Síndrome de aspiração do mecônio
O que é mecônio1?
O mecônio1 é uma substância pegajosa, verde-escura ou acinzentada, localizado no intestino do feto2, que contém secreções gastrointestinais, líquido amniótico3, ácidos biliares, bile4, sangue5, muco, colesterol6, secreções pancreáticas, lanugem7, vérnix caseoso8 e detritos celulares.
O mecônio1 se acumula no trato gastrointestinal fetal durante o terceiro trimestre da gravidez9 e é a primeira secreção intestinal liberada nas primeiras 48 horas após o nascimento, sendo considerado o primeiro tipo de fezes do bebê.
Como o mecônio1 e todo o conteúdo do trato gastrointestinal estão localizados 'extra organismo’, embora dentro do corpo, normalmente não são reconhecidos pelo sistema imunológico10 fetal.
Após o mecônio1 ser eliminado, as fezes do bebê passam por mudanças de cor e consistência, tornando-se mais claras e amareladas à medida que o leite materno ou as fórmulas alimentares são introduzidos na dieta do bebê.
O que é a síndrome11 de aspiração do mecônio1?
O mecônio1 fica dentro do trato gastrointestinal do feto2 durante a vida intrauterina. Para que ele cause a síndrome11 de aspiração do mecônio1 (SAM), ele tem de entrar no sistema respiratório12 durante o período em que os pulmões13 cheios de líquido fazem a transição para um órgão cheio de ar capaz de troca gasosa.
O mais comum é que ele seja liberado pelo bebê após o nascimento ou durante o trabalho de parto, no entanto, se o bebê estiver estressado ou com sofrimento fetal durante o trabalho de parto, ele pode ser levado a liberá-lo antecipadamente no líquido amniótico3, podendo ocorrer a aspiração dele para dentro dos pulmões13 do bebê, constituindo a SAM.
Saiba mais sobre "Parto vaginal" , "Cesárea", "Parto de cócoras", "Parto na água" e " Parto Leboyer".
Quais são as causas da síndrome11 de aspiração do mecônio1?
As principais teorias sobre as razões da passagem de mecônio1 para o líquido amniótico3 afirmam que isso acontece por uma hipermaturidade fetal ou pelo estresse fetal, resultante de hipóxia14 ou infecção15. Outros fatores aventados são a insuficiência16 placentária, a hipertensão arterial17 materna, a pré-eclâmpsia18, o fumo e o uso materno de drogas. No entanto, o mecanismo exato da passagem do mecônio1 para o líquido amniótico3 não é compreendido e pode ser uma combinação de vários fatores.
Por um lado, acredita-se que durante o sofrimento fetal o feto2 defeque mecônio1, resultando em SAM, porque o estresse fetal durante o parto pode aumentar o peristaltismo19 intestinal e relaxar o esfíncter anal20.
Por outro, a motilina (um peptídeo produzido pelas células21 do intestino delgado22, responsável pela motilidade intestinal) é encontrada em concentrações mais altas no trato gastrointestinal de bebês23 pós-termo do que de bebês23 pré-termo.
Qual é o substrato fisiopatológico da síndrome11 de aspiração do mecônio1?
Os bebês23 que nascem com SAM geralmente não têm quaisquer outros distúrbios respiratórios congênitos24 ou outras patologias subjacentes. Podem surgir consequências de longo prazo dos distúrbios ocasionados pela SAM, como, por exemplo, defeitos do neurodesenvolvimento, devido à respiração deficiente.
A obstrução de vias aéreas maiores causa aumento da resistência pulmonar, diminuição da complacência pulmonar, hipoxemia25 aguda, hipercapnia26, atelectasia27 e acidose28 respiratória. Posteriormente, o mecônio1 desce para as vias aéreas menores e, uma vez dentro dos bronquíolos29 terminais e alvéolos30, o mecônio1 desencadeia inflamação31, edema pulmonar32, vasoconstrição33, bronco constrição34, colapso35 das vias aéreas e inativação do surfactante pulmonar (substância que facilita as trocas gasosas nos alvéolos30).
