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Síndrome do sotaque estrangeiro

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O que é síndrome1 do sotaque estrangeiro?

A síndrome1 do sotaque estrangeiro é uma condição neurológica ou psicológica rara, na qual os pacientes apresentam alterações em sua fala que levam à percepção de que falam sua língua2 nativa com um sotaque estrangeiro. Por exemplo, uma pessoa que nasceu no Brasil pode ser percebida como falando português com um sotaque semelhante ao inglês estadunidense.

Existem poucos casos documentados globalmente, com o primeiro caso registrado em uma mulher atingida durante um bombardeio na Noruega, em 1941, que passou a falar norueguês com sotaque alemão. No Brasil, o músico Édson Oliveira, conhecido como Russo, é um dos poucos casos relatados.

Quais são as causas da síndrome1 do sotaque estrangeiro?

Geralmente, a síndrome1 do sotaque estrangeiro ocorre:

Qual é o substrato fisiopatológico da síndrome1 do sotaque estrangeiro?

O substrato fisiopatológico da síndrome1 do sotaque estrangeiro envolve disfunções em áreas cerebrais relacionadas ao controle motor da fala, resultantes de lesões11 neurológicas ou, em casos raros, fatores psicológicos. Essas disfunções geralmente envolvem áreas como:

  • o córtex motor primário e áreas motoras suplementares (especialmente no hemisfério esquerdo), responsáveis pela articulação12 e coordenação motora;
  • a área de Broca13 (lobo frontal14), envolvida na produção da linguagem;
  • o cerebelo15, que modula a prosódia (ritmo, entonação e acentuação da fala);
  • e os gânglios16 da base, importantes no controle motor fino da fala.

Em casos psicogênicos, fatores emocionais ou estresse podem alterar a percepção e produção do sotaque, sem lesão17 estrutural evidente. Resumidamente, a síndrome1 decorre de alterações nas redes neurais motoras da fala, criando a percepção de um sotaque estrangeiro.

Saiba mais sobre "Fonoaudiologia", "Disartria18" e "Dislalia".

Quais são as características clínicas da síndrome1 do sotaque estrangeiro?

A síndrome1 é caracterizada pela presença de um sotaque percebido como estrangeiro para a língua2 nativa do paciente, frequentemente estranho tanto para o paciente quanto para os ouvintes. As alterações principais envolvem a prosódia (ritmo e entonação) e a articulação12 (produção dos sons), causadas por déficits motores. Geralmente, não há perda de compreensão ou fluência linguística.

Existem três tipos principais:

  • Estrutural: associada a danos em áreas cerebrais que controlam os músculos19 da fala.
  • Funcional ou psicogênica20: ocorre sem alterações cerebrais detectáveis e pode surgir após episódios convulsivos, enxaquecas21 ou transtornos mentais.
  • Mista: combinação dos tipos estrutural e funcional, frequentemente relacionada a diferenças no desenvolvimento ou atividade cerebral.

Como o médico diagnostica a síndrome1 do sotaque estrangeiro?

O diagnóstico22 é essencialmente clínico, baseado no histórico do paciente, avaliação neurológica, características da fala e exclusão de outras condições semelhantes. Os passos diagnósticos incluem:

  • Histórico clínico detalhado (início dos sintomas23, eventos neurológicos prévios, uso de medicamentos e fatores psicológicos).
  • Avaliação neurológica com exames de imagem (ressonância magnética24 ou tomografia computadorizada25) para identificar possíveis lesões11 cerebrais.
  • Avaliação fonoaudiológica para analisar prosódia, articulação12 e ritmo da fala, diferenciando a síndrome1 do sotaque estrangeiro de outras condições, como disartria18 ou apraxia.
  • Avaliação psiquiátrica para descartar transtornos conversivos ou fatores emocionais.
  • Exames complementares, como eletroencefalograma26 (EEG) e testes neuropsicológicos para avaliar funções cognitivas e linguísticas.

Como o médico trata a síndrome1 do sotaque estrangeiro?

O tratamento da síndrome1 do sotaque estrangeiro depende da causa subjacente, gravidade dos sintomas23 e impacto psicossocial. Não existe cura definitiva, porém o manejo clínico envolve avaliação e tratamento específicos das causas neurológicas ou estruturais. O acompanhamento com um fonoaudiólogo é essencial para reabilitar os padrões da fala por meio de exercícios direcionados para melhorar articulação12, prosódia e controle respiratório.

