Descontaminação gastrointestinal em emergências: quando indicar a lavagem gástrica
O que é lavagem gástrica1?
A lavagem gástrica1 é um procedimento médico utilizado para esvaziar o conteúdo do estômago2, geralmente em emergências. Consiste na introdução de uma sonda nasogástrica3 ou orogástrica (tubo flexível inserido pelo nariz4 ou pela boca5 até o estômago2) para irrigar o estômago2 com uma solução, normalmente salina, e remover substâncias indesejadas, como toxinas6, medicamentos ingeridos em overdose ou outros materiais potencialmente prejudiciais.
A lavagem gástrica1 é um procedimento invasivo que exige cuidados específicos para garantir a segurança do paciente. É amplamente utilizado em casos de intoxicação aguda, mas sua aplicação tem diminuído devido ao avanço de outros métodos de descontaminação, como o uso de carvão ativado.
A técnica é considerada uma intervenção de urgência7, realizada em ambiente hospitalar, geralmente em unidades de terapia intensiva8 ou prontos-socorros, por profissionais treinados, como médicos e enfermeiros.
Segundo a Organização Mundial da Saúde9, a lavagem gástrica1 deve ser indicada em situações específicas, quando há potencial benefício clínico claro e o risco de complicações é considerado aceitável, devido às possíveis complicações associadas ao procedimento.
Por que fazer lavagem gástrica1?
A lavagem gástrica1 é realizada principalmente para remover substâncias tóxicas do estômago2 antes que sejam absorvidas pelo organismo, reduzindo assim o risco de danos graves ou morte. As principais indicações incluem intoxicações agudas, em casos de ingestão de substâncias tóxicas, como medicamentos, produtos químicos ou venenos, especialmente quando a ingestão ocorreu em um curto período (geralmente dentro de 1 a 2 horas). O procedimento é mais eficaz se realizado logo após a ingestão, antes que a substância passe para o intestino delgado10, onde a absorção é mais rápida.
Em alguns casos, a lavagem gástrica1 pode ser usada para limpar o estômago2 antes de exames endoscópicos ou cirurgias, especialmente quando há risco de aspiração de conteúdo gástrico11, como em pacientes com obstrução intestinal.
Mais raramente, pode ser indicada para remover corpos estranhos ou grandes quantidades de alimentos que possam causar obstrução ou complicações. Às vezes ainda, embora também raramente, a lavagem gástrica1 é utilizada para avaliar a presença de sangramento no trato gastrointestinal superior12, ajudando no diagnóstico13 e manejo de condições como úlceras14 gástricas ou varizes15 esofágicas.
No entanto, o uso da lavagem gástrica1 tem diminuído em favor de métodos menos invasivos, como a administração de carvão ativado ou a indução de vômitos16 (quando apropriado). A decisão de realizar o procedimento depende de fatores como o tipo de substância ingerida, o tempo decorrido desde a ingestão e as condições clínicas do paciente. Importante ressaltar que substâncias corrosivas (ácidos ou álcalis) e hidrocarbonetos são contraindicações absolutas, pois a lavagem pode agravar lesões17 no esôfago18 ou estômago2.
Veja sobre "Intoxicação por estricnina19", "Intoxicação por mercúrio", "Intoxicação por chumbo20 ou saturnismo21" e "Intoxicação alimentar".
Qual é a técnica da lavagem gástrica1?
A lavagem gástrica1 é um procedimento delicado que exige precisão e cuidados para minimizar riscos. Deve-se seguir etapas específicas:
- Antes do procedimento, é essencial avaliar o estado geral do paciente, incluindo nível de consciência, sinais vitais22 e risco de aspiração. Pacientes inconscientes ou com reflexo de gag (mecanismo de proteção natural que impede objetos estranhos de entrarem nas vias aéreas) comprometido podem necessitar de intubação traqueal para proteger as vias aéreas.
- Quando possível, o paciente ou responsável deve ser informado sobre o procedimento e seus riscos, obtendo-se consentimento informado adequado.
- São necessários uma sonda nasogástrica3 ou orogástrica de calibre adequado (geralmente 16-32 Frenches para adultos), solução salina ou água estéril, seringas, lubrificante, sistema de aspiração, luvas, avental e equipamentos de proteção individual.
- O paciente é colocado em posição semissentada (45°) ou em decúbito lateral23 esquerdo para facilitar a passagem da sonda e reduzir o risco de aspiração. A cabeça24 deve estar ligeiramente fletida.
- A sonda é lubrificada e inserida pelo nariz4 ou boca5 até o estômago2. A distância a ser inserida é calculada medindo-se do lóbulo da orelha25 ao apêndice xifoide26 e ao umbigo27 (método de referência). A correta colocação da sonda é confirmada por aspiração de conteúdo gástrico11 ou ausculta28 de ar injetado no estômago2.
- Uma solução salina isotônica29 (0,9%) ou água estéril, em temperatura ambiente, é injetada em pequenas quantidades (200-300 ml por vez em adultos) através da sonda. Após a infusão, o conteúdo é aspirado ou drenado por gravidade. Esse processo é repetido até que o líquido aspirado esteja claro, indicando a remoção completa do conteúdo gástrico11. O volume total de solução utilizado varia, mas geralmente é de 2 a 5 litros, dependendo do caso.
- Após a lavagem, a sonda é removida cuidadosamente e o paciente é monitorado por sinais30 de complicações, como desconforto respiratório ou sangramento. O material coletado pode ser enviado para análise toxicológica quando houver suspeita de intoxicação exógena31.
Quais são as complicações possíveis com a lavagem gástrica1?
Embora a lavagem gástrica1 seja um procedimento potencialmente salvador, ela apresenta riscos significativos, especialmente se realizada de forma inadequada. As complicações mais comuns compreendem:
- A introdução da sonda ou a manipulação do conteúdo gástrico11 pode levar à aspiração de material para os pulmões32, causando pneumonia33 aspirativa ou síndrome34 da angústia respiratória aguda. Esse risco é maior em pacientes com reflexos de proteção comprometidos.
- A passagem da sonda pode causar trauma no nariz4, faringe35, esôfago18 ou estômago2, resultando em sangramentos, perfurações ou lacerações. Substâncias corrosivas ingeridas previamente aumentam esse risco.
- O uso excessivo de solução salina pode levar a alterações nos níveis de sódio ou potássio, especialmente em pacientes com insuficiência renal36 ou cardíaca.
- A estimulação do nervo vago durante a inserção da sonda pode causar bradicardia37 ou outras arritmias38, particularmente em pacientes com condições cardíacas preexistentes.
- A introdução da sonda pode facilitar a entrada de microrganismos, levando a infecções39 locais ou sistêmicas.
- O procedimento pode ser desconfortável e angustiante, especialmente para pacientes40 conscientes, podendo causar ansiedade ou estresse psicológico.
- Se realizada após muito tempo da ingestão, a lavagem pode ser ineficaz, pois a substância já pode ter sido absorvida. Em casos de ingestão de corrosivos, além de ser contraindicada, a técnica pode ampliar danos teciduais, motivo pelo qual a avaliação cuidadosa da história clínica é fundamental.
Leia mais sobre "Melena41 e Hematêmese42", "Nutrição43 enteral" e "Nutrição parenteral44".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF e da Biblioteca Virtual em Saúde.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.








