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Hidropsia fetal - causas, diagnóstico, tratamento, evolução

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O que é hidropsia1 fetal?

Hidropsia1 fetal é uma condição grave que acomete o feto2, definida como acumulação anormal de líquido em tecidos fetais, com consequente edema3 ou derrames cavitários.

Quais são as causas da hidropsia1 fetal?

Até a segunda metade do século XX, acreditava-se que a hidropsia1 era toda ela devida à isoimunização do grupo sanguíneo Rhesus (Rh) do feto2. O reconhecimento mais recente de fatores diferentes levou ao uso do termo hidropsia1 não imune para identificar casos em que a desordem fetal tenha sido causada por outros fatores diferentes.

Antes da imunização4 de rotina de mães Rh-negativas, a maioria dos casos de hidropisia era de fato devido à eritroblastose fetal. Depois dessa imunização4 e do uso de transfusões in utero5, as causas não imunes tornaram-se responsáveis por cerca de 85% dos casos, embora as causas específicas possam ainda permanecer desconhecidas em cerca de 15 a 25% dos casos.

A maioria dos pacientes com hidropsia1 diagnosticada no início na vida fetal possui anomalias cromossômicas, enquanto os casos diagnosticados após o segundo trimestre de gestação são causados principalmente por doenças cardiovasculares6. Há inúmeras outras causas que devem ser minuciosamente investigadas pelo médico.

Qual é o mecanismo fisiológico7 da hidropsia1 fetal?

O mecanismo básico para a formação dos acúmulos líquidos é um desequilíbrio da produção de fluidos intersticiais e do retorno linfático8. A acumulação de líquido no feto2 pode resultar de insuficiência cardíaca congestiva9, fluxo linfático8 obstruído ou redução da pressão osmótica10 plasmática.

O feto2 é particularmente suscetível à acumulação de líquidos por causa de sua maior permeabilidade11 capilar12, compartimentos intersticiais compatíveis e vulnerabilidade à pressão venosa no retorno linfático8. Qualquer aumento da pressão venosa contribui para edema3, aumentando a pressão hidrostática13 capilar12 e diminuindo o retorno linfático8.

Se a função renal14 for prejudicada, provoca oligúria15 ou anúria16 e, em seguida, hidropsia1. Além disso, a síntese hepática17 da albumina18 pode ser prejudicada devido à diminuição da perfusão hepática17 e ao aumento da hematopoiese extramedular. Como a albumina18 atua como a proteína plasmática oncoticamente ativa, a hipoalbuminemia19 aumenta o movimento do fluido transcapilar. A hipoproteinemia e a hipoalbuminemia19 são comuns na hidropsia1 humana, e a pressão oncótica20 intravascular21 reduzida tem sido especulada como uma causa primária para o distúrbio. Contudo, algumas pesquisas sugerem que a hipoalbuminemia19 provavelmente não é a única causa para o início da hidropsia1.

Quais são as principais características clínicas da hidropsia1 fetal?

Na hidropsia1 fetal pode-se constatar edema3 de diversos tecidos e derrames líquidos em diversas cavidades orgânicas, incluindo ascite22, derrame23 pleural, derrame23 pericárdico e edema3 da pele24. Em alguns pacientes, também pode estar associada a polihidrâmnios e a edema3 placentário.

Leia sobre "Líquido amniótico25", "Derrame23 pleural", "Baixo peso ao nascer" e "Pré-natal".

Como o médico diagnostica a hidropsia1 fetal?

A hidropsia1 fetal é reconhecida pela primeira vez por exame ultrassonográfico de rotina durante o primeiro ou segundo trimestre de gestação. Coleções de fluidos significativas são facilmente detectadas, mas a acumulação limitada de fluido pode escapar da detecção ultrassonográfica.

Como o médico trata a hidropsia1 fetal?

Se a doença for descoberta durante a gestação, o médico pode recomendar o uso de medicamentos corticoides ou que acelerem o desenvolvimento do bebê ou, conforme o caso, pode recomendar uma cirurgia no feto2 ainda no útero5 para corrigir problemas no coração26 ou nos pulmões27, se estes órgãos estiverem afetados.