Em certos casos, se houver uma lesão17 estrutural cerebral identificada, pode ser necessária intervenção cirúrgica. Além disso, devido ao impacto emocional e social significativo dessa condição, o acompanhamento psicológico ou psicoterapia pode ajudar os pacientes a lidar melhor com as alterações vocais e os desafios decorrentes das mudanças em sua identidade vocal.

Como evolui a síndrome1 do sotaque estrangeiro?

O prognóstico27 varia amplamente conforme a causa e a gravidade da síndrome1. Alguns pacientes podem recuperar totalmente a fala original, enquanto outros precisam se adaptar ao novo sotaque permanentemente. O manejo eficaz das causas subjacentes é fundamental para melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Veja também sobre "Saúde28 mental", "Transtornos dissociativos" e "Concussão cerebral29".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da U.S. National Library of Medicine e da Cleveland Clinic.

ABCMED, 2025. Síndrome do sotaque estrangeiro. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/sinais.-sintomas-e-doencas/1490905/sindrome-do-sotaque-estrangeiro.htm>. Acesso em: 14 jun. 2025.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Síndrome: Conjunto de sinais e sintomas que se encontram associados a uma entidade conhecida ou não.
2 Língua:
3 Traumatismo: Lesão produzida pela ação de um agente vulnerante físico, químico ou biológico e etc. sobre uma ou várias partes do organismo.
4 Acidente vascular cerebral: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
5 Degenerativas: Relativas a ou que provocam degeneração.
6 Esclerose múltipla: Doença degenerativa que afeta o sistema nervoso, produzida pela alteração na camada de mielina. Caracteriza-se por alterações sensitivas e de motilidade que evoluem através do tempo produzindo dano neurológico progressivo.
7 Paralisia: Perda total da força muscular que produz incapacidade para realizar movimentos nos setores afetados. Pode ser produzida por doença neurológica, muscular, tóxica, metabólica ou ser uma combinação das mesmas.
8 Esquizofrenia: Doença mental do grupo das Psicoses, caracterizada por alterações emocionais, de conduta e intelectuais, caracterizadas por uma relação pobre com o meio social, desorganização do pensamento, alucinações auditivas, etc.
9 Epilepsia: Alteração temporária e reversível do funcionamento cerebral, que não tenha sido causada por febre, drogas ou distúrbios metabólicos. Durante alguns segundos ou minutos, uma parte do cérebro emite sinais incorretos, que podem ficar restritos a esse local ou espalhar-se. Quando restritos, a crise será chamada crise epiléptica parcial; quando envolverem os dois hemisférios cerebrais, será uma crise epiléptica generalizada. O paciente pode ter distorções de percepção, movimentos descontrolados de uma parte do corpo, medo repentino, desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente e até perder a consciência - neste caso é chamada de crise complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficits de memória. Existem outros tipos de crises epilépticas.
10 Enxaqueca: Sinônimo de migrânea. É a cefaléia cuja prevalência varia de 10 a 20% da população. Ocorre principalmente em mulheres com uma proporção homem:mulher de 1:2-3. As razões para esta preponderância feminina ainda não estão bem entendidas, mas suspeita-se de alguma relação com o hormônio feminino. Resulta da pressão exercida por vasos sangüíneos dilatados no tecido nervoso cerebral subjacente. O tratamento da enxaqueca envolve normalmente drogas vaso-constritoras para aliviar esta pressão. No entanto, esta medicamentação pode causar efeitos secundários no sistema circulatório e é desaconselhada a pessoas com problemas cardiológicos.
11 Lesões: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
12 Articulação: 1. Ponto de contato, de junção de duas partes do corpo ou de dois ou mais ossos. 2. Ponto de conexão entre dois órgãos ou segmentos de um mesmo órgão ou estrutura, que geralmente dá flexibilidade e facilita a separação das partes. 3. Ato ou efeito de articular-se. 4. Conjunto dos movimentos dos órgãos fonadores (articuladores) para a produção dos sons da linguagem.
