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Síndrome de Miller-Dieker

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O que é a síndrome1 de Miller-Dieker?

A síndrome1 de Miller-Dieker, também chamada de lisencefalia, é uma condição genética, autossômica2 dominante, bastante rara (1-2/100.000 nascimentos), caracterizada por um desenvolvimento cerebral anormal (cérebro3 liso, com ausência de giros e sulcos), anomalias craniofaciais congênitas4, malformações5 cardíacas, retardo do crescimento e deficiência intelectual com convulsões.

O nome da síndrome1 foi dado em homenagem aos doutores James Q. Miller e H. Dieker, que foram os primeiros a descrevê-la, na década de 1960.

Quais são as causas da síndrome1 de Miller-Dieker?

Classicamente, a síndrome1 de Miller-Dieker é causada por uma deleção (desaparecimento) de material genético no braço curto do cromossoma 17p13.3, mas recentemente têm sido imputados também outros genes.

Ela se deve à malformação6 do córtex cerebral entre a 12ª e 24ª semanas de gestação, que perde as suas circunvoluções7 e se torna liso. Além dessa vertente genética, a síndrome1 de Miller-Dieker também pode ser causada por infecções8 por vírus9 e diminuição do fluxo sanguíneo recebido pelo feto10 no início da gestação.

Qual é o substrato fisiopatológico da síndrome1 de Miller-Dieker?

Nas pessoas normais a camada mais externa do cérebro3, o córtex cerebral, é constituída por várias camadas e apresenta giros e sulcos que dão a ela sua aparência pregueada (sulcada) usual. As pessoas com a síndrome1 de Miller-Dieker têm um cérebro3 anormalmente liso, com poucos giros e sulcos, ou mesmo nenhum. Essa malformação6 cerebral causa severas incapacidades.

Dos três ao seis meses de desenvolvimento do embião, as células nervosas11 deveriam migrar da sua posição inicial para sua posição final. Os neurônios12 são criados a princípio na zona ventricular e daí migram para a zona cortical, resultando nos giros e sulcos cerebrais. Se essa migração é defeituosa ou deixa de existir, causa giros reduzidos ou ausentes.

Na síndrome1 de Miller-Dieker, esse processo de migração celular não ocorre adequadamente e o cérebro3 permanece liso, sem as suas fissuras13 naturais. No entanto, o pregueamento do córtex cerebral, formando giros e sulcos, teria sido importante para o desenvolvimento da função cerebral geral e das habilidades cognitivas. Os giros e sulcos tanto separam as diferentes regiões funcionais do cérebro3, quanto aumentam a superfície da área cortical cerebral, chamada matéria cinzenta, a parte efetivamente funcional do cérebro3.

Veja mais sobre "Ultrassonografia14 na gravidez15", "Deficiência intelectual", "Epilepsias" e "Paralisia16 cerebral infantil".

Quais são as características clínicas da síndrome1 de Miller-Dieker?

Foram identificados mais de 20 tipos de lisencefalia, mas a maioria deles, do ponto de vista da aparência morfológica, pode ser dividida em duas categorias: (1) lisencefalia tipo 1 ou lisencefalia clássica (cérebro3 liso) e (2) e lisencefalia tipo 2 ou lisencefalia em paralelepípedos (porque a imagem radiográfica sugere essa aparência).

Alguns sinais17 da condição podem ser visíveis já ao nascimento e, aos 6 meses, já é possível notar um acentuado retardo no desenvolvimento. As anomalias craniofaciais em geral são representadas na síndrome1 de Miller-Dieker por:

  • microcefalia18;
  • fronte proeminente;
  • estreitamento intertemporal;
  • pele19 enrugada sobre a glabela (espaço compreendido entre as sobrancelhas20);
  • lábio21 superior protuberante;
  • micrognatia (“queixo pequeno”);
  • fissuras13 palpebrais com inclinação inferior;
  • e narinas pequenas e antevertidas.

Outras manifestações da doença são:

  • retardo mental;
  • convulsões de difícil controle;
  • espasticidade22 muscular;
  • baixo tônus muscular23;
  • e dificuldades alimentares.

Normalmente, quanto maiores as alterações da superfície cerebral, mais severos são os sintomas24 associados à síndrome1. As crianças com a síndrome1 de Miller-Dieker têm um pronunciado retardo do desenvolvimento, porém isso pode variar grandemente de uma criança para outra, dependendo do grau de malformação6 cerebral e do grau de controle das convulsões.

Outros sintomas24 do distúrbio podem ser representados por anomalias nas mãos25 e nos dedos das mãos25 e/ou dos pés.

Como o médico diagnostica a síndrome1 de Miller-Dieker?

