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Intoxicação por cianeto

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O que é o cianeto?

O cianeto, antigamente chamado cianureto, é um composto químico altamente tóxico devido à sua capacidade de se ligar irreversivelmente a proteínas1 que contêm ferro no corpo humano2, interrompendo o transporte de oxigênio para as células3.

Em pequenas doses, ele pode ocorrer naturalmente em certos alimentos, como amêndoas amargas e sementes de frutas, mas também é produzido industrialmente para uso em várias aplicações e processos químicos.

Em aplicações industriais, o cianeto é usado na extração de metais, como o ouro e a prata. Também pode ser encontrado em produtos químicos utilizados na fabricação de plásticos, adesivos e produtos farmacêuticos.

Em virtude de sua alta toxicidade4, é usado em venenos, como o cianeto de potássio e o cianeto de hidrogênio. O cianeto de hidrogênio é um gás incolor com odor amargo, lembrando amêndoas. Os cianetos de sódio e de potássio são pós brancos.

O que é a intoxicação por cianeto?

O cianeto é um veneno extremamente tóxico que interfere com a capacidade do corpo de utilizar oxigênio. A intoxicação ou envenenamento por cianeto é uma das intoxicações mais letais conhecidas pelo homem. Resulta da exposição a uma série de formas da substância, desde gás (cianeto de hidrogênio) até diversos sais de cianeto.

A intoxicação por cianeto pode ocorrer por várias vias, incluindo inalação, ingestão ou absorção através da pele5. A inalação de gás de cianeto é especialmente perigosa porque ele é rapidamente absorvido pelos pulmões6 e entra na corrente sanguínea.

Leia sobre "Intoxicação por monóxido de carbono7", "Intoxicação por mercúrio" e "Urgências e emergências médicas mais comuns".

Quais são as causas da intoxicação por cianeto?

O envenenamento por cianeto é relativamente comum ao respirar a fumaça de um incêndio. Outras rotas potenciais de exposição incluem postos de trabalho envolvidos com metal de polimento, determinados inseticidas, medicamentos com nitroprussiato e algumas sementes, como as de maçãs e damascos.

Formas líquidas de cianeto podem ser absorvidas através da pele5. A ingestão voluntária pode ocorrer em casos de suicídio.

Qual é o substrato fisiopatológico da intoxicação por cianeto?

O cianeto atua inibindo as funções de várias enzimas importantes, mas sua toxicidade4 especial é devida principalmente à ligação ao ferro da enzima8 citocromo oxidase mitocondrial. Ao bloquear esta enzima8, as células3 se tornam incapazes de utilizar o oxigênio. Não há dissociação da oxiemoglobina (ligação do oxigênio à hemoglobina9) e por essa razão um indivíduo com intoxicação por cianeto fica rosado.

A morte pode ser resultante do dano das células3 do sistema nervoso central10 que controlam a respiração, uma vez que estas são muito sensíveis à hipóxia11. Por essa razão, entre outras, o cianeto é considerado uma neurotoxina específica.

Quais são as características clínicas da intoxicação por cianeto?

Os primeiros sintomas12 ocorrem dentro de alguns minutos e incluem:

Este sintomas12 são seguidos por:

  • Convulsões
  • Cor de pele5 avermelhada ou azulada
  • Batimentos cardíacos lentos
  • Pressão arterial17 baixa
  • Perda de consciência
  • Dificuldades respiratórias
  • Confusão mental
  • Parada cardíaca
  • Morte

Se uma pessoa sobrevive, pode vir a ter problemas neurológicos permanentes no longo prazo.

Como o médico diagnostica a intoxicação por cianeto?

Muitas vezes, o diagnóstico18 é difícil. Pode ser suspeito em uma pessoa que se viu envolvida em um incêndio e que apresente uma diminuição do nível de consciência, pressão arterial17 baixa ou um aumento do lactato19 sanguíneo. O médico deve partir dos sinais20 e sintomas12 da intoxicação e da história do paciente.

Vários exames de laboratório podem ser utilizados para auxiliar no diagnóstico18, como gasometria arterial ou a análise dos níveis de cianeto no sangue21. O nível de cianeto no sangue21 pode ser quantificado, mas isso toma um tempo longo em relação a seus efeitos tóxicos. Níveis de 0,5-1 mg/L são suaves, 1-2 mg/L são moderados, 2-3 mg/L são graves, e maiores do que 3 mg/L, geralmente, resultam em morte.

