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Cistinose - como ela é? O que deve ser feito?

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O que é cistinose?

A cistinose é uma doença genética rara que se caracteriza pelo acúmulo no organismo de um aminoácido chamado cistina. Como a cistina não se dissolve com a água, ela forma cristais que se depositam em diversos órgãos, em especial nos rins1, olhos2, músculos3, fígado4, pâncreas5 e cérebro6, comprometendo o funcionamento deles.

Pode-se identificar três formas clínicas diferentes de cistinose, conforme a localização principal desses cristais: (1) cistinose nefropática infantil; (2) cistinose intermediária e (3) cistinose não nefropática.

A cistinose foi descrita pela primeira vez na literatura médica em 1903 por Abderhalden.

Saiba mais sobre "Síndrome7 de Fanconi", "Insuficiência renal8 crônica" e "Transplante renal9".

Qual é a causa da cistinose?

A cistinose é uma doença metabólica autossômica10 recessiva. O gene responsável pela cistinose está localizado no cromossoma 17, responsável pela produção da cistinosina, proteína que remove a cistina do interior das células11, impedindo seu acúmulo. Com a ausência ou queda da cistinosina, a cistina se acumula no interior das células11 e forma cristais.

Qual é o substrato fisiológico12 da cistinose?

A cistinose é classificada como um distúrbio de armazenamento lisossômico. Os lisossomos são a principal unidade digestiva dentro das células11. Eles “digerem” certos nutrientes, como gorduras, proteínas13 e carboidratos. Algumas enzimas dentro dos lisossomos metabolizam esses nutrientes, enquanto outras proteínas13 transportam os produtos metabólicos restantes, como a cistina, por exemplo, para fora do lisossomo. No caso da cistinose, a falta de um transportador específico faz com que a cistina se acumule nos lisossomos das células11 em todo o corpo. Dessa maneira, ela forma cristais em muitos tipos de células11 e danifica lentamente os órgãos afetados.

Quais são as características clínicas da cistinose?

A idade de início, os sintomas14 e a gravidade da cistinose podem variar muito de uma pessoa para outra, devido a vários fatores como a maior ou menor presteza em ser diagnosticada e tratada. Os rins1 e os olhos2 costumam ser os dois órgãos mais afetados, mas, eventualmente, a cistinose pode afetar outros tecidos do corpo.

Os sintomas14 da cistinose nefropática geralmente se tornam aparentes na segunda metade do primeiro ano de vida e podem ser leves ou graves. Os bebês15 afetados podem ter episódios de vômito16, falta de apetite e dificuldades de alimentação, que contribuem para a deficiência nutricional e para a falta de ganho de peso e crescimento abaixo da taxa esperada. Em média, o crescimento em crianças não tratadas fica em 60% da taxa esperada. Bebês15 com cistinose nefropática desenvolvem disfunção renal9 (síndrome7 de Fanconi).

Os sintomas14 da síndrome7 renal9 de Fanconi se tornam aparentes entre 6 e 12 meses de idade e podem incluir sede excessiva, produção excessivas de urina17, desequilíbrios eletrolíticos, vômitos18 e desidratação19 com ou sem febre20. Pode também causar raquitismo21 hipofosfatêmico.

Como o médico diagnostica a cistinose?

No caso da forma não-nefropática (benigna), o diagnóstico22 costuma ser feito em adultos quando eles procuram um oftalmologista23 com queixa de fotofobia24. No exame oftalmológico com lâmpada de fenda é possível visualizar os depósitos de cristais de cistina na córnea25. O diagnóstico22 da cistinose é confirmado pela determinação do conteúdo de cistina nos leucócitos26. O diagnóstico22 pré-natal pode ser realizado por análise genética ou através da determinação da incorporação de cistina no líquido amniótico27 ou nas vilosidades coriônicas28.

Como o médico trata a cistinose?

O tratamento da cistinose é direcionado para os sintomas14 presentes em cada indivíduo. A cistinose nefropática e a intermediária já foram distúrbios progressivamente fatais, com uma vida útil para a forma infantil de menos de 10 anos. No entanto, o desenvolvimento de terapias que destroem a cistina, juntamente com as melhorias no transplante renal9, estenderam a vida útil até a idade adulta.

O tratamento atual visa diminuir as taxas de cistina com a cisteamina. Alguns indivíduos que foram submetidos a um tratamento precoce com cisteamina foram capazes de atrasar um transplante de rim29 em 20 anos ou mais. A terapia com cisteamina deve ser iniciada imediatamente após o diagnóstico22 para prevenir ou retardar os danos aos rins1. A cisteamina deve ser continuada ao longo da vida, porque estudos demonstraram que o tratamento prolongado pode prevenir muitas das complicações não renais e tardias da cistinose.

