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Verme da Guiné ou dracunculíase: como ocorre, como diagnosticar e como tratar

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O que é dracunculíase?

A dracunculíase, também conhecida como doença do verme da Guiné, é uma doença parasitária em vias de erradicação, caracterizada por uma infecção1 debilitante causada pelo nematoide Dracunculus medinensis, que pode atingir até um metro de comprimento. Esta doença, que já foi endêmica em diversas regiões da África e da Ásia, é hoje extremamente rara devido a esforços globais de erradicação.

Caracterizada pela emergência2 dolorosa de vermes adultos através da pele3, a dracunculíase é uma condição evitável. Historicamente, afetou milhões de pessoas em áreas rurais de países tropicais, no entanto, campanhas de saúde4 pública reduziram drasticamente sua incidência5 e a doença está próxima da erradicação global, com apenas algumas dezenas de casos anuais nos últimos anos.

Quais são as causas da dracunculíase?

A doença é causada pela ingestão de copépodes (pequenos crustáceos aquáticos) infectados com larvas do Dracunculus medinensis. A transmissão ocorre exclusivamente pelo consumo de água contaminada contendo esses copépodes, que proliferam em poços, lagoas e outras águas estagnadas. No sistema digestivo6 humano, os copépodes morrem e liberam as larvas, que penetram a mucosa intestinal7 e migram para tecidos subcutâneos, onde se desenvolvem por aproximadamente um ano.

A transmissão está diretamente associada à falta de acesso a água potável e saneamento, sendo mais comum em comunidades rurais pobres.

Qual é o substrato fisiopatológico da dracunculíase?

O ciclo de vida do Dracunculus medinensis inicia-se com a ingestão de água contaminada por copépodes infectados. No estômago8, o ácido gástrico9 destrói os copépodes, liberando as larvas infectantes, que atravessam a parede intestinal e migram para tecidos subcutâneos, geralmente nas extremidades inferiores.

Durante 10 a 14 meses, essas larvas amadurecem até se tornarem vermes adultos, sendo que as fêmeas, que podem atingir 1 metro, migram para a pele3 e formam uma bolha10 dolorosa. Ao entrar em contato com água, a bolha10 se rompe e libera milhares de larvas, que infectam novos copépodes e reiniciam o ciclo.

A reação inflamatória local desencadeada pelo verme e pela ruptura da bolha10 explica os sintomas11 dolorosos da doença.

Quais são as características clínicas da dracunculíase?

Os sintomas11 surgem cerca de um ano após a infecção1, quando o verme adulto se aproxima da superfície da pele3. Inicialmente, podem ocorrer febre12, náuseas13, vômitos14 e diarreia15. Em seguida, surge uma bolha10 dolorosa, geralmente nas pernas ou nos pés, acompanhada de sensação de queimação intensa. Essa bolha10 pode evoluir para uma úlcera16 pela qual o verme emerge lentamente ao longo de semanas. A dor piora quando a área entra em contato com água, pois isso estimula a liberação de larvas pelo verme.

Saiba mais sobre "Larva migrans", "Ascaridíase", "Oxiuríase", "Ancilostomíase" e "Difilobotríase ou tênia do peixe".

Como o médico diagnostica a dracunculíase?

O diagnóstico17 é clínico e baseia-se na história do paciente e no exame físico. A presença de uma bolha10 ou úlcera16 dolorosa com visualização do verme emergindo é altamente sugestiva. A história de consumo de água não tratada em áreas endêmicas reforça a suspeita. Exames de imagem, como ultrassonografia18, podem eventualmente auxiliar na identificação do verme antes de sua emergência2, mas não são rotineiros. Em alguns casos, a confirmação pode ocorrer pela identificação de larvas na água onde o paciente mergulhou a lesão19.

Como prevenir a dracunculíase?

A prevenção é centrada na interrupção da transmissão do parasita20. As medidas mais importantes incluem:

  • garantir acesso à água limpa tratada com filtros ou produtos químicos;
  • orientar comunidades a evitar consumo de água estagnada;
  • promover o uso de filtros de pano capazes de reter copépodes;
  • impedir que pessoas com vermes emergentes entrem em fontes de água;
  • e utilizar larvicidas em poços e lagoas contaminados.

Campanhas globais lideradas pela Organização Mundial da Saúde4 (OMS) e pelo Carter Center têm sido essenciais na redução da incidência5.

