Distinções entre sintomas físicos e psicológicos
A questão das distinções entre sintomas1 físicos e psicológicos
Muito frequentemente os médicos se veem às voltas com a questão de decidir se uma determinada queixa corresponde a alguma alteração física de fato ou se, embora fisicamente referida, é algo de origem psicológica, sem correspondente somático. Em geral, dada a evolução tecnológica atual, esta distinção é feita por exclusão. Ou seja, se todos os exames solicitados pelo médico em vista de uma queixa física são negativos, a situação é declarada como de natureza psicológica.
No entanto, algumas características das queixas podem, desde o início, sugerir essa natureza psicológica. A apuração de tais características depende, porém, de que o paciente possa ser ouvido atentamente, o que nem sempre é possível no atual sistema de assistência médica.
Há muito, a Medicina deixou de ser uma "Medicina de ouvir" para tornar-se uma "Medicina de ver". Ao invés de escutar o paciente com atenção, o médico atarefado da atualidade se volta para os resultados de exames e imagens, dispensando parte do diálogo. Não se pode negar que essa evolução trouxe também ganhos importantes, porém à custa de abrir mão2 dessa outra valiosa dimensão do diagnóstico3 e da relação médico-paciente.
Em parte, o diagnóstico3 por exclusão tem também sua razão de ser, já que o médico não pode correr o risco de atribuir uma natureza psicológica onde exista uma alteração orgânica definida ou mesmo grave que ameace a vida. Uma dor no peito4, por exemplo, tanto pode se dever à ansiedade como à angina5, e nem sempre é fácil distinguir entre elas. No entanto, a compreensão dessas distinções pode agregar mais certezas ao julgamento médico.
Por que é difícil fazer distinções entre sintomas1 físicos e psicológicos?
Os pesquisadores ainda estão algo incertos sobre a maneira como o corpo e a mente relacionam-se entre si. Todo sintoma6 tem duas vertentes, uma física, outra psicológica: a dor é um intenso desconforto psicológico e desperta uma série de reflexos orgânicos, os músculos7 se enrijecem quando se está com raiva8, verte-se lágrimas quando se está triste, respira-se com mais dificuldade quando se está ansioso, o coração9 bate mais rapidamente quando se está com medo, etc.
É possível que o equilíbrio entre essas duas vertentes varie constitucionalmente, em certa medida determinado pela genética. Assim, os sintomas1 consequentes de uma enfermidade são reversivelmente sentidos na esfera física e psicológica, afetando principalmente os sistemas digestivo, nervoso e reprodutivo.
Talvez seja uma característica pessoal que os sintomas1 sejam prevalentemente ou até exclusivamente referidos em um desses dois campos.
É importante que os médicos acompanhem qualquer queixa de um paciente ao longo do tempo e não chegue a conclusões precipitadas, que podem até mesmo colocar a vida em risco. Assim, podem ter certeza do tipo de sintoma6 a que as queixa se referem, para o devido cuidado e conforto seja dado ao paciente, independente de sua condição.
Quais são as principais distinções clínicas entre sintomas1 físicos e psicológicos?
Nenhuma distinção é absoluta nem idêntica em dois ou mais pacientes. Entretanto, tomadas em seu conjunto, elas assumem um alto grau de certeza.
- Os sintomas1 físicos são mais bem delimitados no tempo e no espaço que os sintomas1 psicológicos. Os pacientes conseguem precisar melhor quando começaram, quando aliviam ou agravam, em que consistem (dor, dormência10, descoloração, etc.) e onde se localizam. Os sintomas1 de natureza psíquica são mais vagos na sua caracterização e imprecisos na sua localização, os pacientes se referem a eles como “um incômodo” ou “uma sensação esquisita”.
- Os sintomas1 físicos oscilam de acordo com estados ou condições fisiológicas11: aumentam ou diminuem com a alimentação, o sono, os exercícios, etc. Já os sintomas1 psicológicos são mais dependentes de estados mentais (ansiedade, estresse, depressão, etc.) gerados ou agravados por acontecimentos externos.
- Os pacientes são mais “aderidos” aos sintomas1 psicológicos que aos físicos. Falam mais e mais frequentemente sobre eles, mesmo em circunstâncias em que isso não parece cabível. Muitas vezes eles se tornam o assunto dominante do discurso desses pacientes. Ao contrário, muitos pacientes com problemas físicos não gostam de se queixar ou inclusive omitem suas queixas. Em resumo, os pacientes parecem ter “medo” dos sintomas1 físicos e “gostar” dos sintomas1 psicológicos.
- Nenhum achado laboratorial existe no caso de sintomas1 de natureza psicológica ou um eventual achado inesperado geralmente não guarda relação com os sintomas1 referidos.
- Os sintomas1 físicos tendem a ser recusados como limitantes de atividades cotidianas e normalmente os pacientes se aventuram em atividades que deviam ser vetadas a eles, enquanto os sintomas1 psicológicos são, ao contrário, invocados com essa finalidade. Os pacientes que sofrem de sintomas1 psicológicos procuram explorar mais os benefícios secundários emocionais de suas queixas que aqueles sofrendo de sintomas1 físicos.
Leia sobre "Ganho secundário", "Insônia", "Maneiras de lidar com o estresse" e "Somatização12".
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.