13 Área de Broca: Parte anterior do hemisfério cerebral.
14 Lobo frontal:
15 Cerebelo: Parte do encéfalo que fica atrás do TRONCO ENCEFÁLICO, na base posterior do crânio (FOSSA CRANIANA POSTERIOR). Também conhecido como “encéfalo pequeno“, com convoluções semelhantes àquelas do CÓRTEX CEREBRAL, substância branca interna e núcleos cerebelares profundos. Sua função é coordenar movimentos voluntários, manter o equilíbrio e aprender habilidades motoras.
16 Gânglios: 1. Na anatomia geral, são corpos arredondados de tamanho e estrutura variáveis; nodos, nódulos. 2. Em patologia, são pequenos tumores císticos localizados em uma bainha tendinosa ou em uma cápsula articular, especialmente nas mãos, punhos e pés.
17 Lesão: 1. Ato ou efeito de lesar (-se). 2. Em medicina, ferimento ou traumatismo. 3. Em patologia, qualquer alteração patológica ou traumática de um tecido, especialmente quando acarreta perda de função de uma parte do corpo. Ou também, um dos pontos de manifestação de uma doença sistêmica. 4. Em termos jurídicos, prejuízo sofrido por uma das partes contratantes que dá mais do que recebe, em virtude de erros de apreciação ou devido a elementos circunstanciais. Ou também, em direito penal, ofensa, dano à integridade física de alguém.
18 Disartria: Distúrbio neurológico caracterizado pela incapacidade de articular as palavras de maneira correta (dificuldade na produção de fonemas). Entre as suas principais causas estão as lesões nos nervos centrais e as doenças neuromusculares.
19 Músculos: Tecidos contráteis que produzem movimentos nos animais.
20 Psicogênica: 1. Relativo à psicogenia ou psicogênese, ou seja, relativo à origem e desenvolvimento do psiquismo. 2. Relativo a ou próprio de fenômenos somáticos com origem psíquica.
21 Enxaquecas: Sinônimo de migrânea. É a cefaléia cuja prevalência varia de 10 a 20% da população. Ocorre principalmente em mulheres com uma proporção homem:mulher de 1:2-3. As razões para esta preponderância feminina ainda não estão bem entendidas, mas suspeita-se de alguma relação com o hormônio feminino. Resulta da pressão exercida por vasos sangüíneos dilatados no tecido nervoso cerebral subjacente. O tratamento da enxaqueca envolve normalmente drogas vaso-constritoras para aliviar esta pressão. No entanto, esta medicamentação pode causar efeitos secundários no sistema circulatório e é desaconselhada a pessoas com problemas cardiológicos.
22 Diagnóstico: Determinação de uma doença a partir dos seus sinais e sintomas.
23 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
24 Ressonância magnética: Exame que fornece imagens em alta definição dos órgãos internos do corpo através da utilização de um campo magnético.
25 Tomografia computadorizada: Exame capaz de obter imagens em tons de cinza de “fatias†de partes do corpo ou de órgãos selecionados, as quais são geradas pelo processamento por um computador de uma sucessão de imagens de raios X de alta resolução em diversos segmentos sucessivos de partes do corpo ou de órgãos.
26 Eletroencefalograma: Registro da atividade elétrica cerebral mediante a utilização de eletrodos cutâneos que recebem e amplificam os potenciais gerados em cada região encefálica.
27 Prognóstico: 1. Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, em relação à duração, à evolução e ao termo de uma doença. Em medicina, predição do curso ou do resultado provável de uma doença; prognose. 2. Predição, presságio, profecia relativos a qualquer assunto. 3. Relativo a prognose. 4. Que traça o provável desenvolvimento futuro ou o resultado de um processo. 5. Que pode indicar acontecimentos futuros (diz-se de sinal, sintoma, indício, etc.). 6. No uso pejorativo, pernóstico, doutoral, professoral; prognóstico.
28 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
29 Concussão cerebral: Perda imediata da consciência no momento de um trauma, mas recuperável em 24 horas ou menos e sem seqüelas. Acompanha-se de amnésia retrógrada e pós-traumática, isto é, o paciente não se recorda do trauma, dos momentos que o antecederam, nem de eventos imediatamente posteriores. Hoje a tendência é considerar a concussão como resultante de um grau leve de lesão axonal difusa.
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