Em alguns casos, se o bebê já é viável, pode ser recomendado que o parto seja antecipado, através de uma cesariana. Os bebês28 que sobrevivem devem ser tratados logo após o nascimento, mas o tratamento depende de como ele tenha sido afetado e da gravidade da doença, o que depende da causa da hidropsia1.

Nos casos de hidropsia1 fetal imune ou quando a causa é anemia29 ou infecção30 por vírus31, o tratamento pode ser feito através de transfusões sanguíneas, por exemplo.

Como evolui em geral a hidropsia1 fetal?

Nos casos de hidropsia1 leve a cura pode ser alcançada, no entanto, quando o feto2 é gravemente afetado pode haver um aborto espontâneo ou a morte após o nascimento. A hidropsia1 fetal sempre comporta um mau prognóstico32, especialmente em recém-nascidos prematuros, e é uma condição com alta taxa de mortalidade33 e morbidade34.

O prognóstico32 depende em parte da doença subjacente e em parte da própria hidropsia1. O resultado da evolução da hidropsia1 fetal também depende da idade gestacional ao nascer e do nível de albumina18 sérica. Um parto prematuro com menos de 34 semanas de gestação e um nível de concentração sérica de albumina18 inferior a 2 g/dL são fatores de prognóstico32 negativo para a sobrevivência35. O baixo peso ao nascer e as poucas semanas de gestação são fatores significantes para a morte pós-natal em bebês28 com derrame23 pleural.

Quais são as complicações possíveis da hidropsia1 fetal?

Na hidropsia1 fetal as complicações possíveis variam de acordo com a parte do corpo afetada. As mais graves são quando o líquido encontra-se presente no cérebro36 do bebê, o que pode levar ao mal desenvolvimento de todos os órgãos e sistemas do corpo. No entanto, ela pode afetar somente uma parte do corpo, como os pulmões27, e neste caso somente há complicações respiratórias.

Veja também sobre "Ultrassonografia37 na gravidez38", "Sofrimento fetal" e "Exsanguineotransfusão39 do recém-nascido".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites de Stanford Children's Health e do Boston Children's Hospital.