Como o médico trata a dracunculíase?

Não existe tratamento medicamentoso específico capaz de eliminar o Dracunculus medinensis, pois o parasita20 não responde a antiparasitários usuais. O manejo consiste na extração lenta e manual do verme, enrolando-o gradualmente em um bastão ou gaze para evitar sua ruptura, que pode provocar complicações.

Analgésicos21 auxiliam no controle da dor e antibióticos tópicos ou sistêmicos22 podem ser necessários para prevenir infecções23 secundárias. A imersão da lesão19 em água fria pode facilitar a mobilização do verme, tornando sua remoção mais segura. A extração completa pode levar semanas e exige cuidados rigorosos.

Como evolui a dracunculíase?

A doença é autolimitada, mas altamente debilitante durante o período de emergência2 do verme. Após a remoção completa, a recuperação costuma ocorrer em algumas semanas. A dor e a limitação funcional podem impactar substancialmente a qualidade de vida, especialmente em locais com pouco acesso a cuidados médicos.

A dracunculíase não confere imunidade24, tornando reinfecções possíveis quando a pessoa segue exposta à água contaminada. Atualmente, a maioria dos casos ocorre em áreas remotas do Chade, Sudão do Sul e Etiópia.

Quais são as complicações da dracunculíase?

Embora raramente fatal, a doença pode apresentar complicações, sobretudo quando o verme se rompe durante a extração. Infecções23 secundárias, como celulite25 ou abscessos26, são comuns e podem evoluir para sepse27 em casos graves. Reações inflamatórias intensas podem surgir após a ruptura do parasita20, levando a dor persistente e formação de abscessos26.

A limitação da mobilidade pode comprometer atividades diárias, especialmente em comunidades rurais. Em situações raras, o verme pode invadir articulações28, resultando em artrite29 séptica.

Veja também sobre "Parasitoses", "Doença de Chagas30" e "Malária".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites do MSD Manuals e do Hospital Israelita Albert Einstein.