A obstrução respiratória parcial levará ao aprisionamento de ar, podendo ocorrer pneumotórax36. A hipóxia14 crônica levará à hipertensão37 pulmonar persistente, causando insuficiência respiratória38 e circulatória.
O sistema imunológico10 recebe o mecônio1 aspirado como uma substância estranha, mas responde a ele com baixa especificidade e sem memória para eliminar os micróbios. Além disso, o mecônio1 pode levar a uma pneumonite39 química.
O mecônio1 contém grandes quantidades de fosfolipase, que pode levar diretamente à disfunção do surfactante, destruição do epitélio40 pulmonar, necrose41 tecidual e aumento da apoptose42. O mecônio1 também pode levar à destruição do endotélio43 capilar44 e das membranas basais.
Quais são as características clínicas da síndrome11 de aspiração do mecônio1?
A aspiração de mecônio1 pelo bebê pode ser preocupante porque o mecônio1 é uma substância espessa que pode bloquear as vias aéreas do bebê e dificultar a respiração adequada. Além disso, o mecônio1 pode conter substâncias irritantes que podem causar inflamação31 nos pulmões13 do recém-nascido.
O bebê que tenha aspirado mecônio1 pode apresentar alguns dos ou todos os seguintes sintomas45:
- dificuldades respiratórias, com respiração rápida ou ofegante;
- coloração azulada da pele46 (cianose47);
- sons estranhos ao respirar;
- tosse persistente;
- letargia48 ou falta de resposta a estímulos;
- frequência cardíaca anormal (muito rápida ou muito devagar);
- e infecção15 pulmonar.
Leia também: "Gestação semana a semana" e "Parto normal ou cesárea?"
Como o médico diagnostica a síndrome11 de aspiração do mecônio1?
Às vezes é difícil diagnosticar, pois a SAM pode ser confundida com outras doenças que também causam desconforto respiratório, como pneumonia49, por exemplo. Outras vezes, apenas a constatação da presença de mecônio1 na cavidade amniótica e da respiração ofegante de neonatos50 pós-termo sadios é suficiente para diagnosticar a SAM.
O diagnóstico51 de certeza pode necessitar que vários outros fatores sejam levados em conta, incluindo:
- histórico médico da mãe e do bebê, em que os médicos procuram avaliar a saúde52 materna e o trabalho de parto;
- uma avaliação clínica que constatará uma dificuldade respiratória, respiração acelerada, chiado no peito53, coloração azulada da pele46 (cianose47) e baixo tônus muscular;
- um exame físico completo do bebê para avaliar a função cardiorrespiratória;
- radiografia de tórax54 para ajudar a avaliar o estado dos pulmões;55
- e análise do líquido amniótico3, para confirmar a presença de mecônio1.
Como o médico trata a síndrome11 de aspiração do mecônio1?
Quando ocorre a SAM, os profissionais de saúde52 devem agir rapidamente para garantir que as vias aéreas do bebê estejam desobstruídas o mais prontamente possível e que a respiração normal seja rapidamente restabelecida. Isso pode envolver a sucção das vias aéreas do bebê usando um cateter especial ou um dispositivo de aspiração.
Em casos mais graves, podem ser necessários procedimentos adicionais, como a administração de oxigênio suplementar ou até mesmo ventilação56 mecânica para ajudar o bebê a respirar. Surfactante sintético pode ser administrado aos recém-nascidos conectados a um ventilador.
Caso se suspeite de uma infecção15 bacteriana, o recém-nascido pode ser tratado com antibióticos administrados por via venosa.
Como evolui a síndrome11 de aspiração do mecônio1?
A aspiração de mecônio1 é uma complicação relativamente rara e a maioria dos bebês23 se recupera completamente com o tratamento adequado.
Veja sobre "Pré-natal", "Teste de Apgar", "Cuidados com o recém-nascido" e "Amamentação57 ou aleitamento materno58".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Cleveland Clinic e da Johns Hopkins Medicine.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.