Gostou do artigo? Compartilhe!

Saúde mental na pandemia

A+ A- Alterar tamanho da letra
Avalie este artigo

As repercussões psicológicas da atual pandemia1

A pandemia1 de Covid-19 forçou as pessoas a mudarem de súbito seus estilos de vida para novas atitudes e práticas antes impensáveis. Como a capacidade de mudanças e readaptações têm limites, elas levaram muitas pessoas a experimentarem fortes reações, tanto físicas quanto psicológicas, nem sempre saudáveis. As respostas psicológicas mais comuns são ansiedade, medo, depressão, reação de pânico e estresse pós-traumático. Além dessas, registra-se também irritabilidade, intolerância e agressividade.

Essas reações tanto dependem de condições predisponentes individuais como de fatores conjunturais e circunstanciais diversos. No primeiro desses casos, a solução depende fundamentalmente da possibilidade de mudanças psíquicas endógenas. No segundo, do manejo do ambiente.

Algumas situações especiais ocasionadas pela pandemia1

  • Isolamento: a Covid-l9 trouxe a necessidade de que as pessoas se isolem das demais, sobretudo se pertencerem ao grupo de risco2. Muitas pessoas estão passando meses sem sair de casa. Para algumas, de hábitos mais recolhidos, isso pode não representar muita dificuldade, mas para outras, muito dependentes de contato interpessoal, gera uma situação quase insuportável. Por outro lado, a situação tornou-se ainda mais complicada para aqueles que tiveram de cumprir quarentena e para pacientes3 que tiveram que se recuperar em meio a estranhos, longe dos familiares e amigos.
  • Boatos: em meio a incertezas sobre o novo vírus4, proliferam boatos de toda natureza sobre a doença, os tratamentos e as vacinas, os quais ajudam a espalhar a insegurança, o medo ou as falsas expectativas.
  • Crianças pequenas e alguns idosos de idade mais avançada, que mal podem entender o que está acontecendo, têm de ser submetidos a novas regras restritivas, interpretadas então como imposições. Os escolares perderam o convívio diário com a escola e com os colegas.
  • O medo da doença afeta as pessoas de modos diferentes: numas predomina o medo da morte, noutras o medo do isolamento ou dos sintomas5.
  • É grande o número de pessoas que temem como a pandemia1 afetou ou vai afetar seus empregos ou outras fontes de renda.
  • A incerteza sobre como será o pós-pandemia1, em que consistirá o “novo normal” de que tanto se fala. Afinal, algumas atividades tradicionais deixaram de existir e outras novas foram criadas...
Leia sobre "Orientações para isolamento domiciliar de casos de COVID-19", "Uso de máscaras" e "Tempo de permanência do SARS-CoV-2 nas superfícies".

Quais são as repercussões psicológicas da atual pandemia1?

As principais atitudes com as quais as pessoas reagem à Covid-19 e às suas consequências são:

  1. Medo de ficar doente e morrer.
  2. Evitação de procurar um serviço de saúde6 por outros motivos, por receio de se contaminar.
  3. Preocupação com a obtenção de alimentos, remédios ou suprimentos pessoais.
  4. Medo de perder a fonte de renda, por não poder trabalhar ou ser demitido.
  5. Alterações do sono, da concentração nas tarefas diárias ou aparecimento de pensamentos intrusivos.
  6. Sentimentos de desesperança, tédio, solidão e depressão devido ao isolamento.
  7. Raiva7, frustração ou irritabilidade pela perda de autonomia e liberdade pessoal, muitas vezes dirigidas às pessoas próximas.
  8. Medo de ser socialmente excluído (estigmatizado) por ter ficado doente.
  9. Sentir-se impotente em proteger as pessoas próximas.
  10. Medo de ser separado de familiares por motivo de quarentena / isolamento.
  11. Preocupação com a possibilidade do indivíduo ou membros de sua família contraírem a Covid-19.
  12. Receio pelas crianças em casa não receberem cuidados adequados em caso de necessidade de isolamento.
  13. Risco de deterioração de doenças clínicas e de transtornos mentais prévios ou presentes.
  14. Risco de adoecimento de profissionais de saúde6 sem ter substituição adequada.
  15. Prejuízo em processos de luto caso haja restrições de rituais de despedida.
  16. Medo, ansiedade ou outras reações de estresse ligadas a notícias falsas, alarmistas ou sensacionalistas e mesmo ao grande volume de informações desencontradas circulando.