A partir da décima terceira semana de gestação, a ultrassonografia14 é capaz de detectar as alterações cerebrais (cérebro3 liso e córtex cerebral espessado) que fazem parte da síndrome1 de Miller-Dieker. A ressonância magnética26 pré-natal pode confirmar esses achados.

Novos exames especializados podem ser realizados ainda durante a gravidez15 em incluem análise do DNA fetal, amniocentese27 e análise das vilosidades coriônicas28. O diagnóstico29 diferencial mais importante deve ser feito com a polimicrogiria30.

Como o médico trata a síndrome1 de Miller-Dieker?

A síndrome1 de Miller-Dieker não é passível de cura. No entanto, com os cuidados apropriados, as crianças afetadas podem ter uma sobrevida31 um pouco maior e apresentar progressos no seu desenvolvimento.

Cuidar de uma criança com síndrome1 de Miller-Dieker é uma tarefa muito difícil e desgastante. As diversas providências que devem ser tomadas são muito complexas e a expectativa de êxito final é praticamente nula. Isso mexe muito com o aspecto emocional dos familiares, sobretudo se os cuidados são dispensados em casa.

Os tratamentos disponíveis são meramente sintomáticos e dependem da gravidade das malformações5 cerebrais. Se o bebê não consegue se alimentar pelas vias naturais, uma sonda nasogástrica32 deve ser instalada. As convulsões são muito resistentes aos tratamentos, embora os anticonvulsivantes sejam indispensáveis.

Como evolui a síndrome1 de Miller-Dieker?

A condição é fatal. Poucas crianças sobrevivem além da infância. A expectativa de vida33 é muito reduzida e o óbito34 geralmente ocorre antes dos 2 anos de idade, frequentemente nos primeiros 3 meses de vida.

Leia sobre "Síndrome de Down35", "Síndrome1 de Turner", "Síndrome1 de Edwards" e "Síndrome1 de Klinefelter".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Cleveland Clinic.

