Parafilias - conceito, causas, características, tipos mais frequentes, tratamentos
O que são parafilias?
Parafilias são “interesses sexuais invulgares”, definidas clinicamente como “qualquer outro interesse sexual intenso e persistente que não o interesse na estimulação genital ou carícias preparatórias consentidas por parceiros humanos adultos normais”. Algumas parafilias são meras preferências sexuais que se desviam da norma, enquanto as perturbações parafílicas patológicas são consideradas uma doença mental, marcada por um grau de descontrole e grande impacto na saúde1, vida relacional do indivíduo ou com riscos de danos para terceiros.
A delimitação das parafilias com aquilo que é “a norma” nem sempre é fácil. Entre as duas há uma transição gradual, sendo difícil reconhecer o preciso momento em que a fronteira de uma para a outra é atravessada. Além disso, o que é “a norma” varia em diferentes contextos sociais e em cada momento histórico-cultural. Alguma delas, contudo, ultrapassam os limites das leis e são ilegais, como a pedofilia e outras que envolvem violências não consentidas contra outras pessoas, por exemplo.
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Qual é a causa das parafilias?
Pouco se sabe ainda acerca da etiologia2, incidência3, distribuição e curso das parafilias. Elas geralmente se desenvolvem como resultado de fatores genéticos, biológicos e psicossociais. O cérebro4 e os seus sistemas neuroquímicos também desempenham um papel fundamental.
Quais são as principais características das parafilias?
As perturbações parafílicas têm um caráter compulsivo e em grande parte dos casos acarretam grande sofrimento ao próprio indivíduo, que se vê compelido a elas mesmo reconhecendo seu caráter absurdo. O indivíduo com uma perturbação parafílica patológica frequentemente realiza numerosas tentativas para suprimir a atividade parafílica, mas com o tempo pode aumentar a dificuldade em controlar seus atos, sobretudo em períodos marcados por elevados níveis de ansiedade ou outras emoções negativas.
Há também indivíduos parafílicos em que suas práticas são inteiramente egossintônicas, isto é, estão em concordância com o ego. Na maioria dos casos, o percurso sintomático5 é cíclico e pode fazer aumentar ou regredir progressivamente a intensidade das manifestações, com o tempo. É comum haver uma grande variedade de parafilias num mesmo indivíduo com o tempo, embora a maioria deles dê preferência a uma parafilia6 específica. Em alguns casos, essas tendências fora da norma ficam apenas no nível das fantasias mentais, mas em outros elas se tornam atos e podem mesmo se constituírem em crimes.
Existe uma tendência para o aparecimento em concomitância com elas de perturbações depressivas, abuso de substâncias, principalmente álcool, e disfunção sexual. Atualmente é comum o envolvimento dos indivíduos com parafilias em grupos da internet, o que geralmente propicia uma intensificação da atividade. As perturbações parafílicas afetam quase exclusivamente os homens, exceto o masoquismo, que predomina no sexo feminino.
Muitas dessas pessoas apresentam também um transtorno de personalidade grave, como um transtorno de personalidade antissocial ou narcisista.
Quais são as parafilias mais comuns?
As parafilias podem visar uma grande variedade de objetos, situações, animais ou pessoas (crianças ou adultos que não deram consentimento). A excitação sexual pode depender do uso ou presença desse foco específico.
Estes padrões de excitação, habitualmente iniciados no final da infância ou perto da puberdade, tendem a durar por toda a vida. As parafilias mais comuns são:
- O masoquismo, quando o prazer sexual somente é obtido através da dor, humilhações e castigos impelidos pelo parceiro.
- O sadismo, que consiste submeter o parceiro sexual à situação de humilhação, submissão ou sofrimento.
- A necrofilia, quando a excitação e o prazer sexual são obtidos através de atos sexuais realizados com um cadáver.
- O fetichismo, se o excitamento sexual só é conseguido mediante manuseio, visão7 ou odor de partes do corpo, como pé, mão8, cabelos, ou de objetos utilizados, como roupa íntima, sapatos, etc.
- A pedofilia, se o foco sexual está na prática da atividade com uma criança.
- O travestismo, quando um homem prefere vestir-se com roupas de mulher ou uma mulher prefere vestir-se com roupas de homem sem, no entanto, desejarem mudar de sexo.
- O voyeurismo, que é o ato de obter prazer sexual espionando outras pessoas em suas atividades privadas, sem o consentimento delas, como se despindo, nuas ou praticando relações sexuais.
- O exibicionismo, desejo de expor os genitais ou partes do corpo para pessoas em público e despertar reação negativa na vítima.
Como tratar as parafilias?
A maioria dos parafílicos não pede nem aceita ajuda terapêutica10 e aqueles que o fazem em geral são pressionados pela lei, pelas famílias ou pelas instituições em que estão inseridos, o que significa uma má inserção na terapêutica10, circunstância que ajuda a explicar porque se torna tão difícil obter sucesso com o tratamento e pode levar o paciente a simular uma melhoria que na realidade não existe.
O tratamento das parafilias deve incluir sempre uma psicoterapia, associada ao tratamento farmacológico. Este tem também a vantagem suplementar de poder tratar simultaneamente outras comorbidades11 psicológicas que estejam associadas à parafilia6, como por exemplo a depressão, a obsessividade e a ansiedade.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, da Encyclopedia Britannica e da U.S. National Library of Medicine.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.