ABCMED, 2025. Verme da Guiné ou dracunculíase: como ocorre, como diagnosticar e como tratar. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1497555/verme-da-guine-ou-dracunculiase-como-ocorre-como-diagnosticar-e-como-tratar.htm>. Acesso em: 27 nov. 2025.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
2 Emergência: 1. Ato ou efeito de emergir. 2. Situação grave, perigosa, momento crítico ou fortuito. 3. Setor de uma instituição hospitalar onde são atendidos pacientes que requerem tratamento imediato; pronto-socorro. 4. Eclosão. 5. Qualquer excrescência especializada ou parcial em um ramo ou outro órgão, formada por tecido epidérmico (ou da camada cortical) e um ou mais estratos de tecido subepidérmico, e que pode originar nectários, acúleos, etc. ou não se desenvolver em um órgão definido.
3 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
4 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
5 Incidência: Medida da freqüência em que uma doença ocorre. Número de casos novos de uma doença em um certo grupo de pessoas por um certo período de tempo.
6 Sistema digestivo: O sistema digestivo ou digestório realiza a digestão, processo que transforma os alimentos em substâncias passíveis de serem absorvidas pelo organismo. Os materiais não absorvidos são eliminados por este sistema. Ele é composto pelo tubo digestivo e por glândulas anexas.
7 Mucosa Intestinal: Revestimento dos INTESTINOS, consistindo em um EPITÉLIO interior, uma LÂMINA PRÓPRIA média, e uma MUSCULARIS MUCOSAE exterior. No INTESTINO DELGADO, a mucosa é caracterizada por várias dobras e muitas células absortivas (ENTERÓCITOS) com MICROVILOSIDADES.
8 Estômago: Órgão da digestão, localizado no quadrante superior esquerdo do abdome, entre o final do ESÔFAGO e o início do DUODENO.
9 Ácido Gástrico: Ácido clorídrico presente no SUCO GÁSTRICO.
10 Bolha: 1. Erupção cutânea globosa entre as camadas superficiais da epiderme, cheia de serosidade, líquido claro, pus ou sangue, causada por inflamação, queimadura, atrito, efeito de certas enfermidades, etc. Deve ter mais de 0,5 cm. Quando tem um tamanho menor devem ser chamadas de “vesículasâ€. 2. Bola ou glóbulo cheio de gás, ar ou vapor que se forma (ou se formou) em alguma substância líquida ou pastosa, especialmente ao ser agitada ou por ebulição ou fermentação. 3. Saliência oca em uma superfície.
11 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
12 Febre: É a elevação da temperatura do corpo acima dos valores normais para o indivíduo. São aceitos como valores de referência indicativos de febre: temperatura axilar ou oral acima de 37,5°C e temperatura retal acima de 38°C. A febre é uma reação do corpo contra patógenos.
13 Náuseas: Vontade de vomitar. Forma parte do mecanismo complexo do vômito e pode ser acompanhada de sudorese, sialorréia (salivação excessiva), vertigem, etc .
14 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
15 Diarréia: Aumento do volume, freqüência ou quantidade de líquido nas evacuações.Deve ser a manifestação mais freqüente de alteração da absorção ou transporte intestinal de substâncias, alterações estas que em geral são devidas a uma infecção bacteriana ou viral, a toxinas alimentares, etc.
16 Úlcera: Ferida superficial em tecido cutâneo ou mucoso que pode ocorrer em diversas partes do organismo. Uma afta é, por exemplo, uma úlcera na boca. A úlcera péptica ocorre no estômago ou no duodeno (mais freqüente). Pessoas que sofrem de estresse são mais susceptíveis a úlcera.
17 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
18 Ultrassonografia: Ultrassonografia ou ecografia é um exame complementar que usa o eco produzido pelo som para observar em tempo real as reflexões produzidas pelas estruturas internas do organismo (órgãos internos). Os aparelhos de ultrassonografia utilizam uma frequência variada, indo de 2 até 14 MHz, emitindo através de uma fonte de cristal que fica em contato com a pele e recebendo os ecos gerados, os quais são interpretados através de computação gráfica.
19 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
20 Parasita: Organismo uni ou multicelular que vive às custas de outro, denominado hospedeiro. A presença de parasitos em um hospedeiro pode produzir diferentes doenças dependendo do tipo de afecção produzida, do estado geral de saúde do hospedeiro, de mecanismos imunológicos envolvidos, etc. São exemplos de parasitas: a sarna, os piolhos, os áscaris (lombrigas), as tênias (solitárias), etc.
21 Analgésicos: Grupo de medicamentos usados para aliviar a dor. As drogas analgésicas incluem os antiinflamatórios não-esteróides (AINE), tais como os salicilatos, drogas narcóticas como a morfina e drogas sintéticas com propriedades narcóticas, como o tramadol.
22 Sistêmicos: 1. Relativo a sistema ou a sistemática. 2. Relativo à visão conspectiva, estrutural de um sistema; que se refere ou segue um sistema em seu conjunto. 3. Disposto de modo ordenado, metódico, coerente. 4. Em medicina, é o que envolve o organismo como um todo ou em grande parte.
23 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
24 Imunidade: Capacidade que um indivíduo tem de defender-se perante uma agressão bacteriana, viral ou perante qualquer tecido anormal (tumores, enxertos, etc.).
25 Celulite: Inflamação aguda das estruturas cutâneas, incluindo o tecido adiposo subjacente, geralmente produzida por um agente infeccioso e manifestada por dor, rubor, aumento da temperatura local, febre e mal estar geral.
26 Abscessos: Acumulação de pus em uma cavidade formada acidentalmente nos tecidos orgânicos, ou mesmo em órgão cavitário, em consequência de inflamação seguida de infecção.
27 Sepse: Infecção produzida por um germe capaz de provocar uma resposta inflamatória em todo o organismo. Os sintomas associados a sepse são febre, hipotermia, taquicardia, taquipnéia e elevação na contagem de glóbulos brancos. Pode levar à morte, se não tratada a tempo e corretamente.
28 Articulações:
29 Artrite: Inflamação de uma articulação, caracterizada por dor, aumento da temperatura, dificuldade de movimentação, inchaço e vermelhidão da área afetada.
30 Doença de Chagas: Doença parasitária transmitida ao homem através da picada do Triatoma infestans (barbeiro). É endêmica em alguns países da América do Sul e associa-se a condições precárias de habitação. Produz em sua forma crônica um distúrbio cardíaco que termina por causar insuficiência cardíaca e distúrbios do ritmo cardíaco.
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