Ainda assim, indivíduos com cistinose nefropática ou intermediária requerem um transplante de rim29 mais cedo ou mais tarde.

Como evolui a cistinose?

Se não tratada, a função de filtragem do rim29 continuará se deteriorando, progredindo para insuficiência renal8, já aos 10 anos de idade. O tratamento com medicamentos que reduzem os níveis de cistina pode retardar ou interromper a progressão da doença renal9 e atrasar em vários anos a necessidade de um transplante de rim29.

Durante muito tempo, a cistinose nefropática foi fatal em uma idade muito jovem. No entanto, o desenvolvimento de um medicamento que reduz os níveis de cistina nas células11 do corpo e as melhorias no transplante de rim29 transformaram a cistinose em um distúrbio crônico30, com expectativa de vida31 até além dos 50 anos de idade.

Quais são as complicações possíveis da cistinose?

A falha no crescimento e a síndrome7 de Fanconi renal9 são as primeiras complicações visíveis do distúrbio.

Leia sobre "Raquitismo21", "Osteomalácia32" e "Deficiência de vitamina33 D".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da NORD – National Organization for Rare Disorders e da U.S. National Library of Medicine.

ABCMED, 2020. Cistinose - como ela é? O que deve ser feito?. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1371068/cistinose-como-ela-e-o-que-deve-ser-feito.htm>. Acesso em: 23 abr. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Rins: Órgãos em forma de feijão que filtram o sangue e formam a urina. Os rins são localizados na região posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral.
2 Olhos:
3 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
4 Fígado: Órgão que transforma alimento em energia, remove álcool e toxinas do sangue e fabrica bile. A bile, produzida pelo fígado, é importante na digestão, especialmente das gorduras. Após secretada pelas células hepáticas ela é recolhida por canalículos progressivamente maiores que a levam para dois canais que se juntam na saída do fígado e a conduzem intermitentemente até o duodeno, que é a primeira porção do intestino delgado. Com esse canal biliar comum, chamado ducto hepático, comunica-se a vesícula biliar através de um canal sinuoso, chamado ducto cístico. Quando recebe esse canal de drenagem da vesícula biliar, o canal hepático comum muda de nome para colédoco. Este, ao entrar na parede do duodeno, tem um músculo circular, designado esfíncter de Oddi, que controla o seu esvaziamento para o intestino.
5 Pâncreas: Órgão nodular (no ABDOME) que abriga GLÂNDULAS ENDÓCRINAS e GLÂNDULAS EXÓCRINAS. A pequena porção endócrina é composta pelas ILHOTAS DE LANGERHANS, que secretam vários hormônios na corrente sangüínea. A grande porção exócrina (PÂNCREAS EXÓCRINO) é uma glândula acinar composta, que secreta várias enzimas digestivas no sistema de ductos pancreáticos (que desemboca no DUODENO).
6 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
7 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
8 Insuficiência renal: Condição crônica na qual o corpo retém líquido e excretas pois os rins não são mais capazes de trabalhar apropriadamente. Uma pessoa com insuficiência renal necessita de diálise ou transplante renal.
9 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
10 Autossômica: 1. Referente a autossomo, ou seja, ao cromossomo que não participa da determinação do sexo; eucromossomo. 2. Cujo gene está localizado em um dos autossomos (diz-se da herança de características). As doenças gênicas podem ser classificadas segundo o seu padrão de herança genética em: autossômica dominante (só basta um alelo afetado para que se manifeste a afecção), autossômica recessiva (são necessários dois alelos com mutação para que se manifeste a afecção), ligada ao cromossomo sexual X e as de herança mitocondrial (necessariamente herdadas da mãe).
11 Células: Unidades (ou subunidades) funcionais e estruturais fundamentais dos organismos vivos. São compostas de CITOPLASMA (com várias ORGANELAS) e limitadas por uma MEMBRANA CELULAR.
12 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
13 Proteínas: Um dos três principais nutrientes dos alimentos. Alimentos que fornecem proteína incluem carne vermelha, frango, peixe, queijos, leite, derivados do leite, ovos.
14 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
15 Bebês: Lactentes. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
16 Vômito: É a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Pode ser classificado como: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