Também pode ser feita uma análise da concentração de lactato19 no sangue21: de um modo indireto, níveis elevados de lactato19 podem sugerir intoxicação por cianeto. Exames de função hepática22 e renal23 podem ser solicitados para avaliar a função desses órgãos, que podem ser afetados pela intoxicação por cianeto.

O eletrocardiograma24 pode ajudar a avaliar o funcionamento do coração25 e identificar possíveis alterações relacionadas à intoxicação por cianeto.

Como o médico trata a intoxicação por cianeto?

A intoxicação por cianeto é uma condição grave que requer atenção médica imediata. O tratamento imediato é fundamental para interromper a progressão da condição. Se houver suspeita de exposição, a pessoa deve ser removida rapidamente para longe da fonte de exposição ou esta, se possível, deve ser afastada.

Enquanto se aguarda assistência médica, deve-se verificar se a pessoa está com dificuldade para respirar ou inconsciente e se as vias respiratórias estão desobstruídas. Se necessário, deve-se iniciar a respiração boca26 a boca26 ou usar um dispositivo de ventilação27, quando estiver accessível.

O tratamento médico envolve dar à pessoa oxigênio a 100%. A hidroxocobalamina (vitamina28 B12) parece ser útil como antídoto29 e geralmente é a primeira ação a ser tomada. Outro recurso é a solução de tiossulfato de sódio. Deve-se evitar a automedicação30, pois isso pode piorar a situação.

Como evolui a intoxicação por cianeto?

A evolução da intoxicação por cianeto pode variar dependendo de fatores como a quantidade de cianeto ingerida, a via de exposição, a duração da exposição e a prontidão do tratamento.

Normalmente, ela progride rapidamente e pode levar a complicações graves em questão de minutos. A partir dos sintomas12 iniciais, a intoxicação por cianeto pode levar à insuficiência respiratória31, convulsões generalizadas, parada cardíaca e coma32.

Se não for tratada prontamente, a intoxicação por cianeto é fatal.

Veja sobre "Asfixia33", "Intoxicação por estricnina34" e "Quinze sinais20 que apontam para a dependência às drogas".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Biblioteca Virtual em Saúde e do Hospital Sírio Libanês.

