Raças humanas
O que são raças humanas?
O conceito de raças humanas é envolto em muita confusão. Embora se possa dizer que uma raça é um agrupamento humano com base em qualidades físicas compartilhadas pelos indivíduos que pertencem a ela, os cientistas demonstram que as diferenças genéticas intragrupo excedem as diferenças intergrupos. Assim, por exemplo, existe uma maior variação genética dentro das populações rotuladas de negros ou brancos do que entre cada uma dessas populações.
O conceito de raça definido por características físicas imutáveis, sobretudo o de “raça pura”, é mais aplicável aos animais que aos humanos. Assim, é possível falar-se de uma raça zebu no que se refere a bovinos ou de uma raça Buldogue, no que diz respeito a cães. No entanto, quanto aos humanos, a coisa é mais confusa e permeada por dados sociológicos.
No que se refere aos humanos, o termo “raça” nem sempre foi usado no mesmo sentido de hoje em dia. Foi por volta do século 17 que o termo começou a se referir a traços físicos, mas a ciência moderna considera a raça como uma construção social, embora parcialmente baseada em semelhanças físicas, e os cientistas consideram o essencialismo biológico obsoleto e geralmente desencorajam as explicações exclusivamente biológicas para a diferenciação das raças.
Apesar de ainda ser usado em contextos gerais, o termo raça foi frequentemente substituído por termos menos ambíguos e mais carregados de dados sociológicos, como: populações, pessoas, grupos étnicos ou comunidades, dependendo do contexto em que foram empregados. Contudo, ainda se continua insistindo em que uma raça humana seja definida como um grupo de pessoas com certas características herdadas comuns, todos pertencentes à espécie Homo sapiens.
Como todas as “raças” do mundo podem cruzar entre si, por serem de uma mesma espécie, porque todas compartilham 99,99% do mesmo material genético, elas criam, assim, inúmeros grupos intermediários, tornando difícil enquadrar um indivíduo determinado como pertencente a uma “raça” específica.
As tentativas de classificação racial são várias. O último censo brasileiro classificou as pessoas em brancos, pardos, negros, amarelos e indígenas, embora muitas pessoas usem termos diferentes para se identificar. Por outro lado, essa classificação é feita por autodeclaração da pessoa, o que a invalida do ponto de vista científico.
Quais são as causas das diferenciações entre as raças humanas?
Os grupamentos humanos sempre se identificaram como distintos de grupos vizinhos, mas tais diferenças nem sempre foram entendidas como naturais, imutáveis e globais. A ideia de raça, como costuma ser entendida hoje, surgiu durante o processo histórico de colonização, que colocou os europeus em contato com grupos de diferentes continentes, e da ideologia de classificação e tipologia encontrada nas ciências naturais.
O termo “raça” foi frequentemente usado em um sentido taxonômico biológico geral para denotar populações humanas geneticamente diferenciadas definidas pelo fenótipo1, baseado sobretudo na cor da pele2 e em diferenças físicas. Nesse sentido, raça pode ser entendida como o constructo social de uma categorização usada para se referir a um grupo de pessoas cujas marcas físicas são socialmente significativas. Contudo, a ideia de que a humanidade pode ser dividida nas linhas branca, preta e amarela revela a origem social e não científica de raça. Por outro lado, a concepção3 de que as “raças” são "caucasoides", "negroides" e "mongoloides" vem do imaginário europeu da Idade Média, em que o mundo abrangia apenas a Europa, a Ásia, a África e o Oriente Próximo.
Ao longo do tempo, várias outras tipologias humanas práticas foram propostas, baseadas na cor da pele2, textura do cabelo4, ângulo facial, tamanho da mandíbula5, capacidade craniana, massa cerebral, massa do lobo frontal6, fissuras7 e convoluções da superfície do cérebro8, etc. No entanto, as tentativas de definir categorias raciais por atributos físicos acabaram falhando.
Os estudos genéticos das últimas décadas apenas acabaram por sepultar essas teorias. As evidências mostram que essas características geralmente usadas para definir uma raça não se correlacionam fortemente com a variação genética. Assim, “raça” passou a ser definida como um vasto grupo de pessoas vagamente unidas por elementos historicamente contingentes e socialmente significativos de sua morfologia e/ou ancestralidade. E é possível que essas semelhanças se devam mais à contração genética devida a que os indivíduos se casam e reproduzem mais com parceiros do seu mesmo grupo social do que com estranhos mais distantes.
Raças e etnias humanas
Embora o conceito de raça apareça muitas vezes associado ao de etnia, as duas coisas não são sinônimas. Raça se refere mais a características fenotípicas9, como a cor da pele2, enquanto a etnia também compreende fatores culturais, como a nacionalidade, afiliação tribal, religião, língua10 e as tradições de um determinado grupo. O conceito de raça está geralmente ligado à ideia de traços biológicos, já o conceito de etnias é inteiramente social.
Etnia se refere a construções culturais de determinada comunidade, como religião, língua10, história e símbolos que são pontos de diferenciação. Devido também à concentração genética, essas etnias guardam certas semelhanças físicas entre os indivíduos, incluindo certas doenças. A manutenção da identidade do grupo está relacionada às tradições culturais. Comemorações que evocam memórias passadas ou realimentam mitos que constituem o conjunto de ferramentas interpretativas do mundo de cada grupo permitem que a constituição étnica atravesse gerações e perpetue-se no mundo social.
Isso, porém, não significa que a etnicidade seja uma estrutura imutável. Ela pode mudar ao longo do tempo, conforme novas conjunturas ou migrações atinjam esses grupos e sejam influenciados ou influenciem esses novos modelos de convivência.
Leia também sobre: "Aconselhamento genético", "Mutações genéticas" e "As cores da pele2 humana".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Scientific American e da UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.