Tratamento cirúrgico da epilepsia
O que é epilepsia1?
As epilepsias são distúrbios do sistema nervoso2 caracterizados principalmente (mas não só) por manifestações convulsivas. Há mesmo epilepsias sem convulsões e nem toda convulsão3 deve ser considerada epilepsia1, porque há outros motivos de convulsões, como febre4, drogas, infecções5, distúrbios metabólicos, traumatismos, tumores, acidentes vasculares6 cerebrais, etc.
Em todos os casos, ela pode ser entendida como uma alteração brusca da atividade elétrica do cérebro7 que interrompe a sua atividade normal. Esses “ataques”, como são popularmente conhecidas as crises epilépticas, além de serem periódicos e crônicos, são repetitivos e, muitas vezes, não têm uma causa detectável.
O tratamento da epilepsia1 inclui o uso de medicamentos anticonvulsivantes, para evitar ou diminuir as convulsões. No entanto, quando o uso de remédios não é capaz de controlar as crises epilépticas, o médico pode indicar a cirurgia.
O que é o tratamento cirúrgico da epilepsia1?
As medicações para epilepsia1 associam-se a grandes problemas psicossociais e econômicos para a maioria dos pacientes, além da sua potencial inefetividade. Esses problemas incluem estigma social e a restrição para certas atividades cotidianas como, por exemplo, dirigir e nadar, que prejudicam grandemente a qualidade de vida do paciente.
O tratamento cirúrgico da epilepsia1 é uma opção que pode ser considerada para contornar esses problemas, quando os medicamentos antiepilépticos não conseguem controlar adequadamente as crises epilépticas. A cirurgia para epilepsia1 não é a primeira linha de tratamento e só é considerada quando outros métodos não foram eficazes.
Leia sobre "Epilepsias", "Crise convulsiva febril" e "Convulsões emocionais".
Técnicas do tratamento cirúrgico da epilepsia1
A decisão de realizar uma cirurgia para epilepsia1 deve ser tomada com base em uma avaliação completa que considerará fatores como o tipo de epilepsia1, a localização das crises, a gravidade dos sintomas8 e os riscos envolvidos na cirurgia. Além disso, o paciente deve ser submetido a uma extensa avaliação pré-cirúrgica para garantir que a cirurgia seja segura e apropriada.
Existem várias técnicas cirúrgicas que podem ser usadas no tratamento da epilepsia1, dependendo do tipo dela, da localização da atividade anormal no cérebro7 e de outros fatores.
Alguns dos procedimentos cirúrgicos mais comuns incluem:
- Ressecção do foco epileptogênico: a ressecção é uma técnica usada em casos de epilepsia1 focal. Neste procedimento, o cirurgião remove a área específica do cérebro7 onde as crises epilépticas se originam. Antes da cirurgia, a localização exata do foco epileptogênico é identificada por meio de exames de imagem, como a ressonância magnética9 funcional e o eletroencefalograma10.
- Calosotomia: a calosotomia é um procedimento realizado em pacientes com epilepsia1 grave, na qual as crises se originam de ambos os hemisférios cerebrais. O cirurgião corta o corpo caloso11, uma estrutura que conecta os hemisférios cerebrais, para evitar que as descargas epilépticas se espalhem de um lado para o outro do cérebro7.
- Estimulação cerebral profunda (ECP ou DBS – Deep Brain Stimulation, em inglês): a ECP é um procedimento em que eletrodos são implantados em áreas específicas do cérebro7 e conectados a um dispositivo semelhante a um marca-passo12, que envia impulsos elétricos para a região cerebral. Isso pode ajudar a controlar as crises em alguns casos.
- Cirurgia de hemisferectomia: em casos extremos de epilepsia1 intratável, pode ser necessário remover um hemisfério cerebral inteiro. Isso é geralmente reservado para casos muito raros em que o dano cerebral é tão extenso que não há outra opção viável para controlar as crises.
Quais são os riscos do tratamento cirúrgico da epilepsia1?
A cirurgia para epilepsia1 pode ser eficaz em muitos casos, permitindo que os pacientes reduzam significativamente ou até mesmo eliminem as crises epilépticas. Trata-se de um tratamento seguro que vem sendo utilizado de maneira rotineira em grandes centros há décadas. No entanto, como em qualquer procedimento cirúrgico, existem riscos e potenciais complicações, embora eles sejam muito baixos (1 a 2 %).
Os riscos e os benefícios devem ser cuidadosamente avaliados antes de se optar por essa abordagem. Portanto, é fundamental discutir todas as opções disponíveis com um neurologista13 especializado em epilepsia1 e uma equipe médica antes de tomar uma decisão sobre o tratamento cirúrgico.
Alguns dos riscos potenciais do tratamento cirúrgico da epilepsia1 são comuns a todas as cirurgias e incluem eventos como infecção14, sangramento excessivo, danos a estruturas adjacentes ao cérebro7 e cicatrização inadequada. Outros são específicos dessa modalidade cirúrgica:
- alterações cognitivas, como problemas de memória, atenção, linguagem ou função motora;
- mudanças de personalidade e comportamento, incluindo depressão, ansiedade, irritabilidade ou outros sintomas8 psiquiátricos;
- perda temporária ou permanente de funções específicas, como fala, visão15, audição ou movimento;
- recorrência16 da epilepsia1, porque não há garantia de que a cirurgia seja 100% eficaz;
- mesmo após a cirurgia, alguns pacientes ainda podem precisar de medicação antiepiléptica e esses medicamentos a longo prazo podem ter efeitos colaterais17 indesejados;
- a cirurgia pode resultar em complicações a longo prazo, como cicatrizes18 no cérebro7 e/ou problemas neurológicos;
- e alguns pacientes podem precisar de reabilitação após a cirurgia para recuperar funções perdidas ou melhorar a qualidade de vida.
A despeito desses riscos, muitos pacientes experimentam uma melhora significativa na qualidade de vida após a cirurgia bem-sucedida.
Veja também sobre "Crises de ausência", "Crise parcial complexa", "Estado crepuscular" e "Convulsões".
Referências:
As informações veiculadas neste texto foram extraídas principalmente dos sites da Biblioteca Virtual em Saúde e da UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro.
As notas acima são dirigidas principalmente aos leigos em medicina e têm por objetivo destacar os aspectos mais relevantes desse assunto e não visam substituir as orientações do médico, que devem ser tidas como superiores a elas. Sendo assim, elas não devem ser utilizadas para autodiagnóstico ou automedicação nem para subsidiar trabalhos que requeiram rigor científico.