Retorno à rotina no pós pandemia
Considerações gerais
Os gráficos de incidências e mortes da Covid-19 subiam sem parar, até atingirem um pico e começarem a descer. As tendências se inverteram: uma setinha para cima passou a ser uma setinha para baixo. Assim também, mas de maneira inversa, se dá com o ânimo das pessoas. De sentimentos “para baixo”, como apreensão, medo, isolamento, pessimismo e até desespero de alguns, passamos a outros sentimentos “para cima”, de boas expectativas, confiança, maior integração e otimismo.
E tudo isso se reflete no comportamento e atividade das pessoas: (1) de modo positivo, quando essas novas perspectivas são vivenciadas com moderação e razoabilidade; (2) de modo muitas vezes negativo quando são vivenciadas com uma euforia desmedida.
As pessoas devem viver a alegria de verem as situações melhorando, mas estarem cientes de que a pandemia1 ainda não acabou completamente. Ainda há pessoas morrendo, embora em menor número, e algumas medidas de proteção continuam sendo necessárias.
De um ponto de vista prático, as medidas restritivas estão sendo abrandadas em todos os lugares onde a vacinação está muito adiantada, e as contaminações e mortes caíram muito: os principais eventos esportivos estão reabrindo para multidões, restaurantes antes fechados estão voltando a funcionar, as pessoas estão saindo para encontros sem máscara, as viagens aéreas quase voltaram aos níveis pré-pandêmicos, as escolas estão voltando às aulas presenciais e muitos trabalhadores que foram postos em home office estão de volta a seus lugares originais de trabalho.
E tudo com a bênção das agências nacionais de saúde2, pelo menos para pessoas vacinadas.
Veja mais sobre "Eficácia das vacinas em uso contra a COVID-19", "Reações às vacinas contra a covid-19" e "Anticorpos3 anti-SARS-COV-2".
Como as pessoas reagiram (e ainda reagem) à pandemia1?
O mais comum é que sintam medo de se contaminarem, de ficarem gravemente doentes, de morrer ou de contaminar os outros, e das repercussões econômicas envolvidas. A obrigação de uma série de novos hábitos e medidas pode também contribuir para a intensificação dessa situação.
Os quadros mentais associados mais comuns são:
- ansiedade generalizada;
- reações de pânico;
- depressão;
- angústia;
- comportamentos obsessivos;
- comportamentos de acumulação;
- paranoia;
- reações exageradas de evitação;
- sensação de desesperança;
- ideação suicida;
- e até atos consumados de suicídio.
Algumas dessas reações podem, a princípio, ser confundidas com comportamentos normais, esperados diante das circunstâncias, outras respostas são claramente anômalas e prejudiciais.
Algumas pessoas mais tomadas por um medo quase pânico ou com alto risco para a doença se enclausuraram dentro de casa e deixaram até mesmo de fazer atividades que anteriormente tinham como importantes: comparecer a médicos e dentistas, visitar familiares ou amigos, viajar, etc.
Alguns autores chegaram a chamar esse medo excessivo de sair de casa de Síndrome4 da Cabana. A síndrome4 tanto traz uma série de distúrbios fisiológicos funcionais (sono, apetite, sudorese5, taquicardia6, etc.), como psicológicos (irritabilidade, angústia, depressão, etc.). Para alguns, esse tipo de acontecimento pode ser um gatilho para disparar outras condições em latência7.
Os efeitos do isolamento
A pandemia1 trouxe o distanciamento social, a alteração das rotinas de trabalho, a diminuição da renda e, muitas vezes, perdas de familiares. Tudo isso alterou em muito o hábito das pessoas. Por um lado, fez dobrar os casos de desentendimentos familiares e de depressão, aumentou em até 80% os casos de ansiedade e estresse e provocou até suicídio, segundo alguns informes.
Por outro, promoveu maior integração entre as pessoas, aumentou a busca por animais de estimação e comportamentos positivos de maior sociabilidade, etc. Pais puderam conviver mais integralmente com seus filhos e a vida caseira acabou sendo mais valorizada.
O retorno à rotina
Atualmente, como decorrência do avanço na vacinação e da diminuição de casos e da redução da ocorrência de mortes, está havendo uma progressiva flexibilização das medidas restritivas. Alguns aspectos da vida vão aos poucos voltando à rotina, sem voltar integralmente e sem retornar exatamente ao que eram antes da pandemia1: alguns melhores; alguns piores.
Assim como as guerras e as catástrofes, a pandemia1 trouxe desgraças e ensinamentos que afetaram a maneira como as pessoas enxergam a vida. As desgraças precisam ser superadas e deixadas no passado e os ensinamentos precisam ser assimilados e aproveitados para o futuro.
A pandemia1 criou o hábito de higienizar mais frequentemente as mãos8, expôs mais a vulnerabilidade dos idosos e a fragilidade das crianças, limitou o consumo dos supérfluos, criou costumes mais saudáveis de se alimentar, motivou uma melhor organização da vida, permitiu uma maior dedicação às tarefas domésticas e o surgimento a novos hobbies, ensinou a controlar melhor a ansiedade e desenvolveu o espírito de dar ou pedir ajuda.
No entanto, há uma diferença entre ver a questão do ponto de vista social ou individual. Para o administrador da saúde2 pública, passar de mais de 4.000 mortes/dia para menos de 400 mortes/dia significa uma melhoria espetacular, mas para a pessoa individualmente fica sempre o questionamento se ela não poderá estar incluída entre esses 400. Ou seja, as apreensões diminuíram, mas não acabaram.
Certamente, nem todas as coisas modificadas em função da pandemia1 serão abolidas quando do final dela. Continuará havendo uma maior percentagem de trabalho remoto, algumas aulas continuarão e ser online e a telemedicina parece ter conquistado seu território de maneira irreversível.
Leia sobre "Tempo de permanência do coronavírus nas superfícies", "Uso de máscaras durante a pandemia1 de COVID-19" e "Coronavírus - como uma pessoa se infecta".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da ONU – UNICEF, do Governo Federal - Brasil e da Assembleia Legislativa de São Paulo.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.