17 Urina: Resíduo líquido produzido pela filtração renal no organismo, estocado na bexiga e expelido pelo ato de urinar.
18 Vômitos: São a expulsão ativa do conteúdo gástrico pela boca. Podem ser classificados em: alimentar, fecalóide, biliar, em jato, pós-prandial. Sinônimo de êmese. Os medicamentos que agem neste sintoma são chamados de antieméticos.
19 Desidratação: Perda de líquidos do organismo pelo aumento importante da freqüência urinária, sudorese excessiva, diarréia ou vômito.
20 Febre: É a elevação da temperatura do corpo acima dos valores normais para o indivíduo. São aceitos como valores de referência indicativos de febre: temperatura axilar ou oral acima de 37,5°C e temperatura retal acima de 38°C. A febre é uma reação do corpo contra patógenos.
21 Raquitismo: Doença decorrente da mineralização inadequada do osso em crescimento, ou seja, da placa epifisária. Está entre as doenças mais comuns da infância em países em desenvolvimento. A causa predominante é a deficiência de vitamina D, seja por exposição insuficiente à luz solar ou baixa ingestão através da dieta; mas a deficiência de cálcio na dieta também pode gerar um quadro de raquitismo. A osteomalácia é o termo usado para descrever uma condição semelhante que ocorre em adultos, geralmente devido à falta de vitamina D.
22 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
23 Oftalmologista: Médico especializado em diagnosticar e tratar as doenças que acometem os olhos. Podem prescrever óculos de grau e lentes de contato.
24 Fotofobia: Dor ocular ou cefaléia produzida perante estímulos visuais. É um sintoma freqüente na meningite, hemorragia subaracnóidea, enxaqueca, etc.
25 Córnea: Membrana fibrosa e transparente presa à esclera, constituindo a parte anterior do olho.
26 Leucócitos: Células sangüíneas brancas. Compreendem tanto os leucócitos granulócitos (BASÓFILOS, EOSINÓFILOS e NEUTRÓFILOS) como os não granulócitos (LINFÓCITOS e MONÓCITOS). Sinônimos: Células Brancas do Sangue; Corpúsculos Sanguíneos Brancos; Corpúsculos Brancos Sanguíneos; Corpúsculos Brancos do Sangue; Células Sanguíneas Brancas
27 Líquido amniótico: Fluido viscoso, incolor ou levemente esbranquiçado, que preenche a bolsa amniótica e envolve o embrião durante toda a gestação, protegendo-o contra infecções e choques mecânicos e térmicos.
28 Vilosidades coriônicas: A superfície da bolsa amniótica é recoberta por projeções chamadas vilosidades coriônicas, que penetram no endométrio. Ao redor das vilosidades formam-se lacunas por onde circula o sangue materno. Assim elas permitem trocas de substâncias entre o sangue do embrião, que circula nas vilosidades, e o sangue materno, que circula nessas lacunas. Alimento e oxigênio passam do sangue da mãe para o feto, enquanto excreções e gás carbônico fazem o caminho inverso. As vilosidades coriônicas são formadas a partir de um acúmulo de células oriundas do citotrofoblasto que se projetam para o sinciciotrofoblasto iniciando esse desenvolvimento no final da segunda semana de gestação quando são classificadas como primárias. Nas semanas seguintes, tornam-se ramificadas e se denominam vilosidades coriônicas secundárias e posteriormente, terciárias quando, então, formam a parte funcional da membrana placentária na porção embrionária.
29 Rim: Os rins são órgãos em forma de feijão que filtram o sangue e formam a urina. Os rins são localizados na região posterior do abdômen, um de cada lado da coluna vertebral.
30 Crônico: Descreve algo que existe por longo período de tempo. O oposto de agudo.
31 Expectativa de vida: A expectativa de vida ao nascer é o número de anos que se calcula que um recém-nascido pode viver caso as taxas de mortalidade registradas da população residente, no ano de seu nascimento, permaneçam as mesmas ao longo de sua vida.
32 Osteomalácia: Enfraquecimento e desmineralização dos ossos nos adultos devido a uma deficiência em vitamina D (na criança esta situação denomina-se raquitismo). O crescimento do osso normal requer um aporte adequado de cálcio e fósforo através da alimentação, mas o organismo não consegue absorver estes minerais sem que haja uma quantidade suficiente de vitamina D. O organismo obtém esta vitamina de certos alimentos e da ação da luz solar sobre a pele; a sua carência resulta em amolecimento e enfraquecimento dos ossos, que se tornam vulneráveis a fraturas.
33 Vitamina: Compostos presentes em pequenas quantidades nos diversos alimentos e nutrientes e que são indispensáveis para o desenvolvimento dos processos biológicos normais.
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