A cura pela fala
O que é a cura pela fala?
Há muito se reconhece que quando uma pessoa enfrenta um problema psicológico, ela se sente aliviada ao falar sobre ele, mesmo que de maneira informal e sem embasamento científico. É comum observar que indivíduos ansiosos tendem a falar excessivamente na tentativa de aliviar sua ansiedade. A urgência1 de falar é tão grande que, frequentemente, as pessoas ultrapassam limites razoáveis ou, após o momento mais intenso de sofrimento, arrependem-se do que disseram.
Sigmund Freud foi quem conferiu status científico a esse fenômeno, possivelmente influenciado por sua paciente Anna O. Ela relatava sentir-se muito melhor após falar sobre seus problemas durante as sessões de hipnose, comparando suas falas a uma "limpeza de chaminés" - uma metáfora para ilustrar como a fala poderia desobstruir canais psicológicos. Por esse motivo, a psicanálise ficou conhecida como "a cura pela fala". No entanto, é importante notar que o mesmo princípio se aplica a várias outras modalidades psicoterápicas.
Por que fazer psicoterapia?
A psicoterapia (do grego psykhé = mente + therapeia = ato de curar) é um tratamento que visa curar distúrbios mentais, transtornos psicológicos e restaurar a saúde2 mental das pessoas. Geralmente, é recomendada para indivíduos que sofrem de problemas psíquicos ou estão vivenciando conflitos emocionais. É um processo focado em auxiliar uma pessoa, casal ou grupo a resolver questões emocionais.
Além disso, a psicoterapia conduz o paciente a um maior autoconhecimento, possibilitando melhor autocontrole. Isso é alcançado principalmente através do diálogo. Contudo, não se trata de uma conversa casual ou um simples "bate-papo". É um diálogo estruturado por regras e técnicas específicas, capazes de produzir mudanças no estado mental do paciente.
É importante distinguir a psicoterapia do aconselhamento. Embora o aconselhamento seja uma prática legítima da psicologia e adequada em certas situações, difere da psicoterapia. Na psicoterapia, o profissional não assume uma postura professoral nem oferece soluções diretas.
Existem diversas abordagens psicoterápicas, como a terapia cognitivo3-comportamental, psicanálise, psicoterapia junguiana, terapia analítico-comportamental, Gestalt-terapia e psicologia positiva. Cada uma possui regras e técnicas próprias, mas compartilham elementos comuns.
Historicamente, o médico escocês James Braid (1795-1860) foi um dos pioneiros a utilizar o termo "psicoterapia" no sentido que conhecemos hoje.
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O terapeuta escuta
Durante cada sessão, o paciente fala livremente, sem censuras, sobre qualquer assunto que lhe venha à mente. Não há temas pré-determinados nem hierarquia de importância entre os assuntos. O terapeuta, por sua vez, escuta atentamente tudo o que o paciente diz, sem priorizar nenhum aspecto específico.
Por exemplo, falar sobre um jogo de futebol pode revelar tanto sobre a estrutura emocional de uma pessoa quanto discutir um desentendimento familiar. O ato de falar (e ser ouvido) permite que a pessoa ressignifique suas experiências, atribuindo novos sentidos aos seus sofrimentos.
Além do conteúdo temático, a forma como o paciente se comunica também revela modelos formais de comunicação da pessoa, que podem ser cruciais na avaliação de seus problemas psíquicos.
O terapeuta fala
Quando o terapeuta fala, ele deve se ater ao que foi dito pelo paciente, evitando introduzir novos assuntos ou aspectos não mencionados. A fala do terapeuta deve ser objetiva e adequada ao nível de compreensão do paciente. Explicações teóricas ou expressões técnicas são geralmente contraindicadas e podem ser prejudiciais ao processo terapêutico.
O terapeuta não deve falar sobre si mesmo, suas experiências pessoais ou circunstâncias, nem se colocar como modelo para o paciente. É importante evitar julgamentos, aceitando com naturalidade tudo o que o paciente diz, sem manifestar aprovação ou desaprovação explícitas.
Ao intervir, o terapeuta deve usar uma linguagem que expresse possibilidades, evitando afirmações categóricas. Expressões como "talvez...", "será que...?", "quem sabe se...?" são mais adequadas que afirmações peremptórias. Uma técnica útil é repetir a última palavra ou expressão dita pelo paciente, o que geralmente o estimula a continuar falando.
O terapeuta induz o paciente a refletir
O objetivo principal da psicoterapia é que o paciente fale consigo mesmo, em vez de o terapeuta falar pelo ou para o paciente. Em outras palavras, o terapeuta ajuda o paciente a refletir. As verdadeiras mudanças psicológicas ocorrem de dentro para fora e não de fora para dentro.
O papel do terapeuta não é oferecer soluções prontas, mas ajudar o paciente a encontrar suas próprias soluções. Isso só é possível se o paciente conseguir ver seus problemas sob uma nova perspectiva.
Por exemplo, se um paciente diz: “Não tenho paciência com as pessoas que andam devagar à minha frente, como se estivessem passeando”, o terapeuta poderia responder: "Será que não é porque você sente inveja delas?", em vez de afirmar categoricamente: "Isto é porque você sente inveja delas". Esta abordagem pode levar o paciente a perceber que sua irritação pode ser secundária a um sentimento de inveja.
O terapeuta deve manter absoluto sigilo
A confidencialidade é um princípio fundamental na psicoterapia. O terapeuta deve manter estrita obediência ao sigilo profissional. Para pacientes4 adultos e responsáveis, praticamente nenhum argumento justifica a quebra do sigilo das sessões.
Exceções podem ser feitas em casos envolvendo crianças muito pequenas ou pacientes com quadros psicóticos graves, onde a realidade está seriamente comprometida. Nesses casos, a rigor, o tratamento nem sempre pode ser classificado como psicoterapia no sentido estrito.
Mesmo nessas situações excepcionais, qualquer comunicação com terceiros deve, sempre que possível, ser feita com o consentimento do paciente e em sua presença. O código de ética da Psicologia é muito claro quanto às questões de confidencialidade, e essas diretrizes são rigorosamente respeitadas pelos profissionais da área.
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Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente do site da Mayo Clinic.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.