ABCMED, 2020. Hidropsia fetal - causas, diagnóstico, tratamento, evolução. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/saude-da-crianca/1359993/hidropsia-fetal-causas-diagnostico-tratamento-evolucao.htm>. Acesso em: 19 nov. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Hidropsia: Edema fetal generalizado habitualmente produzido por doença hemolítica. Acumulam-se quantidades anormais de líquido em duas ou mais áreas do corpo de um feto ou de um recém-nascido.
2 Feto: Filhote por nascer de um mamífero vivíparo no período pós-embrionário, depois que as principais estruturas foram delineadas. Em humanos, do filhote por nascer vai do final da oitava semana após a CONCEPÇÃO até o NASCIMENTO, diferente do EMBRIÃO DE MAMÍFERO prematuro.
3 Edema: 1. Inchaço causado pelo excesso de fluidos no organismo. 2. Acúmulo anormal de líquido nos tecidos do organismo, especialmente no tecido conjuntivo.
4 Imunização: Processo mediante o qual se adquire, de forma natural ou artificial, a capacidade de defender-se perante uma determinada agressão bacteriana, viral ou parasitária. O exemplo mais comum de imunização é a vacinação contra diversas doenças (sarampo, coqueluche, gripe, etc.).
5 Útero: Orgão muscular oco (de paredes espessas), na pelve feminina. Constituído pelo fundo (corpo), local de IMPLANTAÇÃO DO EMBRIÃO e DESENVOLVIMENTO FETAL. Além do istmo (na extremidade perineal do fundo), encontra-se o COLO DO ÚTERO (pescoço), que se abre para a VAGINA. Além dos istmos (na extremidade abdominal superior do fundo), encontram-se as TUBAS UTERINAS.
6 Doenças cardiovasculares: Doença do coração e vasos sangüíneos (artérias, veias e capilares).
7 Fisiológico: Relativo à fisiologia. A fisiologia é estudo das funções e do funcionamento normal dos seres vivos, especialmente dos processos físico-químicos que ocorrem nas células, tecidos, órgãos e sistemas dos seres vivos sadios.
8 Linfático: 1. Na histologia, é relativo à linfa, que contém ou que conduz linfa. 2. No sentido figurado, por extensão de sentido, a que falta vida, vigor, energia (diz-se de indivíduo); apático. 3. Na história da medicina, na classificação hipocrática dos quatro temperamentos de acordo com o humor dominante, que ou aquele que, pela lividez das carnes, flacidez dos músculos, apatia e debilidade demonstradas no comportamento, atesta a predominância de linfa.
9 Insuficiência Cardíaca Congestiva: É uma incapacidade do coração para efetuar as suas funções de forma adequada como conseqüência de enfermidades do próprio coração ou de outros órgãos. O músculo cardíaco vai diminuindo sua força para bombear o sangue para todo o organismo.
10 Osmótica: Relativo à osmose, ou seja, ao fluxo do solvente de uma solução pouco concentrada, em direção a outra mais concentrada, que se dá através de uma membrana semipermeável.
11 Permeabilidade: Qualidade dos corpos que deixam passar através de seus poros outros corpos (fluidos, líquidos, gases, etc.).
12 Capilar: 1. Na medicina, diz-se de ou tubo endotelial muito fino que liga a circulação arterial à venosa. Qualquer vaso. 2. Na física, diz-se de ou tubo, em geral de vidro, cujo diâmetro interno é diminuto. 3. Relativo a cabelo, fino como fio de cabelo.
13 Hidrostática: Parte da física que estuda os líquidos e os gases em repouso, sob ação de um campo gravitacional constante, como ocorre quando estamos na superfície da Terra.
14 Renal: Relacionado aos rins. Uma doença renal é uma doença dos rins. Insuficiência renal significa que os rins pararam de funcionar.
15 Oligúria: Clinicamente, a oligúria é o débito urinário menor de 400 ml/24 horas ou menor de 30 ml/hora.
16 Anúria: Clinicamente, a anúria é o débito urinário menor de 400 ml/24 horas.
17 Hepática: Relativa a ou que forma, constitui ou faz parte do fígado.
18 Albumina: Proteína encontrada no plasma, com importantes funções, como equilíbrio osmótico, transporte de substâncias, etc.
19 Hipoalbuminemia: Queda da albumina no sangue.
20 Pressão oncótica: É a pressão osmótica gerada pelas proteínas no plasma sanguíneo. No plasma sanguíneo, os componentes dissolvidos possuem uma pressão osmótica. A diferença entre a pressão osmótica exercida pelas proteínas plasmáticas (pressão osmótica coloidal) no plasma sanguíneo e a pressão exercida pelas proteínas fluidas no tecido é chamada de pressão oncótica.
21 Intravascular: Relativo ao interior dos vasos sanguíneos e linfáticos, ou que ali se situa ou ocorre.
22 Ascite: Acúmulo anormal de líquido na cavidade peritoneal. Pode estar associada a diferentes doenças como cirrose, insuficiência cardíaca, câncer de ovário, esquistossomose, etc.
