Morte cerebral ou morte encefálica: o que é?
O que é morte cerebral1?
Morte cerebral1, mais corretamente chamada de morte encefálica2, corresponde à perda total, definitiva e irreversível das funções do tronco cerebral3, que faz parte do encéfalo4. O encéfalo4, por sua vez, é constituído pelo diencéfalo5, cérebro6, cerebelo7 e tronco encefálico8, onde estão o mesencéfalo9, a ponte e o bulbo10. O tronco cerebral3 é a sede das estruturas nervosas que controlam as funções que mantêm vivo o indivíduo, como pressão arterial11, batimentos cardíacos, atividade respiratória e nível de consciência. A morte encefálica2 é, na verdade, um novo conceito de morte, baseado no conceito de estado de coma12 irreversível. Mas a morte cerebral1 não é a mesma coisa que o estado de coma12. No estado de coma12 as funções cerebrais estão ativas; na morte cerebral1 há a perda definitiva das funções neurológicas do cérebro6.
Esse novo conceito de morte tem implicações e causa discussões nos níveis biológico, jurídico, filosófico e religioso.
Quais são as causas da morte cerebral1?
Toda agressão ao encéfalo4 pode afetar finalmente o tronco cerebral3 e alterar ou paralisar as funções vitais. A lesão13 do encéfalo4 pode ser causada por um problema primário dessa estrutura ou ser a via final de uma agressão isquêmica, anóxica ou metabólica consequente de uma enfermidade sistêmica. De uma forma mais concreta, pode-se apontar como causas da morte cerebral1 as mesmas causas do estado de coma12: traumatismos cranianos, falta de oxigênio no cérebro6, parada cardiorrespiratória, acidente vascular cerebral14, inchaço15 no cérebro6, tumores, overdose de drogas, falta de glicose16 no sangue17 e edema18 cerebral.
Como o médico diagnostica a morte cerebral1?
Um paciente é dito em morte cerebral1 quando apresenta ausência total de reflexos, sendo sustentado somente pela ajuda de aparelhos. Assim, há ausência da respiração, ausência de reação a estímulos dolorosos, pupilas não reagentes e eletroencefalograma19 (EEG) isoelétrico (sem apresentar ondulações). Não deve haver hipotermia20 e hipotensão21. O paciente em morte encefálica2 pode, eventualmente, realizar movimentos involuntários devidos à atividade reflexa medular.
O diagnóstico22 de morte cerebral1 fundamenta-se em exame clínico neurológico que confirme a falência do tronco cerebral3. Muitos países dispensam exames complementares, mas outros os exigem. Os exames de eletroencefalograma19, arteriografia, doppler, cintilografia23, etc., utilizados hoje em dia, usados isoladamente sem exame neurológico não bastam para confirmar o diagnóstico22.
Durante os testes de morte encefálica2 o ventilador e os demais medicamentos que mantêm o indivíduo respirando e o coração24 batendo continuam a ser utilizados, mas não interferem na determinação da morte encefálica2. O exame clínico deve ter a causa conhecida do estado de coma12 e o paciente não deve estar em condição que mascare ou interfira no exame clínico, como uso de drogas sedativas, distúrbios metabólicos ou hipotermia20 e não deve ter resposta a estímulos verbais, visuais e dolorosos, mesmo se intensos. O exame mostrará as pupilas fixas; não há reflexo oculocefálico ou corneano e os olhos25 ficam fixos quando a cabeça26 é girada; também não há reflexo oculovestibular em ambos os ouvidos. Em estado de morte encefálica2 o paciente não respira espontaneamente.
No Brasil, o protocolo que apura essas condições deve ser repetido por outro médico em um intervalo mínimo de seis horas e é obrigatória a utilização de exames complementares. Uma vez repetido o protocolo e obtendo-se o mesmo resultado, encerra-se a fase clínica e passa-se aos exames complementares.
Como evolui a morte cerebral1?
O paciente em morte cerebral1 pode ser mantido "vivo" pelo tempo que a família desejar, enquanto os aparelhos médicos de sustentação se mantiverem ligados. Em geral, os pacientes em morte cerebral1 evoluem em cerca de uma semana ou mais para parada cardíaca espontânea, mesmo com a utilização de respiradores mecânicos e administração da terapia convencional27.
Uma vez feito o diagnóstico22 de morte encefálica2, o indivíduo é declarado legalmente morto e se ele manifestou em vida o desejo de doar seus órgãos ou se a família o expressou posteriormente, os órgãos sadios então podem ser retirados. Se for o caso, é desejável que ele tenha sido mantido por aparelhos pelo menor tempo possível.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.