ABCMED, 2023. Intoxicação por cianeto. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/1440605/intoxicacao-por-cianeto.htm>. Acesso em: 28 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
2 Corpo humano: O corpo humano é a substância física ou estrutura total e material de cada homem. Ele divide-se em cabeça, pescoço, tronco e membros. A anatomia humana estuda as grandes estruturas e sistemas do corpo humano.
3 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
4 Toxicidade: Capacidade de uma substância produzir efeitos prejudiciais ao organismo vivo.
5 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
6 Pulmões: Órgãos do sistema respiratório situados na cavidade torácica e responsáveis pelas trocas gasosas entre o ambiente e o sangue. São em número de dois, possuem forma piramidal, têm consistência esponjosa e medem cerca de 25 cm de comprimento. Os pulmões humanos são divididos em segmentos denominados lobos. O pulmão esquerdo possui dois lobos e o direito possui três. Os pulmões são compostos de brônquios que se dividem em bronquíolos e alvéolos pulmonares. Nos alvéolos se dão as trocas gasosas ou hematose pulmonar entre o meio ambiente e o corpo, com a entrada de oxigênio na hemoglobina do sangue (formando a oxiemoglobina) e saída do gás carbônico ou dióxido de carbono (que vem da célula como carboemoglobina) dos capilares para o alvéolo.
7 Monóxido de carbono: Gás levemente inflamável, incolor, inodoro e muito tóxico ao organismo.
8 Enzima: Proteína produzida pelo organismo que gera uma reação química. Por exemplo, as enzimas produzidas pelo intestino que ajudam no processo digestivo.
9 Hemoglobina: Proteína encarregada de transportar o oxigênio desde os pulmões até os tecidos do corpo. Encontra-se em altas concentrações nos glóbulos vermelhos.
10 Sistema Nervoso Central: Principais órgãos processadores de informação do sistema nervoso, compreendendo cérebro, medula espinhal e meninges.
11 Hipóxia: Estado de baixo teor de oxigênio nos tecidos orgânicos que pode ocorrer por diversos fatores, tais como mudança repentina para um ambiente com ar rarefeito (locais de grande altitude) ou por uma alteração em qualquer mecanismo de transporte de oxigênio, desde as vias respiratórias superiores até os tecidos orgânicos.
12 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
13 Cabeça:
14 Tonturas: O indivíduo tem a sensação de desequilíbrio, de instabilidade, de pisar no vazio, de que vai cair.
15 Taquicardia: Aumento da frequência cardíaca. Pode ser devido a causas fisiológicas (durante o exercício físico ou gravidez) ou por diversas doenças como sepse, hipertireoidismo e anemia. Pode ser assintomática ou provocar palpitações.
16 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
17 Pressão arterial: A relação que define a pressão arterial é o produto do fluxo sanguíneo pela resistência. Considerando-se a circulação como um todo, o fluxo total é denominado débito cardíaco, enquanto a resistência é denominada de resistência vascular periférica total.
18 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
19 Lactato: Sal ou éster do ácido láctico ou ânion dele derivado.
20 Sinais: São alterações percebidas ou medidas por outra pessoa, geralmente um profissional de saúde, sem o relato ou comunicação do paciente. Por exemplo, uma ferida.
21 Sangue: O sangue é uma substância líquida que circula pelas artérias e veias do organismo. Em um adulto sadio, cerca de 45% do volume de seu sangue é composto por células (a maioria glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O sangue é vermelho brilhante, quando oxigenado nos pulmões (nos alvéolos pulmonares). Ele adquire uma tonalidade mais azulada, quando perde seu oxigênio, através das veias e dos pequenos vasos denominados capilares.
22 Hepática: Relativa a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
23 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
24 Eletrocardiograma: Registro da atividade elétrica produzida pelo coração através da captação e amplificação dos pequenos potenciais gerados por este durante o ciclo cardíaco.
25 Coração: Órgão muscular, oco, que mantém a circulação sangüínea.
26 Boca: Cavidade oral ovalada (localizada no ápice do trato digestivo) composta de duas partes
27 Ventilação: 1. Ação ou efeito de ventilar, passagem contínua de ar fresco e renovado, num espaço ou recinto. 2. Agitação ou movimentação do ar, natural ou provocada para estabelecer sua circulação dentro de um ambiente. 3. Em fisiologia, é o movimento de ar nos pulmões. Perfusão Em medicina, é a introdução de substância líquida nos tecidos por meio de injeção em vasos sanguíneos.
28 Vitamina: Compostos presentes em pequenas quantidades nos diversos alimentos e nutrientes e que são indispensáveis para o desenvolvimento dos processos biológicos normais.
29 Antídoto: Substância ou mistura que neutraliza os efeitos de um veneno. Esta ação pode reagir diretamente com o veneno ou amenizar/reverter a ação biológica causada por ele.
30 Automedicação: Automedicação é a prática de tomar remédios sem a prescrição, orientação e supervisão médicas.
31 Insuficiência respiratória: Condição clínica na qual o sistema respiratório não consegue manter os valores da pressão arterial de oxigênio (PaO2) e/ou da pressão arterial de gás carbônico (PaCO2) dentro dos limites da normalidade, para determinada demanda metabólica. Como a definição está relacionada à incapacidade do sistema respiratório em manter níveis adequados de oxigenação e gás carbônico, foram estabelecidos, para sua caracterização, pontos de corte na gasometria arterial: PaO2 50 mmHg.
32 Coma: 1. Alteração do estado normal de consciência caracterizado pela falta de abertura ocular e diminuição ou ausência de resposta a estímulos externos. Pode ser reversível ou evoluir para a morte. 2. Presente do subjuntivo ou imperativo do verbo “comer.“
33 Asfixia: 1. Dificuldade ou impossibilidade de respirar, que pode levar à anóxia. Ela pode ser causada por estrangulamento, afogamento, inalação de gases tóxicos, obstruções mecânicas ou infecciosas das vias aéreas superiores, etc. 2. No sentido figurado, significa sujeição à tirania; opressão e/ou cobrança de posições morais ou sociais que dão origem à privação de certas liberdades.
34 Estricnina: É uma substância extraída da casca e especialmente das sementes de plantas do gênero Strychnos, principalmente da noz-vômica (Strychnos nux-vomica). Ela pode ser usada como estimulante do sistema nervoso central ou como veneno.
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