Algumas dicas para diminuir as repercussões psicológicas da pandemia1

Atitudes que podem ajudar a enfrentar as consequências da pandemia1:

  1. Planeje uma rotina: mantenha horários regulares para levantar e deitar; mantenha as rotinas de alimentação e de higiene.
  2. Se estiver em trabalho remoto, faça pausas periódicas no trabalho e se movimente durante esse período.
  3. Identifique pensamentos intrusivos, repetitivos e catastróficos que levam à ansiedade. Aceite que eles existam, mas veja que não necessariamente correspondem à realidade.
  4. Evite ler ou ouvir demais sobre o tema, porque isso mais confunde que esclarece.
  5. Busque fontes oficiais e seguras de informação.
  6. Não discrimine alguém que esteja doente.
  7. Proteja as crianças, sem fomentar nelas o medo ou o pânico. Ofereça espaços para que elas expressem seus medos e fantasias em relação ao tema. Ensine de forma lúdica e simples como elas podem se proteger.
  8. Proteja também os idosos, informando-os sobre os cuidados necessários diante da pandemia1.
  9. Foque em comportamentos preventivos que estão sob seu controle: lavar as mãos8, manter distanciamento social, seguir rigorosamente as recomendações das autoridades de saúde6.
  10. Mantenha o uso das suas medicações regulares, se necessário faça uma consulta médica online.
  11. Verifique onde pode conseguir auxílio para questões práticas, como atendimento médico, serviços de transporte, entrega de alimentos ou outras compras.
  12. Acione seus contatos se precisar de ajuda.
  13. Evite o uso de bebidas alcoólicas e outras drogas.
  14. Pratique atividades relaxantes, como meditação, escutar música, assistir filmes, ler livros, etc.
  15. Faça cursos online.
  16. Organize armários, separe roupas e objetos para doação, faça aqueles pequenos reparos em casa, arrume fotos, limpe caixas de e-mails, organize arquivos do celular, etc.
  17. Cultive os laços afetivos: aproveite a convivência familiar, mantenha contato com amigos por mensagens, telefone para alguém com quem não conversa há muito tempo.
  18. Busque formas de ajudar a sua comunidade.
  19. Encontre oportunidades para conhecer e divulgar histórias positivas e imagens de pessoas que se recuperaram da doença e querem dividir sua experiência.
  20. Lembre-se que as restrições impostas no momento são também para cuidar de você, de sua família e evitar contaminações.
  21. Aceite o momento presente, mas lembre-se que vai passar, mesmo que demore um pouco.
  22. Reconheça o esforço dos profissionais de saúde6, segurança, limpeza e outros serviços essenciais que continuam trabalhando para que você fique bem.
Veja também sobre "Depressão em mulheres", "Ansiedade" e "Estresse pós-traumático".

 

Referências:

As informações veiculadas neste texto foram extraídas dos sites da World Health Organization, da Biblioteca Virtual de Saúde e do Governo do Distrito Federal.

ABCMED, 2020. Saúde mental na pandemia. Disponível em: <https://www.abc.med.br/p/covid-19/1374663/saude-mental-na-pandemia.htm>. Acesso em: 29 mar. 2024.
Nota ao leitor:
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.

Complementos

1 Pandemia: É uma epidemia de doença infecciosa que se espalha por um ou mais continentes ou por todo o mundo, causando inúmeras mortes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a pandemia pode se iniciar com o aparecimento de uma nova doença na população, quando o agente infecta os humanos, causando doença séria ou quando o agente dissemina facilmente e sustentavelmente entre humanos. Epidemia global.
2 Grupo de risco: Em medicina, um grupo de risco corresponde a uma população sujeita a determinados fatores ou características, que a tornam mais susceptível a ter ou adquirir determinada doença.
3 Para pacientes: Você pode utilizar este texto livremente com seus pacientes, inclusive alterando-o, de acordo com a sua prática e experiência. Conheça todos os materiais Para Pacientes disponíveis para auxiliar, educar e esclarecer seus pacientes, colaborando para a melhoria da relação médico-paciente, reunidos no canal Para Pacientes . As informações contidas neste texto são baseadas em uma compilação feita pela equipe médica da Centralx. Você deve checar e confirmar as informações e divulgá-las para seus pacientes de acordo com seus conhecimentos médicos.
4 Vírus: Pequeno microorganismo capaz de infectar uma célula de um organismo superior e replicar-se utilizando os elementos celulares do hospedeiro. São capazes de causar múltiplas doenças, desde um resfriado comum até a AIDS.
5 Sintomas: Alterações da percepção normal que uma pessoa tem de seu próprio corpo, do seu metabolismo, de suas sensações, podendo ou não ser um indício de doença. Os sintomas são as queixas relatadas pelo paciente mas que só ele consegue perceber. Sintomas são subjetivos, sujeitos à interpretação pessoal. A variabilidade descritiva dos sintomas varia em função da cultura do indivíduo, assim como da valorização que cada pessoa dá às suas próprias percepções.
6 Saúde: 1. Estado de equilíbrio dinâmico entre o organismo e o seu ambiente, o qual mantém as características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais para sua forma de vida e para a sua fase do ciclo vital. 2. Estado de boa disposição física e psíquica; bem-estar. 3. Brinde, saudação que se faz bebendo à saúde de alguém. 4. Força física; robustez, vigor, energia.
7 Raiva: 1. Doença infecciosa freqüentemente mortal, transmitida ao homem através da mordida de animais domésticos e selvagens infectados e que produz uma paralisia progressiva juntamente com um aumento de sensibilidade perante estímulos visuais ou sonoros mínimos. 2. Fúria, ódio.
8 Mãos: Articulação entre os ossos do metacarpo e as falanges.
Gostou do artigo? Compartilhe!

Pergunte diretamente a um especialista

Sua pergunta será enviada aos especialistas do CatalogoMed, veja as dúvidas já respondidas.