ABCMED, 2023. Síndrome de Miller-Dieker. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1461555/sindrome-de-miller-dieker.htm>. Acesso em: 28 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
2 Autossômica: 1. Referente a autossomo, ou seja, ao cromossomo que não participa da determinação do sexo; eucromossomo. 2. Cujo gene está localizado em um dos autossomos (diz-se da herança de características). As doenças gênicas podem ser classificadas segundo o seu padrão de herança genética em: autossômica dominante (só basta um alelo afetado para que se manifeste a afecção), autossômica recessiva (são necessários dois alelos com mutação para que se manifeste a afecção), ligada ao cromossomo sexual X e as de herança mitocondrial (necessariamente herdadas da mãe).
3 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
4 Congênitas: 1. Em biologia, o que é característico do indivíduo desde o nascimento ou antes do nascimento; conato. 2. Que se manifesta espontaneamente; inato, natural, infuso. 3. Que combina bem com; apropriado, adequado. 4. Em termos jurídicos, é o que foi adquirido durante a vida fetal ou embrionária; nascido com o indivíduo. Por exemplo, um defeito congênito.
5 Malformações: 1. Defeito na forma ou na formação; anomalia, aberração, deformação. 2. Em patologia, é vício de conformação de uma parte do corpo, de origem congênita ou hereditária, geralmente curável por cirurgia. Ela é diferente da deformação (que é adquirida) e da monstruosidade (que é incurável).
6 Malformação: 1. Defeito na forma ou na formação; anomalia, aberração, deformação. 2. Em patologia, é vício de conformação de uma parte do corpo, de origem congênita ou hereditária, geralmente curável por cirurgia. Ela é diferente da deformação (que é adquirida) e da monstruosidade (que é incurável).
7 Circunvoluções: 1. Volta feita em redor de um centro comum. 2. Contorno sinuoso. 3. Em anatomia geral, são as dobras sinuosas da face externa do cérebro.
8 Infecções: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
9 Vírus: Pequeno microorganismo capaz de infectar uma célula de um organismo superior e replicar-se utilizando os elementos celulares do hospedeiro. São capazes de causar múltiplas doenças, desde um resfriado comum até a AIDS.
10 Feto: Filhote por nascer de um mamífero vivíparo no período pós-embrionário, depois que as principais estruturas foram delineadas. Em humanos, do filhote por nascer vai do final da oitava semana após a CONCEPÇÃO até o NASCIMENTO, diferente do EMBRIÃO DE MAMÍFERO prematuro.
11 Células Nervosas: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO.
12 Neurônios: Unidades celulares básicas do tecido nervoso. Cada neurônio é formado por corpo, axônio e dendritos. Sua função é receber, conduzir e transmitir impulsos no SISTEMA NERVOSO. Sinônimos: Células Nervosas
13 Fissuras: 1. Pequena abertura longitudinal em; fenda, rachadura, sulco. 2. Em geologia, é qualquer fratura ou fenda pouco alargada em terreno, rocha ou mesmo mineral. 3. Na medicina, é qualquer ulceração alongada e superficial. Também pode significar uma fenda profunda, sulco ou abertura nos ossos; cesura, cissura. 4. Rachadura na pele calosa das mãos ou dos pés, geralmente de pessoas que executam trabalhos rudes. 5. Na odontologia, é uma falha no esmalte de um dente. 6. No uso informal, significa apego extremo; forte inclinação; loucura, paixão, fissuração.
14 Ultrassonografia: Ultrassonografia ou ecografia é um exame complementar que usa o eco produzido pelo som para observar em tempo real as reflexões produzidas pelas estruturas internas do organismo (órgãos internos). Os aparelhos de ultrassonografia utilizam uma frequência variada, indo de 2 até 14 MHz, emitindo através de uma fonte de cristal que fica em contato com a pele e recebendo os ecos gerados, os quais são interpretados através de computação gráfica.
15 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
16 Paralisia: Perda total da força muscular que produz incapacidade para realizar movimentos nos setores afetados. Pode ser produzida por doença neurológica, muscular, tóxica, metabólica ou ser uma combinação das mesmas.
17 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
18 Microcefalia: Pequenez anormal da cabeça, geralmente associada à deficiência mental.
19 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
20 Sobrancelhas: Linhas curvas de cabelos localizadas nas bordas superiores das cavidades orbitárias.
21 Lábio: Cada uma das duas margens carnudas e altamente irrigadas da boca.
22 Espasticidade: Hipertonia exagerada dos músculos esqueléticos com rigidez e hiperreflexia osteotendinosa.
23 Tônus muscular: Estado de tensão elástica (contração ligeira) que o músculo apresenta em repouso e que lhe permite iniciar a contração imediatamente depois de receber o impulso dos centros nervosos. Num estado de relaxamento completo (sem tônus), o músculo levaria mais tempo para iniciar a contração.
24 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
25 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
26 Ressonância magnética: Exame que fornece imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético.
27 Amniocentese: Consiste na obtenção do líquido amniótico que banha o feto através da punção da cavidade amniótica. Realizada entre 15 a 18 semanas de gravidez, para avaliar problemas genéticos do bebê.
28 Vilosidades coriônicas: A superfície da bolsa amniótica é recoberta por projeções chamadas vilosidades coriônicas, que penetram no endométrio. Ao redor das vilosidades formam-se lacunas por onde circula o sangue materno. Assim elas permitem trocas de substâncias entre o sangue do embrião, que circula nas vilosidades, e o sangue materno, que circula nessas lacunas. Alimento e oxigênio passam do sangue da mãe para o feto, enquanto excreções e gás carbônico fazem o caminho inverso. As vilosidades coriônicas são formadas a partir de um acúmulo de células oriundas do citotrofoblasto que se projetam para o sinciciotrofoblasto iniciando esse desenvolvimento no final da segunda semana de gestação quando são classificadas como primárias. Nas semanas seguintes, tornam-se ramificadas e se denominam vilosidades coriônicas secundárias e posteriormente, terciárias quando, então, formam a parte funcional da membrana placentária na porção embrionária.
29 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
30 Polimicrogiria: Malformação do córtex cerebral causada por falhas no seu desenvolvimento. É caracterizada por um número excessivo de pequenos giros e laminação anormal, conferindo à superfície cortical uma aparência irregular e grosseira.
31 Sobrevida: Prolongamento da vida além de certo limite; prolongamento da existência além da morte, vida futura.
32 Sonda nasogástrica: Equipamento de uso médico que pode servir tanto para alimentar pacientes que não conseguem realizar a deglutição, como para drenar líquidos do estômago (em casos de intoxicação ou cirurgias, por exemplo). A sonda é um equipamento que consiste basicamente em um tubo com duas aberturas para comunicação entre o interior e o exterior do corpo do paciente.
33 Expectativa de vida: A expectativa de vida ao nascer é o número de anos que se calcula que um recém-nascido pode viver caso as taxas de mortalidade registradas da população residente, no ano de seu nascimento, permaneçam as mesmas ao longo de sua vida.
34 Óbito: Morte de pessoa; passamento, falecimento.
35 Síndrome de Down: Distúrbio genético causado pela presença de um cromossomo 21 a mais, por isso é também conhecida como “trissomia do 21”. Os portadores desta condição podem apresentar retardo mental, alterações físicas como prega palmar transversa (uma única prega na palma da mão, em vez de duas), pregas nas pálpebras, membros pequenos, tônus muscular pobre e língua protrusa.
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