Raiva: você sabe como é? Tem cura? Como evitar?
O que é raiva1?
A raiva1, também chamada hidrofobia, é uma doença infecciosa que pode afetar todos os mamíferos. Ela é causada por um vírus2 da família Rhabdoviridae, gênero Lyssavirus, que se instala nos nervos periféricos e depois no sistema nervoso central3 (cérebro4, medula5 e cerebelo6) e dali se encaminha para as glândulas salivares7, de onde se propaga.
A raiva1 é uma zoonose8, é a doença infecciosa mais grave que se conhece. A cada ano morrem no mundo cerca de 70.000 pessoas afetadas por tal patologia9.
O cão e o gato, em virtude de suas proximidades com o homem, são os principais transmissores para os humanos, mas a transmissão pode dar-se também por meio de outros animais de sangue10 quente, como morcegos, macacos, furão, raposas, coiotes, guaxinins e gambás, por exemplo. Os animais também podem transmitir o vírus2 entre si.
Em praticamente todos os casos, a raiva1 é uma doença fatal, tanto em homens quanto em animais, sendo raríssimos os relatos de cura. Até hoje se sabe apenas de dois casos de cura em humanos: um nos Estados Unidos, outro no Brasil, em Pernambuco.
Quais são as causas da raiva1?
A transmissão da raiva1 dá-se de um animal infectado para outro ou para o homem, através do contato com a saliva por mordedura, arranhões, lambida em feridas abertas ou mucosas11. Outros casos de transmissão registrados entre animais são a via inalatória, através da placenta e pelo aleitamento. Entre humanos, a única via de transmissão conhecida até hoje é o transplante de córnea12.
Nos ambientes urbanos, a raiva1 humana tem como principal agente o cão, seguido pelo gato. Não existem relatos de casos de raiva1 humana transmitidos por pequenos roedores, como esquilos, ratos, coelhos, porquinhos-da-índia e hamsters. Mamíferos não carnívoros, como porcos, vacas, cabras, etc, raramente estão associados a casos de raiva1.
Os morcegos constituem um caso especial de transmissão, porque eles geralmente estão contaminados. Assim, diante da possibilidade ou certeza de ter sido mordida, a pessoa deve assumir o evento como positivo (a mordida do morcego muitas vezes pode não ser sentida, se o indivíduo estiver dormindo, por exemplo) e tomar as providências pertinentes.
Animais não mamíferos como lagartos, peixes e pássaros nunca transmitem raiva1.
Quais são os sinais13 e sintomas14 da raiva1?
O tempo de incubação15 da doença (entre a mordida e o aparecimento dos sintomas14) é variável, desde dias até anos. Há uma média de 45 dias no homem e de 10 dias a 2 meses no cão.
Quanto mais longe do cérebro4 forem as mordidas (nas pernas, por exemplo), mais os sintomas14 demorarão a aparecer, porque eles decorrem da encefalite16 (inflamação17 do encéfalo18) resultante da instalação e multiplicação do vírus2 no sistema nervoso central3, depois que ele tenha migrado através dos nervos periféricos.
Em geral, são: confusão mental; desorientação; agressividade; alucinações19; convulsões; dificuldade de deglutição20; paralisia21 motora; espasmos22; salivação excessiva.
Como o médico diagnostica a raiva1?
Nem sempre é fácil estabelecer um diagnóstico23 de certeza da raiva1, porque a doença guarda grande similaridade com outros quadros patogênicos que também afetam o sistema nervoso24.
No exame em humanos é comumente usado a imunofluorescência direta da córnea12, mucosa25 da língua26, folículo piloso27 ou a biópsia28 de pele29 da região cervical (embora o resultado, quando negativo, não seja conclusivo). Para fins de notificação e prevenção é de extrema importância fazer-se a necropsia30 confirmatória. A comprovação do diagnóstico23 se dá pelo exame microscópico31 de tecidos nervosos e a comprovação biológica pela inoculação32 em camundongos.
Como é o tratamento da raiva1?
A raiva1 não tem tratamento específico, mas deve-se fazer uma adequada terapia de suporte: alimentação por soro33 ou por sonda nasogástrica34; hidratação; controle dos distúrbios eletrolíticos, da febre35 e do vômito36; uso de betabloqueadores para aliviar a hiperatividade simpática, entre outros.
O tratamento é baseado na indução do coma37 profundo, uso de antivirais e outros medicamentos.
O paciente humano deve ser mantido em isolamento, em um local com baixa luminosidade e incidência38 de ruídos. As pessoas envolvidas no tratamento devem usar equipamentos de proteção individual.
Como evolui a raiva1?
Uma vez iniciados os sintomas14 neurológicos, o paciente evolui para o óbito39 em 99,99% dos casos. O coma37 e a morte ocorrem, em média, dez dias a duas semanas após o início dos sintomas14.
Como prevenir a raiva1?
- Pessoas que se expuseram a animais suspeitos de raiva1 devem receber o esquema profilático, assim como indivíduos que, em função de suas profissões, se mantêm constantemente expostos.
- Vacinar anualmente cães e gatos.
- Não se aproximar de cães e gatos sem donos, não mexer ou tocar quando os mesmos estiverem se alimentando ou dormindo.
- Nunca tocar em morcegos ou outros animais silvestres diretamente, principalmente quando estiverem caídos no chão ou encontrados em situações não habituais.
- Uma vez que tenha sido mordido, é importante tentar capturar o animal e observá-lo por dez dias. Se ele continuar sadio nesse período, é seguro que não esteja contaminado pela raiva1. Caso não seja possível capturar o animal ou se não se puder observá-lo neste período, deve-se agir como se ele estivesse doente e fazer o tratamento profilático. Essa profilaxia após a mordida por animais suspeitos deve ser iniciada o mais rápido possível.
Outras informações:
Existem vários esquemas que envolvem vacinas e imunoglobulinas40 (anticorpos41). Dependendo da gravidade da lesão42, o esquema terapêutico pode incluir até dez dias seguidos de vacinações diárias mais a administração de imunoglobulina43.
Se sua vacinação contra o tétano44 não estiver em dia, é importante vacinar também contra esta doença (caso a última vacina45 tenha sido tomada há mais de 10 anos).
Todo caso humano suspeito de raiva1 é de notificação individual, compulsória e imediata aos níveis municipal, estadual e federal.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.