23 Derrame: Conhecido popularmente como derrame cerebral, o acidente vascular cerebral (AVC) ou encefálico é uma doença que consiste na interrupção súbita do suprimento de sangue com oxigênio e nutrientes para o cérebro, lesando células nervosas, o que pode resultar em graves conseqüências, como inabilidade para falar ou mover partes do corpo. Há dois tipos de derrame, o isquêmico e o hemorrágico.
24 Pele: Camada externa do corpo, que o protege do meio ambiente. Composta por DERME e EPIDERME.
25 Líquido amniótico: Fluido viscoso, incolor ou levemente esbranquiçado, que preenche a bolsa amniótica e envolve o embrião durante toda a gestação, protegendo-o contra infecções e choques mecânicos e térmicos.
26 Coração: Órgão muscular, oco, que mantém a circulação sangüínea.
27 Pulmões: Órgãos do sistema respiratório situados na cavidade torácica e responsáveis pelas trocas gasosas entre o ambiente e o sangue. São em número de dois, possuem forma piramidal, têm consistência esponjosa e medem cerca de 25 cm de comprimento. Os pulmões humanos são divididos em segmentos denominados lobos. O pulmão esquerdo possui dois lobos e o direito possui três. Os pulmões são compostos de brônquios que se dividem em bronquíolos e alvéolos pulmonares. Nos alvéolos se dão as trocas gasosas ou hematose pulmonar entre o meio ambiente e o corpo, com a entrada de oxigênio na hemoglobina do sangue (formando a oxiemoglobina) e saída do gás carbônico ou dióxido de carbono (que vem da célula como carboemoglobina) dos capilares para o alvéolo.
28 Bebês: Lactentes. Inclui o período neonatal e se estende até 1 ano de idade (12 meses).
29 Anemia: Condição na qual o número de células vermelhas do sangue está abaixo do considerado normal para a idade, resultando em menor oxigenação para as células do organismo.
30 Infecção: Doença produzida pela invasão de um germe (bactéria, vírus, fungo, etc.) em um organismo superior. Como conseqüência da mesma podem ser produzidas alterações na estrutura ou funcionamento dos tecidos comprometidos, ocasionando febre, queda do estado geral, e inúmeros sintomas que dependem do tipo de germe e da reação imunológica perante o mesmo.
31 Vírus: Pequeno microorganismo capaz de infectar uma célula de um organismo superior e replicar-se utilizando os elementos celulares do hospedeiro. São capazes de causar múltiplas doenças, desde um resfriado comum até a AIDS.
32 Prognóstico: 1. Juízo médico, baseado no diagnóstico e nas possibilidades terapêuticas, em relação à duração, à evolução e ao termo de uma doença. Em medicina, predição do curso ou do resultado provável de uma doença; prognose. 2. Predição, presságio, profecia relativos a qualquer assunto. 3. Relativo a prognose. 4. Que traça o provável desenvolvimento futuro ou o resultado de um processo. 5. Que pode indicar acontecimentos futuros (diz-se de sinal, sintoma, indício, etc.). 6. No uso pejorativo, pernóstico, doutoral, professoral; prognóstico.
33 Mortalidade: A taxa de mortalidade ou coeficiente de mortalidade é um dado demográfico do número de óbitos, geralmente para cada mil habitantes em uma dada região, em um determinado período de tempo.
34 Morbidade: Morbidade ou morbilidade é a taxa de portadores de determinada doença em relação à população total estudada, em determinado local e em determinado momento.
35 Sobrevivência: 1. Ato ou efeito de sobreviver, de continuar a viver ou a existir. 2. Característica, condição ou virtude daquele ou daquilo que subsiste a um outro. Condição ou qualidade de quem ainda vive após a morte de outra pessoa. 3. Sequência ininterrupta de algo; o que subsiste de (alguma coisa remota no tempo); continuidade, persistência, duração.
36 Cérebro: Derivado do TELENCÉFALO, o cérebro é composto dos hemisférios direito e esquerdo. Cada hemisfério contém um córtex cerebral exterior e gânglios basais subcorticais. O cérebro inclui todas as partes dentro do crânio exceto MEDULA OBLONGA, PONTE e CEREBELO. As funções cerebrais incluem as atividades sensório-motora, emocional e intelectual.
37 Ultrassonografia: Ultrassonografia ou ecografia é um exame complementar que usa o eco produzido pelo som para observar em tempo real as reflexões produzidas pelas estruturas internas do organismo (órgãos internos). Os aparelhos de ultrassonografia utilizam uma frequência variada, indo de 2 até 14 MHz, emitindo através de uma fonte de cristal que fica em contato com a pele e recebendo os ecos gerados, os quais são interpretados através de computação gráfica.
38 Gravidez: Condição de ter um embrião ou feto em desenvolvimento no trato reprodutivo feminino após a união de ovo e espermatozóide.
39 Exsanguineotransfusão: Troca lenta e sucessiva de um volume de sangue de uma pessoa e reposição com uma quantidade igual de sangue compatível doado.

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