem a função de promover as contrações uterinas durante o parto e a ejeção do leite durante a amamentação.
2 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
3 Zoonoses: 1. Doenças que se manifestam sobretudo em animais. 2. Doenças que podem ser transmitidas aos seres humanos pelos animais, como, por exemplo, a raiva e a toxoplasmose. Certas zoonoses podem ser transmitidas ao animal pelo homem.
4 Unhas: São anexos cutâneos formados por células corneificadas (queratina) que formam lâminas de consistência endurecida. Esta consistência dura, confere proteção à extremidade dos dedos das mãos e dos pés. As unhas têm também função estética. Apresentam crescimento contínuo e recebem estímulos hormonais e nutricionais diversos.
5 Raiva: 1. Doença infecciosa freqüentemente mortal, transmitida ao homem através da mordida de animais domésticos e selvagens infectados e que produz uma paralisia progressiva juntamente com um aumento de sensibilidade perante estímulos visuais ou sonoros mínimos. 2. Fúria, ódio.
6 Vírus: Pequeno microorganismo capaz de infectar uma célula de um organismo superior e replicar-se utilizando os elementos celulares do hospedeiro. São capazes de causar múltiplas doenças, desde um resfriado comum até a AIDS.
7 Toxoplasmose: Infecção produzida por um parasita unicelular denominado Toxoplasma gondii. Este parasita cumpre um primeiro ciclo no interior do tubo digestivo de certos animais domésticos como o gato. A infecção é produzida ao ingerir alimentos contaminados e pode ocasionar graves transtornos durante a gestação e em pessoas imunossuprimidas.
8 Urina: Resíduo líquido produzido pela filtração renal no organismo, estocado na bexiga e expelido pelo ato de urinar.
9 Micose: Infecção produzida por fungos. Pode ser superficial, quando afeta apenas pele, mucosas e seus anexos, ou profunda, quando acomete órgãos profundos como pulmões, intestinos, etc.
10 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
11 Protozoário: Filo do reino animal, de classificação suplantada, que reunia uma grande parcela dos seres unicelulares que possuem organelas celulares envolvidas por membrana. Atualmente, este grupo consiste em muitos e diferentes filos unicelulares incorporados pelo reino protista.
12 Bactéria: Organismo unicelular, capaz de auto-reproduzir-se. Existem diferentes tipos de bactérias, classificadas segundo suas características de crescimento (aeróbicas ou anaeróbicas, etc.), sua capacidade de absorver corantes especiais (Gram positivas, Gram negativas), segundo sua forma (bacilos, cocos, espiroquetas, etc.). Algumas produzem infecções no ser humano, que podem ser bastante graves.
13 Sarna: Doença produzida por um parasita chamado Sarcoptes scabiei. Infesta a superfície da pele produzindo coceira e vesículas branco peroladas juntamente com lesões por coçadura. Localiza-se mais freqüentemente nas pregas interdigitais, inguinais e submamárias. É contagiosa, passando de pessoa para pessoa por contato íntimo, e por isto muito freqüente em aglomerações humanas (asilos, creches, abrigos). Nestes casos toda a população deve ser tratada ao mesmo tempo.
14 Fungo: Microorganismo muito simples de distribuição universal que pode colonizar uma superfície corporal e, em certas ocasiões, produzir doenças no ser humano. Como exemplos de fungos temos a Candida albicans, que pode produzir infecções superficiais e profundas, os fungos do grupo dos dermatófitos que causam lesões de pele e unhas, o Aspergillus flavus, que coloniza em alimentos como o amendoim e secreta uma toxina cancerígena, entre outros.
15 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
16 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
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