Compulsão - como funciona? Por que ela toma conta dos pensamentos de algumas pessoas?
O que é compulsão?
Compulsão: do latim compulsus, particípio passado de compellere = compelir.
Segundo o dicionário Michaelis de língua1 portuguesa, compulsão é “o ato irresistível que impele uma pessoa a realizar algo ou comportar-se de determinado modo, para se sentir aliviada de sua angústia ou culpa”. Ela revela-se num desejo irresistível de se comportar de uma determinada maneira, especialmente contra os desejos conscientes.
Em outras palavras, pode-se dizer que a compulsão se caracteriza por uma obsessão de algo ou a repetição excessiva, involuntária2 e desnecessária de uma ação. Por exemplo: compulsão por tabaco, álcool, drogas, sexo, compras, comidas, etc. Algumas pessoas procuram os consultórios médicos em busca de solucionar essas e outras compulsões, enquanto outras convivem com elas, recusando qualquer forma de tratamento.
As compulsões podem ser vistas como atos voluntários realizados com a intenção de afastar ameaças, prevenir possíveis falhas ou simplesmente aliviar um desconforto físico, ou comportamentos claramente excessivos aos quais o indivíduo não consegue, na maioria das vezes, resistir.
Assim, os comportamentos compulsivos podem ser entendidos como atitudes mal adaptadas de enfrentamento da ansiedade, podendo trazer consequências físicas, psicológicas e sociais graves.
Saiba mais sobre "Transtorno de ansiedade generalizada".
Quais são as causas da compulsão?
Não é fácil definir-se uma causa bem estabelecida para a ocorrência de comportamentos compulsivos. Pode-se falar em vulnerabilidades e predisposições individuais; traços familiares, tais como os hábitos consequentes à extrema insegurança; razões individuais relacionadas a vivências do passado e ao dinamismo psicológico pessoal relativo ao funcionamento orgânico ou mental.
Por que as compulsões?
Muitas vezes as compulsões fazem parte de doenças psiquiátricas bem definidas e são nitidamente patológicas. Outras vezes, no entanto, os comportamentos compulsivos ocorrem em pessoas tidas como normais, sob outros aspectos, e que estão tentando compensar um estresse, afastar uma ameaça, eliminar a ansiedade ou mesmo para obter prazer ou satisfação, ou simplesmente evitar um desprazer.
Apesar de que algumas compulsões sejam perturbadoras e não estejam bem inseridas nas rotinas normais das pessoas, outras são tão comuns que não chegam a perturbar significativamente o dia-a-dia da pessoa afetada, a ponto de serem consideradas “compulsões normais”. De certa forma, elas servem também para aliviar a ansiedade que está sempre presente, se de alguma maneira elas forem bloqueadas.
Entre as compulsões, destacam-se lavar as mãos3 repetidas vezes para proteger-se de contaminações; verificar repetidamente portas, janelas, gás, fogão para ter certeza de que estão seguros; alinhar os objetos para que fiquem simétricos; acumular ou armazenar objetos sem utilidade; arrancar cabelos, roer unhas4, beliscar-se; jogar patologicamente; consumir repetidamente álcool, consumir drogas, comer em excesso.
Outras repetições variadas podem estar também presentes, como tocar, olhar fixamente, bater de leve, raspar, estalar os dedos ou as articulações5, sentar e levantar, fazer repetidamente um gesto determinado, como o sinal6 da cruz, por exemplo. As compulsões também podem ser apenas mentais como: contar, rezar, repetir palavras ou frases, repassar argumentos mentalmente, etc.
Leia sobre "O comer compulsivo", "Comprar mesmo sem precisar", "Tricotilomania" e "O hábito de roer as unhas4".
Quais são as principais características clínicas da compulsão?
A principal característica de uma pessoa compulsiva é a repetição de comportamentos sem sentido aparente, que têm como objetivo reduzir a ansiedade, a tristeza ou o vazio. A compulsão pode tornar-se uma válvula de escape em momentos especialmente complicados. Algumas pessoas podem comer para aliviar sua tensão, roer as unhas4 quando se sentem estressadas, enquanto outras podem permanecer muito tempo jogando no computador, negligenciando tarefas de trabalho e mesmo o relacionamento familiar. Boa parte das pessoas compulsivas não sabe que tem um problema, pois elas não conseguem enxergar seus exageros como um problema que precise ser tratado.
Algumas compulsões são egossintônicas, ou seja, não são experimentadas pelas pessoas que as sofrem como um conflito e têm menor repercussão sobre o dia a dia dessa pessoa. Outras são egodistônicas e as partes conscientes das pessoas afetadas as sentem como um conflito e lutam infrutiferamente contra elas.
De um modo geral, as pessoas compulsivas não conseguem controlar sua vontade e sentem alívio imediato no momento em que cedem às compulsões, mas sentem-se culpadas e/ou envergonhadas após um episódio de compulsão; mentem a respeito de seu comportamento; ficam irritadas quando não conseguem alimentar sua compulsão; não param de pensar sobre o assunto e sentem vergonha de contar aos outros o que fazem com frequência.
Como tratar a compulsão?
As compulsões mais brandas e egossintônicas na maioria dos casos não demandam tratamento. As que são mais perturbadoras e egodistônicas exigem serem tratadas por um especialista. As medicações tranquilizantes ou antidepressivas podem aliviar os sintomas7 correspondentes, mas não interferem na essência do problema. O tratamento básico para as compulsões é a psicoterapia, sobretudo o modelo cognitivo8-comportamental.
Veja também sobre "Estresse", "Bulimia9 nervosa", "Síndrome10 do comer noturno" e "Psicoterapias".
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.